quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Padre e o escândalo

O escândalo dado pelo sacerdote
Pecado enorme por sua natureza 




Se devo aborrecer o pecado em geral, devo detestar especialmente aqueles que contrastam de um modo mais repugnante com a minha santa missão. Glorificar a Deus, salvar as almas, servir e consolar a Igreja, tal é o fim do sacerdócio; e pode-se imaginar coisa que lhe seja mais oposta que o escândalo? Quem o dá, é chamado no Evangelho homem inimigo: Inimicus homo hoc fecit (Math. XIII, 28.). Com efeito, um padre escandaloso é inimigo de tudo o que ele mais devia amar. 

I. Inimigo de Deus, que ofende e faz ofender, ele que é obrigado por seu estado a promover a glória de Deus. 
II. Inimigo das almas que perde, ele que devia salvá-las. 
III. Inimigo da Igreja que aflige, ele que devia consolá-la. 

Primeiro Prelúdio. Ouvir com atenção esta palavra de Jesus Cristo: Qui scandalizaverit unum de pusillis istis..., expedit ei ut suspendatur mola asinaria in collo ejus, et demergatur in profundum maris (Ibid. XVIII, 6). 

Segundo prelúdio. Senhor, fazei-me compreender a malícia e desgraça que há no escândalo dos maus sacerdotes, e vigiar de tal sorte sobre mim mesmo, que nunca diga, faça nem omita coisa alguma, que possa escandalizar. 

I. O padre escandaloso é inimigo de Deus.

Ofende a Santíssima Trindade, persegue-A, se assim posso exprimir-me, com uma impiedade que horroriza. Deus Padre elegera-o para fazer conhecer e honrar o Seu nome, para publicar e fazer observar a Sua lei, para trazer à Sua obediência as almas desgarradas, e confirmar no Seu amor as almas inconstantes, para Lhe preparar um povo de escolhidos, fazendo-O reinar sobre os corações; para isto o prevenira com as bênçãos da Sua graça, e o enchera de Seus benefícios. O padre tinha aceitado tão nobre missão, e prometido solenemente consagrar-Lhe toda a sua existência; ora, se chega a escandalizar, que faz ele? Combate a causa de Deus que prometera defender. Longe de submeter ao Senhor os súditos rebeldes, perverte-lhe os súditos fiéis; longe de induzir os homens a respeitar o Seu nome, indu-los a blasfemá-lO; em lugar de O fazer reinar sobre os corações, expulsa-O deles; em lugar de Lhe preparar escolhidos, é para o inferno que os recruta! 

Deus Filho, Redentor das almas, confiava nele para lhes aplicar os merecimentos da Sua morte e do Seu sangue. Para isto o revestira de inefáveis poderes, e lhe pusera nas mãos todos os tesouros da Sua misericórdia; e essas almas, remidas por tão alto preço, não só as deixa perecer, mas ainda, à vista do seu Salvador, as fere, mata e precipita na eterna condenação! aniquila para elas a obra da redenção! 

Deus Espírito Santo tomara-o para Seu instrumento. Queria servir-se dele para combater o pecado, purificar as almas, e fazer delas outros tantos templos, onde residisse com o Pai e o Filho: Ad eum veniemus, et mansionem apud eum faciemus (Joan. XIV, 23.); e o padre escandaloso, em vez de auxiliar estes misericordiosos desígnios, destrói-os; em vez de arruinar o império do pecado, estende-o e consolida-o; em vez de purificar as almas, mancha-as, e fecha para Deus esses templos espirituais, de que era guarda, e abre-os para o demônio! 

Não é isto fazer à Santíssima Trindade uma guerra cruel e pérfida? Nullum puto majus praejudicium, quam quod a malis sacerdotibus tolerat Deus, quando eos quos ad aliorum correctionem posuit, dare de se exempla pravitatis cernit: quando ipsi peccamus, qui compescere peccata debuimus (S. Greg. Homil. 17. in Evang.). 

II. O padre escandaloso é inimigo das almas

Constituindo-nos Seus ministros. Deus queria que cooperássemos para as salvar. Temos rigorosa obrigação de ensinar aos nossos irmãos os caminhos da salvação; de guiá-los e ampará-los; de levantá-los, se caem; e de empregar na sua santificação todos os meios, que foram postos à nossa disposição. Como cumpre o padre escandaloso esta obrigação? Nós só temos acesso junto das almas pela confiança que lhes inspiramos; que confiança pode inspirar aquele que prega uma moral e pratica outra? Entre as palavras que dizem: "Não façais o que eu faço", e as ações que clamam: "Não acrediteis o que eu digo", adivinha-se o que impressionará mais fortemente os espíritos talvez já mal dispostos. Os corações corrompidos autorizam-se em suas desordens com o exemplo daquele que devia reprimi-las. E as almas simples não temerão transviar-se, seguindo o guia que Deus lhes deu? Neste caso, onde parará a licença de costumes?

Quanto à tendência que leva o homem a imitar tudo o que vê, vem juntar-se o impulso das paixões; o exemplo é uma torrente, que rompe todos os diques. Mas, se esta corrente se precipita dos mais altos montes, o seu curso será ainda mais impetuoso e os estragos mais extensos; a elevação da nossa dignidade é a medida do mal causado com os nossos escândalos. O arbusto, ao cair, a nada causa dano; o carvalho frondoso esmaga na sua queda tudo que encontra debaixo de si. Assim, o sal da terra tornou-se um princípio de corrupção para os que ele devia conservar na inocência; a luz do mundo, que devia dirigir as almas nos caminhos da virtude, mete-as nas veredas do vício; o pastor, que devia defender o seu rebanho, faz nele uma horrível carniçaria: Considerate quid de gregibus agatur, quando pastores lupi fiunt (S.Greg.). 

III. O padre escandaloso é o maior inimigo da Igreja

Uma só queda no santuário pode ter conseqüências incalculáveis. O mundo tão indulgente para si, é inexorável para os ministros do Senhor. Ao mesmo tempo que desculpa os seus próprios crimes, não perdoa aos sacerdotes uma fraqueza. E muito longe de encobrir com o seu silêncio os escândalos que neles vê, publica-os aos quatro ventos. Fá-los correr de paróquia em paróquia, de diocese em diocese. Perpetua-os, e dá-lhes uma triste e bem lamentável imortalidade. Por cem anos, talvez mesmo até ao fim dos séculos, fará que as almas pequem, se pervertam e se condenem, em conseqüência de um pecado cometido por um padre escandaloso. A censura que faz cair sobre o seu mau proceder, recai indiretamente sobre todos os membros do clero. Imputa os mesmos vícios aos que exercem as mesmas funções. Chega até a tratar como fábulas as verdades mais sagradas, só porque é testemunha da sua oposição com os costumes daquele que as ensina.

Se este padre, dizem, cresse o que prega, portar-se-ia assim? Eis, pois a honra do sacerdócio manchada, o zelo dos bons pastores paralisado, a piedade destruída, os sacramentos abandonados ou profanados, a fé quase extinta em vastas regiões, milhares de almas perdidas em conseqüência dos escândalos dados por um padre, por um pastor de almas. 

No entanto, qual outra Raquel, a Igreja chora a morte de seus filhos: Rachel plorans filios suos, et noluit consolari, quia non sunt (Math. II, 18.). Desabafa a sua amarga dor pela boca dos seus doutores: Ecce in pace amaritudo mea amarissima (S.Bern.). E quem lhe faz correr as lágrimas, é um homem que ela honrara com a sua confiança, e que devia consolá-la! 

O' Deus todo-poderoso, quão rigorosa será a Vossa justiça, quando vingar as lágrimas da Vossa Igreja, a morte das almas, causada por aquele que deviam conVosco ser o seu salvador e pai, e a guerra sacrílega que Vos faz o padre escandaloso! Vae homini illi! Se castigais de um modo tão terrível o escândalo dado a um só dos Vossos filhos, que suplício reserveis àquele que tiver escandalizado as multidões, os povos? Si ei qui unum aliquem duntaxat offenderit, expedit ut mola asinaria suspendatur a collo ipsius, ac demergatur in profundum maris; qui non unum, non duos, non tres tantum, sed jam multos etiam populos, perdiderint, illis quid tandem fiet? (S. Chris. I, VI. de Sacerd.). 

Recordai-vos de tudo o que na vossa vida poderia escandalizar o próximo; procurai depois reparar o mal, quanto vos for possível. Se a vossa consciência não vos acusa de coisa alguma grave quanto ao presente, chorai de novo os pecados desta natureza, que já tendes chorado; e na missa rogai a Jesus Cristo pela conversão dos padres escandalosos. Uni os vossos gemidos aos de S. Bernardo: Amici tui, Deus, et proximi tui adversum te appropinquaverunt et steterunt... Heu! Heu! Domine Deus, quia ipsi sunt in perseculione tua primi, qui videntur in Ecclesia tua primatum diligere, gerere principatum! Arcem Sion occupaverunt ..., et universam deinceps... tradunt incendio civitalem. Misera eorum conversatio plebis tuae miserabilis subversio est. 

Resumo da Meditação 

I. O padre escandaloso é inimigo de Deus

Deus Padre elegera-o para defender a Sua causa, e ele combate-a; para O fazer reinar sobre os corações, e expulsa-O deles ; para Lhe dar escolhidos, e recruta almas para o inferno. - Deus Filho confiava nele para O ajudar a salvar as almas, e ele perde-as. Deus Espírito Santo tomara-o para Seu instrumento, e em vez de auxiliar os Seus desígnios de misericórdia, frustra-os. 

II. O padre escandaloso é inimigo das almas

Nós não temos acesso junto delas para as santificar, senão pela confiança que elas têm em nós; que confiança pode inspirar um padre que prega uma moral e pratica outra? A elevação da nossa dignidade é a medida dos estragos causados com os nossos escândalos. 

III. O padre escandaloso é inimigo da Igreja

Como esposa e mãe extremosa que é todo o escândalo ofende-a nos dois objetos do seu amor, Jesus Cristo seu esposo, e os fiéis seus filhos. Uma só queda no santuário sacerdotal, pode ter conseqüências incalculáveis. A Igreja chora, e aquele que lhe faz correr as lágrimas, é aquele mesmo que a devia consolar. 

O escândalo dado pelo padre
Suas diferentes espécies 



I. Escândalo de intenção e de perversidade. 
II. Escândalo de tibieza e de negligência. 
III. Escândalo de leviandade e de imprudência

I. Escândalo de intenção e de perversidade

Pode dizer-se do sacerdote o que S. Francisco de Sales dizia dos religiosos: Bonis nihil melius, malis nihil pejus. O homem do santuário, que leva o esquecimento dos seus deveres até espalhar em volta de si um cheiro de morte, justifica a máxima: Corruptio optimi pessima. Todavia, quando falamos do escândalo de intenção, não afirmamos que alguém perca as almas pelo gosto de as perder. Este escândalo que é propriamente o de Satanás, só seria possível em um padre que atingisse o último grau de endurecimento. Mas sem chegarmos a este ponto, sabe-se que certa palavra, certa ação, certo procedimento são capazes de ferir a consciência do próximo; vêem-se as conseqüências funestas, que de certo pecado podem resultar para a honra do sacerdócio, e não se recua, comete-se. Este desgraçado padre ilude-se a si, para pecar livremente; abusa até da autoridade, do ascendente que lhe dá o seu estado, para abalar uma virtude, de que devia ser o amparo. 

Ó padre, ó pastor, que terrível juízo sofrereis um dia! Audite hoc, sacerdotes... quia vobis judicium est (Os. V, 1.). Vós que sois o protetor nato da inocência, armais-lhe laços! Estendeis as vossas abomináveis redes sobre o mesmo Tabor, sobre esse monte santificado por tantos e tão veneráveis mistérios... Quoniam laqueus facti estis... et rete expansum super Thabor (Ibid.). O mais terrível flagelo que Deus podia empregar para punir uma diocese, uma província, um império, seria enviar-lhes semelhantes padres. Eis o que Ele diz por um profeta: Como punirei estes pecadores obstinados? Que novo castigo lhes infligirá a Minha justiça indignada? Super quo percutiam vos ultra? Tirarei do tesouro das Minhas vinganças pastores infiéis, enviar-vos-ei sacerdotes, cuja depravação chegará até ao escândalo: Grex perditus factus est populus meus: pastores eorum seduxerunt eos (Jerem. L.6.). 

II. Escândalo de tibieza e negligência

Este inspira menos horror que o primeiro; mas as conseqüências podem ser também deploráveis. Ai! e quão comum é ele! "Não há quase meio termo para um padre: se não edifica, escandaliza; se não vivifica, dá a morte; se os seus costumes não são um modelo, tornam-se um perigo; se não ensina a piedade com sua vida, inspira, autoriza, multiplica o vício" (Massillon). A vida do sacerdote deve ser a censura não só das desordens públicas, mas ainda das falsas virtudes, que o mundo desejaria substituir às virtudes evangélicas. A sua separação de tudo o que é profano, a sua modéstia, a sua santidade devem recordar incessantemente aos seculares, que os verdadeiros cristãos são homens mortos para si mesmos, cuja vida está escondida com Jesus Cristo em Deus (Col. III, 3.).

Já conhecemos as exigências do mundo em matéria de santidade sacerdotal. Quer que o padre seja um anjo isento de todo o defeito, adornado de todas as virtudes; se vê qualquer coisa de menos, admira-se, escandaliza-se. Se há exageração nas suas idéias neste ponto, esclareçamos os seus juízos, mas não os desprezemos! S. Paulo no-lo prescreve e ensina com o seu exemplo: Noli propter escam destruere opus Dei. Omnia quidem sunt munda; sed malum est homini qui per offendiculum manducat (Rom. XIV, 20). - Si esca scandalizat fratrem meum, non manducabo carnem in aeternum, ne fratrem meum scandalizem (I Cor. VIII, 13.). 

Partindo desses dois princípios: primeiro, que o mundo espera de nós uma perfeição, que em nada se ressinta das fraquezas humanas; segundo, que a nossa vida particular, assim como pública, é examinada e julgada pelo mundo; facilmente se concluirá que a vida de um padre tíbio é, por assim dizer, um escândalo permanente. 

Escandaliza nas suas relações com os seculares, pela oposição flagrante de uma vida imortificada, sensual, desprovida de virtudes sólidas, contra o Evangelho que prega a abnegação, o espírito de sacrifício, a caridade e a imitação de Jesus Cristo. 

Escandaliza nas suas funções, que ou não exerce ou exerce mal. Descuida-se de instruir? E' um pai desnaturado, que mata os filhos, recusando alimentá-los com o pão da palavra. Vai tarde para o confessionário? Apura a paciência dos penitentes, e dá ocasião a que para alguns passe o momento favorável da graça, que talvez nunca mais volte. Desgraçado pastor, essa ovelha estava salva, se viésseis aproveitar a boa disposição em que se achava. Não a tornareis a ver no tribunal da misericórdia; mas encontrá-la-eis terrível no tribunal da justiça divina.

Até no exercício das suas funções, que escândalos! No púlpito exorta à humildade e mostra-se cheio de soberba e de afetação. No santo tribunal impacienta-se repreendendo as almas que se acusam de não ter tido paciência. Vêem-no subir ao altar sem se preparar, depois de faltas que tiveram testemunhas; que coração vai ele apresentar a Jesus Cristo para tabernáculo? Celebra com precipitação, sem recolhimento de espírito, sem parecer compenetrado do que faz. Interrompe talvez o divino sacrifício para falar e repreender.

Que escândalo, quando depois da missa, sem dar atenção ao Senhor do universo, que veio visitá-lo, sai do santuário, como Judas saiu do Cenáculo: Cum accepisset ille buccellam, exivit continuo (Joan. XIII, 30.), e leva Jesus sacramentado, o adorável cativo, para o meio do mundo, esquecendo-O no seu coração, como um morto na sua sepultura: Oblivioni datus sum tanquam mortuus a corde (Ps. XXX, 13.).  

A inutilidade de tantas comunhões, que ele faz sem se corrigir de um só defeito, sem adquirir uma só virtude, não é só por si um perigoso escândalo? Seria para admirar, que essa inutilidade suscitasse dúvidas sobre a presença real no espírito de leigos indevotos, já muito inclinados à incredulidade?

Como se persuadirão eles de que á hóstia consagrada é o Filho de Deus em pessoa, aquele que tem justificado todos os justos, santificado todos os Santos, quando vêem que ela não produz mais efeito na alma desse padre, do que nos vasos sagrados, sempre frios, e sobre a pedra do altar, sempre dura? Poderão eles crer que o sol não alumia, que o fogo não aquece, e que a santidade não santifica? Oh! que obstáculo põe à piedade, e até à fé entre o povo, a vista dum padre tíbio a celebrar os santos mistérios! 

III. Escândalo de leviandade e de imprudência

É uma grande vitória para o inimigo das almas, se pode servir-se, para as perder, daqueles mesmo que Deus elegera para as salvar. Pouco lhe importa o modo como o auxiliam os ministros do Senhor; a leviandade e a imprudência servem-lhe quase tão eficazmente como o crime. Na realidade, a falta de prudência e de circunspeção nunca é inocente em um homem encarregado de interesses tão graves, e obrigado por tantas leis a uma vida mais seria e refletida.

A um sacerdote não se lhe admite tão facilmente como a qualquer outra pessoa a desculpa de que não pensava nisso; pois ninguém tanto como ele deve considerar atentamente o que diz e faz, quando, e em presença de quem o diz e faz. Não basta que seja santo, é necessário que o mostre, e o mostre em tudo: In omnibus teipsum praebe exemplum..., in integratite, in gravitate; verbum sanum irreprehensibile; ut is qui ex adverso est vereatur, nihil habens malum dicere de nobis (Tit. II, 7,8). Uma pergunta, uma palavra indiscreta, um gracejo, uma leviandade, um passo inconsiderado, têm sido muitas vezes semente de escândalo, desgraçadamente muito fecunda. Quantos eclesiásticos, em seu trato com o mundo, em suas viagens, mesmo no interior de sua casa, no meio das crianças, etc., porque desprezam precauções que a malignidade tornou necessária, dão lugar a suspeitas, que ofendem a honra do clero, e vêm a ser ocasião de ruína para as almas!

Senhor, assim como David, eu devo chorar outros pecados além dos meus pecados pessoais, alguns há que não cometi, e nem por isso deixam de me pesar, porque foram efeito dos meus escândalos. Perdoai-nos com os meus: Ab alienis parce servo tuo. Só me resta um meio de satisfazer à Vossa justiça, é ser conVosco e por Vós um zeloso, ardente e infatigável salvador das almas.

Feliz de mim por ter ainda este recurso, e me encontrar num estado, em que possa fazer tanto bem, quanto é o mal que tenho feito. A dívida é justa, ó meu Deus! quero satisfazê-la; o zelo é a penitência do escândalo. Dignai-Vos aceitar o meu arrependimento, abençoar a minha resolução; não tenho senão um desejo, é reparar, com a perfeição que puder, o dano que tenho feito à Igreja, a meus irmãos, mas principalmente à Vossa glória.

Resumo da meditação

I- Escândalo de intenção e perversidade

Sabe-se que certa palavra, ação, ou omissão, são capazes de ferir mortalmente a consciência do próximo; e não se faz caso disto. Abusa-se da autoridade, do ascendente que dá a santidade do estado. Ó sacerdote do Senhor, que terrível juízo que sofrereis um dia!

II - Escândalo de tibieza e de negligência

Inspira menos horror que o primeiro; as suas conseqüências são talvez igualmente funestas; ai! e como é comum! Pode-se fazer idéia disto por estes dois princípios: o mundo quer ver em nós anjos, e observa-nos com malignidade. Relações com os seculares, funções desprezadas ou mal exercidas. Oh! quão numerosas são as ocasiões de escândalo para um homem do santuário, para um pastor das almas!

III. Escândalo de leviandade e de imprudência

Num padre admite-se menos que em qualquer outra pessoa, a desculpa de que não pensava em tal; ninguém deve considerar com maior cuidado que ele, tudo o que diz, tudo o que faz, quando, e na presença de quem o diz e o faz. Não basta que seja santo, é necessário que o mostre em tudo.


(Meditações Sacerdotais ou o Padre santificado pela oração, versão portuguesa pelo Padre Francisco Luís Seabra, 2ª edição, Volume I, Porto, 1934.)