Augusto Meyer
Sor Aqua
Entre os galhos negros e capororóca,
Que estranho fruto luminoso amadurece?
(É a lua...)
Há um véu de neblina sobre o campo.
A chuva de ontem foi tão boa para os sapos.
Cheira a brejo.
Malícias de água, bisbilhos.
Ser um talo de erva.
Ser humilde e bom como a chuva no capim.
Não pensar que há lábios mortos que têm sede,
Que há pobrezinhos na penumbra de hospitais...
Não pensar em mim.
Irmã Chuva.
Eu quero dormir sob a carícia fluída e fria dos teus dedos,
Dos teus mil dedos sobre mim que vão e vêm,
(a chuva ri, a chuva canta quando cai...),
Quero aprender a ser uma água dócil,
Para abençoar a minha dor.
Amém.