MORTE DE SÃO PAULO DA CRUZ
“Meus bons filhinhos, dizia-lhes,
acostumai-vos a sofrer por amor de Jesus;
excitai-vos mutuamente no desejo
de derramar o sangue e dar a vida pela fé” .
No dia de São Lucas (18 de outubro), de quem era devotadíssimo, recusou a porção de pão dissolvido em água, desejando comungar em jejum. Foi sua última Comunhão. De ora em diante só vive para o Céu. Quer deixar a terra num ósculo de amor.
Pediu não permitissem entrar na cela pessoa estranha, pois os derradeiros instantes de vida deveriam pertencer exclusivamente a N. Senhor e aos seus filhos.
Apesar da proibição, os religiosos abriram exceção ao bispo de Scala e Ravello, a um religioso Camaldulense do Convento de São Gregório e a um senhor de Ravena.
O Santo, sempre bondoso, acolheu-os, presenteando-os com pequeno Crucifixo, exortando-os, por sinais a meditarem perenemente a sagrada Paixão de Nosso Senhor. Enternecidos até as lágrimas, exclamaram ao retirar-se:
“Ah! na verdade vê-se a santidade estampada em seu rosto! Oh! como são ditosos, estes padres, pois têm por pai a um santo! Sim, Paulo é grande santo!”.
Pouco antes do meio dia, chega d. Struzzieri. Desce do carro e corre à cela do amado pai, toma-lhe a mão e cobre-a de beijos. O moribundo reanima-se ao rever o querido filho. Sorri, descobre a cabeça em sinal de respeito ao Prelado e deseja também beijar-lhe a mão, mas o snr. bispo retira-a imediatamente.
Após afetuosas palavras, disse Paulo ao enfermeiro:
“Diga ao pe. Reitor que trate bem ao sr. bispo e aos seus domésticos, fazendo-os servir pelos religiosos”.
Cumprira a palavra, esperando o sr. bispo. Agora, ciente de que lhe chegara a última hora, pediu ao enfermeiro o ajudasse a mudar de posição, para poder fitar as imagens de Jesus Crucificado e da Mãe das Dores. Nessa posição permaneceu até a morte.
Pouco depois, sentindo calafrios, disse ao enfermeiro :
“Chame o pe. João Maria porque minha morte está próxima”.
Respondeu-lhe este que não via perigo iminente de morte, tanto mais que o médico, horas antes, o achara melhor.
“Chamem, chamem o pe. João Maria para auxiliar-me”, insiste o Santo.
Estavam os religiosos no coro cantando vésperas. O irmão, não julgando iminente o desenlace, sentou-se junto ao leito do servo de Deus e perguntou-lhe:
“Meu padre, por ventura não aceita de boa vontade a morte para cumprir a SS. Vontade de Deus?”
Respondeu o moribundo com voz forte
“Sim, morro de muito boa mente para cumprir a SS. Vontade de Deus”.
“Coragem, pois, acrescentou o enfermeiro; confie em Nosso Senhor”.
Estendeu Paulo os braços às queridas imagens e disse com admirável ternura:
“Ali estão minhas esperanças, na Paixão de Jesus e nas Dores de minha Mãe Maria....”
O CÉU RECEBE MAIS UM SANTO
Terminadas as vésperas, chamou o enfermeiro ao pe. João Batista de São Vicente Ferrer, primeiro Consultor. Paulo, apenas o vê, exclama:
“Auxiliem-me, porque vou morrer”, e entrou em doce agonia.
Pressurosa a comunidade acorreu à cela do pai moribundo. Estão todos de joelhos, a orar. O pe. Reitor encomenda-lhe a alma. Os religiosos e mons. Frattini respondem às orações da Igreja. O primeiro Consultor, por delegação especial do Santo Padre, dava ao moribundo, com a bênção apostólica, a indulgência plenária em artigo de morte, bem como as indulgências do Rosário e do Carmo.
O pe. João Maria absolveu-o novamente, atendendo ao pedido do Santo. Excitava-o d. Struzzieri a vivos sentimentos de fé, esperança e caridade. Leu-se em seguida a Paixão de Jesus Cristo segundo São João.
Esta leitura pareceu reanimar o enfermo. Percebia-se que hauria, desse manancial de salvação, paz, consolo e amor. Seus olhares fitavam ora a imagem de Jesus Crucificado, ora a de Nossa Senhora das Dores.
Manifestara o desejo de morrer sobre palhas, com uma corda ao pescoço, coroa de espinhos na cabeça, revestido do santo hábito com o distintivo da Paixão no peito.
Satisfizeram-lhe em parte o desejo. O pe. João Maria, ao estender sobre ele a santa túnica e ao colocar-lhe ao pescoço uma corda, disse-lhe:
“Alegre-se, pois lhe é dado morrer na cinza e no cilício...”.
De repente, entra o moribundo em doce êxtase. Que expressão de felicidade! Os lábios se entreabrem em celestial sorriso, os olhos estão fixos no Céu, os braços estendidos. Com repetidos sinais das mãos, parece pedir aos presentes deixem passagem livre a misteriosas pessoas que se aproximam.
Foi opinião geral que fruía celestial visão. E não se enganaram, pois, após a morte, apareceu glorioso a uma alma santa, revelando-lhe que naquele instante baixaram à sua cela, circundados de resplandecente luz, o divino Redentor, a SS. Virgem, o Apóstolo São Paulo, São Lucas, São Pedro de Alcântara, o pe. João Batista, seu irmão, e todos os seus religiosos que o precederam na Glória, seguidos de inúmeras almas por ele convertidas nas santas missões.
O Santo já gozava dos primeiros albores da eterna bem-aventurança!
Deixou cair os braços e cerrou os olhos.
“Pe. Paulo, bradou o bispo de Amélia, lembrai-vos no Céu da pobre Congregação e de todos nós, pobres filhos vossos”.
E o pai amoroso com sinais dá a entender que o fará. Momentos após, ao lerem estas palavras do Evangelho de são João:
“PAI, E' CHEGADA A HORA, GLORIFICA O TEU FILHO, PARA QUE TEU FILHO TE GLORIFIQUE" (Jo. 17, 1), pareceu entregar-se a aprazível sono... e sua alma já contemplava na glória Aquele a quem tanto amara nos sofrimentos.
Eram cerca de dezesseis horas de quarta-feira, 18 de outubro de 1775. O nosso Santo contava 81 anos, nove meses e quinze dia.
(O caçador de almas, São Paulo da Cruz, pelo Pe. Luís Teresa de Jesus Agonizante)
PS: Grifos meus.