A Fé, ou é íntegra, ou não existe
“Se alguém não crê em [algum] qualquer artigo ou ponto de nossa santa Fé Católica, ou advertidamente duvida de ser verdade, consentindo em pensar que é coisa que pode ser não ser assim: neste caso a fé com que crê os outros pontos ou artigos, não é verdadeira e sobrenatural, senão uma sombra e semelhança dela, porque por sua infidelidade se lhe destruiu a fé divina; e é claro que se crera nos mais artigos pelo motivo que deve crer (que é a veracidade de Deus, e a Sua revelação declarada pela autoridade da Igreja), esse mesmo motivo o obrigara a crer todos inteiramente, pois Deus, que revelou uns, revelou também os outros, e a Igreja, que ensina aqueles, ensina também estes. Por onde o herege que confessa a Deus Uno e Trino, porém nega a presença real de Cristo na Eucaristia, de nenhum destes pontos tem fé verdadeira, porque (como em semelhante caso disse São Jerônimo) no primeiro caso fez do Evangelho de Cristo, evangelho do homem; no segundo, fez do Evangelho de Cristo, evangelho do demônio (In cap. I ad Galat. V. II). Esta é (diz gravemente Arnóbio) a nobreza, a excelência da Fé Católica, cuja luz se parece com a dos olhos: se picamos estes, ainda que não seja mais que com a ponta de uma agulha em qualquer parte deles, toda a sua luz se turba, e ficamos às escuras. Se ofendemos a Fé, ainda que seja em só ponto, e com uma só dúvida consentida com advertência, toda a sua luz se perde, e ficamos nas trevas da infidelidade”.
(Padre Manoel Bernardes in: Luz e Calor. Parte I, doutrina IV, n. 1. Porto: 1927. Tipografia Porto Médico Ltda, 5ª edição, p. 73-4).