Nota do blogue: Segue alguns textos antigos do blogue que abordam o tema da modéstia no falar, creio que nunca é demais lembrarmos deste assunto, pois a pureza é defendida também com a mortificação deste órgão tão pequeno e que faz estragos tão grandes, como diz São Tiago: "Observai como uma faísca incendeia uma floresta inteira. A língua, também, é um fogo. Como um mundo de injustiça, a língua, instalada entre nossos membros, contamina o corpo inteiro e, alimentada pelo fogo do inferno, inflama o curso da existência." (Tiago 3, 6-7).
P.S: Em alguns posts eu coloquei trechos dos textos citados, porém o interessante seria ler, se possível todos os textos (inteiros), pois a verdade sempre se repete.
MODÉSTIA NO FALAR
Da prática da caridade nas palavras (Sto. Afonso Maria de Ligório)
Do silêncio (Sto. Afonso Maria de Ligório)
A língua - órgão da palavra (Cônego Augusto Saudreau)
As excelências da mortificação (Sto. Afonso Maria de Ligório), segue um trecho que bem se aplica ao tema proposto:
2. Mortificação do ouvido"Evita ouvir conversas inconvenientes ou difamações, e mesmo conversas mundanas sem necessidade, pois estas enchem nossa cabeça com uma multidão de pensamentos e imaginações que nos distraem e perturbam mais tarde nas nossas orações e exercícios de piedade. Se assistires a conversas inúteis, procura quanto possível dar-lhes outra direção, propondo, por exemplo, uma importante questão. Se isso não der resultado, procura retirar-te ou, ao menos, cala-te e baixa os olhos para mostrar que não achas gosto em tais conversas." Grifos meus
O valor do silêncio (Padre Manuel Bernardes), segue um trecho que bem se aplica ao tema proposto:
"Primeiramente, a matéria das nossas palavras há de ser plana, onde não ache tropeços a consciência, e limpa, onde não haja sombras e manchas contra a pureza do coração. Ó grande engano o nosso! Nós não queremos falar coisas boas, e queremos falar bem?" Grifos meus
Palavras torpes e indecentes (Padre Manuel Bernardes), segue texto inteiro:
A caridade proíbe a maledicência (Padre J.Baeteman), segue boa frase contida no texto:"Se lhe apresentassem na sua mesa o pão ou qualquer outro manjar, em um prato ou vaso que houvesse servido em coisas que não são para nomear, quanto se indignaria contra o seu criado, por esta grosseria e desatenção. E quem duvida que muito mais repreensível é que a língua de um fiel, que serve de patena ao verdadeiro corpo de Cristo quando comunga, sirva de instrumento a palavras torpes e indecentes? (II – 530)
Quem usa de semelhante linguagem, por mais que se desculpe, dizendo que lhe não entra da boca para dentro, e que é só para rir e passar o tempo, dá claro indício de que o seu interior está corrupto. Porque oráculo é de Cristo Senhor nosso que a boca fala conforme o de que abunda o coração: Ex abundantia enim cordis os loquitur; e outra vez disse: Que do coração saem os maus pensamentos; e claro é que o que vem a língua primeiro esteve no pensamento; e ainda Sêneca assentou que o modo com que cada um fala é o translado ou cópia do seu espírito: Imago mentis sermo est; qualis vir, talis oratio... Logo, quem é acostumado a falar descomposturas, com que verdade afirma que lhe não entram no coração? E se até os sonhos de um adormecido e os delírios de um frenético são ordinariamente das coisas a que a natureza estava acostumada, quanto mais se conhecerá o nosso interior pelas palavras que proferimos, estando em nosso siso e liberdade? (II 530/531)
Escreve Estrabão que há na Índia um gênero de serpentes com asas como de pergaminho, que, voando de noite, sacodem uns pingos de suor tão pestífero que onde caem causam corrupção. Tais me parecem os que entre conversação soltam palavras e chistes descompostos; que são estes senão pingos de suor asquerosíssimo, que onde caem geram maus pensamentos e corrompem os costumes dos ouvintes? E se estes são gentes de tenra idade, a corrupção é mais pronta e mais certa, porque meninos são tábuas rasas onde o bem e o mal se pintam facilmente; pelo que mais respeito se deve ter a um menino, para não falar ruins palavras em sua presença, do que a homens de cãs veneráveis, porque estes sabem conhecer e reprovar o mal e aqueles não; neste caso ficará quem falou mal temeroso de achar repreensão, naquele outro ficará contente de achar imitadores. (Tratado da Virtude da castidade – Padre Manuel Bernardes - II – 532.) Grifos meus
"Pensai nisso, escrevia o P. Lacordaire: toda palavra tem seu livro, e tudo o que na terra não se escreve pela mão dos homens, é escrito no céu pela mão dos anjos. Cada dia, a cada instante, o inexorável buril da justiça divina recolhe o hálito dos vossos lábios, e grava-o, para vossa glória ou para vossa vergonha, nas tábuas da imortalidade." Grifos meus.
A modéstia nas conversas e nos recreios (Padre F. Maucourant). No prefácio deste livro encontra-se a seguinte observação: "Este livro foi composto, especialmente, para as almas religiosas. Parece-nos todavia, que ele pode ser lido e meditado, com proveito, por toda a alma desejosa de viver em toda a delicadeza, seja qual for a vocação que a Providência lhe tenha feito sentir".) Segue algumas frases e trechos bem edificantes tiradas do texto:
"A modéstia põe, em toda a pessoa das virgens, uma graça moderada, e, na sua vida, hábitos pacíficos; ela regula as suas palavras e até o tom da sua voz" (Santo Ambrósio).
"A modéstia é uma virtude que dá as leis de uma boa conversação" (Hugues card.)
"As vossas palavras sejam como maçãs de ouro em vasos de prata" (Prov., XXV, 11)
A segunda qualidade das conversações das virgens é a piedade. Santo Inácio, mártir, no meio dos seus suplícios, repetia sem cessar o nome de Jesus, e, quando morreu, encontraram este nome bendito gravado no seu coração. Assim, cada um fala voluntariamente daquilo que mais ama: "tal é o coração, tais são as palavras" (São João Crisóstomo). Um modelo acabado de verdadeiro religioso, "Santo Inácio de Loiola, parecia só saber falar de Deus, de tal modo que o tinham cognominado de 'o padre que não tem na boca senão a Deus'" (Santo Afonso Maria de Ligório). Grifos meus.
O Padre e o bom exemplo (Padre. A.A. Moraes Junior), segue um trecho que bem se aplica ao tema proposto:
"Sejamos circunspectos antes de falar, e não profiramos uma só palavra sem primeiro a ter pesado, conforme este belo dito de Santo Agostinho: "omnia verba prius veniant ad limam quam ad linguam;" o que não acontece com os que, falando sempre precipitadamente, começam de atirar suas ascumas, em vez de chorar o mal irreparável que elas causam. É a necessidade que sente o padre santo, em si mesmo, de dar bom exemplo a todo o mundo por suas conversas, que o leva a regular de tal modo sua língua, que não deixa nunca escapar voluntariamente um só palavra que ofenda o decoro ou uma qualquer virtude, impondo-se pelo cortejo de virtudes, que o acompanha sempre por toda a parte, onde se encontra!" Grifos meus.As conversações (Pe. Hoornaert), segue abaixo o texto inteiro [baixar esse livro AQUI]:
As conversações
"Oh, língua bendita..."
Em 1263, quando seu corpo foi exumado,
sua língua estava intacta e continua intacta até hoje,
numa redoma de vidro,
na Basílica de Santo Antônio, em Pádua,
onde estão seus restos mortais.
As conversações! o escolho clássico das reuniões da juventude!
Sê inabalável.
Não te importes.
Não escutes.
1º - Não te importes
Um livro, que ninguém taxará de hipócrita, "Safo", diz: a imoralidade "propaga-se, queimando o corpo e a alma, à maneira dos archotes, de que fala o poeta latino, que corriam de mão em mão pelo estádio".
Pensa que com ela correm risco muitas almas: a tua e a daquele ou as daqueles com quem falas. Com tais conversas pecas e és causa de outros pecarem. A culpa pessoal já é coisa deplorável! Mas a culpa com outro!... Quem sabe? Será para ele, quiçá, o primeiro anel duma cadeia que, afinal, o vem prender ao inferno.
Há de ser peso insuportável à consciência, no leito de morte, lembrar-se ter sido causa de tentação ou talvez de perdição de uma alma. "Ai daqueles que der escândalo", dizia o divino Mestre. Um homem fica inconsolável, por haver durante uma caçada ferido de morte um seu amigo. Aquele, que pelas suas palavras, concorre para a perdição de um companheiro, não mata inadvertida mas conscientemente.
Não é já um homicídio por imprudência mas por perversidade.
"Que as palavras desonestas sejam banidas da vossa boca". (Col. 3-8)
"Que nem mesmo se ouça dizer que há entre vós, fornicação, impureza de qualquer sorte, nem concupiscência... Nada de palavras nem de galanteios nem de gracejos grosseiros: todas coisas que são indecorosas... Porque, tende-o bem presente: nenhum impudico, nenhum desonesto... terá parte no reino de Cristo e de Deus. Que ninguém vos iluda com enganosas palavras, pois é por tais vícios que a cólera de Deus vem sobre os filhos da incredulidade. Não tenhais relações de espécie alguma com eles". (Ef. 5-3)
2º - Não lhes prestes ouvidos
Mas aqui aparecem as tais objeções:
- "Para este gênero de conversações, a consciência já está formada".
Formada ou deformada?
- "Não podemos contudo trazer sempre algodão nos ouvidos".
Evidentemente, não: ouvistes por ventura que os pregadores ordenassem trazer algodão nos ouvidos? Mas podes pelo menos não provocar essas conversações picantes, nem entretê-las com perguntas curiosas,etc...
- "Com certeza, hão de taxar-me de carola".
E Deus há de chamar-te corajoso. Mas vale este tão soberano juízo.
- "Chamar-me-ão capuchinho, o que incomoda; ou pior ainda: jesuíta".
E tu lhes responderás: Tenho muita honra nisso! Prefiro lograr tão boa companhia, no Céu.
- "Que pensarão de mim"?
Hão de te admirar.
Apelo para ti mesmo. Na intimidade, os moços conhecem-se muito bem mutuamente. Pois bem: quais são os colegas verdadeiramente estimados, aqueles a quem tu, em ocasião crítica, sendo preciso, irás pedir um conselho sério?! Aqueles a quem todos verdadeiramente respeitam? Quais são eles? Serão acaso os covardes, que escondem a sua bandeira, no bolso (e neste caso já não é uma bandeira mas um lenço de assoar), ou aqueles que se dizem e são católicos?
Os que o são à valer e "descaradamente" como diria L.Veuillot, mas que por outra parte não têm esse pudor assustadiço, que imaginam, serem tudo gracejos traiçoeiros; que confundem conversas grosseiras com as conversas más, sem saber adotar um gênero de conversação alegre e sã.
Os jovens detestam um trato arisco e pesado que dá ocasião a tornar-se a virtude objeto de zombaria. Procura, pois, pelo contrário (este ponto é muito importante) tornar a religião simpática, mediante o apostolado da alegria. Um jovem educado não só pode ser alegre, mas para sê-lo terá cem razões mais que os outros. A única nostalgia permitida a um cristão é a do Céu.
Não conheço textos na Sagrada Escritura que nos recomendem a melancolia; são muitos, porém, os que nos recomendam a amabilidade e a alegria.
"Regozijai-vos no Senhor, sem cessar: regozijai-vos em alegria". (II Cor. 13-11).
"Andai sempre alegres". (I Tes. 5-16)
"Vosso coração se alegrará e ninguém arrebatará a vossa alegria... Que a vossa alegria seja perfeita". (Jo. 16-22)
"Bem-aventurados os puros" (Ps. 118)
Por um motivo parecido é que as donzelas cristãs devem trajar com bom gosto. A modéstia não as condena ao espetáculo esquisito de modas antiquadas ou rústicas. Não seja pois a religião, para o jovem, sinônimo de enfado, nem para a jovem, sinônimo de fealdade. Ele deve rir, ela deve trajar-se bem.
-"Mas hão de perseguir-me".
Sim se ficardes sozinho, sem formar com outros amigos um grupo decente contra o grupo sujo. Sim, se tomardes atitude de santo gótico, de que acima falamos. Não, se conservares a devida naturalidade, se fores divertido (porque não?) e bom companheiro.
Ouve: dezenas de acadêmicos me afirmaram: "Basta ter coragem nos dez primeiros dias. Observam-nos. Se os dez primeiros dias nos fazemos respeitar, não mais nos inquietam e, por vezes, nos confessam: Muito bem. Isso é que é ter caráter! Se, pelo contrário, cederdes, acabou-se! Começais por uma fraqueza, por uma complacência que, aliás, só vos granjeou desprezo! E então já vos será muito difícil a reabilitação e fazer recuar amachina".
Não tenhais medo!... "Os maus dizia Mons. Darboy, bispo e mártir, só são valentes porque os bons são covardes". Sim, covardes!
Quanto mais se estudam os jovens, mais claramente se nota que os moços dos colégios cristãos se deixam arrastar pelos maus, sobretudo por causa do respeito humano. O respeito humano é que os leva a gabarem-se, às vezes, de certas "aventuras felizes", quando realmente elas não passam de umas criancices bem arquitetadas e que a sua famosa "garçoniére" não passa de um bairro onde se refugiam, para cautelosamente se furtarem a olhares perscrutadores.
Felizmente o viver destes jovens vale muito mais daquilo que dizem de si mesmo. São fanfarrões do vício unicamente por se envergonharem de parecer virtuosos, mas não compreendem - pobres infelizes - que, até quanto a granjearem a estima, que tanto ambicionam, tudo teriam a ganhar, se se mostrassem lógicos, quanto às suas convicções.
Santamente orgulhosos se deveriam antes mostrar por serem batizados, confirmados e participarem do augusto Sacramento do Altar, na Sagrada Comunhão! Um rei possui um único diadema. Um cristão tem tantos quantos forem os Sacramentos recebidos...
Para levar os homens ao que é nobre, generoso e heróico, requerem-se idéias nobres, coração magnânimo, linguagem ardente, e unção penetrante. Para ser alguém corifeu de estroinice ou de corrupção não se precisam esses brilhantes predicados. Basta o cinismo, a grosseria uma boca exercitada a vomitar injúrias, sarcasmos, e isto com muita naturalidade, sem cólera, sem esforços, eis tudo.
Com tão rico cabedal já podem contar com a popularidade e também com as covardias secretas e as baixas e lúbricas cumplicidades do vulgo...
Pavoroso escolho das conversações juvenis são, realmente, essas fanfarronadas de impureza! Por toda parte continua produzindo os mesmos deletérios frutos: o rebaixamento das almas, a morte do ideal, o aniquilamento do pudor. Contra este mal, insurgem e lutam os piedosos educadores pela vigilância, pelas salutares diversões de exercícios musculares e sobretudo pela religião, cujo freio possante e nobre, sofreia os corações ardentes e fecha os lábios às palavras dissolutas. É mesmo assim, não chegam nem podem impedir todos os males. Oferecem, todavia, a todos, até mesmo aos caracteres pusilânimes e fracos, a possibilidade de se libertarem do mal, se tiverem alguma boa vontade... (Livro A Grande Guerra) Grifos meus.
"A boca do justo, diz a Escritura, meditará sabedoria e a sua língua falará prudência."
"Fala, pois, muitas vezes de Deus e experimentarás o que se diz de S. Francisco -- que, quando pronunciava o nome do Senhor, sentia a alma inundada de consolações tão abundantes que até sua língua e seus lábios se enchiam de doçura."
CAPÍTULO XXVII
Honestidade das palavras e respeito que se deve ao próximo
Se alguém não peca por palavras, é um homem perfeito, diz S. Tiago.
Tem todo o cuidado em não deixar sair de seus lábios alguma palavra desonesta, porque, embora não proceda duma má intenção, os que a escutam a podem interpretar de outra forma. Uma palavra desonesta que penetra num coração frágil estende-se como uma gota de azeite e às vezes toma posse de tal modo dele que o enche de mil pensamentos e tentações sensuais.
É ela um veneno do coração, que entra pelo ouvido; e a língua que serve de instrumento a esse fim é culpada de todo o mal que o coração pode vir a sofrer, porque, ainda que neste se achem disposições tão boas que frustrem os efeitos do veneno, a língua desonesta, quanto dela dependia, procurou levar esta alma à perdição. Nem se diga que não seu prestou atenção, porque Nosso Senhor disse que a boca fala da abundância do coração. E, mesmo que não se pensasse nada de mal, o espírito maligno o pensa e por meio dessas palavras suscita o sentimento mau nos corações das pessoas que as ouvem.
Diz-se que quem comeu a raiz denominada angélica fica um hálito doce e agradável e os que possuem no coração o amor à castidade, que torna os homens em anjos na terra, só têm palavras castas e respeitosas. Quanto às coisas indecentes e desonestas, o apóstolo nem quer que se nomeiem nas conversas, afirmando que nada corrompe tanto os bons costumes como as más conversas.
Se se fala dissimuladamente e em torneios sutis e artificiosos de coisas desonestas, o veneno encerrado nessas palavras é ainda mais sutil, danoso e penetrante, assemelhando-se aos dardos, que são tanto mais para temer quanto mais finos são e mais agudas têm as pontas. Quem quer granjear deste modo o nome e a estima de homem espirituoso ignora completamente o fim da conversa; a conversa deve parecer-se com o trabalho comum de um enxame de abelhas para fazer um mel precioso, e o modo de agir dessas pessoas pode-se comparar a um montão de vespas em torno duma podridão.
Assim, se um louco te disser palavras indecentes, testemunha-lhe logo a tua indignação, voltando-te para falar com uma outra pessoa ou de algum outro modo que te sugerir a prudência.
Muito má qualidade é ter um espírito motejador. Deus odeia extremamente este vício e puniu-o, como se lê no Antigo Testamento, com muita severidade. Nada é mais contrário à caridade e máxime à devoção que o desprezo do próximo; mas a irrisão e mofa trazem forçosamente consigo este desprezo; e´, pois, um pecado muito grave e dizem os moralistas que, entre todos os modos de ofender o próximo por palavras, este é o pior, porque tem sempre unido o presprezo, ao passo que nos outros a estima ainda pode subsistir.
Mas, quanto a esses jogos de palavras espirituosas com que pessoas honestas costumam divertir-se, com uma certa animação, sem pecar contra a caridade ou a modéstia, são até uma virtude, que os gregos chamam eutrapelia ou arte de sustentar uma conversa agradável; servem-se para recrear o espírito das ocasiões insignificantes que as imperfeições humanas gerais fornecem ao divertimento.
Somente deve-se tomar o cuidado que essa alegria inocente não se vá tornando em mofa, porque esta provoca a rir-se do próximo por desprezo, ao passo que esses gracejos delicados só fazem rir por prazer e pelo espírito de certas palavras, ditas por liberdade, confiança e familiaridade, com toda a franqueza, e recebidas de boa mente, tendo-se completa certeza que ninugém as levará a mal.
Quando os religiosos da corte de S. Luís queriam entabular uma conversa séria e elevada depois do jantar, dizia-lhes o santo rei: Agora não é tempo de arrazoar muito, mas de divertir-se com uma conversação animada; diga, pois, cada um, livre e honestamente, o que lhe vem ao pensamento. Queria com isso dar um prazer à nobreza de que se rodeava, condescendendo nestas provas familiares da bondade de sua real majestade.
Enfim, Filotéia, passemos o pouco tempo que nos é dado para uma conversa recreativa e agradável, de modo que a devoção aí praticada nos assegure uma eternidade feliz.
(Filotéia - Parte III - São Francisco de Sales) Grifos meus.
Bom uso da língua (Pe. Matias de Bremscheid), segue trechos do texto:
"Ouvi, filhos, as regras que vos dou sobre a moderação da língua:
aquele que as guardar não perecerá pelos lábios,
nem cairá em ações criminosas"
(Ecli., 23,7)
- Livro do Eclesiástico (cap. 28): "As chicotadas produzem vergões, mas os golpes da língua quebram os ossos... Faze uma porta e fechadura diante da tua boca: Funde o teu ouro e a tua prata e faze com isso uma balança para pesares as tuas palavras e um freio bem ajustado para a tua boca".
- O bom uso da língua pode transformá-la em instrumento de graças.
No ano de 1263 retirou-se o corpo de Santo Antônio de Pádua do sepulcro, a fim de o transportar para a nova igreja, edificada em sua honra. Ao se abrir o sarcófago, os membros caíram aos pedaços, a carne já se havia transformado em pó e cinza. Mas, o queixo, os cabelos e os dentes estavam ainda conservados, e sobretudo a língua de todo incorrupta e com a sua cor natural. O Santo Cardeal Boaventura, que de Roma fora a Pádua por ocasião dessa festividade, tomou em suas mãos com grande respeito esse língua, beijou-a e disse entusiasmado: "Ó língua, que em todo o tempo louvaste ao Senhor e ensinaste os demais a louvá-Lo, agora se torna a todos manifesto, quanto és apreciada de Deus".
- Deves calar-te e não falar de coisas impuras e ignóbeis. Sabes o que diz o Apóstolo: "Nem sequer se nomeie entre vós ... qualquer impureza ... como convém a santos" (Ef., 5,3).
- Como este Apóstolo não seria tomado de santa indignação, se em nossos dias surgisse de improviso numa reunião de moços e ali ouvisse as conversas tais que fazem subir o rubor à faces! Até mesmo na presença de crianças inocentes, se proferem, às vezes, palavras obscenas! Não deveriam tais libertino sentir pavor daquela terrível "Ai!" que o Divino Salvador pronunciou contra os que escandalizam os pequenos?
"Ouvi, filhos, as regras que vos dou sobre a moderação da língua: aquele que as guardar não perecerá pelos lábios, nem cairá em ações criminosas" (Ecli., 23,7) Grifos meus.