terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Meditações natalinas

 O Divino Infante em meus braços


Para a véspera - Para garantir o fruto da presente meditação, tenho necessidade de sentir ao vivo a impressão real do Menino Jesus em meus braços, estreitando-O delicadamente ao meu peito, ousando apenas fitá-lO, falar-Lhe, sorrir-Lhe.

Prolongarei os meus esforços até que este sentimento me repasse duma profunda surpresa.

Absorverão porventura uma grande parte do meu tempo? Pouco importa; aberto o dique, as águas precipitam-se. - O fim desta meditação é excitar em mim uma ardente expansão de amor que possa comunicar à minha vida uma força nova. 

Meditação

Primeiro ponto – Porque não me atrevo

De joelhos e mãos postas aos pés de Maria, quedo-me em contemplação extática confuso e trêmulo, até que a Virgem, inclinando-Se para Jesus, O ergue carinhosamente em Seus braços, e mO oferece: “Queres pegar nEle em teus braços?

Surpreso, hesitante, sinto-me oprimido pela mesma impressão de S. Pedro sob o domínio dum milagre: “Afastas-vos de mim, que sou um grande pecador!” Pois quê? essa pureza duma alvura sem mancha estabelecerá contato com um ser de instintos baixos e vis? Ah! não ser eu um anjo, ou pelo menos um Estanislau, uma Teresa! A infinita delicadeza há-de entregar-Se à minha vulgaridade? - Ah! se ao menos amasse deveras, amasse como uma Madalena ou um Santo Agostinho: - Se tivesse a consciência de ser um amigo dedicado, um anjo verdadeiro, quando é certo que não passo duma alma medíocre, sem generosidade, sem elevação, preocupado com as mais insignificantes coisas do mundo, com as suas ninharias, os seus receios e os seus gozos!

Ó divino Infante, desculpai-me, não me atrevo!... O Vosso coração não poderia repousar em meu peito; este peito palpitou com tantas emoções que não eram para Vós! ... Ficai nos braços de Vossa Mãe, nas Suas mãos suaves e ternas que não magoam: os meus braços, as minhas mãos e até as minhas carícias teriam as rudezas que dão as lutas da vida aos que não são santos...

Segundo ponto – Porque me atrevo

Maria. - Pobre filho, não conheces então Aquele que Se oferece? Ele é grande, puro, belo, mas acima de tudo, é o Amor, um amor, que, ultrapassando-se a si mesmo e transformando-se em Misericórdia, se precipita com todo o seu entusiasmo para a miséria!... Quanto mais pobre, fraco e culpado te sentires, mais atrairás a Sua compaixão. A tua miséria dá-te direitos; é Ele que os apregoa: “Não venho por causa dos justos, mas por causa dos pecadores...” Ele não espera encontrar em ti um grande amor, é Ele mesmo que o quere levar... Quem o receber com todo o seu coração, torna-se puro, delicado, amorável... Para se deixar amar, não exige a santidade, contenta-se com os desejos...

E eis que eu recebo em meus braços, e aperto ao peito esse Ser de pureza e de ternura... E fico silencioso, sem manifestar os meus pensamentos... No entanto, os sentimentos despertam em tumulto no meu coração... Se não se manifestam por palavras, é porque as palavras quebrariam o encanto e fariam desvanecer os perfumes...

Afetos e resoluções. - Deixemo-nos mergulhar profundamente nesse mar de afetos. Tornemos a nossa alma dócil e delicada ao contato de tanto amor. Concebamos em uma verdadeira disposição de generosidade. – Tomemos resoluções... esta e aquela... Ofereçamo-las a Jesus-Menino, pedindo-Lhe que as abençoe.

(Meditações afetivas e Práticas sobre o Evangelho, pelo Cônego Beaudenom, 1936)
PS.Grifos meus.
PS.2: Agradeço a um amigo o envio desta bela foto.