Festa da Assunção - Alegremo-nos!
Parecia justo que a Santa Igreja, neste dia da Assunção de Maria ao céu, antes nos convidasse a chorar que nos alegrar. Pois a nossa doce Mãe abandona a terra e deixa-nos privados da sua cara presença, como diz São Bernardo.
Entretanto, não; a Santa Igreja convida-nos para o júbilo com as palavras: Alegremo-nos no Senhor, agora que celebramos o dia festivo da Santíssima Virgem Maria! E com razão assim exclama. Pois, se temos amor a esta Nossa Mãe, devemos cuidar antes de sua glória que de nossa consolação. Qual filho não se alegra, posto que se separe de sua mãe, se sabe que ela vai tomar posse de um reino? Maria vai hoje ser coroada Rainha do céu. E não deveríamos celebrar festivamente esse dia, se em verdade a amamos? Sim, alegremo-nos, mas nos alegremos todos de coração.
... Quando entra um monarca para tomar posse de um reino, não passa pelas portas da cidade, como as demais pessoas. Tiram-se então completamente as portas e ele entra triunfante. Por isso à entrada de Cristo no céu cantaram os anjos: Suspendei as vossas portas, ó príncipes; levantai-vos, portas eternas; o Rei da glória entrará (Sl 23,7). Repetem eles a exclamação, agora que Maria vai tomar posse do reino dos céus. Os anjos da comitiva gritam aos outros, que estão dentro:
Príncipes do céu, depressa, levantai, tirai as portas, porque deve entrar a Rainha da glória!
Já entra na celeste pátria. Mas, à sua entrada, vêem-na aqueles espíritos celestes tão bela e tão gloriosa, que perguntam aos anjos que chegaram de fora, como contempla Vulgato Orígenes: Quem é esta que sobe do deserto inundando delícias e firmada sobre o seu amado? (Ct 8,5).
E quem é esta criatura tão formosa que vem do deserto da terra, lugar de espinhos e abrolhos? Vem tão pura e rica de virtudes, com o seu amado Senhor, que se digna Ele mesmo acompanhá-la com tanta honra? Quem é? Respondem os anjos que a acompanham: esta é a Mãe do nosso Rei; é a bendita entre as mulheres, a cheia de graça, a Santa dos santos, a amada de Deus, a Imaculada, a mais formosa de todas as criaturas.
E rompem imediatamente todos aqueles espíritos celestes em hinos de louvor e de júbilo, bendizendo-a com mais razão que os hebreus a Judite: Tu és a glória de Jerusalém, a alegria de nosso paraíso, a alegria de nossa pátria, a honra de todos nós! Eis o vosso reino, eis-nos todos aqui, vossos vassalos, prontos a obedecer-vos!
Maria diante do trono de Deus
Depois de joelhos, a humilde e santa Virgem adora a majestade divina e abisma-se no conhecimento do seu nada. Agradece a Deus todas as graças que por mera bondade lhe havia concedido, especialmente de a ter feito Mãe do Verbo Eterno. Imagine e compreenda agora, quem o puder, com que amor a Santíssima Trindade a abençoou! Quem nos descreverá o afável e afetuoso acolhimento que fez o Pai Eterno à sua Filha, o Filho à sua Mãe, o Espírito Santo à sua Esposa!
O Pai a coroa, participando-lhe o seu poder, o Filho a sabedoria, o Espírito santo o amor. As três Pessoas divinas, colocando-lhe o trono à direita de Jesus, a declaram Rainha universal do céu e da terra. Aos anjos também ordenam, e a todas as criaturas, que a reconheçam por sua Rainha e como tal a sirvam e lhe obedeçam.
(Glórias de Maria - Santo Afonso de Maria Ligório - págs. 341,344 e 347)