sexta-feira, 2 de outubro de 2009

S. Tereza do Menino Jesus



Dia 03 de outubro - Dia de Santa Teresa do Menino Jesus

"A verdadeira coragem não está nesse ardor de um momento que faz desejar voar à conquista das almas, à custa de todos os perigos imaginários, que só aumentam o encanto desse belo sonho; a verdadeira coragem é querê-lo na angústia do coração e ao mesmo tempo afastá-lo por assim dizer, como Nosso Senhor no Jardim das Oliveiras." ( Santa Tereza do Menino Jesus)

Os últimos anos, que a Serva de Deus passou sobre a terra, foram o eco de sua vida; nunca desmentiu seu terno abandono a Deus, sua humildade. Seu semblante refletia uma indefinível paz. Sentia-se que sua alma chegara ao termo onde a conduziram os desejos de toda sua vida. Seu único fim estava agora atingido!
Os sofrimentos físicos que suportou nos últimos meses eram atrozes, pois a doença do peito acresceu-se a tuberculose nos intestinos que provocou a gangrena; ao mesmo tempo formaram-se chagas devido à sua extrema magreza, males esses que éramos incapazes de aliviar.

Vejo-a ainda submetendo-se a mais de quinhentas pontas de fogo nas costas (eu mesma as contei). Enquanto o médico as aplicava, falando sobre coisas banais, com Nossa Madre, a angélica paciente ficava de pé, apoiada numa mesa. Disse-me depois que oferecia seus sofrimentos pelas almas e pensava nos mártires. Após a sessão subia à sua cela, sem esperar que lhe dirigissem uma palavra de compaixão; sentava-se, tremendo, à beira do pobre enxergão e lá, sozinha, suportava o efeito desse tratamento penoso.


No meio das dores mais agudas conservava uma grande serenidade e alegria. Admirava-me interiormente, pensando que talvez não sofresse tanto quanto se pensava, e desejei, por isso, surpreendê-la num momento de crise. Pouco tempo depois, via-a sorrir com um ar angélico. Perguntando-lhe a causa, disse-me:

"É porque sinto uma dor muito aguda no lado; tomei o hábito de fazer sempre uma boa acolhida ao sofrimento".

No dia de sua morte, à tarde, Madre Inês de Jesus e eu estávamos a sós com ela. Trêmula e extenuada chamou-nos em seu socorro! Sofria muito em todos os seus membros. Colocando um dos seus braços sobre o ombro de Maria Inês de Jesus e o outro sobre o meu, ficou assim com os braços em cruz. Nesse momento, soaram três horas; pensamos logo em Jesus crucificado; nossa pobre pequena mártir não era sua viva imagem?

A agonia começou logo depois; foi longa e terrível. Ouvimo-la repetir:

-  "Oh! é bem o sofrimento puro porque não há consolação; não, nenhuma!"
- "O meu Deus!!! Eu amo, entretando, meu bom Senhor ... ó minha Santíssima Virgem, vinde em meu socorro!"
- "Se isto é a agonia, que será a morte?
- "Ó minha Mãe, asseguro-vos que o cálice está cheio até as bordas. Sim, meu Deus, tudo o que quiserdes, mas tende piedade de mim. Não, eu não acreditaria que se pudesse sofrer tanto...nunca, nunca! Não o posso explicar senão pelos desejos ardentes que tive de salvar almas."
- "Amanhã, será pior ainda! Enfim, tanto melhor!"


Essas palavras entrecortantes e dilacerantes, eram sempre impregnadas da maior resignação. Irmã Tereza do Menino Jesus, acolheu as Irmãs com um gracioso sorriso, depois apertando o crucifixo em suas mãos, pareceu entregar-se inteiramente ao sofrimento, mas não falou mais.

Sua respiração tornou-se ofegante, um suor frio banhava-lhe o rosto, as vestes e as cobertas que ficaram molhadas. Ela tremia!

A comunidade ficou surpresa, mas de repente nossa querida Irmãzinha procurou os olhos de Nossa Madre que estava de joelhos a seu lado, enquanto seu olhar velado retomou a expressão de sofrimento que tinha antes. Alguns instantes mais tarde, Nossa Madre despediu a comunidade, crendo que a agonia poderia prolongar-se. A angélica paciente voltando-se então para ela, perguntou:
- "Minha Mãe, é a agonia, não é? não vou morrer?"
E a resposta de que a agonia poderia prolongar-se ainda, disse com voz doce e queixosa:
- "Pois bem, vamos ... vamos ... Oh! não desejaria sofrer menos!
- "Oh! ... eu o amo! ... Meu Deus, eu ... vos ... amo!!!"



Foram suas últimas palavras. Assim que acabou de pronunciá-las, com grande surpresa nossa, abateu-se imediatamente, a cabeça pendida para a direita. Mas de repente, ergueu-se como que chamada por uma voz misteriosa, abriu os olhos, fizou-os irradiantes um pouco acima da imagem milagrosa da Virgem. Esse olhar durou alguns minutos, o tempo de recitar um Credo.
Era quinta-feira, 30 de setembro de 1897, ás 7h 20 m da tarde... Chovia! Então, apoiando-me a um dos pilares da arcado do claustro disse soluçando: "Se ao menos houvesse estrelas no céu!" Logo que acabei de pronunciar estas palavras o céu tornou-se sereno, estrelas brilhavam no firmamento e não havia nuvens!

Depois que minha Tereza bem-amada exalou o último suspiro e quando todas as irmãs se retiraram, achando-me sozinha junto dela, vi uma lágrima que brilhava ainda em suas pálpebras e quis recolhê-la. Como não tinha um pano fino, pequei apressadamente um lenço branco, grosseiro, que estava perto e com um cantinho enxuguei a pérola preciosa, que brotara após o supremo combate. Depois, rasgando o lenço em todo o cumprimento refiz a bainha afim de que ninguém o percebesse.

Guardei a tira que conservava bem visível o sinal do lugar molhado pela última lágrima de minha Irmã querida, até o dia em que, sendo cortada na forma da lágrima, foi colocada, cercada de diamantes, num relicário que representa um anjo debronze maciço revestido de uma armadura.
"Quero passar meu Céu fazendo o bem sobre a Terra"
(Inscrição feita em uma cruz de madeira que se encontra sobre o túmulo da Santa)

(Conselhos e lembranças - Escritos de Celina irmã de Santa Tereza de Lisieux)