A SAGRADA FAMÍLIA EM BELÉM
Consideremos os terníssimos colóquios de Maria e José durante a viagem de Nazaré a Belém, sobre a misericórdia de Deus, que enviara o Seu divino Filho ao mundo, para resgatar o gênero humano; e sobre a caridade do Filho de Deus em baixar a este vale de lágrimas a expiar com os Seus sofrimentos e com a Sua morte os pecados dos homens.
Consideremos também qual seria a angústia de José, quando, chegado a Belém, viu que ninguém lhes queria dar hospedagem, nem a Maria nem a ele, de maneira que se viram obrigados a recolher-se num estábulo.
Oh! como ele devia sofrer, vendo a sua santíssima esposa, jovem donzela de quinze anos, prestes a dar à luz o Seu divino Filho, tremendo de frio naquela gruta úmida e desabrigada. Pode, porém, logo consolar-se, ouvindo a Maria que o chamava e lhe dizia:
"Vem José, vem adorar o nosso Deus menino, que acaba de nascer neste estábulo; vem admirar a Sua beleza, ver aqui, nesta manjedoura, nestas poucas palhinhas o Rei do Universo; vem ver como treme com frio, Ele que inflama os corações dos Serafins; vem ouvir como chora Aquele que é a alegria do Paraíso!"
E José, ao contemplar com seus próprios olhos o Filho de Deus, feito homem, naquela pobre gruta, inundada de luz celestial, e ao ouvir os choros dos Anjos, entoando hinos ao Seu Deus recém-nascido, caiu de joelhos, e, chorando de ternura disse:
"Eu Vos adoro, ó Deus e senhor meu! Quão ditoso sou por haver sido, depois de Maria, o primeiro a quem foi dado ver-Vos, e por saber que perante o mundo haveis de ser tratado e passar por filho meu! Permiti-me, pois que Vos chame por esse nome e Vos diga desde já: Meu Deus e meu Filho eu me consagro eternamente a Vós: minha vida já não será minha, mas inteiramente Vossa; empregá-la-ei toda em servir-Vos, ó meu divino Mestre".
Consideremos, por último, como subiu ao seu auge o gozo de José, ao ver chegar naquela mesma noite os pastorinhos que o Santo Anjo havia convidado a vir adorar o Salvador recém-nascido, e quando os Magos, pouco depois, vieram do Oriente prestar suas homenagens o Rei dos Céus, que baixava à terra a salvar as Suas criaturas.
(A Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910, versão do Espanhol por Manuel Moreira Aranha Furtado de Mendonça, Cônego honorário da Sé de Lamego, 3ª Edição, com Breve de Sua Santidade Leão XIII)