Em 1985, só 33% das mulheres em idade de trabalhar disputavam com os homens uma ocupação. Essa parcela subiu para 52% e permanece em expansão. Assim, aquela mulher que tinha em média 5,8 filhos nos anos 70 passa a ter menos de dois filhos, 40 anos depois.
- Mudaram as relações sociais e familiares. A mulher passou a dividir a provisão da família. O tamanho do respeito dentro de casa passou pelo tamanho do contracheque - diz Ana Saboia, chefe da Divisão de Indicadores Sociais.
Mais de 80% dos lares têm acesso a água e luz
A socióloga Elisabete Dória Bilac, pesquisadora do Núcleo de Estudos Populacionais da Unicamp, cita como base dessa revolução o ingresso da mulher no mercado de trabalho.
- Não temos absolutamente equidade de gênero, mas avançamos muito - afirma.
Os casamentos, praticamente indissolúveis, foram se desfazendo, e a proporção de mulheres casadas caiu de 60% em 1970 para 45% em 2000. Hoje, o fenômeno novo captado nas pesquisas domiciliares é a reconstituição dessas famílias.
- O recente aumento no número de casamentos está relacionado ao recasamento. A independência financeira permitiu à mulher abandonar arranjos em que não havia mais satisfação afetiva - diz Elisabete.
A mulher assumiu a chefia da família - eram 18% em 1991 e, em 2007, eram 33%. E ultrapassou os homens no número de anos de estudo. Hoje, são nove para mulher e oito para os homens, nas áreas urbanas.
Houve ainda um "controle de natalidade" não oficial, com a liberação da ligadura de trompas e a pílula anticoncepcional. Mas a situação ainda está longe do ideal. A mulher conquistou o trabalho, mas não conseguiu dividir as tarefas domésticas nem o cuidado com os filhos. E os salários ainda estão perto de 70% do que ganham os homens. Há ainda o desafio de se inibir a violência contra a mulher.
É inegável, porém, que as condições de vida melhoraram. O indicador mais evidente é o de expectativa de vida dos brasileiros, que passou de 52 para 72 anos. A água chega hoje a 83% dos lares, e a luz, a mais de 90%. A dívida é o saneamento, que só passou a barreira dos 50% dos domicílios em 2007.