Como se pode preservar do escrúpulo a consciência da criança?
1º- Ensinando-a a "distinguir uma sugestão involuntária, uma manifestação súbita, um arrebatamento, irrefletido, uma complacência despercebida do instinto, do consentimento, deliberado e pleno, que constitui as fraquezas insuportáveis".
(Bouvier)
2º- Ensinando-lhe a tempo, pelo menos nas suas linhas gerais, "os artigos essenciais desse tratado da consciência, cujo monopólio os teólogos dispensam, e que se deveria tornar acessível aos fiéis, nos cursos algo importante de instrução religiosa, quando mais não fosse, para reduzir a cinquenta por cento o número dos escrupulosos e escrupulosas".
(Bouvier)
Que se deve fazer quando o escrúpulo penetrou na alma da criança?
É preciso tratá-la com calma e paciência.
Se as inquietações da alma têm algum fundamento, remeta-se ao confessor. Se o escrúpulo apresenta um caráter mórbido, vão-se suprimindo as confidências, que, em geral, nada mais fazem do que agravar a desordem, e imponham-se, com doce firmeza, as decisões que convêm: serão facilmente aceitas, se a criança tiver confiança em sua mãe, e se o remédio for aplicado sem tardança.
Quais são as ilusões de que é preciso preservar a consciência da criança?
1º- As ilusões sobre as promessas da vida;
2º- As ilusões sobre a retidão das suas intenções;
3º- As ilusões sobre a necessidade de consultar nas suas dúvidas;
4º- As ilusões sobre as confissões que devem fazer.
Não é natural e muito agradável deixar as crianças em certas ilusões?
Sim, efetivamente.
A ilusão é santa..., disse o poeta, e certos pais crêem que não há inconvenientes mergulhadas na ilusão.
"Pela lembrança das suas próprias desilusões, enquanto vêem as suas esperanças desvanecerem-se, certas mães assemelham-se àquele personagem de teatro de Cleyre, que, sentado na praia, contempla melancolicamente as ilusões ainda em flor, alegres, sedutoras, a afastarem-se para o lato mar... Então estas mães dizem: Para que se hão de prevenir os nossos filhos de que os nossos sonhos se dissipam como a cinza e fogem céleres como o vento?"
(Bouvier)
Ora isso é inteiramente falso, e por conseguinte muito prejudicial.
Que se deve fazer para preservar as crianças da ilusão relativa às promessas da vida?
É preciso mergulhar as crianças, especialmente as donzelas, num banho de realidade.
"Este remédio consiste em colocá-las na presença da vida tal como ela é, com as suas angústias, as suas provações, os seus mil trabalhos, as suas alegrias pequenas e raras, mas reais: forçá-las a saírem de si mesmas, a interessarem-se pelas coisas, a porem-se especialmente em contato com o pobre, para se lhes fazer sentir que as suas causas de aflição se as confrontarem, são bem medíocres, e que devem ser muito reconhecidas a Deus, que para elas fez mais suaves caminhos".
(Bouvier)
Qual é a segunda ilusão de que é preciso preservar a consciência?
É a ilusão relativa à retidão das suas intenções.
As intenções são a alma dos nossos atos, pois constituem em grande parte a moralidade e o valor desses mesmos atos. Da sua bondade ou da sua malícia dependem a sinceridade e a retidão do caráter.
É, por conseguinte, importante não permitir às crianças iludirem-se sobre a honestidade fundamental das suas disposições, não as deixar crer que basta parecer, dizer ou prometer, quando a lealdade exige que se esforcem por ser tais como devem ou como querem parecer, que nunca digam senão o que pensam, e que nunca prometam o que não tem intenção de dar.
Qual é a terceira ilusão de que é preciso preservar a consciência?
É a que faz crer que o homem se pode sempre impunemente conduzir só, na vida espiritual, e que, por conseguinte, não há necessidade de diretor de consciência...
Qual a disposição essencial que deve animar a criança nas suas relações com o diretor da sua consciência?
É que a criança não considere nunca o seu diretor como um estranho ou um intruso: é seu pai, é assim que ela lhe chama; que o trate sempre como tal.
Além de que, "dirigir uma consciência não é impor-lhe as suas idéias, não é pensar, agir em seu lugar, é antes vê-la viver em nome do bom Deus" e ajuntar às vezes a este papel de testemunha o de juiz e de amigo: de juiz que pronuncia sentenças imparciais; de amigo que repete, no momento oportuno, os incitamentos, as repreensões ou as ameaças de Nosso Senhor.
Qual é a quarta ilusão de que é preciso preservar a consciência?
É a ilusão relativa às revelações que é preciso fazer na confissão.
Esta ilusão é múltipla.
Umas vezes, é o pecado, que apenas parecera um pecadilho, quando se esteve a ponto de o cometer, e toma medonhas proporções no momento da acusação: e hesita-se em o confessar. Outras vezes, a falta cometida, que se apresentava primeiramente tal qual era, atenua-se, desvanece-se, à medida que se aproxima a hora da confissão; a criança convence-se em breve de que não há motivo para preocupação e resolve calar-se.
É preciso exercitá-la
Quais são os meios ordinários de exercitar a consciência da criança?
1º- É o exame de consciência;
2º- É a confissão;
3º- É a utilização das crises que atravessa quando cresce.
Como se deve fazer o exame de consciência da criança?
Á noite, no silêncio que favorece o recolhimento e convida à sinceridade, a mãe recorda com a criança os diversos acontecimentos do dia, faz-lhe apreciar, desligar o seu coração do que é mal, faz-lhe tomar boas resoluções para o dia seguinte, e termina o pequenino exercício com a sua bênção maternal, acompanhada dum último beijo.
Será possível continuar o mesmo método, quando a criança tiver crescida? Felizes as mães que para isso foram solicitadas! "Dos treze aos dezoito anos, uma alma aberta, é quase sempre uma alma salva" (Bouvier). Pelo menos, a mãe poderá sempre agir no foro externo, perguntar aos seus filhos se fazem o seu exame de consciência, propondo-lhes os principais artigos durante a oração da noite.
Qual é o segundo meio de exercitar a consciência da criança?
É a confissão.
Quais são as crises mais ordinárias que atravessa a consciência das crianças que crescem?
É a crise da obediência.
É a crise dos sentidos.
É a crise do coração.
É a crise da fé abalada pelo escândalo.
Em que consiste a crise da obediência?
Consiste em que a criança, quando cresce, suporta mais dificilmente o jugo da autoridade; tem quinze, dezesseis, dezessete anos; sente-se capaz de alguma coisa; há-de querer governar-se por si, e sofre por ser governada por outrem; a lei pesa-lhe, porque a considera um obstáculo, e ela aspira à liberdade...
Como se pode utilizar esta crise da obediência?
A mãe, admoestando mais com o exemplo do que com as palavras, mostrará ao seu filho as vantagens que ela própria alcançou da sua submissão a Deus, à Igreja, à autoridade legítima do pai e do esposo; fará, sobretudo, ressaltar que, procedendo desse modo, se assegura o bem que ultrapassa todos os bens e os substitui, se for preciso, e que se chama a paz de consciência...
Em que consiste a crise dos sentidos?
Consiste em que o jovem, que até então se tinha abatido do fruto proibido, no convencimento de que morria se o comesse, se sente repentinamente arrastado para ele por todas as vozes da curiosidade, da vaidade, da sensualidade, e da independência, que lhe repetem as palavras escutadas outrora por nossos primeiros pais: "Sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal" (Gen. III,5)
Como se pode utilizar esta crise dos sentidos para a formação da consciência?
Convido o leitor a consultar o que dissemos a respeito da preservação das crianças no estudo da sensualidade. (Ver também: Os meios a empregar para salvaguardar as crianças 1ª Parte - Proteger as crianças // Os meios a empregar para salvaguardar as crianças 2ª Parte - É preciso ensinar às crianças a defenderem-se)
Em que consiste a crise do coração?
Em que consiste a crise do coração?
Consiste em que a criança, que só até ali tivera necessidade de amar seus pais, sente pouco a pouco o seu coração sair do círculo da família, para acalmar as suas primeiras inquietações, apoia-se nas amizades cuja profundeza e fidelidade a história e a literatura lhe fizeram admirar: David e Jónatas, Nísus e Euriále, etc... bem depressa, no entanto, um temor o assalta: esta afeição, com inocentes aparências, não será um roubo praticado em detrimento do amor que deve a Deus e a seus pais?
E depois chegou a perceber que, em certo dia, teria preferido estar só com o objeto da sua afeição: até seus pais eram demais. Crise terrível, que começa para a criança, e em que se joga nada menos que a liberdade do seu coração.
Como se pode utilizar esta crise do coração para a formação da consciência?
Tornando o lar agradável e tão atraente que se sinta sempre um remorso e uma saudade em o deixar e uma necessidade de voltar a ele.
Felizmente são numerosos os meios que produzem este resultado:
"Alegrias da poesia, da arte, culto da verdade em comum, delícias das amizades fraternas, das atenções que se prodigalizam, e que se prodigalizam principalmente aos pais que envelhecem, incitamento mútuo ao dever, à caridade, um não sei quê ainda de muito puro e caricioso poderia embelezar a casa e orná-la muito desejável como o abrigo mais seguro e nobre da consciência".
(Bouvier)
Então a criança resistiria facilmente às seduções exteriores, que em vão a solicitariam, e aprenderia a dar satisfação aos desejos do seu coração sem perturbar a sua consciência.
Em que consiste a crise da fé?
Vem da impressão produzida por uma dupla observação.
A primeira relativa ao pequeno número daqueles que servem a Deus.
- No domingo - dirá o jovem estudante a sua mãe - estive quase só na igreja, ao passo que no teatro, ainda me não deixa ir, estiveram quase todos os meus companheiros.
A segunda, relativa às vantagens de todo o gênero, que são asseguradas aos apóstatas da fé, da Igreja e da consciência.
- É preciso então sacrificar tudo? - pergunta a sua mãe o jovem abalado e perturbado.
Como utilizar esta crise perigosa?
No primeiro caso, a mãe abrirá a seu filho a perspectiva duma nobre coragem. Far-lhe-á notar que aqueles que o acompanham, por pouco numerosos que sejam, constituem um escol, que eles são como o sal da terra, como o fermento novo que leveda a massa da sociedade; que são dignos de estima; que valem mais que os outros aos olhos da consciência; que, finalmente, os outros acabarão por se deixar arrastar; e foi sempre assim desde os apóstolos.
No segundo caso, a mãe fará notar à criança que, fora das funções oficiais, lhe sobejam ainda caminhos abertos à sua atividade e aos seus talentos. Dir-lhe-á, no entanto, que a consciência exige muitas vezes certos sacrifícios que se dêem fazer generosamente.
(Catecismo da educação, pelo abade René de Bethléem, continua com o post: Os amparos da vida sobrenatural)
PS: Grifos meus.
PS: Grifos meus.