segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Educação sobrenatural - XII - A ressurreição da vida sobrenatural

EDUCAÇÃO SOBRENATURAL
XII- A RESSURREIÇÃO DA VIDA SOBRENATURAL


"Se o pecador se desvia da maldade que praticou...
fará viver a sua alma."
(Ezequiel, XVIII, 27)

Como se opera a ressureição da vida sobrenatural?
A ressurreição da vida sobrenatural opera-se normalmente pela  recepção do sacramento da Penitência.

Em que idade convém levar a criança à confissão?
"É impossível estabelecer uma regra uniforme. Certas crianças muito precoces têm a razão suficientemente desenvolvida par acometer um pecado grave, desde a idade de três ou quatro anos. É  uma exceção, de acordo; mas não é uma suposição quimérica. Conheci um menino de três anos e meio ou quatro, raivosamente invejoso da sua irmãzinha. Manifestava por ela o mais violento rancor.
- Ah! - dizia ele com uma entoação impossível de esquecer- um dia que a mamãe e a criada não estejam, levo-a a casa do senhor X... (este indivíduo morava no quarto andar) e de lá atiro-a pela janela. Que vos parece esta maneira de pensar tão precoce?"
(Charruau, Às mães, p.41, 42 e 44)

As criancinhas cometem facilmente pecados mortais?
Facilmente, não.

Mas, "muitos pais iludem-se e crêem facilmente que seus filhos são duma inocência absoluta, quando é certo que o pecado mortal, infelizmente, já feriu a sua alma. Poder-se-ia contar, a este propósito, mais duma história tristemente elucidativa".
(Charruau, Às mães, p. 41, 42 e 44)

Não há uma circunstância em que é preciso absolutamente fazer confessar a criança que manifesta vislumbres de razão?
Sim.
Quando há perigo de morte.

Não vale dizer que, se numa tão tenra idade a criança cometeu algum pecado grave, provalvemente já não se lembrará dele. Porque, seja embora gratuita esta suposição, a teologia ensina-nos que não é o esquecimento do pecado mortal que põe a alma em graça com Deus. É preciso, para isso, a contrição perfeita, com o desejo de se confessar, ou a absolvição com a contrição ao menos imperfeita. Então, mas só então, todos os pecados, mesmo aqueles que involuntariamente se esqueceram. são perdoados, e a alma recupera a graça perdida.

Como se deve preparar a criança para receber o sacramento da Penitência?
- É preciso primeiramente elevá-la a uma atmosfera sobrenatural.

- Em seguida facilitar a confissão dos pecados cometidos pelo exame de consciência e a confissão no padre confessor.
- Prepará-la também para a contrição.
- Inspirar-lhe sobretudo em horror profundo pelo sacrilégio.
- Familiarizá-la, enfim, com as fórmulas em uso na diocese onde se confessa.

Qual é o meio de elevar a criança a uma atmosfera sobrenatural?
1º- É fazer-lhe considerar o padre como representante de Nosso Senhor, cujo lugar ocupa, partilhando dos Seus poderes e comunicando o perdão.
- É dizer-lhe e fazer-lhe crer que, no momento da absolvição, é o próprio sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo que corre na sua alma para a purificar, santificar e divinizar.

Como se pode ajudar a criança a fazer o exame de consciência?
A mãe, de ordinário, conhece o seu filho a fundo: sabe o que ele tem feito, dito, pensado ou sentido muito melhor do que ele próprio o sabe. Pode, portanto, ensinar-lhe facilmente a ler a sua consciência. Para o conseguir, procederá por interrogações; assim despertará as lembranças, fixar-se-á a atenção e lhe dará o mérito, e quase que a alegria, de ele mesmo descobrir aquilo de que tem de arrepender-se.

Pode dar-se o caso de a criança negar de boa fé, apesar de culpada; a mãe insistirá, concretizará mais as perguntar, encaminhá-la-á, recordando ao pequeno aprendiz do exame de consciência algumas circunstância que acompanharam a culpa, e desta maneira obterá suavemente dos seus lábios uma palavra de confissão.

Que doce e consoladora tarefa para uma mãe!

No entanto, tenha cuidado em não abusar. Pode fazer tudo da primeira vez; da segunda, já um tanto menos; da terceira, menos ainda; e retirar-se-á pouco a pouco, até deixar à criança uma iniciativa cada vez maior, até que o santuário de sua alma esteja inteiramente fechado e ele possa preparar-se por si só.

"Há coisas que as mães devem fingir nunca saber, embora estejam ao corrente de tudo."
(Pichenot)

Como se deve inspirar à criança a confiança de que tem necessidade?
- Falar-lhe com convicção do segredo da confissão;
2º- habituá-la a um grande respeito pelo padre;
- penetrar a sua alma duma veneração profunda pelo confessor.

Que se pode dizer à criança, relativamente ao segredo da confissão?
- Que o padre não revelará a quem quer que seja aquilo que sabe pela confissão;
- se, por um impossível, o fizer, cometerá um grande crime, que o tornará merecedor do inferno;
3º- que ele antes quererá morrer do que violar um segredo tão grande e tão sagrado.

A história de São João Nepomoceno ilustra dum modo útil esta verdade essencial.

"Intimado por Wenceslai, imperador da Alemanhã e rei da Boémia, a revelar a confissão da imperatriz Joana, o santo bispo afrontou todas as ameaças do tirano e pagou com a vida a sua fidelidade ao sigilo sacramental. Alguns anos após a sua morte, abriram o seu túmulo. O corpo estava inteiramente decomposto, com exceção da língua, que foi encontrada fresca e intacta... Deus glorificava por esta maravilha o mártir da confissão."
(segundo Charruau, ob. cit., p. 46)

Como se pode criar na criança o respeito pelo padre?
- Pelo exemplo.

Que os pais não julguem, não critiquem, nem escarneçam os ministros de Deus. Que testemunhem, em toda a sua atitude, um verdadeiro culto pela sua pessoa e pelo seu ministério. Os inimigos da religião têm tentado todo o possível para rebaixar o padre: "No fim de contas, dizem eles, é um homem como qualquer outro". Os pais e as mães que repetissem essa frase teriam que censurar-se por haverem vibrado um golpe mortal no respeito, dentro da alma de seus filhos; tornar-se-iam, sem o querer, cúmplices dos sectários e dos franco-mações.

- Pela contristada repressão de toda a falta.

Encontrávamos-nos um dia com uma família, falávamos com a mãe de questões de educação e emitíamos esta idéia muito verdadeira, infelizmente: que as crianças bem educadas são muito raras. Uma rapariga de quinze anos, orgulhosa como um pavão, porque tinha sido adulada, amimada e estragada, saía e entrava na sala onde nos encontrávamos. Não podendo ficar indiferente à nossa reflexão, que a feria pela sua flagrante verdade, segredou ao ouvido da mãe:

- E ele (ele éramos nós) teria sido bem educado?

A mãe limitou-se a responder, com ar sorridente:

- Ah! sua má!

E a prova de que a sua desaprovação era meramente negativa, é que nos repetiu, sem mesmo sentir a necessidade de se desculpar, a graça da filha, que nós não tínhamos ouvido. (Autêntico). Era, de fato, uma insolência completamente atentatória do respeito que se deve inspirar às crianças pelo padre.

- Por certas manifestações exteriores.

Antigamente, à passagem do padre, as crianças ajoelhavam-se para receber a sua bênção. Se não se pode ou se quer restabelecer esta piedosa prática, habituem-se pelo menos as crianças a saudar o padre e, quando o ministro e Deus visitar a família, que a mãe lhe peça a bênção para os seus filhinhos, e que estes a recebam de joelhos, com as mãos postas.

A veneração acrescenta alguma coisa ao respeito?
Faz subir a alma um degrau no caminho sobrenatural, onde o respeito a tinha já colocado: dá-lhe um sentimento de religiosa afeição; prepara para todas as docilidades. Felizes as crianças educadas na estima desta virtude! temos conhecido algumas desse número!

- Foi o snr. abade que o disse, observavam elas. E isto era sagrado!
- Foi o meu confessor que me aconselhou! E isto era indiscutível!

Oh! as maravilhas que nós operaríamos! As belas almas que nós formaríamos. Os sólidos alicerces de salvação que lançaríamos! As consolações que nós gozaríamos!

Qual é o fruto natural deste respeito e desta veneração?
É a confiança.

A confiança é necessária?
É um meio de salvação, absolutamente necessário em certas circunstâncias. Porque, enfim, um grande número de crianças cairão, quando crescerem, em pecado mortal; deverão então recorrer ao padre, ministro do sacramento da Penitência, para serem perdoadas. A confissão será fácil, se for inspirada pela confiança; seria que se impossível, se não tivesse, pelo menos, o respeito como ponde de apoio.

A confiança é geralmente praticada?
Não.

Menos ainda que o respeito e a veneração, que ela exige sempre, mas que não acompanha necessariamente. Mesmo as crianças relativamente bem educadas sabem bem o que é esta virtude: e, quando se quer fazer-lha compreender, quando se quer levá-las a praticá-las, sente-se que para a abertura da alma há um obstáculo, uma pedra, que faz pensar naquela de que as santas mulheres diziam: "Quem nos levantará a pedra do túmulo?"

Sim, há aí uma pedra; e, quando conseguimos derrubá-la, a libertação da alma é acompanhada duma tal explosão de alegria que nós reconhecemos a necessidade natural da confiança e, consequentemente, a deformação e má educação da alma que a não pratica. - Que infelicidade não me haverem educado nesta confiança! - exclamava uma jovem no dia em que, por fim, compreendeu a doçura, as vantagens e a necessidade desta virtude.

Qual é o complemento desta confiança?
É, da parte da criança e de seus pais, a submissão às direções espirituais do seu padre confessor. Só ele é juiz: deve ser um juiz escutado. Quantas vezes nos tem sucedido pedir a uma criança que venha confessar-se todas as semanas, e obter uma resposta como esta: - A mamãe disse que bastava confessar-me de quinze em quinze dias.

Não! não! não!

Como se pode preparar a criança para a contrição?
- A criança, de ordinário, não pensa nisso. É preciso, nesse caso, pensar por ela.

- A criança corre o risco de fazer uma idéia falsa da contrição: é preciso, pois, instruí-la bem. "Um menino respondia um dia, no catecismo, que a contrição perfeita é aquela que é séria, e a contrição imperfeita é a que não é séria". (Charruau, Ás mães, p. 47). Vê-se que perigos uma semelhante instrução religiosa pode fazer correr à vida sobrenatural e à salvação da alma.

- A criança expõe-se a não tornar sobrenatural o seu arrependimento; é preciso ajudá-la a fazer com o seu coração e com a sua fé a tríplice peregrinação clássica: ao calvário, ao céu e ao inferno...

Que é preciso que a criança saiba com respeito à comunhão sacrílega?
É preciso falar-lhe de modo que se lhe inspire um horror profundo por este grande pecado. E, não obstante, fazer-lhe notar que, se tiver tido a infelicidade de imitar Judas no seu crime, não deveria segui-lo na desesperação, mas confessar-se quanto antes, para alcançar a graça de Deus. Será oportuno avisá-la de que o padre nunca se admirará das confissões que lhe fazem, porque conhece o coração humano e, como Nosso Senhor, está cheio de ternura e compaixão para com os pobres pecadores.

Quais são as regras e as fórmulas às quais é preciso habituar a criança?
Mgr. Pichenot não desdenha entrar nalgumas particularidades:

"As crianças tiram as luvas, põem-se de joelhos, fazem o sinal da cruz e dizem: 'Abençoai-me, meu Padre, porque eu pequei'. Meu Padre! esta palavra abre o coração, dá a confiança, e transporta a alma a outro mundo. Recomendai-lhe que diga o Confiteor em português (Nota de rodapé: No original diz em francês) e corretamente, o que é muito raro. Que digam: 'eu pecador me confesso' e não 'eu confesso' a 'Deus Todo Poderoso' e não 'a Deus o Pai todo poderoso'; porque eles não se devem confessar à primeira primeira pessoa da Santíssima Trindade somente, mas a todas três ao mesmo tempo. E depois, dizendo: 'o Pai todo poderoso, criador do céu e da terra' e ei-los perdidos! 'E a vós meu Padre', estas palavras são essenciais para distinguir esta oração, no confessionário, da que se diz nos exercícios da noite e da manhã. Não se trata aqui precisamente da confissão a Deus, mas da confissão do padre: 'E a vos meu Padre, que pequei muitas vezes" habituai-as a não dizerem - o que é uma falta e um contra senso 'e a vos, meu Padre, que rogueis por mim'. Que façam pausa em chegando às palavras 'por minha culpa'; porque é no meio do Confiteor que se deve fazer a confissão e dizer os pecados. Quando tenham dito tudo e respondido às perguntas do confessor, que terminem por estas palavras: 'Acuso-me também de todos os pecados de que me não recordo e de todos os pecados de minha vida passada; de tudo peço perdão a Deus, e a vós, meu Padre, a penitência e a absolvição, se me julgais digno dela'. E devem acabar o Confiteor, batendo no peito e dizendo: 'Por minha culpa'..."

(Catecismo da educação, pelo Abade René de Bethléem, continua com o post: Os frutos da vida sobrenatural)

PS: Grifos meus.