quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Em quatro décadas, família brasileira encolheu e já é chefiada por mulher


A família brasileira diminuiu, enriqueceu, tornou-se mais igualitária e se diversificou, numa revolução que mudou as relações familiares nos últimos 40 anos. A entrada maciça da mulher no mercado de trabalho nos anos 80 foi uma das principais causas dessa mudança, na opinião de quem acompanha os indicadores sociais brasileiros.

Em 1985, só 33% das mulheres em idade de trabalhar disputavam com os homens uma ocupação. Essa parcela subiu para 52% e permanece em expansão. Assim, aquela mulher que tinha em média 5,8 filhos nos anos 70 passa a ter menos de dois filhos, 40 anos depois.

- Mudaram as relações sociais e familiares. A mulher passou a dividir a provisão da família. O tamanho do respeito dentro de casa passou pelo tamanho do contracheque - diz Ana Saboia, chefe da Divisão de Indicadores Sociais.

Mais de 80% dos lares têm acesso a água e luz

A socióloga Elisabete Dória Bilac, pesquisadora do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp, cita como base dessa revolução o ingresso da mulher no mercado de trabalho.
- Não temos absolutamente equidade de gênero, mas avançamos muito - afirma.

Os casamentos, praticamente indissolúveis, foram se desfazendo, e a proporção de mulheres casadas caiu de 60% em 1970 para 45% em 2000. Hoje, o fenômeno novo captado nas pesquisas domiciliares é a reconstituição dessas famílias.
- O recente aumento no número de casamentos está relacionado ao recasamento. A independência financeira permitiu à mulher abandonar arranjos em que não havia mais satisfação afetiva - diz Elisabete.

A mulher assumiu a chefia da família - eram 18% em 1991 e, em 2007, eram 33%. E ultrapassou os homens no número de anos de estudo. Hoje, são nove para mulher e oito para os homens, nas áreas urbanas.
Houve ainda um "controle de natalidade" não oficial, com a liberação da ligadura de trompas e a pílula anticoncepcional. Mas a situação ainda está longe do ideal. A mulher conquistou o trabalho, mas não conseguiu dividir as tarefas domésticas nem o cuidado com os filhos. E os salários ainda estão perto de 70% do que ganham os homens. Há ainda o desafio de se inibir a violência contra a mulher.

É inegável, porém, que as condições de vida melhoraram. O indicador mais evidente é o de expectativa de vida dos brasileiros, que passou de 52 para 72 anos. A água chega hoje a 83% dos lares, e a luz, a mais de 90%. A dívida é o saneamento, que só passou a barreira dos 50% dos domicílios em 2007.

(Fonte: O Globo - matéria enviada por e-mail, grifos meus)