sábado, 4 de dezembro de 2010

Dez mais do que cem...

Dez mais do que cem...


Achei graça na velhinha que teimava em convencer-me de que dez pessoas, falando, fazem mais barulho do que cem caladas. Refleti porém e encontrei uma filosofia no caso. Na vida temos disso. Pelo mundo e pela sociedade poderão dez vozes falar contra a fé, o pudor, contra a obediência à Igreja e aos pais. E certamente farão mais impressão do que cem vozes, que se calam.

Família (leitora), justamente isso acontece no mundo no qual vosso filho estuda, move-se, diverte-se. Não podemos dizer sejam bons os tempos para a fé e a moral. Há uma aberta e atrevida conspiração contra a virtude, ousada afirmação do direito de pecar e errar. Carne e corpo tornaram-se deuses e seus apetites são tolerados e imitados em vários casos.

Além dos fatos, andam por aí princípios, justificando erros, pondo a ridículo a virtude. Saint-Beuve, que não era lá de muitos escrúpulos, disse dos livros de Balzac: "Depois de os ler, sinto precisão de lavar as mãos..." Pois bem. Vosso filho, família que nos (lê), caminha neste ambiente. O dia todo vê e ouve o que dez vozes falam. Mas onde estão as cem vozes que deviam falar? Estão caladas. Caladas nas famílias que não corrige, não previne, não desfaz impressões más, que não vigia.

Quando estoura uma epidemia, todo mundo toma conhecimento das medidas preventivas e aplica-as com diligência. Atitude louvável, sem dúvida. E por que não admitir o mesmo processo, em se tratando de contágios piores e crônicos, como são de ordem moral? Hoje o mundo entra nos lares e aplica-lhes - na frase de Pio XII - uma injeção endovenosa pelo rádio e pela televisão. Poderá ficar sem vigilância tal acontecimento? Ficará ao critério das crianças e dos adolescentes o botão dos aparelhos? Ou terão de dobrar-se os pais perante as preferências dos filhos neste assunto?

Enrolado em folhas de livros, de revistas e jornais o mundo invade os lares. Como explicar o zelo de famílias que não admitem visitas de conversas inconvenientes, mas toleram abertas as portas para entrada de visitantes mudos, que são as publicações? Isso mesmo. Cem bocas caladas perdem de dez bocas que falam. O silêncio de cem dá coragem ao atrevimento de dez. Eu previno que nesse silêncio há um pecado. Há um sério prejuízo causado à alma dos filhos. Lembro o louvor do Sábio à mulher que, de luz acesas, percorre sua casa observando e vigiando se tudo está em ordem. Fragilidade, idade e época má - eis os motivos da vigilância.

(Mundos entre berços, pelo Pe. Geraldo Pires de Souza, C.SS.R, editora Vozes, 1965)