São José trabalhando na Gruta
Foi no meio da noite que eles chegaram. Não havia lugar para eles nas cidades e só acharam aquela gruta escura. Mal viam onde pisavam e o que encontrariam ali... alguns animais se aqueciam do frio, um pouco de palha restava numa mangedoura rude e já mastigada pelos próprios animais que ali se alimentavam. A luz ainda não chegara. Aguardava paciente o despertar da eternidade, a aurora da vida.
Após instalar como pode à Virgem Maria, sua esposa, naquele lugar tão inóspito e impróprio para o nascimento do Salvador, S. José começou a arrumar um pouco o lugar. No escuro que cobria a pequena caverna, a Virgem e os anjos que a acompanhavam não percebiam ainda tudo o que fazia o zeloso marceneiro de Nazaré. Rapidamente ele foi modificando a paisagem, varrendo, trazendo umas palhas limpas, improvisando um berço para o Senhor.
Pois tudo ficou pronto na hora certa, justamente no momento em que Maria devia dar à luz... melhor dizendo, nos dar a Luz. Então o silêncio se fez no céu e os anjos pararam suas mensagens divinas e olharam. Quando o anjo olha, existe uma concentração do espírito que pode desnortear um homem.
Pois imaginem toda a corte celeste, que nesse momento só era composta de anjos, concentrando seu espírito naquele lugar, naquele momento em tudo se decidiu. Os anjos provocaram uma explosão de luz, mas não foi suficiente para iluminar a gruta. O trabalho de S. José continuava escondido na penunbra da noite.
E Deus disse: Faça-se a LUZ.
Imediatamente a Virgem Maria, num extase de amor, sem dor ou sofrimento, tomou seu Filho nos braços. Porque aquele Jesus que ali nascia, pequenino e frágil, tinha seu corpo glorioso como no dia da Ressurreição. Ele atravessou sem ferir em nada o corpo virginal de Maria. Jesus nasceu assim, nos braços de Maria. Sua Mãe o embalou, o enfaixou em panos, como costume da época, e pensando na gruta escura, lembrou-se do que dissera ao anjo Gabriel, nove meses antes:
"Justo é que imagine eu
e que estê muito turbada:
querer quem o mundo é seu
sem merecimento meu,
entrar em minha morada,
E uma suma perfeição
de resplendor guarnecido
tomar para seu vestido
sangue do meu coração
indigno de ter nascido!
E aquele que ocupa o mar
enche os céus e as profundezas,
os orbes e as redondezas,
em tão pequeno lugar
como poderá estar
a grandeza das grandezas!
Foi nessa hora que a Luz do Menino Deus cobriu todas as coisas. O silêncio era total. E eles então contemplaram a gruta de Belém, aquele lugar tão humilde, pequeno e sujo, transformado pelas mãos de José e pela Luz das luzes. Tudo brilhava, tudo era um imenso fogo de estrelas, de anjos que apareciam como diamantes reluzindo à luz do sol, tudo era lindo; tudo era divino, tudo era silêncio.
Foi esse espetáculo que os pastores assistiram quando lá chegaram. Aproximaram-se da entrada, meio desconfiados das palavras estranhas que os anjos lhes haviam dito, olharam lá para dentro e viram a mais bela cena que olhos humanos jamais contemplaram sobre a terra.
E esse espetáculo, é o que nós tentamos reproduzir todos os anos em nossos humildes presépios. Sejamos, pois, espirituais. Sejamos pastores, sejamos anjos. E procuremos neste dia contemplar, nós também, esse imenso mistério da nossa Redenção. Porque nasceu, hoje, para nós, um Filho, o Salvador.
A todos nossos leitores, amigos, fiéis das nossas capelas, um Santo Natal, na companhia adorável de Jesus, Maria e José.
Dom Lourenço Fleichman OSB
(Retirado do site: Permanência)