domingo, 31 de outubro de 2010

Educação sobrenatural - IX - A formação da consciência

EDUCAÇÃO SOBRENATURAL


IX - A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA


"Deus está no meio da alma;
tem o Seu trono, na consciência dos bons"
(Santo Agostinho)

Que é a consciência?
É na alma das crianças a morada que Deus escolheu e onde quer reinar, quer dizer: "falar, agir, promulgar a lei, insinuar os Seus conselhos, pronunciar sentenças, punir e recompensar".
(M. O abade Cláudio Bouvier, A educação religiosa, p. 145).

Como pode a mãe contribuir para a formação da consciência?
Suprindo-a; esclarendo-a; tornando-a simples; dirigindo-a; preservando-a; exercitando-a.

É preciso supri-la.

"A mãe deve ser a primeira consciência da criança que não tem consciência".
(M. O abade Cláudio Bouvier, A educação religiosa, p. 145)

Quando se deve a mãe suprir a consciência da criança?
Quando a criança é muito nova, quando a sua consciência está ainda adormecida; quando a sua natureza de desenvolve na irresponsabilidade.

Se a mãe é tentada a abandonar todo o cuidado, dizendo que a criança se educará bem sozinha, não terá mais que recordar-se do pecado original, com as suas deploráveis conseqüências, para compreender que é a ela que pertence notar o mal, e afastar o filho desse mal, que a criança não saberia nem ver, nem repelir por si mesma; como é a ela que pertence saudar e manter as tendências boas, cujo mérito não cabe à criança, mas que desabrocharão em frutos de graça e de santidade.

É preciso esclarecê-la.

"Há na consciência Deus e tu"
(Santo Agostinho)

Como pode a mãe esclarecer a consciência da criança?
Explorando a maravilhosa facilidade de adaptação ao bem com que a natureza, e mais ainda a graça do batismo, enriqueceram a criança.

A natureza. - Desde a mais tenra idade, a criança faz uma escolha entre os seus brinquedos; manifesta preferência por uma pessoa e repugnância por uma outra; desvia-se com horror de certos espetáculos, e contempla outros complacentemente. É uma primeira distinção entre o bem e o mal; está longe de ser sempre moralmente exata; mas pode e deve servir para tirar das profundidades da consciência a noção fundamental daquilo que é permitido e proibido.

A graça do batismo. - Quando a mãe, para a instruir da maldade e da bondade moral das coisas, diz à criança: "Isto é bonito!... Isto é feio!..." além da vantagem apreciável de unir o bem e o belo e projetar sobre a lei de Deus qualquer coisa do esplendor que a envolve, pode acrescentar: "aquilo que é feio faz chorar o Menino Jesus, e aquilo que é belo fá-lO sorrir".

Por esse meio atinge a fibra sobrenatural, tão delicada e tão sensível, que nenhum choque exterior veio ainda falsear, e que vibra ao primeiro contato com o nome e as coisas de Deus; por essa forma liga a um princípio superior e divino a alegria ou a tristeza que ela mesma experimenta pelo comportamento do filho; dessa maneira dá à consciência, em via de formação, uma orientação simples e reta.

É preciso torná-la simples.

Que se deve entender por esta expressão: tornar simples a consciência?
Quer dizer:

Que os pais não devem comprometer a autoridade santa de que gozam com intervenções muito frequentes ou inspiradas pelo capricho e pela vaidade.

É preciso dirigi-la.

Como pode a mãe dirigir a consciência da criança?
Por esta fórmula: Deus vê-te.

Se a criança estiver bem convencida disto:

1º- Evitará, geralmente, o mal. Com efeito, como deixar-se arrastar pelo pecado sob o olhar dum Deus, que se julga todo-poderoso e eterno?

2º- Reparará o mal depois de o haver praticado. O remorso, na verdade, far-lhe-á ouvir a voz de Deus, aquela voz que perseguia Adão após a desobediência: Adão, onde estás tu?

Por outro lado, o Jesus do Presépio, o Jesus do Calvário, Jesus chorando sobre Jerusalém, Jesus perdoando à Madalena, erguerão na criança a confiança ao nível do temor; e, não podendo já resistir, solicitará e obterá um perdão que repare a falta cometida.

- Lançar-se-á repentinamente na generosidade, no amor de Deus e da virtude.

Há alguma coisa de que não seja capaz uma criança que não tenha compreendido e sentido a suavidade do jugo divino?

É preciso preservá-la.

Qual é o grande meio de preservar a consciência das crianças?
É infundir-lhes na alma princípios.

"O grande perigo que corre a consciência das crianças é deixar alterar em volta delas os princípios, os princípios que valem mais do que os atos... Corrigem-se duma fraqueza, corrigem-se mais raramente duma idéia falsa, mas raramente ainda duma disposição geral do espírito que põe em dúvida ou diminui as verdades morais".
(Bouvier)

(Veja-se o que dissemos do apego aos princípios, na formação da vontade; e do amor do dever, na formação do coração).

De que é preciso preservar a consciência da criança?
- Do pecado;
- Do escrúpulo;
- Das ilusões.

Quais são os meios a empregar para preservar do pecado a consciência da criança?
É preciso:

1º- Dar-lhe uma idéia justa do pecado;
- Inspirar-lhe um profundo horror por ele.

Que é preciso para que a criança tenha uma idéia justa do pecado?
É preciso:

1º- Que nunca seja induzido em erro;
- Que conheça a grande diferença que existe entre o pecado mortal e o pecado venial;
- Que aprecie no seu verdadeiro valor o pecado venial.

Há crianças que são induzidas em erro?
"Há mães, proceptoras e até criadas, talvez piedosas, mas certamente duma piedade mal esclarecida, que julgam ter descoberto um meio mais engenhoso de governar o seu pequeno mundo. Declaram solenemente às crianças que, se elas cometem tal ou tal fraqueza, se são desobedientes, se fazem barulho, se batem nos outros, etc., cometerão um pecado mortal, e que o demônio as levará para o inferno. Aplaudem-se da sua habilidade, porque, pensam elas, conseguem assim, algumas vezes, ser ouvidas, além disso, em caso de desobediência, como a culpa é nula ou muito leve, não há a temer pecado grave".
(Charruau, Às mães, p. 20-21)

Que se deve pensar deste método?
"Este procedimento é muito censurável. Primeiramente nunca se deve dizer o que não é verdade. E depois, como não querem os pais expor a criança a pecar, se ele obra contra a sua consciência? O caso não é absolutamente quimérico, para aqueles que atingiram a idade da razão. Se a criança está convencida de que vai pecar mortalmente, de que vai desagradar a Deus, fazendo aquilo que lhe proibiram, e se procede doutro modo, apesar do aviso da sua consciência, comete uma falta, porque consente em ofender a Deus e, em certas circunstâncias, esta falta pode ser mortal."
(Charruau, Às mães, p. 20-21)

Como se pode ensinar a criança a distinguir o pecado mortal do pecado venial?
Não se trata ainda de lhe dar pormenorizadamente as noções teológicas que esclareçam a questão; mas é preciso dizer-lhe que há pecados mortais; dar-lhe exemplos: que, se se cometer um só, perde a amizade de Deus e merece ir para o inferno por toda a eternidade, o que é a maior das desgraças.

É preciso dizer-lhe também que há pecados veniais, que não merecem o inferno... mas que são o maior mal depois do pecado mortal.

É preciso dizer ainda que Deus detesta o pecado venial, que o pune ao purgatório, e que Nosso Senhor sofreu na Cruz por causa das faltas veniais.

Qual o perigo a evitar quando se quer estabelecer esta distinção?
É preciso evitar tudo o que dê a perceber que se não faz caso do pecado venial.

"Nunca se deve dizer às crianças: Isto não é nada, não passa dum pecado venial. Não se comete pecado mortal em proceder assim; por conseguinte, não vale a pena atormentar-nos com isso". Dariéis bem depressa às crianças a convicção de que o pecado venial nada ou quase nada é; que é um pecado que se pode cometer sem inquietações; que tudo o que não for pecado mortal é permitido".
(Charruau, Às mães, p. 21)

É por não haverem sido instruídas com precisão e delicadeza que certas pessoas dizem:

Pode-se faltar ao princípio da missa no domingo; podem-se ter distrações voluntárias nas orações; pode-se trabalhar aos domingos, contanto que não seja mais de duas horas, etc.

A consciência, assim formada, perderá muito em breve toda a delicadeza, o pecado venial não será evitado, a criança aproximar-se-á então insensivelmente do pecado mortal. Há aqui um verdadeiro perigo.

Bossuet, na oração fúnebre de Maria Teresa de Áustria, fala-nos do horror que ela tinha por todos os pecados:

"Ela dizia muitas vezes, com essa ditosa simplicidade que lhe era comum com todos os santos, que não compreendia como se podia cometer voluntariamente um só pecado, por pequeno que fosse. Por isso, nunca dizia: É venial; mas dizia: É pecado, e o seu inocente coração sublimava-se."

O que se pode fazer para inspirar à criança horror pelo pecado?
1º- É preciso primeiramente que o próprio educador esteja bem compenetrado disso; não se pode dar o que se não tem; é impossível arrastar à convicção daquilo de que se não está convencido.

- É preciso que o educador traduza nas palavras, nos gestos, na atitude, e até no jogo fisionômico, uma sincera e profunda aversão por tudo o que ofensa a Deus.

- É preciso multiplicar os exemplos, lições vivas que impressionam a criança e lhe formam a mentalidade.

(Catecismo da educação, pelo abade René de Bethléem, continua com o post: A educação da consciência, parte II)

PS: Grifos meus