"Acaso pensas, o Tu, eternamente vivo, que eu Te amo por causa das recompensas futuras prometidas no Teu reino? pelas palmas, harpas, pelas maravilhas, pelas delícias do Teu Céu?
Oh! não. Amo-Te porque fostes infeliz, porque passaste por todas as dores, porque suportaste todas as humilhações. Tu, Deus carregado de ferros. Tu, Deus conduzido ao suplício pelos algozes. Amo-Te porque forçado a clamar ao Pai: "Porque me abandonastes?"; Amo-Te mais por causa da Tua agonia e da Tua morte do que por causa da Tua ressurreição; pois imagino que, ressuscitado, tornando a subir pelos espaços azulados, tendo o Teu universo às Tuas ordens, tem menos necessidade da Tua serva.
Mas, quando assisto à Tua agonia, parece-me que retorno a regiões de mim já conhecidas, afigura-se-me que eu já contemplara outrora essa colina e essa voz inundada da púrpura de Teu sangue; que essa Madalena, Tua santa, Tua bem-amada, que lá geme, era talvez eu. Porque, ao meu coração, o coração dela se lamenta; porque todas as lágrimas de seus olhos surdem das minhas pálpebras, e minha aflição é tão terrível, tão profunda, que não podem existir duas aflições semelhantes!
Não, ela não Te amava mais!
Sei que ela é uma grande santa, e eu uma pobre mesquinha cujas ações são pouco meritórias diante de Ti; porém ela não Te amava mais!"
(Santa Tereza de Ávila)
* Texto extraído do livro a Formação da donzela do Padre Baeteman