sábado, 18 de dezembro de 2010

Deus carregado de ferros

Deus carregado de ferros



"Pensas Vós, ó formosura sem igual, que eu Vos amo pelas recompensas do Vosso Reino, pelas palmas, pelas coroas ou pelas maravilhas e delícias do Vosso prometido céu? Não; eu Vos amo porque foste sempre uma Vítima, porque sofreste todas as dores e passaste por todas as humilhações.

Sim, ó Deus carregado de ferros, ó Deus arrastado ao suplício por cruéis algozes, eu Vos amo, porque Vos vi obrigado a exclamar: Meu Pai, porque me abandonastes!

Eu Vos mais pela Vossa agonia, por Vossa morte, que pela Vossa ressurreição, pois, tenho cá para mim que, ressuscitado, atravessando glorioso o azul dos espaços, tendo o universo humilde aos Vossos pés, tenho para mim, digo, que, neste estado, a Vossa serva não Vos faz falta!

Meus olhos devoram a Cruz do Vosso martírio, porque esse corpo, respirando amor, por quantas feridas Lhe abriram, me ilumina, enquanto a minha cela, aqui jaz em uma escuridão sepulcral. Eu e Vós, Senhor e mais minguém... Aqui estou prostrada de joelhos a Vossos pés, em silêncio, e o meu corpo todo estremece, à vista dos tormentos do Vosso; os espinhos de Vossa fronte cravam-se-me na testa; os cravos de Vossas mãos rasgam as minhas; a chaga do Vosso lado faz sangrar o meu coração. E, embora sentindo que não sou mais do que pó, aqui me confundo com meu Deus e, nessa Cruz, conVosco me sinto crucificada!..."
(Santa Teresa de Ávila, citado por J.Nysten no livro: Quando eu for moça..., Centro da Boa Imprensa, Porto Alegre 1925, com imprimatur)