quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os deveres recíprocos dos cônjuges

Os deveres recíprocos dos cônjuges


(...) 2- Os deveres do marido são principalmente: o governo da casa e da família, o cuidado da manutenção, do vestuário e da habitação da família.

O marido comete pecado não proporcionando à esposa um modo de vida conveniente a seu estado ou impondo-lhe trabalhos que senhoras de sua condição não costumam fazer.

3- Os deveres da esposa derivam de sua condição de companheira do marido; ela deve cuidar das coisas domésticas, em dependência do marido.

A esposa peca descuidando-se dos trabalhos domésticos ou fazendo, contra a vontade do marido, despesas de bens de família, ultrapassando as despesas que as senhoras de sua condição costumam fazer. Ela pode governar a casa independentemente se o marido não se incomodar com isso ou for incapaz de o fazer.

(Compêndio da moral católica, Pe. Heriberto Jone O.M.Cap.; Doutor em Direito Canônico e professor de Teologia, traduzido da 10ª edição original e adatado ao Código Civil Brasileiro bem como às prescrições do Concílio Plenário pelo P.Roberto Fox S.J, edições A Nação, 1943)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Oração preparatória para a meditação

Oração preparatória para a meditação



"Recolhei em Vós, Senhor Jesus, todos os meus sentimentos. Purificai também o meu coração de todos os pensamentos perversos e estranhos. Iluminai-me a inteligência, inflamai-me os afetos, para que atenta e devotamente possa empregar, nesta oração, os sentimentos do corpo e as faculdades da alma para Vossa glória e minha salvação, e assim mereça ser atendido, na presença da Vossa divina Majestade, pelo Vosso sacratissimo Coração. Assim seja. Senhor Jesus, ofereço-Vos esta oração, unida à divina intenção do Vosso Coração, com a qual na terra tributastes louvores a Deus".
(A Jesus os corações ou imitação do Sagrado Coração de Jesus pelo Pe. Pedro Arnoudt S.J, editora Vozes LTDA Petrópolis, ano de edição 1941)

O culto ao sagrado Coração de Jesus

O culto ao sagrado Coração de Jesus


O culto especial dos cristãos para com o sagrado Coração de Jesus é de todas as devoções a mais antiga. Antes que houvesse os santos Sacramentos e outros objetos de devoção, já a bem-aventurada Virgem Maria venerava o dulcíssimo Coração de Jesus, São José o estreitava nos braços; os pastores e os Magos, Simeão e Ana, os apóstolos e discípulos, a ele e por ele atraídos, prestavam-lhe homenagens de amor.

A devoção ao divino Coração, porém, tomou extraordinário incremento, depois que Jesus, chamando todos os homens a aprender dEle, que é "manso e humilde de coração", extraiu do tesouro do Seu Coração o dom excelente da Sagrada Eucaristia e quis, finalmente, que esse Coração, aberto na Cruz, a todos ficasse patente como asilo. Esta devoção especial, já os apóstolos a espalharam no universo, os Padres da Igreja com ternura a cultivaram e zelosamente lhe teceram encômios. Enfim, os santos de todos os séculos foram discípulos fervorosos do Coração de Jesus.

Quando chegou, porém, a plenitude dos tempos em que o Salvador determinava prodigalizar todas as riquezas do Seu Coração, "apareceu a Sua benignidade" e Ele próprio revelou ser vontade Sua estabelecer o culto especial para com o Seu sagrado Coração, atestando e prometendo derramar abundantíssimas graças sobre quantos se consagrassem de modo particular a tal culto.

O objeto desta devoção é o próprio Coração de Jesus. Como há em Jesus Cristo duas naturezas, a divina e a humana, porém uma só pessoa divina, o Coração de Jesus Cristo é o Coração da pessoa divina, o Coração do Verbo encarnado. E, como a pessoa divina tem direito a ser honrada com supremo culto, também ao sagrado Coração de Jesus devemos prestar o mesmo culto, por ser inseparável e indivisível da pessoa divina. Tal é a verdade católica que refutou todos os erros contrários.

Resume-se em três pontos o fim desta devoção:

- Correspondermos de todos os modos ao imenso amor de Jesus, simbolizado no Seu Coração que tanto fez e sofreu por nós, e nos concedeu o precioso e suavíssimo Sacramento da Eucaristia.

- Repararmos, quanto nos for possível, pelo fervor da nossa piedade, todas as injúrias que feriram e ainda hoje ferem o sagrado Coração, apresentado por Jesus como sede de todos os Seus afetos.

- Imitarmos o objeto do nosso culto, revestindo-nos dos mesmos afetos e sentimentos que animaram o Seu Coração durante a Sua vida e Paixão e ainda hoje perduram na Sua vida Sacramental e bem-aventurada.

Por sua antiguidade, objeto e múltiplo fim, é evidente ser esta devoção a mais excelente, frutuosa, sólida e consoladora. Resumindo-se a devoção em imitar o que veneramos, pois todos os demais fins se encerram e se praticam na verdadeira imitação...

(Prefácio [excertos] do livro: A Jesus os corações ou imitação do Sagrado Coração de Jesus pelo Pe. Pedro Arnoudt S.J, editora Vozes LTDA Petrópolis, ano de edição 1941)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Testamento do chefe de família

Testamento do chefe de família

(Tobias e Tobit)

O célebre industrial do  Val-des-Bois, Léon Harmel, cristão excelente a quem os operários chamavam: "O bom pai", e que sempre procurava uma perfeita união com os seus operários quis, antes de morrer, deixar aos filhos o testamento seguinte:

"Meus bons filhos, quando lerdes estas linhas já eu não serei vivo. Já a morte terá comparecido diante do supremo juiz. Que Ele se digne continuar a prodigalizar-me nesse momento terrível a misericordiosa bondade que me dispensou em todos os instantes da minha vida.

Não vos deixo órfãos; encarrego-vos à melhor e à mais poderosa das mães. Todos sois filhos de Maria, lembrai-vos disso. Foi o primeiro nome que recebestes todos no batismo. Quisemos assim consagrar-vos a essa Mãe por excelência. Não vos abandonará se A invocardes sempre. Amai-A; por meio dEla amareis a Jesus. Toda a lei se resume numa só palavra: amor! Amai-vos uns aos outros; seja a caridade a vossa regra absoluta! Dai, e Deus vos restituirá, mesmo neste mundo. A caridade não arruína ninguém, e não vos contenteis com dar dinheiro, dai-vos a vós mesmos.

Evitai o luxo. Além de arruinar as famílias, o luxo seca a alma. Suportai pacientemente os contratempos, as injúrias; são outras tantas pérolas que o bom Mestre vos envia.

Procurem os meus filhos religiosos ser melhores, porque, no caminho de Deus, ou avançamos ou recuamos. Não podemos estacionar. Mas os que vivem no mundo, não se julguem dispensados de coisa alguma. Também para eles há um céu a ganhar e um inferno a evitar. O caminho do céu é estreito e áspero. É mais difícil para eles do que para os religiosos.

Organizai para vós alguns regulamentos de vida simples, não muito carregado, mas procurando a sério ser-lhe fiéis. Meditai todos os dias, nem que seja pelo espaço de um quarto de hora apenas. Será o tempo mais bem empregado do dia. Santa Teresa diz que se responsabiliza pela salvação de quem medita todos os dias. Finalmente, mortificai-vos, imponde-vos alguns sacrifícios de vez em quando. Tendes tanto que pagar e a vida é tão curta!

Não me esqueçais depois da morte; não esqueçais a vossa mãe quando ela vier juntar-se a mim. Diante de Deus lembrai-vos algumas vezes daqueles que tanto vos amaram na terra e continuarão a amar-vos no céu..."
(Cristo no lar, meditações para pessoas casadas, por Raúl Plus, S.J, tradução de Pe. José Oliveira Dias, S.J. ; 2ª Edição, Livraria Apostolado da Imprensa, 1947, com imprimatur)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Bem-aventurados os que choram

Bem-aventurados os que choram


Voz de Jesus do Calvário

Sim, disse Eu: Bem-aventurado os que choram, porque serão consolados, e no Meu reino serão suas lágrimas enxugadas por meus divinos favores. Chorar, Minha filha, é próprio de um coração que sofre. Criaturas há que choram quando se vêem na mendicidade, outras quando se vêem privadas de um afeto, outras quando a desgraça lhes vêem a porta, pela morte de um ente querido, ou pela perda de uma fortuna!...

Mas Eu disse: Bem-aventurados os que choram... sim, os que choram por causa de Meus interesses! Na verdade, bem-aventurados os que choram, quando vêem o Meu nome blasfemado! Bem-aventurados os que choram, quando vêem os Meus interesses em perigo! Bem-aventurados os que choram, quando a desolação, que é o pecado, se alestra no mundo!

Ah! Minha filha, quão poucas são as almas que choram, vendo a heresia e o erro se infiltrarem nos corações!... Quão poucos são os corações que Comigo choram a perda de tantas almas!...

Ah! a perda de uma alma é um mal irreparável! Se os que se dizem Meus amigos compreendessem o valor de uma alma! como chorariam!... Se Meus amigos compreendessem a desolação que causa ao Meu coração o pecado, como se compadeceriam destas almas e como iriam atrás delas para Me dar prazer, proporcionando-lhes uma felicidade eterna!... As almas nobres compreenderam todos estes estragos e procuraram repará-los com a sua dedicação, fazendo para isso tudo que lhes estava ao próprio alcance.

Comigo choraram, aos pés de Meu Sacrário vinham chorar as desditas desses corações engolfados no pecado. Quantas vezes, Minha filha, fui obrigado a dizer: Basta!... E agora onde há desses corações? Quem se compadece quando vêem o inimigo me roubas uma alma que Me pertence?

Ah! examinai-vos, se sentis e se vos causa uma grande dor quando ouvis um homem blasfemar. Ah! se tal não acontecer, é porque vosso amor por Mim ainda é muito diminuto! Examinai-vos, se nada sentis quando ouvirdes dizer que um homem morreu impenitente, e se for assim é porque ainda tendes pouco conhecimento de Minha glória!... Ah! como o mundo se acha na languidez!...

Os homens choram os bens falazes da terra! E vós, almas consagradas a Meu serviço, choras junto Comigo os Meus bens perdidos? Poucos, Minha filha, são os que encontro aos pés do Meu Sacrário a chorarem pela Minha glória! Ah! apenas entre mil encontro um! Qual será a causa de tão funesto mal? Ah! a causa de tão funesto mal é o pouco amor que Me é consagrado; é a falta de conhecimento de Minha glória, sim, da glória que está reservada aos eleitos!

Minha filha, se os homens consagrados a Meu serviço, e as esposas que se imolam ante o altar compreendessem o que é Minha glória, saberiam chorar a perda de uma só alma, e tudo fariam para poder trazê-la de novo para Meu aprisco! Se há esta indiferença e esta languidez é por falta de profundas meditações sobre a Minha glória!

Sim, porque é pela meditação que se entra nos páramos celestes; é na meditação do efeito do pecado, representado em Minha dolorosíssima Paixão, que as almas podem compreender o mal do pecado e o quanto ele ofende Minha glória. Se o pecado foi causa de Minha sangrenta Paixão e Morte, como as almas que meditam nestas divinas verdades não hão de chorar, vendo o mundo engolfando-se e perdendo-se para sempre, privando-se de um bem eterno que sou Eu! o mal atual é proveniente da falta de reflexão e de meditação!

Ah! quem meditar na Minha doloríssima Paixão, vendo que a causa dela foi somente o pecado, sentirá partir-lhe o coração de dor! Minha filha, poucas são as almas que sabem meditar, pois se houvesse mais almas, que soubessem meditar, muitos seriam os que chorando Comigo a perda das almas, procurariam trabalhar mais para Minha glória, primeiramente santificando-se, pois querer me dar almas sem antes se santificar, é vã chimera!

A santificação própria já é um meio de me dar almas, porque de nada valeriam as Minhas pregações se Eu não praticasse por primeiro o que Eu ensinei!

Eis aí, almas queridas, as lágrimas que Eu chamo bem-aventuradas, e que as guardo no relicário de meu Divino Coração. Eis também, filhinha, porque encontro tão poucas almas que posso chamar bem-aventuradas por falta de não compreenderem Minha glória, e por Me terem tão pouco amor! Vós, almas consagradas  Meu divino serviço, lamentai Comigo a perda de tantas almas e procurai de hoje em diante vos engolfar nos páramos celestes, para depois poderdes chorar Comigo o mal que se alastra no mundo!

(O bom combate na alma generosa, Instituto das Missionárias de Jesus Crucificado - Campinas - 1ª Edição, ano de 1936, com imprimatur)

PS: Grifos meus.

sábado, 8 de janeiro de 2011

É mister apartar do mundo o coração, se queremos imitar o Coração de Jesus

É mister apartar  do mundo o coração,
se queremos imitar o Coração de Jesus



Jesus. - Ai do mundo, filho! Ai do coração apegado às suas seduções e vaidades!

Não basta expulsar do coração a Satanás. Ainda é mister daí banir o mundo. Se nutrires no íntimo da alma amor ao mundo, de pouco valerá tudo o que fizeres para tua completa emenda.

O mundo, continuando a envenenar-te o coração, sem dúvida conseguirá perverter-te e por fim entregar-te ao poder do demônio. Que é o mundo senão o amor desordenado e perverso dos prazeres, riquezas e honras, pelo qual seus sequazes são seduzidos e se tornam corrompidos e corruptores?

Se queres saber o que deves pensar a seu respeito, considera como Eu o julguei. Passei distribuindo Meus benefícios a todos. Amei os inimigos que Me perseguiam. Pregado ao madeiro da Cruz, orei pelos que Me crucificaram. Pelo mundo, porém, não rezei.

O mundo procede do diabo e acha-se todo sob o poder do maligno. Não pode possuir o Meu Espírito, assim como a mentira não pode encerrar a verdade, nem a corrupção a pureza.

O mundo por si mesmo prova não só a realidade, mas também a necessidade do inferno.

Que há de comum entre o mundo e o Meu Coração, quando o mundo aberta e ocultamente favorece todos os vícios; meu Coração, porém, só aspira santidade?

O mundo, de acordo com Satanás, seu chefe, procura perder eternamente as almas, enquanto o Meu Coração deseja salvá-las todas. Não podes, por conseguinte, servir, ao mesmo tempo, ao mundo e a Mim. Pois, sendo amigo do mundo, tornas-te inimigo do Meu Coração.

Se seguires o mundo, com ele perecerás. Se aderires ao Meu Coração, irás para a vida eterna. Se expulsares do coração o mundo e os princípios mundanos, afim de oferecer-Me um coração puro, tua oblação ser-Me-á grata e honrosa, e reverterá em tua glória e mérito. Os anjos e santos aplaudirão o teu proceder e o mundo mesmo ver-se-á forçado a admirar tua heróica grandeza de alma.

Bem-aventurado, Meu filho, é o que aparta do mundo os seus afetos para consagrá-los só a Mim!

Que encontras no mundo para amá-lo? Tudo o que nela há é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho da vida, cujo fim é a morte e o inferno.

Com efeito, se amas o mundo ou as coisas que lhe pertencem, caís na eterna perdição. Que bem te fez o mundo para lhe consagrares teus afetos? Nunca te fez nem fará outra coisa senão o mal. Como podes, então, dar-lhe teu coração?

Não confies, Meu filho, nas lisonjas e aplausos do mundo, que só exprimem o secreto desejo de iludir-te e perder-te. Obedece, porém, aos convites do Meu Coração desejoso de livrar-te da eterna desgraça que o mundo te prepara. Se não abandonares o mundo, serás por ele abandonado, depois de haveres consumido as forças em servi-lo. Rirá com escárnio à hora da tua morte, e, quando mais necessitares de auxílio, ver-te-ás só e impotente. Reflete com freqüência se, prestres a entrar na eternidade, desejarias ter seguido a Mim ou ao mundo.

Por isso, faze agora com mérito o que dontro modo sem mérito deverás fazer. Esforça-te por desapegar o coração do amor aos bens terrenos e triunfa do mundo por separação perfeita.

Confiança, filho, Eu venci o mundo. Se quiseres, vencê-lo-á também. Após a vitória, dar-te-ei morada aprazível em Meu Coração.

Discípulo. - Ó Senhor! Quão insensato foi o meu proceder! Quão perversa a minha vida! Seduzido de bom grado pela aparência de prazeres, lucros e honras, abandonei-Vos para escravizar-me ao mundo, Vosso inimigo. Deixando a fonte de todos os bens, desci ao pântano pestífero do mundo, Inebriei-me em suas águas envenenadas. Louco e insensato, despojei-me de tudo. Esquecido de Vós, meu Deus e meu tudo, entreguei-me inteiramente ao mundo, e profanei em seu serviço os Vossos dons: meus sentidos externos e minhas faculdades internas. Tornei-me em extremo culpado.

Minha alma foi repleta de males; minha vida aproximou-se do inferno.

Vossa cólera passou sobre mim e o terror perturbou-me, de modo que dia e noite me sentia infeliz (Sl 87, 4.17).

Ah! bom Jesus! Mesmo quando, impelido pelo excessivo pavor do Vosso julgamento e pelo medo do inferno, decidira viver bem, qual não foi minha fatal ilusão! Quão pernicioso não foi o meu erro! Dividi o meu coração entre Vós e o mundo, que, querendo servir juntamente a ambos. Que grave injúria Vos fiz, igualando-Vos ao mundo!

Assim, não consegui satisfazer nem a Vós nem ao mundo e sentia-me infelicíssimo, pois, não me contentando conVosco nem com o mundo, em nenhum dos dois encontrava a verdadeira felicidade. Agora, porém, que me abristes os olhos e me tocastes o coração, ó Senhor Jesus, só a Vós servirei. E desde há Vos consagro todo o meu coração para sempre.

Tirai, eu vo-lO rogo, desse meu coração todo amor do mundo. Transformai para mim em verdadeiro amargor toda a sua aparente doçura. Enchei o meu coração com a suavidade do Vosso amor, e o mundo inteiro com todas as suas vaidades tornar-se-á insípido para mim.

(A Jesus os corações ou imitação do Sagrado Coração de Jesus pelo Pe. Pedro Arnoudt S.J, editora Vozes LTDA Petrópolis, ano de edição 1941)

PS: Grifos meus

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

III- A CHAVE DOS CORAÇÕES

A BELEZA DE MARIA
III PARTE


III- A CHAVE DOS CORAÇÕES

A verdadeira beleza - já o dissemos no início deste quarto motivo - é a beleza da alma, é a virtude. Ora, a virtude é o verdadeiro e o bom; portanto, fora dela, tudo é mentira ou erro.

É verdade que a beleza da alma, do coração e do espírito é uma qualidade abstrata, que não cai diretamente sob os nossos sentidos; por conseguinte, ela nos impressiona menos que uma qualidade exterior ou mais tangível.

Nada há comparável com o homem interior, o contemplativo até à alma, e se deixa encantar e cativar pelo íntimo. O comum dos homens ignora demais o gozo destas belezas e permanece demais na superfície, não se deixando impressionar senão pelo que podem perceber, donde se segue que a beleza exterior se torna "a chave dos corações".

E Deus, que quis fazer de Maria uma "arrebatadora dos corações", como diz S.Bernardo, devia dar-lhe ainda este encanto, este atrativo, a fim de que todos os corações se abrissem à Sua presença e se sentissem cativos desta pura e inefável beleza.

Se, entre nós, toda alma verdadeiramente grande aparece, por assim dizer, sobre o rosto e lhe transfigura os traços; se à medida que nos tornamos mais perfeitos, se reflete sobre a nossa fronte uma beleza sobrenatural que comove, que não deveria ser desta fisionomia em que apareceu a alma mais nobre que houve depois que Jesus Cristo; o que não deveria ter sido este olhar em que brilhavam a majestade na humildade e a doçura na força; o que não deveriam ter sido estes lábios em que se ostentavam a bondade e a mais condescendente benevolência?...

Inteligência profunda, coração incomparável, espírito superior e tudo o que encerra a beleza moral, aliado ao que a beleza física tem de mais expressivo e mais atraente, não era este o apanágio e auréola sagrada da pura e imaculada Mãe de Jesus?...

Sim, havia harmonia perfeita entre as luminosas perfeições interiores e Sua expressão visível no exterior. E teria faltado qualquer coisa à excessiva nobreza de nossa Rainha, se os Seus membros não tivessem possuído o encanto exterior pelo qual os homens se deixam vencer facilmente, e se não tivesse tido, para chegar aos corações, esta chave mágica que lhe dá tão facilmente acesso?...

Como é bela a alma imaculada de Maria, passando através do corpo, irradiando-se nos traços de Seu rosto, como um raio de sol través da folhagem das árvores, pois Deus, na Sua industriosa sabedoria, quis que a nossa carne, por vil e grosseira que seja, tivesse, entretanto, esta glória de se deixar penetrar pelo espírito. Ela não é o invólucro opaco de uma luz absolutamente oculta, mas, trabalhada por Deus, ela se espiritualiza e se esvazia e se torna diáfana.

Nela Deus prepara aberturas secretas pelas quais a alma vem à luz. Com que alegria nós saudamos sobre um rosto amado esta aparição da alma! Da alma, digo, que se revela tão terna e luminosa no olhar, tão casta e pensativa nos contornos da face, tão compassiva e carinhosa num não sei quê de Seus lábios, tão graciosa no sorriso, tão indefinidamente misteriosa neste conjunto que chamamos "a expressão".

A expressão: isto é, a alma, o coração e o espírito vistos através de um véu e se desembaraçando deste véu incômodo para irradiá-la até ao âmago dos corações, para aí levar o seu reflexo e gravar a sua imagem.

Oh! sim, esta beleza era a Vossa, ó encantadora  Mãe. Tudo o que havia em Vosso coração de amor puríssimo, de bondade, de generosidade, de heroísmo, de resignação, de piedade e de caridade para com os homens, se devia reunir em um único facho de viva luz; e qual não devia ser o brilho desta luz inefável, manifestando-se no Seu olhar e aflorando aos Seus lábios?...

Quem tentará dizê-lo? Já é muito imaginá-lo.

Sem o querer e quase a meu pesar vem o espírito um pensamento e, se não houvesse dissonância entre o nome do autor e o assunto de que tratamos, quereria colocá-lo: é de Platão.

Há uma simpatia íntima, diz este filósofo, entre a pureza, a verdade e a beleza; o que é mais puro é essencialmente o mais verdadeiro e o mais belo.

Não é isso um resumo da beleza de Maria?

Que pureza encontramos nós na Virgem e, portanto, que beleza!
Sua beleza era mais divina que humana.

Os sentimentos que Ela inspirava às almas deviam ser celestes.
Ela tinha a virtude da beleza.

O grande S. Dionísio Areopagita, tendo estado à presença da Santíssima Virgem, ficou de tal modo deslumbrado pelo esplendor da beleza e da majestade que resplandeciam de Seu rosto, que caiu por terra. Tendo, em seguida, voltado a si, alegrou que, se São Paulo não lhe tivesse ensinado um outro Deus e que se a fé não o tivesse feito já adorar, ele teria crido firmemente que a divindade não podia ter escolhido outra sede na terra do que a fisionomia dEsta santa soberana.

A respeito desta consideração, exclama Santo Anselmo: "Ó Virgem santa, Vossa beleza é tão rara que se diria não terdes sido criada, senão para deslumbrar os corações daqueles que contempláveis. Ó Virgem admirável e admiravelmente única!" (Liber. Orationum)

"À exceção de Deus, já antes dele, dizia Santo Epifánio, Ela sobrepuja todo o resto em beleza. Ela está acima dos querubins e dos serafins e foi ornada da mais perfeita beleza".

São Bernardo vai ainda além e diz que "a beleza da Santíssima Virgem, tanto da alma como do corpo, é tão grande, que chegou a cativar a afeição do Rei da glória". (Serm. de S.Delp.)

Santo Agostinho, enfim, exclama com admiração: "Ó Maria, depois do celeste Esposo, sois toda beleza e toda agradável, toda glória, sem mácula, ornada de toda beleza e enriquecida de toda santidade". (Serm. de Incarnat. Christi)

Que poderíamos acrescentar a tais encômios?...

"Pode-se, pois, sem medo de errar, como diz o Pe. Bethier, reconhecer-Lhe todos os dons da natureza, que Deus concedeu a todas as criaturas, pois não se pode crer nem é piedoso pensar que o Senhor, que é tão liberal em Seus dons para com os mais ínfimos seres, se tenha mostrado avaro para com a Sua divina Mãe". (A Virgem Maria)

Portanto, Ela era bela, possuindo todos os encantos da natureza e da graça. Tudo o proclama!

Aliás, todas aquelas criaturas que A figuraram na Bíblia eram amáveis e fortes. Ela própria devia ser o símbolo de todos os encantos e de todos os esplendores da virgindade, da humildade e da força.

Necessário foi, pois, que houvesse razões bastante poderosas, para que a beleza de Sua alma não fosse de modo algum visível em Seus traços e que um organismo estiolado servisse de suporte a estas energias sobrenaturais.

"Não há dúvida alguma, dis Santo Alberto Magno, que, assim como o Seu divino Filho era o mais belo dos filhos dos homens, Maria tenha sido a mais bela das filhas de Eva. Ela era dotada de toda a beleza de que é suscetível um corpo mortal".

Os santos padres e doutores são como inesgotáveis, ao falarem de Maria. Aliás, o Espírito Santo resumiu-os todos, ou, antes, eles todos não são mais que o eco longínquo da palavra do Espírito Santo: "Tota pulchra es, amica mea, et macula non est in te. Sois toda bela, ó minha muito amada, e em vós não há mácula alguma".

A beleza, já o  dissemos, é a chave dos corações.

Oh! possa a celestial beleza da Virgem Maria fazer impressão sobre o nosso coração, abri-lo todo à dedicação e à inteira veemência de amor que deve suscitar a Sua beleza e a Sua graça: "Specie tua, et pulchritudine tua, intende, prospere procede, et regna!"

"Pelo aspecto de Vossa beleza, ó Virgem Santíssima, vinde e reinai sobre nós!"

(Por que amo Maria, Tratado substancial e completo dos principais motivos de devoção para com a Virgem Maria segundo os Santos Padres, os Doutores e os Santos; pelo Pe. Júlio Maria, missionário de Nossa Senhora do SS. Sacramento; Editora Vozes, ano de 1945)

PS: Grifos meus.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Os deveres dos filhos

Os deveres dos filhos


199- Os deveres dos filhos para com os pais. Em virtude de piedade filial, os filhos devem a seus pais:

1- Respeito tanto interior como exterior.

Os filhos podem faltar ao respeito com desprezo interior, com palavras ofensivas, desestima, violências. Um mau trato insignificante, mas sério, pode ser pecado grave. Falta também ao respeito quem se envergonha do pais, quem os renega por causa de sua baixa condição, de seus vestidos pobres etc. - Não falta porém ao respeito que, com boas intenções e sem desprezo interior, emprega força contra os pais que perderam o uso da razão (p. ex. em casos de loucura, debilidade senil, embriaguez), para impedir que façam alguma coisa inconveniente. O mesmo vale do filho que por justo motivo (p. ex. por um crime deles) não quer ter consigo os pais, contanto que lhes dê o conveniente auxílio.

2- Amor em pensamento e obras

São pecados contra o devido amor: aversão, imprecações, ódio, palavras e ações ofensivas, causar desgosto, não rezar por eles, não os ajudar em suas necessidades espirituais e temporais. - Quando os pais se acham em grave necessidade, os filhos não podem entrar na vida religiosa se lhes puderem valer ficando no mundo. Não está obrigado a pagar, depois da morte dos pais, as dívidas deles quem não herdou nada, nem ainda no caso em que as dívidas tenham sido feitas em prol da educação dos filhos.

3- Obediência em todas as coisas lícitas, relacionadas com a sua educação ou com a ordem doméstica.

A desobediência é pecado grave, quando se trata de coisas importantes e os pais derem verdadeira ordem. - Em questões educativas,o dever de  obedecer perdura até a maioridade. Portanto não é lícito a menores incumbirem-se, contra a vontade dos pais, de certo trabalho ou tomar emprego. É claro que são livres na escolha da vocação. - Também os maiores devem obedecer em coisas relativas à ordem doméstica, enquanto moram na casa paterna, (p. ex. voltar de noite à hora marcada). Antes de casar, os filhos peçam o conselho dos pais; desprezar um conselho prudente dos pais de ordinário é somente pecado leve.

(Compêndio da moral católica, Pe. Heriberto Jone O.M.Cap.; Doutor em Direito Canônico e professor de Teologia, traduzido da 10ª edição original e adatado ao Código Civil Brasileiro bem como às prescrições do Concílio Plenário pelo P.Roberto Fox S.J, edições A Nação, 1943)

Quando o céu se cobrir de nuvens

Quando o céu se cobrir de nuvens



Se durante muito tempo não movermos uma pedra, ela se cobrirá de musgo; se deixarmos de fazer exercícios físicos, os membros ficam flácidos. O mesmo vale da fé: quem não pratica sua religião, é envolvido primeiramente pelo musgo da indiferença; em seguida vêm as dúvidas; e o fim qual será?... Fé tíbia, e talvez descrença completa.

Não deves, portanto, apenas salvaguardar tua fé; deves vivê-la. Exercita-a na oração. Reza, todas as manhãs o "Credo em Deus", lenta e devotadamente. Rende graças a Deus, porque te fez nascer na verdadeira fé católica. Principalmente, porém, pratica-a por uma vida ideal que busca na religião suas forças. Como causa primordial dos desvios fundamentais da alma de muitos e muitos jovens, podemos indicar o fato de manifestarem em sua vida, um espírito de fé deploravelmente mesquinho. A religião teórica, que se não manifesta em prática, vale tanto como um carro sem eixo.

Por essa razão compreenderás, embora te pareça curioso à primeira vista, o conselho que uma vez dei a um moço: Ele se queixava: "Quisera crer, mas não posso".

-"Meu caro, faça violência à sua vontade! A fé é graça divina, mas supõe a vontade humana. Sim. Deus concede a graça; depende porém do homem querer colaborar com ela ou não. Não pode crer? Pouco importa! repita o clamor dos apóstolos: "Senhor, robustecei nossa fé!" (Luc. 17,5). Ou diga como o pai da criança doente: "Creio Senhor, ma aumentai a minha fé!" (Marc. 9,23). Você murmura que a oração o deixa frio, que não acha atrativo na Santa Missa, que a vida religiosa lhe é enfadonha. Ainda uma vez, pouco importa! Apesar de tudo, recite conscientemente as orações de costume; apesar de tudo procure seguir as orações da missa, do princípio ao fim".

"Mas uma religiosidade assim forçada, de nada vale", dirás talvez.

"Engano! O Pai Celeste não considera os resultados, mas sempre leva em conta a boa vontade. Aceita com complacência a luta de nossas vontade contra a preguiça e as tentações".
Quando pois te atormentarem dúvidas contra a fé, embora o faças a contra-gosto, não deixes de rezar com regularidade e freqüentar os sacramentos da confissão e da comunhão. O jovem que reza, confessa e participa do Banquete Sagrado não perderá a fé, muito embora o assaltem as mais terríveis tentações. Repete a miúdo esta oração:

"Senhor, não posso crer! Ou, pelo menos, parece-me que o não posso. O ceú se tolda, sobre a minha cabeça... mas, quero crer em Vós, Senhor! Quero, sim, quero crer! Ajudai-me contra a incredulidade!"

(A religião e a juventude, pelo  Monsenhor Tihamér Tóth, 2ª Edição, editora SCJ Taubaté)

PS: Grifos meus.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O ideal do homem sábio: Ser de Jesus

O ideal do homem sábio
Ser de Jesus


Ser de Jesus!

Quão sublime é este ideal, único capaz de satisfazer o coração humano. Procurai corações felizes sem este ideal, e tereis de constatar que não os encontrareis. Sem Jesus não há felicidade, porque Ele é o autor da verdadeira felicidade.

Lançando um olhar sobre o mundo das almas, temos de verificar que na maior parte destas não existe este ideal sublime - "Ser de Jesus". Por que esta triste realidade? Porque esta maioria não conhece a Jesus, este Jesus tão bom e tão amável, que, passando por este vale de lágrimas, atraia a Si os enfermos, as criancinhas, os pobres, os aleijados, e a todos consolava com a Sua inefável doçura.

Procuremos conhecer a Jesus, vamos juntos ao Seu Divino Coração, porém antes que Jesus se de a conhecer às nossas almas, procuremos levar em nossos corações a Sua Mãe Santíssima. Apresentando-Lhe este riquíssimo tesouro, Ele descerá até nós, e nós O poderemos tomar como norte de nossa vida. Assim norteados por Jesus, a nossa felicidade será completa, e então a poderemos dividir com todas as almas que aspiram a verdadeira felicidade, que a procuram e a não acham, porque ela só se encontra em Jesus!...

(O bom combate na alma generosa, Instituto das Missionárias de Jesus Crucificado - Campinas - 1ª Edição, ano de 1936, com imprimatur)

A poderosa arma da oração

A poderosa arma da oração

(clique na belíssima gravura para ampliá-la)

"Se falta a oração, logo vai tudo de capa caída; logo entra a tibieza; logo pouco a pouco principia a alma a enfraquecer-se e a murchar e a perder aquele vigor e alento que tinha; logo, não sei como, desaparecem todos aqueles santos propósitos e pensamentos santos que tínhamos antes, e principiam a despertar a reviver todas as nossas paixões: logo se encontra o homem amigo da alegria vã, amigo de conversar, rir e folgar e de outras semelhantes vaidades; e o que é pior, logo renasce o apetite da vanglória, da ira, da inveja, da ambição, e outros semelhantes que antes pareciam mortos".

(São Boaventura citado no livro: Exercícios de Perfeição e virtudes cristãs pelo V.P.Afonso Rodrigues, Tomo I, 5ª edição, Gráfica Lisboa, ano de 1946)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A morte do pai cristão

A MORTE DO PAI CRISTÃO


A bênção do pai fortifica a casa do filho.
(Eccl. 3,11)

Morre-se sozinho, disse Pascal. Ninguém nos acompanha no último trajeto da vida. É necessário enfrentarmos a sós a obscura passagem. Há, todavia, alguém à nossa espera do outro lado oposto "quando voltamos do vale das lágrimas e das dores". É nosso Pai que está à porta da mansão celestial; é Deus, o meu Deus, meu Pai, cuja bondade foi até o extremo de sacrificar o próprio filho para me possibilitar a entrada no céu.

Também o pai morre sozinho, e para ele essa solidão é talvez mais dolorosa do que para os demais mortais, precisamente porque a sua vida pertenceu sempre aos outros; naquele instante, porém, eles não podem valer-lhe, morre sozinho.

A separação não é para ele uma dolorosa renúncia, pois tudo o que de precioso possui deu-o aos filhos. Não tendo procurado a felicidade nesta terra, não o atormenta a dor de ter que deixá-la. Qualquer que tenha sido a sua vida, breve ou longa, ela foi completa, inteira, porque foi pai. O pai preparou-se para deixar o mundo. Em todas as bênçãos que pronunciou sobre os filhos foi-se despedindo deles; com elas deu tudo aos que abençoava; consagrou assim todas as coisas temporais na verdade.

Não tendo vivido para si mesmo tem direito à vida eterna. A paternidade é, não nos cansamos de dizê-lo, renúncia e amor.

Com o seu amor o pai passa do tempo à eternidade. Sua renúncia separa-o, neste mundo, dos filhos; entrega-os ao mundo, ao povo, à Igreja, com a finalidade de uni-los mais fortemente a si, na eternidade.

Morrendo, o pai retorna à verdade, pois vai entregar nas mãos do Pai a paternidade que dEle recebeu. Morrendo solitário parte ao encontro de Deus na solidão, superando a dor do desapego na plenitude feliz da unidade. Dando tudo aos filhos opulentou-se sempre mais, pois deu por amor e com amor, e é precisamente doando que o amor se enriquece. Se isto não for presunção podemos dizer que o pai aumenta as coisas pertencentes a Deus, pois devolve a Deus aumentada, a paternidade que dEle recebeu.

A vontade do pai trespassado está completamente absorvida pela vontade do Pai celeste. A sua morte não se verifica de uma só vez; a sua partida iniciou-se no dia em que ele gerou os filhos para a vida espiritual. Naquele parto (espiritual) começou a sua volta para Deus. A missão do pai não pertence ao tempo, mas à eternidade. Se sua vida foi um sacrifício, a consumação do mesmo dá-se na morte. Quando o pai deixa este mundo a família passa do presente para o futuro. Este dia é tão grande para a família como o dia em que o pai abençoa pela última vez os filhos.

Aqui parece claramente que o renascimento do cristão à verdadeira vida realiza-se na medida em que ele morre à vida, consagra e santifica essa mesma vida. Ninguém vive para si, menos ainda na hora suprema da morte. Quando retornamos ao Pai encontramos nEle o nosso fim, no seu amor pelas criaturas.

Morrendo, o pai radica-se na eternidade; não sozinho, mas com toda a sua família. Jesus Cristo conquistou com a Sua morte a vitória da humanidade. Como um alter Christus o pai oferece o mesmo sacrifício quando morre abençoando a família.

Um pai cristão não morre. Os filhos que rodeiam o leito do agonizante recebem a última bênção como um ato heróico oferecido para a santificação da família. Após a morte o pai vigia sobre a herança cristã, administrada por ele durante a sua existência, entregue agora aos filhos. Se foi abençoada marcou um acréscimo ao reino de Deus.

Ele creu e amou, por isso Deus lhe dará o reino. Mediante a fé o homem une-se ao passado, mediante o amor o pai torna-se fecundo no futuro.

Ninguém pode morrer com o coração tão cheio de confiança como o pai. Muitas vezes foi-lhe confirmada a promessa da vida eterna aos filhos e netos. É possível que alguém dos que trazem o seu sangue nas veias se perca, mas, com a graça de Deus ele não será responsável, muitos, porém, salvar-se-ão por seu intermédio. Nestes a sua descendência produzirá frutos para a vida eterna. Quem desejaria tornar-se pai, se com isso não esperasse aumentar, com os seus descendentes, o reino de Deus? Esse reino está na terra, todos o desejam, ninguém o experimenta, mas ele existe na esperança dos herdeiros.

Muitos dizem: eu creio na vida eterna; mas nessa fé há um grande receio de perder a vida presente. Como poderiam experimentar tal receio os que Deus favoreceu com a paternidade? isto significaria por a prova a confiança em Deus para as gerações futuras.

O pai contempla impávido a aproximação da morte. Eis o seu testamento:

Meus filhos, à vossa mãe e a mim, que em nome de Deus vos chamamos à vida, deveis a existência. Sois sangue do meu sangue, pois pela paternidade eterna fiz-vos meus filhos e entendo nunca vos abandonar. Eduquei-vos, introduzi-vos na vida; a vida que vivereis é em grande parte a minha vida. Dei-vos tudo que pude; santifiquei-me por vós. Se pertenceis às fileiras dos remidos o mérito é também meu. O que vos deixo como bens de fortuna é nada. Vale muito mais o meu bom nome, essencial, porém, é a herança cristã que vos deixo. Eis a minha bênção: crescei e multiplicai-vos! Sede felizes, mais felizes que vosso pai! Mas sobretudo tornai-vos melhores, mais pios, mais religiosos! Aumentai o reino de Deus entre vós! Então a minha linhagem será grande em vós e crescerá na eternidade. Eu morro para viver em vós. A minha bênção é também o meu obrigado; foi Deus quem vos deu a mim; indicaste-me o caminho que conduz a Deus, vosso é, portanto, o mérito de ter feito crescer, em mim, o homem. Obrigado.

(Paternidade, por José Kuckhoff, edições Paulinas, edição de 1954)

PS: Grifos meus.