domingo, 9 de agosto de 2009

Coroação de espinhos


“E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe sobre a cabeça”. Bem reflete o devoto Landspérgio que este tomento de espinhos foi excessivamente doloroso, porque transpassaram toda a sagrada cabeça do Senhor, parte sensibilíssima, já que da cabeça partem todos os nervos e sensações do corpo. Além disso, foi o tormento mais prolongado da paixão, pois Jesus suportou até à morte esses espinhos, tendo-os enterrados em sua cabeça."

 (A Paixão de Nosso Senhor Volume II - pág 26)



- Os espinhos

A planta utilizada na confecção da coroa de espinhos tem sido objeto de muito debate. Os mais renomados experts em botânica da Terra Santa, porém, restrigiram as espécies ao espinheiro-de-cristo sírio ou espinho-de-cristo. As duas plantas são membros da família de plantas espinhosas ( Rhamnaceae) e muito parecidas entre si, cresce abundantemente das planícies da Síria e do Líbano até Palestina, Arábia, Petraea e Sinai, pode também ser achada na fronteira sul de Israel, chegando até a Samaria, mas não é encontrada hoje em Jerusalém e cercanias.

São caracterizados por espinhos rentes e afiados. O espinheiro-de-cristo sírio é um arbusto cujo tamanho varia entre 3 e 5 metros, já o espinho-de-cristo é um arbusto que atinge 1 e 3 metros de altura. Contém um par de espinhos estipulares desiguais, duros e afiados, um deles mais curvados que o outro.

- A coroação

É importante notar que a coroa foi feita com o entrelaçamento dos espinhos na forma de um boné. Isso permitiu o contato de uma quantidade enorme de espinhos com o topo da cabeça, a fronte, a parte traseira e as laterais.

“Impuseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos, que era á maneira de pileus (= carapuça, gorro) por sorte que todos os lados lhe cobria e tocava a cabeça”
(São Vicente de Lérins - Sermo in Parasceve), e acrescenta que produzira essa carapuça 70 ferimentos. O "pileus" era, entre os romanos, uma espécie de gorro semi-oval, de feltro, que envolvia a cabeça e servia principalmente para o trabalho. O couro cabeludo sangra com muita facilidade; como esse gorro foi enterrado a pauladas (para não ferir as mãos dos soldados), os ferimentos produzidos devem ter feito correr bastante sangue.

- Neuralgia do trigêmeo

Os golpes na cabeça irritavam os nervos e ativaram zonas nos lábios, do lado do nariz, ou no rosto, causando dor imensa, similar a uma queimadura ou choque elétrico. A dor era lancinante, atingindo as laterais do rosto e penetrando nos ouvidos. O sangramento decorria da penetração dos espinhos nos vasos sanguíneos. A dor podia cessar abruptamente, mas era reiniciada com o menor movimento nas mandíbulas ou golpe de ar. O choque traumático do açoitamento brutal deve ter realçado as dores paroxísmicas no rosto. Exacerbações ou retrações nos surtos de dor podem ter ocorrido no caminho do Calvário (mais ou menos 8 quilômetros) e durante a crucificação, ativados pelos movimentos de andar, cair ou pela pressão dos espinhos na coroa, além dos muitos golpes e empurrões dos soldados.

A inervação que permite a percepção de dor na cabeça é feita por ramos de dois nervos principais: o nervo trigêmeo, que supre essencialmente a parte frontal da cabeça, e o grande ramo occipital, que abastece a pate de trás, os ramos se dividem de forma infinitesimal pela pele. Para apreciar essa distribuição, pegue um alfinete e tente achar uma parte do seu couro cabeludo que seja isento de dor. Você vai descobrir que a tarefa é praticamente impossível. Estímulo ou irritação de ramos desses dois nervos principais causam dor. De acordo com o dr. Robert Nugent, professor e presidente do Departamento de Neurologia da escola Medicina de West Virginia, " a neuralgia do trigêmeo é considerada a pior dor que um ser humano pode sofrer".

- Evidências no Sudário

Considerando a grande quantidade de vasos sangüíneos existentes na cabeça e os efeitos da coroação de espinhos, é óbvio que o sangue iria escorrer livremente pela face de Jesus, Isso é evidenciado de forma dramática no Sudário, cujas imagens revelam "riachos" e marcas de algo jorrando, saturando o cabelo e escorrendo pela testa. A imagem frontal sugere acentuada saturação do cabelo com sangue seco, fazendo com que ele permanecesse nos dois lados do rosto. Marcas estão presentes na testa e na nuca (a nuca foi muito ferida devido as quedas onde a cruz - patibulum -pressionava a coroa e também quando Cristo estava na cruz). Além dos ferimentos com a coroa de espinhos, os vários golpes que Ele recebeu no rosto são evidentes no Sudário, particularmente na região da testa, lado superior direito do lábio, mandíbula e nariz. O padrão tridimensional nas imagens realçadas por computador revelam mais claramente uma separação na cartilagem nasal- mas não uma fratura- e confirmam os ferimentos já citados.

* Informações retiradas da obra de dr.Frederick T.Zugibe e dr. Pierre Barbet