RECOLHIMENTO DO DOMINGO
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Como é cheia de solicitude para conosco a Divina Providência que nos deu a noite, com sua paz e sossego, como recolhimento do dia. Foi esta mesma Providência, cuidadosa, que também nos deu, generosamente, para reparação da perda de forças da semana, o recolhimento do domingo. Mil vezes, bendito o dia do Senhor!
Podemos repetir aqui o que dissemos a respeito do recolhimento do dia: só sabe apreciar, devidamente, a importância do descanso dominical quem sabe trabalhar, deveras, durante os seis dias úteis da semana. É uma necessidade esse descanso. Mas também é um prêmio, uma festa, uma renovação.
Mas, ninguém, melhor do que o homem de fé, compreende todo o alcance deste recolhimento semanal.
Entretanto, como decaiu, vergonhosamente, entre os homens de hoje, a idéia reparadora, pacificadora e santificadora do domingo! Para muitos, infelizmente, o domingo é o dia desabusado, que se começa no sábado, com o recebimento do salário, salário que, muita vez, será malbaratado no jogo, no cinema, em bebidas e revistas.
Para outros, o domingo do homem é bem semelhante ao domingo do animal que não puxa a carroça ou não sulca, como o arado, a terra; come-se muito, dorme-se mais ainda.
Outros acham que o domingo só tem razão de ser, quando se tem para ele uma novidade: um divertimento, um passeio.
Para outros ainda, toda a preocupação do domingo se cifra na indumentária, tanta vez em flagrante desacordo com a sua idade, sua posição, seus haveres, seu trabalho... E o domingo - quanta vez! - se passa no campo de excursão (que, em certas circunstâncias e com certa cautela, seria um bem), ou na piscina ou na praia, ou no esporte ou no bar ou em visita e não sei onde mais; mas, em todo o caso, não são muitos os que se lembram de que o domingo é o dia da família, é o dia de Deus, por excelência.
Sim, é o dia do Senhor, com a assistência devota à santa missa, que deveria ser o centro do domingo... O cristão, então, se lembra de que não é só corpo, mas também espírito; lembra-se de que se deve trabalhar não somente para essa terra, mas também para o céu.
Desapegou-se um pouco da matéria, que o prendeu toda a semana, e de suas exigências, e levanta, liberto, seu coração a Deus, para o qual ele foi criado e no qual encontrará sua felicidade.
O domingo, considerado cristãmente, e tomado a sério, tem uma força transformadora e santificante extraordinárias.
Para os cristãos mais fervorosos, vem, ainda, à tardinha ou à noite, a assistência às vésperas ou à bênção do Santíssimo, talvez com nova pregação, que os colocam, pouco a pouco, nesse estado de cristianismo, convencido e convincente, que falta a tantos que se dizem católicos e que traem, na primeira oportunidade, sua fé, tão mal protegida e, pior ainda, tão mal alicerçada.
E que dizer do domingo nos presbitérios fervorosos e nos conventos de bom espírito? Naqueles, é dia de intensa atividade, mas atividade que eleva, que não perturba, e que é tão de acordo com a atividade no céu e para o aperfeiçoamento da almas: as santas missas mais numerosas e mais frequentadas, o confessionário assediado, a mesa sagrada cheia de comensais piedosos; as pregações, os batizados, as reuniões das associações, o catecismo solene, a bênção do Santíssimo.
Ó dia feliz para o cura de almas fervoroso: é, realmente, o dia do Senhor!
Nos conventos, os domingos tomam uma aparência do repouso eterno: um grande silêncio e uma grande paz envolvem a casa de Deus. Da igreja conventual emerge uma onda de bem-estar sobrenatural, que penetra as celas, os claustros, os jardins, as oficinas desertas, mas, principalmente, as almas. Tudo respira um ar solene, e, ao mesmo tempo, singelo e íntimo, sinal de presença de Deus Nosso Senhor.
Os contemplativos, também aqueles, ou, principalmente, aqueles que souberam desenvolver, durante a semana, sua atividade em trabalhos manuais ou intelectuais, ei-los mergulhados em alguma leitura profunda ou prostrados diante dos altares, ou, passeando, lentamente, em oração, pela horta.
Quando soa o grande sino, para logo se povoa o coro ou a capela, e o cântico ou salmodia quebra, com vantagen, aquele silêncio benéfico...
Mas o domingo também é, por excelência, o dia da família. É o dia feliz em que pais e filhos, irmãos e irmãs se encontram mais unidos depois de uma semana de quase separação pelos trabalhos e ocupações de cada um. A casa está mais limpa, enfeitada. A refeição principal, melhorada. Todos com roupas melhores, limpas, frescas. E chegam os parentes, os amigos íntimos. Visita-se o jardim, o quintal; presta-se uma atenção carinhosa a todas as plantas e árvores. Improvisa-se um divertimento, um recreio. É o dia da família cristã.
Como é, realmente, belo o recolhimento da semana: o domingo, transfigurado pelo amor de Deus, embelezado pelo espírito de família. Bem se compreende por que a impiedade procura profanar este dia sagrado. Bem se compreende por que o néo-paganismo procura estragar este recolhimento que tanto fala das suas grandes belezas da terra: a casa de Deus e o lar.
Maria Santíssima, a Virgem do Templo, a Senhora da casa de Nazaré, chorou diante de pastorinhos humildes, Melânia e Maximini, lá nas Montanhas de Salete, chorou, contemplando a destruição criminosa do recolhimento da semana: o domingo, o dia do Senhor.
Amemos este dia extraordinário e saibamos tirar dele aquela força e espírito de fé e de renovação que Deus Nosso Senhor, por meio dele, nos quer conceder.
Como é formoso este recolhimento semanal!
E já se compreende por que a encantadora Santa Teresinha do Menino Jesus, com sua alma delicada e cheia de beleza, gostava tanto do domingo e suspirava à noite: Ai! que passou este dia lindo! amanhã será segunda-feira... Como tarda o domingo eterno do céu!...
(Reconhimento, pelo Frei Henrique Golland Trindade O.F.M, Bispo de Bonfim, edição de 1945)
PS: Grifos meus.
Nos conventos, os domingos tomam uma aparência do repouso eterno: um grande silêncio e uma grande paz envolvem a casa de Deus. Da igreja conventual emerge uma onda de bem-estar sobrenatural, que penetra as celas, os claustros, os jardins, as oficinas desertas, mas, principalmente, as almas. Tudo respira um ar solene, e, ao mesmo tempo, singelo e íntimo, sinal de presença de Deus Nosso Senhor.
Os contemplativos, também aqueles, ou, principalmente, aqueles que souberam desenvolver, durante a semana, sua atividade em trabalhos manuais ou intelectuais, ei-los mergulhados em alguma leitura profunda ou prostrados diante dos altares, ou, passeando, lentamente, em oração, pela horta.
Quando soa o grande sino, para logo se povoa o coro ou a capela, e o cântico ou salmodia quebra, com vantagen, aquele silêncio benéfico...
Mas o domingo também é, por excelência, o dia da família. É o dia feliz em que pais e filhos, irmãos e irmãs se encontram mais unidos depois de uma semana de quase separação pelos trabalhos e ocupações de cada um. A casa está mais limpa, enfeitada. A refeição principal, melhorada. Todos com roupas melhores, limpas, frescas. E chegam os parentes, os amigos íntimos. Visita-se o jardim, o quintal; presta-se uma atenção carinhosa a todas as plantas e árvores. Improvisa-se um divertimento, um recreio. É o dia da família cristã.
Como é, realmente, belo o recolhimento da semana: o domingo, transfigurado pelo amor de Deus, embelezado pelo espírito de família. Bem se compreende por que a impiedade procura profanar este dia sagrado. Bem se compreende por que o néo-paganismo procura estragar este recolhimento que tanto fala das suas grandes belezas da terra: a casa de Deus e o lar.
Maria Santíssima, a Virgem do Templo, a Senhora da casa de Nazaré, chorou diante de pastorinhos humildes, Melânia e Maximini, lá nas Montanhas de Salete, chorou, contemplando a destruição criminosa do recolhimento da semana: o domingo, o dia do Senhor.
Amemos este dia extraordinário e saibamos tirar dele aquela força e espírito de fé e de renovação que Deus Nosso Senhor, por meio dele, nos quer conceder.
Como é formoso este recolhimento semanal!
E já se compreende por que a encantadora Santa Teresinha do Menino Jesus, com sua alma delicada e cheia de beleza, gostava tanto do domingo e suspirava à noite: Ai! que passou este dia lindo! amanhã será segunda-feira... Como tarda o domingo eterno do céu!...
(Reconhimento, pelo Frei Henrique Golland Trindade O.F.M, Bispo de Bonfim, edição de 1945)
PS: Grifos meus.