segunda-feira, 26 de julho de 2010

S. ANA, MÃE DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA

S. ANA, MÃE DA SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA


A grande devoção a S. Ana funda-se nos laços de sangue que a ligam à Virgem SS., de quem foi mãe, e a Jesus. O seu culto é já antigo. Remonta ao século VI. O Papa Leão XIII elevou a sua festa a duples de II classe.

Ó Deus, que Vos dignastes conferir a S. Ana a graça de dar à luz a Mãe do Vosso Filho unigênito, fazei por Vossa misericórdia que, celebrando a sua solenidade, sintamos os efeitos da sua proteção. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo.

(Retirado do Missal quotidiano e vesperal, por Dom Gaspar Lefebvre, 1951)

domingo, 25 de julho de 2010

A alma simples ama a cruz

VIDA DE ESQUECIMENTO PRÓPRIO
PARTE III


A alma simples ama a cruz

A alma que de todo se esqueceu age sempre com simplicidade, guiada unicamente pela boa intenção.

Está sempre satisfeita com Deus, seja o que for que Ele faça ou permita. A doença ou a saúde, a prosperidade ou a adversidade, o êxito ou o insucesso, a vida ou a morte, tudo recebe com um sorriso de agradecimento. Acolhe de bom grado o sofrimento, qualquer  que seja a forma com que se apresente. A dor, como a alegria, é sempre a embaixatriz de Cristo.

O homem a quem falta uma fé ardente nem sempre reconhece Jesus sob os diferentes véus em que Ele Se envolve. Em vida de Jesus, só um pequeno número de fiéis O reconheceu como o verdadeiro Messias. Após a Sua morte e Ressurreição, os próprios Apóstolos e mesmo a ardente Madalena tiveram dificuldade em reconhecê-lO pelas aparências com que Se revestia.

Agora que vive nos nossos Sacrários, escondido sob as humildes aparências do pão e do vinho, a Sua visita é ainda mais misteriosa. Só a alma exercitada no amor reconhece o Mestre quando Ele Se apresenta. Reconhece-O muitas vezes pela cruz que traz consigo. Quando a dor a atinge, exclama: "É Jesus que passa", e corre ao Seu encontro. Não o deixa curvado sob esse fardo. Estende os braços, empresta-lhe os ombros e ajuda-O a carregá-lo. Foi para ser ajudado que Ele veio ter conosco.

Não estranhemos a variedade e a multiplicidade das cruzes com que o Senhor nos favorece. Contrariedades, sofrimentos íntimos, penas, incompreensões, insucessos, ruína da fortuna ou da reputação, ansiedades de consciência, doenças físicas, tudo isso se chama Cruz de Cristo. É preciso acolhê-la: Se alguém quiser vir após Mim, tome a sua cruz e siga-me (Mt. 16,24).

E para onde conduzirá Ele a alma? Se esta for fiel, conduzi-la-á ao Calvário, e ali será pregada na cruz e morrerá. E Jesus dirá: "Pequeno grão de trigo, lancei-te à terra para nela morreres e apodreceres; mas quando tiveres morto, a vida brotará de ti, uma haste nova subirá do teu flanco e sobre essa haste reviverás em novos grãos".

É o mistério da Cruz! É preciso morrer para viver. A fé ensina-o, a razão insinua-o, a natureza mostra-o. Para que eu seja alguma coisa, é preciso que me resigne a nada ser, a esquecer-me de mim, a ser lançado na terra e aí perecer.

Quero ser esse grão de trigo, escondido nas entranhas da terra. A minha vida passa e parece estéril. As forças que Deus me deu esmorecem e esgotam-se. É o túmulo, é a morte! Mas que importa? Jesus vela por mim. Quando Lhe aprouver, fará sair dos meus dias sem brilho a vida, a fecundidade. E o meu destino sobre a terra estará cumprido.

(O dom de si, vida de abandono em Deus, pelo Pe. Joseph Schrijvers, continua com o post: Tudo convida a alma ao esquecimento próprio)

PS: Grifos meus.

sábado, 24 de julho de 2010

VERDADEIRO AMOR

Nota: A Encíclica citada pelo autor é a Encíclica Casti connubii, do Papa Pio XI.

VERDADEIRO AMOR


"Vós, maridos, amai vossas esposas, como Cristo amou a Igreja"
(Efésios, 5.25)


Em conformidade com os intuitos do Criador deve ser também o amor conjugal amor verdadeiro em todo o vasto sentido dessa palavra. Quanto mais se assemelhar ao Amor Infinito de Deus, tanto maior felicidade representará para os cônjuges.

Neste amor de esposo à esposa acresce uma circunstância toda singular. Um e outro têm, de acordo com a mesma natureza, sua finalidade particular. Um e outro se completam mutuamente. Ambos possuem a mesma natureza e ambos a possuem de forma diferente. Num e outro há um vazio que, reciprocamente, pode ser preenchido. Manifestamente. Esse complemento mútuo, essa recíproca compensação de qualidades diversas entre duas pessoas de sexos diferentes constitui ao mesmo tempo, motivo justo e base sólida de profundo e verdadeiro afeto.

Como um depende do outro e a ambos associou o mesmo ideal, excluem-se, já por isso mesmo, baixas rivalidades e cálculos de concorrência. Numa atmosfera de benevolência, simpatia e dedicação há de um ajudar ao outro, hão de se mutuamente aconselhar em consideração e respeito recíprocos para o bem e a felicidade de ambos.

Segundo a Vontade de Deus constitui o marido a cabeça da família. É o que Deus declara a Eva em termos irretorquíveis: "Estarás às ordens do teu marido e ele te dominará". (Gen. 3.16) Nesta hierarquia natural nenhuma emancipação da mulher há de alterar um ceitil sequer. É ainda o que o Santo Padre (Papa Pio XI) encarece, quando diz:

"Consolidada, enfim, com o vínculo desta caridade a sociedade conjugal, florescerá nela, necessariamente, a quem vem chamada por Santo Agostinho a 'ordem do amor'. Essa ordem exige de uma parte a superioridade do marido sobre a mulher e os filhos e, de outra, a pronta submissão e obediência da mulher, não por força, mas tal qual é recomendada pelo Apóstolo com estas palavras 'As mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor, porque o homem é cabeça da mulher, como Cristo é cabeça da Igreja'"

"Tal submissão, pois, não nega, nem tira a liberdade, que compete, de pleno direito à mulher, quer pela nobreza da personalidade humana, quer pelo múnus nobilíssimo de esposa, de mãe e de companheira; nem a obriga a condescender a todos os caprichos do homem, mesmo àqueles que pouco conformes à razão ou dignidade da esposa; nem exige, afinal, que a esposa seja equiparada às pessoas que, em direito, se chamam menores, às quais, por falta de madureza de juízo ou, por inexperiência das coisas humanas não se costuma conceder o livre exercício de seus direitos, mas proíbe aquela exagerada licença que não faz cuidar do bem da família, proíbe, que no corpo desta família fique o coração separado da cabeça, com sumo prejuízo de todo o corpo e com perigo próximo de ruínas. Pois, se o homem é a cabeça, a mulher é o coração e, tendo um primado no governo, à outra pode e deve atribuir-se, como seu próprio, o primado do amor.

"Quanto ao grau e ao modo desta submissão da mulher ao marido, pode ela variar, conforme a variedade das pessoas, dos lugares e dos tempos. Pois, se o homem faltar  seu dever compete à mulher suprir essa falta na direção da família. Mas em nenhum lugar e tempo será lícito subverter ou lesar a estrutura especial da mesma família e a sua lei por Deus firmemente estabelecida".

"É a mesma verdade que já Leão XIII fez lembrar aos fiéis em sua Encíclica de 10 de fevereiro de 1880, dirigindo-se ao mundo com estas palavras: 'O marido é o chefe da família e a cabeça da mulher. Nele, pois, que governa e nele que obedece, dando ambos, uma imagem de Cristo, outra o da Igreja, a divina caridade seja a moderadora de todos os seus deveres'".

"Com quanto rigor o próprio Deus observa os ditames dessa lei natural, depara-se-nos no fato eloquente de enviar Seu anjo não à Mãe de Deus, mas a São José, o pai adotivo do Seu Filho, para lhe aconselhar a fuga ao Egito. Por mais que Maria Santíssima excedesse em dignidade a José, impunha-se-lhe a obrigação moral de se sujeitar ao Seu marido."

Em outra parte de sua profunda Encíclica condena o Sumo Pontífice, em seguida, a errônea opinião de ser tal obediência indigna escravidão de um cônjuge para com outro, refutando ainda a exigência dessa tríplice emancipação da mulher que por aí se costuma apregoar. Pois se "querem que a mulher seja ou deva ser desobrigada, segundo sua livre vontade, dos pesos conjugais, quer de mulher, quer de mãe" chama isto o Papa, com todo o peso de sua Autoridade não de "emancipação" mas de "manifesta malvadez".

A emancipação econômica, por sua vez, deve garantir à mulher, segundo a mente dos que a defendem, a liberdade "de poder ter, tratar e administrar, sem o marido o saber e mesmo contra sua vontade, seus negócios particulares, descurando filhos, marido e família. A emancipação social, enfim, que quer, sejam afastados da mulher os cuidados domésticos, quer dos filhos, quer da família, para que possa, pondo estes de banda, seguir seus caprichos e dedicar-se aos negócios e aos ofícios públicos".

"Tal, porém, não é, segundo o Santo Padre, nem verdadeira emancipação da mulher, nem liberdade razoável e digna, mas corrupção da índole mulíebre e da dignidade materna e perversão de toda a família, visto como o marido fica privado da mulher, os filhos da mãe, a casa e toda a família de sua guarda, que deve ser sempre vigilante. A demais, torna-se esta falsa liberdade e não natural igualdade com o homem, a ruína da mesma mulher, pois que, se a mulher desce da sede verdadeiramente real, para que, entre as paredes domésticas, foi, pelo Evangelho, elevada, logo cairá na antiga escravidão - se não na aparência, certo na realidade - e tornará a ser, como no Paganismo, um mero instrumento de prazer nas mãos do homem".

Com efeito. Leis eternas não se transgridem impunemente. Toda tentativa de emenda sai, em tais terrenos, pior que o soneto.

O matrimônio pode ser a concentração mais maravilhosa de afetos, de propriedade inatas e de virtudes, a associação mais completa de atividades harmônicas, sinérgicas e convergentes que a inteligência humana pode conceber. Só o é, porém, quando assenta sobre o verdadeiro amor. O amor constitui o pendor mais íntimo da natureza humana. Satisfeito em todas as aspirações, representa, ao mesmo tempo, a harmônia e a felicidade do conjúgio.

O amor profundo e verdadeiro, o amor nobre e espiritualizado é o segredo da união conjugal. É ele que vai ideando e construindo o vínculo mais sagrado que a duas almas pode unir, o complemento mais perfeito que entre homens pode haver. É a aliança da delicadeza à autoridade, da dedicação à constância na disciplina, da afetividade do coração feminino à energia na admoestação, próprio ao caráter do homem. Será, porém, vil união de baixos interesses, desprezível aliança de egoísmo, quando o amor faltar.

É por isso que São Paulo exorta aos maridos, de cada vez que faz lembrar as esposas da obediência devida: "Amai as vossas mulheres"!

E onde a verdadeira mulher não vê no amor dedicado e respeitoso do seu marido, a realização dos seus mais lindos sonhos?

Tendência é esta, de mútuo aconchego, que o coração humano leve inato na própria natureza... "Não é bom que o homem esteja só".

É este o sonho da donzela, de se poder arrimar em homem corajoso e pujante, de se lhe poder acolher à sombra protetora e benfazeja, para lhe ser, por sua vez, a companheira que com ele partilhe as dores e as alegrias. É este o anelo, outrossim, do homem, de encontrar a mão amiga que, meiga, lhe acalme a fronte ardente pelas vicissitudes da vida, e se prontifique a lhe ser mão de companheira fiel, para que por ela trabalhar possa, nela encontre seu complemento e o encanto do seu lar...

Não há de realizar nunca os sonhos e as esperanças de quem ingressa no matrimônio, quando a mútua afeição descansa, na expressão de Pio XI "Apenas na inclinação dos sentidos, que dura pouco, ou só nas palavras carinhosas, e não no íntimo afeto d'alma".

Mero afeto e inclinação dos sentidos que "chamam de simpatia" não representa para o Sucessor e Vigário de Cristo fundamento sólido para o matrimônio, é antes areia movediça que cede para fazer ruína a casa, "ao contrário, porém, a casa que fora fundada sobre a pedra, i.é, sobre o amor mútuo entre os cônjuges e consolidada por uma consciente e constante união de almas, nunca será sacudida nem abatida por nenhuma adversidade".

Se dois jovens pretendem, pois, contrair matrimônio, não devem eles ter em mira tanto o que poderão esperar do futuro cônjuge, mas muito antes o que procuram oferecer a ele. Cada qual pergunta-se como aquele moço desinteressado, que após o casamento, foi ter com um sacerdote, seu amigo, para dirigir-lhe a pergunta: "Que poderei fazer para tornar feliz a minha esposa?" Se assim não procedem, assemelham-se os noivos, segundo a expressão de moderno escritor, a (duas pessoas) que procuram explorar-se mutuamente. Claro está que sobre sentimentos tão egoísticos não pode constituir-se o edifício de um lar feliz.

Forçoso é, pois, amigos meus, que se vos torne claro, claro como a água cristalina da rocha, aquilo tudo que o verdadeiro amor reclama de vós. Não é o matrimônio, com efeito, nenhum jogo, ao qual pode abalançar-se, irrefletidamente, quem o quiser tentar. Não. É, porém, tarefa árdua a cumprir que exige sólido estudo, profunda compenetração do assunto e acrisolado espírito de sacrifício.

(Excertos do livro: Às ordens do Criador, livro para noivos, pelo Pe. Hardy Schilgen S.J)

PS: Grifos meus.

A alma simples não procura em nada a sua glória

VIDA DE ESQUECIMENTO PRÓPRIO
PARTE II


A alma simples não procura em nada a sua glória

A alma que se esqueceu de si própria mora no seio de Deus. A sua vida, na sua simplicidade, está cheia de maravilhas, mas escapa à vista do vulgo.

Uma alma inteiramente entregue a Deus é o mesmo que uma alma simples: só tem um olhar, e esse olhar está fixo em Deus. Só tem um móbil, e esse móbil leva-a a Deus em todas as suas ocupações, sem permitir-lhe que se preocupe consigo mesma. É um fluxo constante e sem retorno para o oceano divino.

A simplicidade exclui por natureza o dobrar-se sobre si próprio. A alma entregue a Deus não pensa nas suas boas obras, na pureza da sua vida, nos méritos que acumula. Não se interessa em saber o que pensam dela. Não procura chamar a atenção para a sua pessoa, para os seus atos, nem mesmo para os seus defeitos e faltas. Não procura para si a aprovação, os favores ou a benevolência alheia, porque, nada sendo, nada pode pretender.

A alma que se entregou ama ardentemente o seu divino Mestre. Expressa-Lhe este amor de mil modos diversos e encontra a todo o instante novos meios de agradar-Lhe, pois o amor é engenhoso. Mas este amor também é singelo e exclui quaisquer artifícios.

A alma simples nunca pede a Jesus explicações sobre o modo como Ele a trata. Está nas mãos dEle como o barro nas mãos do oleiro. Nota que o Senhor lhe imprime formas muito singulares, mas pode o vaso dizer a quem o moldou: "Por que me fizeste assim?"

Vê também que os caminhos por onde o divino Guia a leva são impenetráveis, mas quem pode dar conselhos à eterna Sabedoria? Avança destemida sob a Sua direção, sem lançar olhares inquietos para o futuro que desconhece, sem se preocupar com um passado que só em Deus vive.

Só se ocupa com o presente, com entusiasmo, mas sem ansiedade. Sabe que, neste mundo cuja glória passa, todo o trabalho e ocupação é veículo para a glória de Deus. Por isso não faz distinção alguma entre as diversas ocupações que o dever lhe impõe. Tudo é bom para ela, por ser tudo Vontade de Deus.

A simplicidade e o desinteresse dessa alma são muitas vezes objeto de admiração neste mundo, onde tudo  é duplicidade e egoísmo. As pessoas procuram às vezes explorar em proveito próprio essa retidão e simplicidade. Armam-lhe laços e procuram surpreender a sua boa fé. Mas a alma simples, não se tendo em nenhuma conta, vivendo esquecida de si mesma, não é vulnerável às surpresas. Não é com ela que as pessoas lidam, mas com Deus; não é a ela que procuram embaraçar, mas ao próprio Deus.

(O dom de si, vida de abandono em Deus, pelo Pe. Joseph Schrijvers, continua com o post: A alma simples ama a cruz).

PS: Grifos meus.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O que é esquecer-se?

Vida de esquecimento próprio


O que é esquecer-se?

Aquele que se entrega a Deus já não se pertence. Deixa de existir aos seus próprios olhos, não vive em si mesmo, mas nAquele a quem se entregou, e não tem outros interesses a não ser os do Mestre.

Esquecer-se de si próprio, por amor, eis a grande lei de toda a vida espiritual. Esquecer-se é excluir das ações, sofrimentos e orações todo o cálculo humano, toda a sombra se amor-próprio ou intenção egoísta.

Esquecer-se é aceitar simplesmente da mão de Deus todas as responsabilidades, todos os deveres, todos os sofrimentos, todas as contrariedades, sem queixumes, sem pretender sobressair por isso, sem examinar a duração e a natureza das próprias penas ou sacrifícios, tal como se eles tivessem atingido outra pessoa.

Esquecer-se é moderar a procura de satisfações pessoais, fugindo das ilícitas e só escolhendo das outras as que a Providência tiver preparado.

Esquecer-se é avaliar-se pelo seu justo valor, isto é, como um mísero pecador; é afastar da memória própria e alheia as qualidades e obras pessoais; é mesmo evitar um olhar ansioso e demorado sobre as próprias fraquezas.

Esquecer-se é desaparecer aos próprios olhos, por um ato de vontade, para não ver em si e nos outros, nas pessoas e nas coisas, senão Jesus e a Sua santa vontade.

Aquele que quiser vir após Mim, diz Jesus, renuncie a si mesmo. Quem desejar ter parte na Ressurreição de Jesus, consinta primeiro em morrer com Jesus; quem quiser com Jesus levantar-se glorioso do túmulo, desça primeiro aí com Ele; quem quiser salvar a sua vida, comece por perdê-la.

O esquecimento próprio é, pois, a renúncia, a humildade, a morte de si mesmo; é o desapego universal.

Quem se esqueceu de si mesmo perdeu tudo. Já não é senhor de sua vontade e sentimentos, nem do seu tempo, nem da sua saúde. Nada lhe resta. As aspirações, gestos e aptidões, tudo o que constitui a riqueza e o orgulho dos outros é posto ao serviço do Senhor.

E a alma compraz-se nesta entrega, regozija-se por se ver roubada a si mesma; receia recuperar a posse de si e pede a Jesus que nunca lho consinta. Divina loucura! Senhor, ensinai-me o esquecimento de mim mesmo.

(O dom de si, vida de abandono em Deus, pelo Pe. José Schrijvers)

PS: Grifos meus.
PS2: Continuarei a transcrever esse capítulo, segue próximos posts:

O egoísmo retoma a direção do mundo

O EGOÍSMO RETOMA A DIREÇÃO DO MUNDO


Senhor! Fostes divinamente amado pelos homens. E, mesmo nos nossos dias, quantos corações puros Vos amam e Vos são dedicados até à morte!

Mas o meu coração confrange-se de tristeza. O número destas almas ardentes não parece diminuir de dia para dia? O egoísmo recupera a direção do mundo. Há tempos que vem infestando com o seu veneno toda a sociedade. Penetra agora na vida familiar e procura infiltrar-se na própria Igreja.

Quando o Senhor voltar à terra, encontrará ainda amor no mundo?

Por toda a parte, a caça aos prazeres, a cupidez, o luxo desenfreado; por toda a parte, a opressão dos fracos, o desdém pelos infelizes, o horror pelos menos favorecidos!

É como se o Senhor Se tivesse retirado, levando consigo o amor e a luz. As sombras já se aglomeram ao redor de nós e o frio faz-se mais intenso. É o melancólico paganismo que volta, como um espectro carregado de ódio, e que ameaça envolver-nos a todos numa imensa mortalha.

Senhor! Tende piedade de nós: Fica conosco, Senhor, pois é tarde e o dia já declina (Lc 24,29). Ficai conosco, senhor, pois faz-se tarde. A noite vem caindo, a terrível noite que nos apavora com os seus fantasmas. Ficai conosco!

Senhor misericordioso, não Vos vingais das nossas faltas sempre repetidas. Volvei os olhos para este pequeníssimo número de almas retas que contais entre nós e deixai-Vos comover. Essas almas entregaram-se sem reservas ao Vosso amor. Seguem-Vos por toda a parte, na vida e na morte. Haveis de abandoná-las e levantar o vosso voo para os céus? Não, o Senhor, nem que restasse uma só alma em vigília permanente, não poderíeis retirar-nos a Vossa misericórdia.

Meu Deus, tomo hoje a resolução de ser uma alma inteiramente dedicada e entregue ao Vosso amor. Comprometo-me também a trazer-Vos numerosos corações, mais puros e abnegados que o meu. Cercar-Vos-emos de amor e Vos impediremos de partir.

(O dom de si, vida de abandono em Deus, pelo Pe. Joseph Schrijvers)

PS: Grifos meus.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Oração pela conversão dos gentios - São Francisco Xavier

Oração pela conversão dos gentios
São Francisco Xavier


(Duma cópia em latim, feita em 1660 - É de Lucena, a cópia latina mais fideligna que se conserva. Assim a introduziu: "Em dois passos o viram sempre banhado em santas e suaves lágrimas, quando consagrava e quando consumia [comungava]. E neste, tendo já o Senhor nas mãos para O Receber, depois de ditas as orações do ritual, ajuntava uma, que ele mesmo compusera, pela conversão dos infiéis: a qual deu, depois de muita importunação, a uma pessoa devota, que com grande instância quis saber dele, em que se detinha naquele tempo. Eram estas palavras em latim, que por serem suas folgaram, porventura, de as saber e dizer os que o entendem" - J.LUCENA, Vida do Padre Francisco Xavier, L.V, c.5)

Eterno Deus, Criador de todas as coisas, lembrai-Vos que as almas dos infiéis são unicamente obra de Vossas mãos e criadas à Vossa imagem e semelhança. Vede, porém, Senhor, como, com afronta Vossa, delas se enche o inferno!

Lembrai-Vos, Senhor, que Jesus Cristo, Vosso Filho, derramando tão generosamente o Seu sangue, por elas sofreu. Não permitais, Senhor, que o Vosso próprio Filho e Senhor nosso, por mais tempo, desprezado dos infiéis; mas, antes, aplacado pelas orações dos escolhidos e da Igreja, bem-aventurada esposa do Vosso Filho, recordai-Vos da Vossa misericórdia e, esquecendo a sua idolatria e infidelidade, fazei que também eles conheçam a Jesus Cristo, Vosso Filho e nosso Senhor, por Vós enviado, que é nossa saúde, vida e ressurreição, pelo qual fomos salvos e livres e a que, seja dada a glória por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Oração e informações retiradas do livro: São Francisco Xavier- Obras completas)

Educação moral da criança - Vigilância e oração

Educação moral da criança - Vigilância e oração


Nada mais frágil do que uma criança, que é um cristal humano. A frase é feita e pacifica, servindo de aviso. Ora muito importa convencer os responsáveis de que há várias fragilidades. A física e a moral. Às vezes, a primeira menos exposta do que a segunda. Aquela pode diminuir com os anos e esta em geral aumenta com eles. Fragilidade física é, pois, relativa, mudando-se mais tarde em força e competência. A outra é aquela herança da culpa original.

Pio XII repetiu que é pedagogia fracassada, a que não conta com o pecado original e suas conseqüências no homem. Por sereno que pareça o lago, há tormentas nas suas águas. De límpidas, podem tornar-se bem depressa turvas. Alguém escreveu que não há santo algum, que não tenha sido censurado e castigado na sua infância. Não há herói algum, que não haja sofrido reprimendas para trazê-lo no trilho certo, quando nos anos da sua adolescência. Enfim, tornaram-se os santos uns prodígios de força moral porque, advertidos, corrigidos e vigiados, por quem de direito, cooperaram com o auxílio.

Lembro tal fragilidade moral para dizer aos pais qual e quanta há de ser a vigilância dos filhos. Vigilância que dá com os defeitos e vai corrigindo-os.

Família (leitora), não posso entender a calma de tantos pais que não vigiam a vida moral dos seus tutelados. Parece que lhes bata o filho levar o sobrenome da família. Pais, antes de vosso filho assinar o sobrenome da família, assina o nome dos primeiros pais, assim: fulano de tal, filho de Adão e Eva. Só depois é que aparecem vossos nomes. Portanto, a criança é herdeira da desordem do pecado original, inclinada ao mal.

Na família ninguém larga uma criança à vontade, sob o pretexto de que tem pernas para andar e correr à vontade. Ao contrário teremos quedas e ferimentos evitáveis. Espera-se que seus pezinhos e perninhas fiquem firmes e depois aos poucos se lhe vai ensinando o nadar. Na ordem moral nossas pernas, da infância à velhice, são frouxas, trôpegas. E aqui não vale como documento a honradez passada de um lar, nem seu ambiente de elevada conduta moral. Poderá facilitar a firmeza, sem nunca dispensar a vigilância.

Um dos conselhos de Cristo aos adultos é a vigilância. Usou comparações eloquentes para convencer seus ouvintes de todos os séculos. Foi por isso que São Pedro falou de "um leão" que anda rondando para devorar-nos. Além da vigilância dos olhos, há a outra do coração que se preocupa com a oração. Ela ajuda a vigiar. Porque não rezarão os pais: Não deixeis, Senhor, meus filhos cair em tentação? Aqui torno a insistir calorosamente sobre a invocação dos Santos Anjos, por parte dos filhos e dos pais.

Porventura o ritmo atual da vida, as maravilhas da técnica, os encontros forçados e repetidos, o desaparecimento do sentido do mal e do pecado não estão aí como outros leões que devoram os incautos?

(Mundos entre berços, pelo Pe. Geraldo Pires de Souza)

PS: Grifos meus.

Presentear exageradamente uma criança... um grande perigo!

Presentear exageradamente uma criança... um grande perigo!


Na escola fora feita uma sondagem sobre os desejos das crianças, por ocasião da festa de Natal. Apareceu então o seguinte relatório. Queriam bicicletas completas, bolas de futebol, chuteiras, relógios-pulseiras, carros com bonecas, casas para elas com iluminação completa, máquinas fotográficas e de filmagens, etc. Uma  ou outra criança mencionava um par de sapatos, uma boneca qualquer. A grande maioria descreveu cuidadosamente as qualidades dos presentes desejados.

Dirão os pais que isso prova a mentalidade moderna e técnica da infância atual. E também pode provar como anda exigente essa infância moderna. A razão está na mania de muitos pais, sempre desejosos de atender às vontades mais contra-indicadas pela situação financeira da família. Saem prejudicadas as finanças e também os filhos. Uma criança que não sabe moderar seus desejos, ou melhor, os tem sempre atendidos pelos pais, está sendo educada para uma fracassada na vida.

Longe de mim advogar o método de recusar presentes aos pequenos. Eles precisam dessas provas de afeto. Mas o exagero em entupir os filhos com presentes é igualmente funesto na vida. Não há dúvida, hoje requer-se muita coragem dos pais neste particular. A moda anda por aí: muitos e belos e caros presentes aos filhos. É claro, também a vaidade ou exibição falam neste assunto. Querem brilhar perante outros pela forma dos presentes que fazem.

Vivem saturadas nossas crianças. Já não reagem perante presentes menores, mais singelos. E cada vez mais alto vão colocando suas exigências. Vão perdendo, ou já perderam, aquela delicada sensibilidade da alegria com coisas pequenas e simples. Será vantagem cultivar tal doença? A vida dá coisas pequenas. Raramente é fada encantada com régios regalos de alegrias, felicidades e surpresas. Se alguém desensinasse uma criança maior a matar sua sede com água fresca e pura de uma fonte, lhe prestaria porventura um benefício? Certamente que não. Por que vamos contudo adotar outro método, quando se trata de saciar a sede de um coração infantil?

(Mundos entre berços, pelo Pe. Geraldo Pires de Souza)

PS: Grifos meus.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Dia do Juízo

Dia do Juízo


Se ao justo Juiz irado
hei-de ser apresentado
p'ra, terrível, me julgar
minhas culpas, meu pecado!
Como vivo descuidado?
Como ouso ainda pecar?

Dor intensa hei-de sentir
no coração, se me vir
naquela hora condenado!
Se o meu Deus, meu Criador,
meu supremo Julgador,
de Vós me houver afastado!

Que será do pecador
ante a face do Senhor,
severo, irado a julgar?
Ó Jesus, Pai de bondade,
pela Vossa piedade,
não me queirais condenar.

(E se por justiça isso acontecer)
Adeus, Senhor Superno!
Adeus, Mãe do Amor Eterno!
Que eu, longe do Meu amado,
irei, triste, desterrado!
Pr'a sempre, sem Deus, sem Pai!

(Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)

Os inimigos da obediência da esposa

Os inimigos da obediência da esposa


- É uma indignidade a servidão de um cônjuge para com outro. Pois são iguais os direitos de ambos. A esposa há de viver emancipada. Três são os modos dessa emancipação: social, econômica e fisiológica.

R - Todos os que empanam o brilho da fidelidade e castidade conjugal, atiram por terra também, facilmente, a confiante e nobre sujeição da mulher ao marido. Esta não é a verdadeira emancipação da mulher, nem a digníssima liberdade que compete ao nobre e cristão ofício de esposas. Muito ao contrário, é a corrupção do caráter próprio à mulher e da sua dignidade de mãe. É o transtorno de toda sociedade familiar, pelo qual ao marido se tira a esposa, aos filhos, a mãe, e ao lar, a dona vigilante.

Essa igualdade antinatural só acarreta danos à mulher, pois a faz descer do trono em que o Evangelho a colocara dentro dos muros do lar.

- Nas inovações sobre os direitos políticos, sociais e econômicos da mulher, basta ter em vista as correntes ideológicas dos tempos, as exigências da ordem social.

R - Não; tenha-se em conta o que reclamam a índole diversa do sexo feminino, a pureza dos costumes e o bem comum da família... A sociedade doméstica foi estabelecida por uma autoridade mais excelsa do que a humana. Por conseguinte, não pode ser mudada nem por leis públicas, nem por preferências privadas.

(As três chamas do lar, pelo Pe. Geraldo Pires de Souza, págs. 80 e 81)
PS: Grifos meus.

Ver também:

Mãe

Mãe



Em ti penso, contigo sonho, anjo da guarda da minha infância! Treme a minha pena e o meu coração bate mais depressa quando escrevo esta palavra: "Mãe". A grandeza desaparecida dos dias passados torna à minha presença como se me acenasse de um longínquo e espesso nevoeiro. Surgem as recordações dos dias soalheiros da primavera, das carinhosas mãos da mãe que tão solicitamente me cuidavam. E vibram as cordas da minha alma.

Quem pode compreender totalmente o sentido dessa palavra? Quem há que não estremeça ao pensar naquela que nunca o deixou de amar desde o primeiro instante da vida, que sorria como um sol sobre o seu berço, que sofria quando o seu pequeno estava doente e padecia?

Que coração se não enche de emoção quando pensa naqueles dias da infância em que  nada mais existia além da mãe? Talvez tenha sido para muitos a primeira e a única alegria da vida!

É bom pensar nesses tempos, em que a alegria e a claridade nos rodeavam, em que a dor e as preocupações ainda não tinham aparecido, porque a mãe impedia a sua entrada na sagrada ilha da infância.

Quem pode dizer o significado da palavra "Mãe"?

Estudiosos, novos e velhos, aprenderam na vida muitas definições, procurei-a durante muito tempo e nunca a poderei esquecer, embora tenha sido difícil encontrá-la.

Se reuníssemos tudo o que Petöfi escreve em longínquas terras, e Torth Kalman canta sobre a mãe no lar, ou o que um órfão soluça no cemitério; se ouvíssemos as canções populares e os grandes poetas do povo ou os brilhantes elogios dos grandes educadores; se nos fosse possível penetrar na alma despedaçada de qualquer mãe quando visita na prisão o seu filho perdido; se contássemos as horas em que o olhar materno vela junto do berço de um filho doente; se pudéssemos convoca, da longínqua história, a orgulhosa mãe dos Gracos ou juntar em salva de ouro o delicado coração de Elisabeth Szilagy ou de Hellene Zriny e o fiel coração da mulher de um trabalhador que incansavelmente cuida, noite e dia, dos que ama; se, finalmente, trouxéssemos ainda a célebre figura de mãe do cemitério de Génova e, sobre isto tudo, fizéssemos resplandecer a imagem da Madona, teríamos apenas um débil reflexo do que é a mãe. Mas a profundidade dessa maravilha não estaria ainda esgotada.

(A Mãe, pelo Cardeal Mindszenty)

PS: Grifos meus.