O DOM DE SI E A PROVAÇÃO INTERIOR
Jesus é bom jardineiro. Cuida do pomar que Seu Pai plantou e poda-o a Seu devido tempo. A alma sabe que é objeto da divina solicitude. Contenta-se com esforçar-se por crescer, cobrir-se de folhas, flores e frutos. Não indaga quando o Senhor quererá apará-la e cortar os galhos secos. Espera com paciência, consciente de que Cristo vela por ela e a fará participar, no momento oportuno, da Sua amada Cruz. Ela nada determina, não escolhe o sofrimento que o Senhor lhe vai enviar. Mas quando Jesus se lhe apresenta trazendo a Sua Cruz adianta-se e ajuda-O a carregá-la.
Como detalhar as provações com que Jesus favorece as almas? São de muitos tipos, adaptadas às necessidades de cada alma, escolhidas conforme o tipo de beleza que deve ser peculiar a cada uma.
O Senhor serve-se muitas vezes dos escrúpulos de consciência, das dúvidas sobre a sinceridade da própria intenção e sobre a qualidade das obras. A provação atinge uma acuidade extrema se a alma se persuade de que está em inimizade com Deus. E parece-lhe que Deus também a desampara e lhe vira o rosto.
Mas para que descrever essas situações? Deus reserva para si esse terreno. Quer estar livre e agir sozinho no íntimo da alma. Com este fim, tolhe as capacidades, cega a razão, adormece a vontade, desnorteia os sentidos. O papel da alma entregue a Deus é renovar nesses momentos penosos o ato de doação de si mesma. Deus sempre lhe concede a suprema liberdade de abandonar-se por um ato da vontade. Tira-lhe sem dúvida a consolação desse ato, mas ajuda-a sempre a fazê-lo, pois é esta a essência da vida espiritual.
Depois disso, só resta à alma sofrer, esperar e ter paciência. Atingiu toda a perfeição que podia naquele momento. Deus age nela, purifica-a como numa forja, alternando o uso do ferro e do fogo. As faíscas saltam a cada pancada do malho divino, mas a obra vai tomando forma. Um pouco mais de paciência e Deus terá concluído mais uma obra-prima. Então, de súbito, as provações cessam, porque, depois de mergulhar a alma num banho refrescante, o Senhor restitui-lhe as energias e dissipa-lhe as trevas.
Senhor! Vós crucificais de um modo admirável! Não chegarei eu a compreender que, nesses dolorosos momentos, devo deixar-Vos agir em mim sem lamentações nem murmúrios, e a casa nova pena, a cada crise mais dolorosa, responder com um fiat - faça-se - mais amoroso?
(O dom de si, vida de abandono em Deus, pelo Pe. Joseph Schrijvers)