quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Adveniat regnum tuum

Meditações

Afetivas e Práticas
Sobre o Evangelho
pelo
Cônego Beaudenom
Tomo III
(1936)

Adveniat regnum tuum
(Primeira parte)


Para a Véspera. - Na meditação precedente chegamos a esta conclusão: o dever essencial da nossa vida é reconduzir tudo a Deus e formulamo-la com estas palavras tão conhecidas: «tudo para a Sua maior glória». Na de amanhã provaremos que esta glória se encontra na extensão do Seu reino, adveniat regnum tuum. - Este Reino pode ser olhado sob três pontos de vista. - A sua realização perfeita, é no extremo horizonte, onde veremos o Soberano Bem reinando no céu sobre o conjunto dos eleitos; é, a nossos olhos, a sua realização laboriosa sempre imperfeita no mundo; - é enfim, é em nós mesmos uma realização que se faz dia-a-dia pelos nossos esforços e pelos nossos progressos pessoais. - Notemos que não são três Reinos, são três ASPECTOS sob os quais o mesmo reino nos aparece. Com efeito, no fundo é sempre o mesmo, pois que é a vida sobrenatural. A vida da glória no céu não é mais que a vida de graça no seu desenvolvimento final. A Igreja é esse belo Reino em preparação, e Deus digna-Se começar o Seu Reino íntimo em cada alma fiel. - Como já meditamos no primeiro e último destes três aspectos, atentaremos amanhã no segundo, o Reino de Deus na terra. - Alargar este reino é o meu dever. Este dever é magnífico. Estarei disso convencido? 

Meditação

Prelúdio- Imaginarei a terra com todos os seus habitantes. Uns crêem no nosso Deus e servem-nO; outros abandonam-nO ou blasfemam dEle; - um grande número nem sequer O conhece. - Pedirei a graça de compreender o dever que exprimem estas palavras:
« Adveniat regnum tuum ». 

1. - O Mundo que se há de conquistar- Em meio desta terra tão vasta e do número incalculável dos seus habitantes, o Reino de Deus, a Igreja, ocupa um lugar muito restrito. Sem dúvida, segundo a promessa divina, ela está representada em toda a parte, mas em muitos lugares só conta alguns membros. Vejo os vastos continentes da Ásia, as Índias, a China, o Japão, as ilhas da Oceania e as profundidades do continente negro. Por toda a parte falsas religiões. Bramanismo, Budismo, Sintoísmo, Maometanísmo, Fetichismo. Ó meu Deus, que conquistas a fazer para o Vosso Reino! Na América e, entre nós, na Europa, quanto lugar ocupado pelos protestantes e pelos cismáticos! Não fazem parte do Vosso Reino visível, mas Vós para ele os chamais, ó meu Deus! E, nas nações católicas que o constituem, quantos batizados sem fé; quantos ímpios e inimigos! E, ai de nós! quantos crentes mesmo que não vivem do Evangelho; que o desacreditam e o desonram! 

Ó Jesus, que tanto amais os homens, como devíeis ter sofrido em Vossa vida mortal quando descobríeis de longe este futuro! Vós predizíeis então as contradições, as perseguições, as negações e os desfalecimentos da fé... «Quando o Filho do homem voltar, quantos fiéis encontrará?» Mas não deixáveis de nos incutir esperança quando fazíeis brilhar a nossos olhos essa época ditosa «em que haveria um único pastor e um único rebanho». 

Desejos ardentes. - Disposição de generosidade. 

2. - Os Conquistadores. - Esperando que chegasse esse dia, tão afastado ainda sem dúvida, Vós dizíeis aos Apóstolos e por meio deles à Igreja: - «Não hajais receio, pequeno rebanho, porque aprouve a vosso Pai dar-vos um Reino»; e já prestes a subir ao céu, acrescentáveis: «Ide, ensinai todas as nações, batizai-as, fazei delas o meu Reino». - Cristãos e cristãs zelosos, que neste momento ouvis estas palavras, gravai-as bem em vosso coração, porque são ditas para vós. 

Vós não sois o número, os Apóstolos também o não eram, e vós tendes o mesmo papel. Quem sois? Que grupo formais? É muito vasto, é muito vivo? - Em face do quadro que acaba de contristar-me, vejo os religiosos, os sacerdotes, os fervorosos católicos, esse grupo admirável de virgens consagradas a Deus, orando e sofrendo nos claustros ou entregando-se até o esgotamento a todas as misérias. A seu lado, vejo outras mulheres, mulheres do mundo ou mulheres do povo, que se entregam ao bom combate dos humildes e dos fortes. - E qual a sua arma? O Todo-Poderoso recebido cada manhã, chamado cada dia. - Qual a sua tática? Os deveres de estado claramente cumpridos, as obras de zelo e os sofrimentos voluntários, a influência da virtude. Todos estes soldados do Reino de Deus se entregam sem ostentação e sem medo a conquistas difíceis, sempre de alma voltada para o céu, sempre de coração mortificado pela vista dos pecados dos homens. E esses membros vivos do corpo místico de Jesus encontram-se em todas as plagas da terra; nos países infiéis ou nos cismáticos, como nos países católicos. Formam grupos numerosos nas cidades, estão disseminados pelas aldeias. O próprio deserto vê-os florescer... Florescer! sim, mas também gemer e chorar! 

Que lugar ocupo neste exército do zelo? Qual é o que me está destinado? Ei de meditá-lo mais tarde. - Hoje fixarei a minha atenção nesses países sem conta onde não está estabelecido o Reino de Deus e fomentarei na alma um grande desejo de contribuir para as belas conquistas. 

PS.: Grifos meus
PS.2: Próxima meditação sobre esse tema: Nobre dever.