domingo, 10 de julho de 2011

Em paz no meio da guerra

Em paz no meio da guerra 


Se vos fosse possível prestar menos atenção ao ruído interior a tão variadas impressões, e viver em paz na guerra, seria deveras consolador. Lembrai-vos de que Nosso Senhor vos quer em tal estado e que nele Lhe rendeis maior glória do que em qualquer outro, sendo que vossas mesmas misérias e infidelidades se podem tornar uma bela matéria de confiança em Sua Bondade. 

A tempestade purifica a atmosfera, mas é passageira, e o sol surge em seguida mais belo e mais brilhante. Os suspiros, os gemidos, as lágrimas de um coração que só a Jesus ama são muito doces na expansão da reciprocidade do Amor Divino; as humilhações e os sofrimentos aliviam a impotência do pobre coração, o martírio ser-lhe-ia felicidade. Mas acreditais que os gemidos e as lágrimas de Madalena, junto ao túmulo do Salvador, que a agonia de Maria aos pés de Seu Jesus expirando na Cruz, não resultaram de um amor mais heróico? E o Amor de Jesus tão bom e tão terno, sofrendo sozinho e abandonado por Seu Pai e pelos homens, não terá sido o derradeiro grau do amor que sofre e se imola todo inteiro? Ah! viva Jesus, viva a Sua Cruz! 

É verdade que Jesus se queixou ao Pai: "Meu Pai, por que me abandonastes?" Pois bem! Podeis queixar- vos também, mas amorosamente, e depois do combate: é o grito do amor imolado. Quando o inimigo de Jesus e de nossa salvação vos atacar furiosamente, deveis humilhar-vos mais que o próprio demônio, dizendo a Nosso Senhor: 

"Ai de mim, Vós não lhe concedestes as mesmas Graças que a mim; ele não tem Salvador, e eu tenho um que é também Pai; ele só Vos ofendeu uma vez, eu fui ingrato, e infiel, milhares de vezes; é, pois, muito justo que ele seja o executor de Vossa Justiça. Ó meu Pai, eu me abismo no nada, mas Vós sois Pai, não me abandoneis; dai-me a mão e conduzi-me; minha vontade e meu coração pertencem a Vós, à Vossa Justiça". 

Que o Coração ardente de Amor de Jesus vos seja força, asilo, centro e calvário, que seja o túmulo do vosso ser, e depois a ressurreição, a vida, a glória. 

Deus não vos há de abandonar, mas Ele quer que o honreis no abandono e nos horrores das trevas, horrores esses que constituem o suplício do inferno; mas nesta vida é a Glória de Deus e Sua Misericórdia que triunfam dos demônios. As desolações interiores agradam mais ao Coração de vosso Esposo divino que todos os gozos e todas as luzes do Tabor. 

Se habitásseis além das nuvens e das tempestades, defrontando sempre um sol radiante, pouca atenção daríeis aos ventos e às neblinas rasteiras! Deixai, pois, que Nosso Senhor faça o que bem quiser, e segui-O cheio de amor e de gratidão por tudo. 

Coragem! Tende o coração sempre ao alto, sempre contente; que o espírito seja leve para carregar as tristezas, cantando o amor do tempo e da Pátria eterna.

(A Divina Eucaristia, volume 5, São Pedro Julião Eymard)

PS: Grifos meus.