segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Educação sobrenatural - XI - Os amparos da vida sobrenatural

EDUCAÇÃO SOBRENATURAL
XI - OS AMPAROS DA VIDA SOBRENATURAL


"A vida da alma é Deus"
 (Santo Agostinho)

Quais são os amparos da vida sobrenatural?
São: a oração (art. I); a Confirmação (art. II); a Comunhão(art. III).

Artigo I - A oração

"Uma criança para orar precisa do coração de sua mãe"
(Mgr. Pichenot)

Qual é a primeira oração que a criança deve fazer?
É a oração dos gestos. Consiste em ajoelhar; juntar as mãos; baixar os olhos; bater no peito; em fazer o sinal da cruz, etc.

Esta oração tem algum valor?
"Hábitos maquinais! - murmuram os pretensiosos da pedagogia. Parece-nos que, se um Pascal, na plenitude  do gênio, podia implorar algum auxílio para a pobre máquina humana, contar com o hábito para despertar a sua fé, não pode haver presunção alguma em usar do mesmo gênero de incitamento para os mais pequeninos. Quando a idade da vida puramente física tiver passado, o seu corpo, ajudando a alma no seu mais alto serviço, lhe recordará, instintivamente, pelas suas atitudes, que é a hora de retomar a plenitude da sua vida espiritual sob o olhar de Deus".
(Bouvier)

Que orações de devem fazer dizer à criança quando começa a falar?
Orações muito curtas e muito simples:

Jesus, dou-Vos o meu coração”; “Jesus abençoai o papai e a mamãe... e toda a família”; “Jesus tornai o meu coração semelhante ao Vosso”, e outras do mesmo gênero, sugeridas pelas circunstâncias à piedade engenhosa das mães de família.

Que desenvolvimento convém dar a oração da criança que vai crescendo?
Um desenvolvimento progressivo em relação com a idade e a capacidade da criança. É preciso nada exagerar; porque o essencial não é que a oração seja longa, mas que seja bem feita.

Quais as condições a realizar para que a oração seja bem feita?
- É preciso incutir na criança, desde a mais tenra idade, o hábito e fazer bem a sua oração.
- É preciso explicar-lhe, a pouco e pouco, o sentido das fórmulas que emprega.
3º- É preciso exigir que a sua atitude seja séria e recolhida, dando-lhe o exemplo.
- É preciso ter cuidado que ninguém faça barulho em volta da criança enquanto desempenha este dever.
- É preciso que pronuncie as palavras pausadamente, sem se apressar e sem gaguejar.

Numa excelente família, muito cristã, piedosa, séria, assistimos um dia, por acaso, à oração da noite das crianças. Eram três ou quatro, com uma aia sem autoridade; recitavam as rezas com uma precipitação que lembrava um concurso de velocidade, com modulações que pareciam às vezes gritos, com sorrisos, movimentos nervosos de cabeça e dos olhos; parecia tudo uma comédia. E a isto chamava-se dizer a sua oração (autêntico).

Não seria para desejar que as crianças que não assistem ainda à oração comum pudessem recitar separadamente, e cada uma por sua vez, as orações que convém à sua idade?

Devemos contentar-nos com a oração individual?
- É preciso, o mais cedo possível, fazer participar a criança da oração comum, feita em família, pelo menos a noite.

2º- É também preciso iniciá-la sem demora a participar dos cultos divinos, conduzindo-a aos exercícios religiosos, ainda antes que a idade a isso obrigue.

"Vi em Anvers o famoso quadro de Rubens - Jesus pregado na Cruz; o artista representou no Calvário uma mulher amamentando o seu filhinho. O pequenino, à vista de Deus crucificado, parece comovido, esquece o seio de sua mãe, volta a cabeça e contempla com os seus grandes olhos o tocante espetáculo. Na imaginação do pintor há uma idéia verdadeira. Os nossos mistérios sagrados têm alguma coisa que está ao alcance de todas as idades. As crianças cristãs sentem o que não compreendem, adivinham o que ainda não sabem".
(S. Diniz Areopagita)

Artigo II - A Confirmação

"Conduz-me o batizado, vestido com uma túnica branca, junto do bispo, que o unge com o óleo santo e deificante".
(S. Diniz Areopagita)

Em que idade se deve receber o sacramento da Confirmação?
O sacramento da Confirmação pode ser validamente recebido antes da idade da razão: na primitiva Igreja dava-se aos pequeninos, mesmo de peito; é ainda o uso dos Gregos e das Igrejas de Espanha.

Seria vantajoso que a criança recebesse este sacramento na idade da razão.

Mgr. Roberr, bispo de Marselha, tendo resolvido adotar esta prática, recebeu, em 22 de junho de 1897, uma carta elogiosa do papa Leão XIII, na qual se lê, entre outras coisas:

"Damos os maiores elogios aos vossos desígnios... Desejamos vivamente que aquilo que por vós foi sabiamente regulado, seja fiel e perpétuamente cumprido".

Praticamente, que se deve fazer?
Não depende evidentemente do pai e da mãe fazer confirmar os filhos em certa e determinada idade. Mas, se as circunstâncias deixam à sua escolha a determinação do tempo, é preferível antecipar a retardar a administração do sacramento.

Quais são as vantagens do sacramento da Confirmação na educação da criança?
- A maturação da vida sobrenatural, que dá a força de professar a fé, e a coragem de combater os inimigos da salvação.

- O caráter, que faz da confirmação um soldado de Jesus Cristo.

3º- O aumento da graça santificante.

E, como a educação tem o seu coroamente na bem-aventurança eterna do céu, que satisfação não é para um pai e uma mãe saberem o seu filho de posse duma graça santificante aumentada, "porque é de fé que a recompensa celeste será na proporção da graça habitual que a alma possua no momento de abandonar o corpo"!

Santa Teresa disse que, "se os homens conhecessem o valor dum só grau de glória, julgariam não o pagar muito caro com os sofrimentos e trabalhos duma longa vida".
(Charruau, Às mães, p.41)

Artigo III - A Comunhão

"Como o veado corre para as águas vivas, a minha alma corre para Vós, ó meu Deus".
(Ps. XLI, 1)

Como preparará a mãe o seu filho para a primeira Comunhão?
Inspirando-lhe um grande amor pela Santa Eucaristia e um profundo respeito pela casa de Deus.

Porque meios chegará a mãe a inspirar um grande amor pela Eucaristia?
- No lar - Instruirá a criança neste grande mistério; falar-lhe-á muitas vezes de Jesus, que habita no tabernáculo; inspirar-lhe-á o desejo de se unir a Ele; fará que se ajoelhe à passagem do Santíssimo Sacramento, quando é levado aos doentes ou em procissão.

Na Igreja - Aí levará freqüentemente a criança; obriga-la-á a fazer piedosamente o sinal da cruz e a ajoelhar; mostrar-lhe-á o tabernáculo, dizendo-lhe que é ali que Jesus habita, que de lá está olhando para ela.

Um menino de cinco anos, instalo por sua mãe a dizer o que mais o impressionava na catedral de Bolonha sobre o Mar, que visitava pela primeira vez, indica o tabernáculo.

- Porquê?
- Porque Ele está ali! (Autêntico)

Depois far-lhe-á recitar uma pequenina oração. Estas visitas serão repetidas o maior número de vezes possível; devem ser desejadas pela criança e concedidas como uma espécie de recompensa.

Por que é preciso que a criança seja educada num profundo respeito pela Casa de Deus?
Porque estamos convencidos de que não há nada a esperar de bom duma criança que não tem respeito pela igreja.

Numa paróquia, aonde nos conduziram as vicissitudes da guerra, fomos obrigados a descer do nosso lugar, durante o exercício, para ir ao fundo da igreja admoestar e separar dois pequenos, que tagarelavam e riam duma maneira escandolosa. E, durante esse tempo, a mãe dum deles, piedosamente ajoelhada junto da mesa de comunhão, com os outros filhos mais crescidos, convencia-se, sem dúvida, de que cumpria todos os seus deveres de estado, e que, neste ponto, fazia a vontade de Deus.

Pobre e cega mãe, que de lágrimas não derramará!
Pobre criança mal educada ... seria quase um milagre, que se não perdesse!

Como receberam os verdadeiros educadores o decreto de Pio X relativo à idade da primeira comunhão?
Com um frémito de alegria: a sua alma rejubilou de gozo e de reconhecimento; as suas concepções sobre a formação cristã encontraram nas palavras pontifícias um remate e um apoio; e agradeceram a Deus com efusão esta graça, a maior de todas as graças, há tanto tempo sonhada.

Enfim, estavam isolados os apóstolos muito pouco sobrenaturais, que continuavam os erros condenados por Nosso Senhor quando dizia: "Deixai vir a mim as criancinhas e não as afasteis" (Marc. X,14).

Enfim, o Salvador poderá tomar posse, antes que o pecado as tenha manchado, destas pequenas almas de criancinhas tão límpidas, tão luminosas, tão delicadas e tão amáveis. (Nota de rodapé: "Os padres espanhóis, quando dão a comunhão a uma criancinha, dizem-lhe: Que Jesus entre em teu coração antes do pecado". Bouvier)

Enfim, o Criador, o Pai, poderá abraçá-las, acariciá-las, inundá-las de graças e de bênçãos, prepará-las, formá-las, santificá-las, salvá-las! Enfim, os pais, sobrenaturalmente cuidadosos da sua responsabilidade, gozarão, desde o primeiro dia da vida racional de seus filhos, da colaboração quotidiana, íntima e pessoal de Nosso Senhor e Mestre, Jesus Cristo, amigo das criancinhas, zelador das almas, a verdadeira luz, a sabedoria eterna.

E, bem longe de retardar a hora bendita do primeiro contato divino, esforçar-se-ão por a aproximar por todos os meios ao seu alcance, interpretando a idade da razão no seu espírito bem melhor que na sua letra.

Todos os educadores terão apreciado do mesmo modo o favor insigne da comunhão precoce?
Não.
Tem havido resistências.

Os meus netos vão fazer a sua primeira Comunhão, dizia um dia uma avó, mas lamento-o; submeto-me, porque é preciso; porém, incomodada. E as disposições interiores refletiam-se na fisionomia e não podiam deixar de se traduzir nas suas palavras, em detrimento da formação de seus netos, que tinham, aliás, nove e dez anos, quando comungaram pela primeira vez. (autêntico).

Que razões alegam para sustentar esta oposição?
- A pouca inteligência da criança;
- O sacrifício, sem compensação, das vantagens da antiga primeira Comunhão solene.

Que se há de responder à objeção da pouca inteligência da criança?
Eu não queria, dizem certas mamães, que meu filho comungasse tão novo: não sabe o que faz.
Nós respondemos:

- Se, na verdade, uma criança não for, aos sete anos capaz de comungar, a não ser que seja idiota, o que é uma exceção, é porque a sua mãe faltou a todos os deveres de educadora.

2º- Certas crianças, das quais se diz que não sabem o que fazem, quando se trata da primeira Comunhão, são apresentadas, em todas as outras circunstâncias, como pequenos prodígios de inteligência e de precocidade.

Que de há de responder à objeção que se apoia nas vantagens perdidas da primeira Comunhão solene?
Havia, com efeito, algumas vantagens na antiga disciplina: a primeira Comunhão solene era bela, edificante, convertedora...; marcava uma data na vida; deixava ordinariamente vestígios inapagáveis. Poderia perguntar-se se esta impressão era bem sobrenatural, ou se não provinha, em grande parte, dos presentes recebidos, das festas de família, das distrações exteriores... Mas, deixemos isso. Tomemos as coisas pelo melhor.

Mesmo nesta hipótese, ousar comparar as vantagens da primeira Comunhão solene com o benefício sobrenatural da Comunhão precoce, necessária e facilmente seguida de muitas outras Comunhões, é não compreender nada das coisas da vida espiritual, da santificação e da salvação.

Qual pode e deve ser a frequência das Comunhões da criança que foi uma vez admitida à Mesa Santa?
Uma vez admitida a criança à primeira Comunhão, é convidada a comungar todos os dias. As condições a realizar são as mesmas que se exigem às pessoas adultas: o estado de graça, a reta intenção, o jejum natural.

Somente, como as crianças são aprendizes, precisam dum mestre nos exercícios da Comunhão, como em todos os outros exercícios. O mestre não é preciso procurá-lo: é o pai ou a mãe, que devem normalmente acompanhar os seus filhos à Mesa Sagrada, ajudá-los a preparar-se, e a fazer ação de graças.

Não se levantam objeções contra esta direção?
Sim; e numerosas objeções. Diz-se:

- É uma sujeição acompanhar as crianças;
2º- Não se pode orar convenientemente;
- As crianças estão quase constantemente distraídas;
4º- A Comunhão obriga as crianças a levantarem-se muito cedo.

Que se deve responder à primeira objeção: É uma sujeição acompanhar as crianças?
Respondemos: Onde é que vós, pais e mães, aprendestes que a educação é uma partida de prazer?

Não será verdade, pelo contrário, que é uma longa paciência, uma série quase ininterrupta de atos de virtude? E esta responsabilidade, da qual o pensamento não pode e não deve desviar-se, não seria uma alavanca suficiente para elevar o vosso espírito, o vosso coração e a vossa vida à altura de todos os sacrifícios?

Que se deve responder à segunda objeção: Não se pode orar convenientemente?
Respondemos: Se os pais, na sua preparação e na sua ação de graças, só têm as distrações ocasionadas pelo cumprimento do seu dever de estado, com respeito a seus filhos, poder-se-ia propô-los como modelos de recolhimento.

São na verdade distrações?
Orar não é fazer orar os outros?

Os pensamentos e os sentimentos que insinuam a seus filhos, são diferentes daqueles de que tem necessidade para si próprios? E as observações que fazem ao pequeno comungante, que está a seu lado, não poderia servir-lhe de ocasião para recuperarem a posse do próprio espírito e do seu coração?

Que responder à terceira objeção: As crianças estão quase constantemente distraídas?
- Deus não pede a cada um senão aquilo que pode dar; espera, pois, muito menos das crianças do que dos adultos.

- As distrações das crianças vêem-se, porque, insuficientemente senhoras de si mesmas, traduzem no exterior o que são interiormente, e por isso de diz: Estão quase constantemente distraídas. As distrações dos adultos não se vêem porque conservam a compostura e parecem, algumas vezes pelo menos, melhores do que realmente são.

Mas, aos olhos de Deus, que sonda os espíritos e os corações, que se não deixa seduzir por aparências, qual é a melhor comunhão: a da criança que se não recolhe senão uns segundos, ou a do adulto que parece recolhido durante muitos minutos?

Que responder à quarta objeção:  A Comunhão obriga as crianças a levantarem-se muito cedo, para que possa ser frequente?
Entendamo-nos bem!

A criança tem, por exemplo, seis ou sete anos. Os bons autores dizem-nos que, a partir dos três anos, o repouso da noite deve durar de dez a doze horas, suprimindo-se a sesta do dia.

Donde concluímos, e parece legitimamente, que a partir dos seis ou sete anos, é possível, sem inconveniente, contentarmo-nos com o que é considerado como mínimo para os três anos: quer dizer, dez horas. Ora, se a criança se deita à hora razoável, às 20 ou 20 horas e meia, poderá levantar-se às 6 ou 6 e meia (Nota de rodapé: As horas consagradas ao sono podem ser variadas com o fim da adaptação da vida das crianças aos hábitos do seu meio). Onde está então a dificuldade de comungar?

Estas indicações não são teóricas, e, por conseguinte, irrealizáveis?
Nós pensamos, pelo contrário, que em muitas famílias a educação constitui um incitamento ao sono, que ultrapassa os limites do que a criança reclama naturalmente.

Para nos convercermos disso, basta notar a facilidade com que a criancinha de três ou quatro anos desperta após  dez ou onze horas de repouso. Até parece que "o somo conveniente que faz repousar as crianças lhes dá um sangue melhor, as torna alegres e vigorosas" (Fénelon).

É só depois de estar formada na escola da preguiça paternal, maternal ou familiar, que a criança sente a necessidade, fictícia e adquirida, dum sono mais prolongado, que atinge muitas vezes proporções exageradas. Quando muito, há tanta necessidade de dormir como de comer. A sobriedade quer que se deixe "a cerimônia no prato" segundo uma expressão popular. A energia cristã quer que se deixe o sono nos lençóis.

Aquele que come até à completa saciedade é um glutão. Aquele que dorme atá ao esgotamento da necessidade de dormir é um preguiçoso.

Na realidade, que é que há no fundo destas diversas objeções?
Há o temor do sacrifício, do sacrifício material, do sacrifício intelectual, do sacrifício moral.

No entanto, devemos reconhecer que Deus é sábio bastante para atingir um duplo fim com uma só prescrição. Sim! Deus, chamando à Santa Mesa as crianças que Ele ama e quer salvar, porpõe-se atingir também os pais, torná-los mais cristãos, mais sobrenaturais, mais perfeitamente educadores.

(Catecismo da educação pelo abade René de Bethléem, continua com o post: A ressurreição da vida sobrenatural)

PS: Grifos meus.