sábado, 3 de outubro de 2009

A oração e o demônio


"Posto o homem em oração, o Demônio não cessa de lhe revolver e trabucar na memória quantas notícias impertinentes e inúteis pode. Pica a alma com cuidados, a consciência com escrúpulos, o corpo com dores e outras inquietações molestas da paixão da carne. Diverte o espírito do estudo prático das verdades, para o especulativo de conceitos, e lhe aconselha que deposite na memória para proveito de outros a luz que Deus lhe dava para o seu próprio.

Quando por si não pode interromper a oração, vai voando sugerir a algum doméstico ou estranho que lhe venha perguntar ou pedir ou trazer isto ou aquilo; e de uma palavra encadeia tantas, que, se lhe somem e consome o tempo da oração, sem o entender senão depois de perdido. Outras vezes lhe quebra e torna lânguidas as forças do corpo, causa formigueiros no cérebro, mete fraqueza de estômago, faz sobressaltos de coração e descomposição de pulsos, como um relógio cujo pêndulo não anda compassado; outras se pendura por detrás nos vestidos, puxando por eles sutilmente, de sorte que lhe subam à garganta e o afoguem; ou se lhe assenta sobre os ombros, causando mais ou menos peso, conforme Deus lho permite."
(Luz e Calor - Pe. Manuel Bernardes, 12)