quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Proveito que os pais podem tirar da boa educação que houverem dado a seus filhos

Proveito que os pais podem tirar
da boa educação que houverem dado a seus filhos


Educando bem os filhos, os pais reparam o passado e preparam o próprio futuro.

- Reparam o passado:

Mães cristãs lembrai-vos do que fostes outrora, do que vistes e ouvistes em tal ou qual sociedade, daquilo que foi para vós um tropeço, um perigo, uma queda talvez! A vossa imaginação enchia-se de perigosas representações e o vosso coração acabou pendendo para o mal, para o pecado. Há muito, estou certo, já vos penitenciastes, mas tereis deveras satisfeito à justiça divina que ofendestes e quiçá gravemente?

Pois bem, reparai o vosso passado, velando por vossas filhas para que elas não vejam nem ouçam em casa ou alhures o que vos fez mal, nada enfim que lhes possa roubar aquela simplicidade encantadora ou manchar-lhes a imaginação e a alma. Bem diz um poeta que o coração virgem é um recipiente profundo e quando a primeira água que se lhe deita é suja, sobre ele passará um mar inteiro sem lhe levar as impurezas, porque o abismo é imenso e o mal está no fundo.

- Na boa educação que deram aos filhos encontrarão os pais grandes consolações, no futuro.

"A velhice é geralmente uma segunda infância; nessa idade o auxílio dos filhos é tão necessário, como foram aos filhos na infância, os cuidados dos pais. O corpo vai dia a dia perdendo suas forças e a alma, com todas as faculdades, acompanha-lhe a decadência. Torna-se rebelde a memória e o passado não deixa vestígios; o homem cai em tal estado de debilidade que se torna uma carga para si e para os demais. É então para os filhos um dever sagrado virem em auxílio dos pais débeis e enfermos, dedicando-lhes os mais afetuosos cuidados.

Mas, ai! Esse pobre velho não poderá contar com tais sentimentos por parte do filho, se não tiver feito dele mais que um perdulário; essa pobre mãe, vergada ao peso dos anos, não encontrará tal felicidade, porque acostumou a filha a todas as vaidades de um luxo sem freio e sem medida, e um e outro não terão com que valer-lhes em suas necessidades mais urgentes. Não parece até que a justiça divina começa já neste mundo a castigar-lhes o criminoso desleixo? Não parece que os próprios filhos se encarregam de vingar nos pais a má educação que eles lhes deram?

Vós, ao contrário, que soubestes ser pais às deveras, vós que vos esforçastes por cumprir escrupulosamente as obrigações da paternidade, encarai o futuro e a velhice tranquilamente; quando ela vos bater às portas com toda a sua sobrecarga de misérias, quando as forças vos abandonarem e o corpo se vos curvar para a terra, não vos faltará um filho ou uma filha ou ambos ao mesmo tempo para vos estenderem as mãos, prontos a vos socorrerem, a vos suavizarem as misérias próprias dessa idade, com suas meigas carícias.

Oh! Saberão antever as vossas necessidades, contentes de vos poderem ajudar a levar o fardo pesado dos anos. Ah! Como vos felicitareis então pela boa educação que lhes houverdes dado; como bendireis os trabalhos que passastes no cumprimento desse dever, quando contemplardes em vossos filhos verdadeiros anjos de dedicação”.

Estas consolações suavizar-lhe-ão os últimos dias da vida.

Com que confiança, ó mães, vos apresentareis ao tribunal do Juiz Supremo, se lhes puderdes dizer: cumpri, nos meus filhos, a missão que me confiastes; sempre os considerei como propriedade Vossa entregue à minha guarda. As lições que lhes implantei na alma germinaram e eu tive a felicidade de lhes contemplar os preciosos frutos; a virtude é o mais belo ornato e foi este o tesouro que lhe ensinei a defender e guardar ciosamente para o dia do juízo. Pais, fiéis à missão que vos confiei, dirá o Supremo Juiz, entrai e alegrar-vos no Meu reino, onde as coroas da imortalidade aguardam vossos filhos! Que triunfo para os pais!”
Pais cristãos, considerando ainda que de leve, as grandes vantagens que podereis colher da boa educação dos vossos filhos, não vos resolvereis de vez a fazer dela questão capital? E vós, mães de família, que na educação tendes a maior e mais delicada parte, será possível que falteis ao vosso principal encargo, por criminoso descuido, por indiferença ou imperdoável desleixo?

Um sábio historiador descreveu, com mão de mestre, as angústias de uma mãe infeliz, cuja alma se lhe dilacerava ao pensar nos perigos que corria o filho distante. Foi talvez a frase mais dolorosa do martírio de Maria Antonieta, rainha da França e vítima da revolução francesa, atirada a um calabouço, à espera do suplício na guilhotina, que lhe levara o marido. Saber que seu filho estava doente e não poder cuidar dele; sabê-lo infeliz e não poder consolá-lo; saber que corria perigo e não poder valer-lhe; sentir que aquele inocente definhava e não poder voar para junto dele! Haverá, por ventura, suplício que se compare ao de uma mãe, nestas tristíssimas conjecturas? A todo o momento se lhe afigurava que lhe arrancavam o filho, à viva força; imaginava que lh’o iam envenenar e ela não podia defendê-lo! Ai, dizia ela à sua irmã, os meus pressentimentos não me enganam; eu bem sei que ele sofre que está sendo maltratado, cem léguas distante de mim; o coração bem m’o está dizendo. Há dois dias que sofro, tremo e agonizo; é que estou sentindo caírem-me na alma as lágrimas de meu pobre filho. Não encontro alívio, não ouso mais rezar!

Depois, caindo em si, e arrependida das últimas palavras, prosseguia juntando as mãos: Perdão, meu Deus, e tu também, minha irmã, perdoa-me. Creio em Vós, ó meu Deus, como em mim mesma, mas sofro horrivelmente e tenho vivo o pressentimento de que uma nova desgraça me espera. Meu filho, meu filho! Sinto que me dilaceram o coração com o que lhe fazem sofrer!

Jovens e donzelas que acabais de ler estas linhas, se ainda tendes mãe, cercai-a de todas as atenções e de todo o respeito de que é capaz o coração de um filho. Se a não tendes mais, não esqueçais nunca o que ela fez e sofreu por vós!

Na minha insignificância, diz um autor francês cuja fé naufragou, consolo-me, porque ainda tenho uma mãe. Sabeis o que significa ter uma mãe? Pensai no que quer dizer uma criança pobre, débil, nua, faminta, desvalida, sozinha no mundo e lembrai-vos de que tendes ao lado caminhando quando andais, parando quando parais, sorrindo quando chorais, uma mulher... Mas não, não é uma mulher; é um anjo que ali está a contemplar-vos, a ensinar-vos a amar, a balbuciar as primeiras palavras, e aquecer-vos as mães entre as suas, o corpo em seu regaço e a alma em seu coração; que vos amamentava quando pequenos e quando grandes vos dava pão e sempre vos dava a vida, a quem chamais mãe e ela vos chama ‘meu filho’, com tal acento de ternura que o próprio Deus se compraz”.
(As desavenças no lar, causas e remédios, por J.Nysten, Centro da Boa Imprensa, Porto Alegre, 1927, com imprimatur)

PS: Grifos meus.
Ver também: Efeitos de uma boa educação