Os três primeiros Mandamentos são os maiores pela importância e dignidade: referem-se diretamente a Deus. Os outros se referem ao próximo, cujo amor é semelhante ao que devemos a Deus (Mt. 22,39), servindo mesmo de sinal para sabermos e mostrarmos que amamos a Deus (Jo. 4,20).
Como os nossos pais ocupam entre os nossos próximos o mais alto lugar, e estão logo abaixo de Deus, o primeiro dos Mandamentos do amor do próximo é o que nos manda honrá-los e está expresso no Êxodo: "Honra teu pai e tua mãe, a fim de teres uma dilatada vida sobre a terra que o Senhor teu Deus te dará" (Êx.20,12).
Sentido do Mandamento
1 - Há entre o amor de Deus e o do próximo uma grande diferença. Deus deve ser amado com um amor supremo e sem limites: "de todo o teu coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças" (Deut. 4,5). Mas as criaturas, bens finitos, só podem ser amadas com limites. Ainda que sejam os pais. "Quem ama a seu pai e a sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim" (Mt. 10,37)
2 - O 4º Mandamento abrange os deveres para com os mestres e superiores temporais e espirituais, e, reciprocamente, os deveres dos pais para com os filhos, e dos superiores para com os inferiores.
3 - Os deveres dos filhos para com os pais são: amor, respeito, obediência e assistência.
Amor
1 - Este amor é em razão da causa que os pais são de nossa vida. "lembra-te que sem eles não terias nascido" (Sr. 7,30). É em razão da gratidão: "Honra a teu pai, e não esqueças os gemidos de tua mãe" (ibid. 29). Um filho nunca pode esquecer que Deus se serviu de seus pais para lhes dar a vida. Devia pensar sempre quanto custou de trabalhos, sacrifícios, cuidados e mesmo em dinheiro a seus pais.
Principalmente à sua mãe: "Honra a tua mãe durante todos os dias de sua vida, porque te deves lembrar de quantos e quão grandes perigos padeceu por ti, trazendo-te no ventre" (Tb.4,3-4).
Os pais são nossos maiores benfeitores.
2 - Pecam, portanto, gravemente, os que:
a) odeiam os pais;
b) tratam-nos asperadamente. A Bíblia está cheia de maldições contra os filhos que maltratam os pais (Prov., 20,20 ; 30,17);
c) querem que eles morram, seja para se verem livres de sua tutela, seja para herdarem os seus bens; - foi tremendo o castigo de Absalão, que queriam expulsar a Davi do trono para reinar em seu lugar ( 2 Reg. capítulos 15 e 18).
d) irritam-nos ou desgostam, sem justa e grave causa; "Quem aflige a seu pai e afugenta sua mãe, é um ignomioso e infeliz" (Prov 19,26);
e) deles se envergonham por serem pobres, ignorantes ou doentes. Embora filho de suma pecadora, o rei Salomão levantou-se para receber sua mãe, saudou-a com grande reverência e fê-la assentar num trono à sua direita (3 Rg. 2,19).
Respeito
1 - Por maior que seja o amor filial, não pode dispensar a reverência:
a) interna, que reconhece a superioridade dos pais;
b) externa, que se manifesta por palavras e atos.
2 - Misto de veneração e de temor, o respeito é devido aos pais em razão da sua preeminência, independentemente da idade, posição social, superioridade intelectual e moral dos filhos, e ainda dos defeitos e fraquezas ou culpa dos pais.
3 - Não é contra o respeito, mas muito de acordo com a piedade filial, procurar com bons modos corrigir os defeitos dos pais.
Obediência
1 - Os filhos devem obediência aos pais nas coisas lícitas e honestas, que tocam ao regime da família, e enquanto estão sob a autoridade paterna. "Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, porque isto é justo" (Ef. 6,1).
2 - Quando os pais proíbem certas companhias, a freqüentação de lugares, jogos e diversões; quando traçam as normas morais do regime doméstico; quando recomendam a freqüentação dos sacramentos e ofícios religiosos; quando exigem o necessário cuidado nos estudos; quando limitam as despesas, etc., os filhos estão obrigados a obedecer.
3 - A obediência aos pais não obriga, quando estes ordenam coisas contrárias à lei de Deus, pois "é preciso antes obedecer a Deus que aos homens" (At. 5,29). Seria uma desordem. Como sempre, devemos fazer antes a vontade de Deus para sermos dignos de Deus (Mt. 10,37).
4 - Também a obediência não atinge a escolha do estado. Os bons filhos devem comunicar-se e aconselhar-se com seus pais. Mas estes até pecariam, se impusessem aos filhos um estado de vida contrário a suas tendências, como também se lhes proibissem seguir a vocação religiosa, sacerdotal ou matrimonial - a menos que haja bem justas razões para isto.
1 - Dos pais recebem tudo os filhos. É grave dever assisti-los nas necessidades corporais ou espirituais. Naquelas, com o auxílio econômico na doença, na pobreza, na velhice, e retribuindo os cuidados que deles receberam em pequeninos. "Filho ampara a velhice de teu pai" ( Sr. 3,14)
Ver o exemplo de José socorrendo a seu velho pai nas dificuldades (Gn. 45,9-13) e o de Rute respingando espigas para a sua sogra (Rute 2,18).
2 - Nas necessidades espirituais os filhos devem a seus pais:
a) rezar sempre por eles, procurar aproximá-los de Deus, facilitar-lhes, em caso de moléstia, a recepção dos sacramentos;
b) depois da morte, promover-lhes funerais dignos de sua posição social, mandar dizer missas e rezar por seu eterno repouso.
3 - Nas doenças, na velhice, é especial dever suportar as impaciências e nervosidades dos pais. Lembrem-se quantos sacrifícios custaram aos pais. Por isto diz o Espírito Santo: "Como é infame aquele que desampara o seu pai" (Sr. 3,18). Edificante exemplo de dedicação ao velho pai cego é Tobias, cuja história é interessante e encantadora. (Ver o livro de Tobias).
Benção e castigos
1 - São Paulo observa que é este o primeiro Mandamento a que Deus junta uma promessa de recompensa (Ef 6,2-3). Por outro lado, a própria experiência mostra como são infelizes os maus filhos.
2 - A Sagrada Escritura se compraz em apontar as benção dos bons filhos e as maldições dos maus.
- O desrespeito de Cam a Nóe acarretou-lhe a condição de escravo dos próprios irmãos (Gn. 8,25); mas Sem e Jafé receberam as bençãos do Senhor.
- José, o bom filho, terminou glorificado, enquanto os seus irmãos, que fizeram sofer o velho pai, padeceram humilhação. Absalão, o filho revoltado, teve morte horrível, como os filhos de Heli (I Rg. 4, 10-11), mas os filhos como Samuel e Tobias foram cumulados das bençãos divinas.
Para viver a doutrina
1- Respeitada a lei de Deus, um filho nunca deveria pôr limites ao amor que consagra a seus pais. Na realidade nunca faremos por eles o que eles fizeram por nós.
2 - Sejamos serviçais para com eles. E não a contragosto, esperando que nos peçam ou mandem, ou - ainda pior - que nos obriguem. Mas ajude-no-los com prazer, prevenindo e adivinhando seus desejos. Se eles são pobres, auxiliando-os no trabalho, para aliviar-lhes o peso da vida. Se não são, procurando o que lhes possa dar prazer.
3 - Em geral, nada contenta mais aos pais do que o bom procedimento dos filhos. Em casa com os irmãos, na rua com os companheiros, no colégio com os mestres e colegas. Como também nada os desgosta mais do que uma conduta repreensível.
4 - Em questões de estudos é de justiça corresponder aos esforços de nossos pais. Eles estão gastando conosco. Não aproveitar desta despesa é um verdadeiro furto. E às vezes, isto representa para eles um sacrifício. Passam dificuldades, para nos manterem no colégio. Seria crueldade nossa não correspondermos.
5 - Pecado muito freqüente é a desobediência dos filhos. Isto aflige sobremaneira os pais...O bom filho obedece prontamente, porque a dilação já é uma espécie de desobediência. Aqui, como em tudo, é Jesus nosso modelo. Em Nazaré lá está Ele, verdadeiro Deus, obedecendo a José e Maria (Lc. 2,51). Quanto ao Pai celeste, não procurava outra coisa, senão fazer o que Lhe era do agrado (Jo 8,29), ainda nas mais difícies coisas (Lc.22,42).
Grandes consolações daríamos a nossos pais, se procurássemos fazer também o que lhes é do agrado em tudo, como aconselha São Paulo (Col. 3,20).
6 - Rezar pelos pais é grave obrigação que um filho não pode esquecer. Sempre. Pricipalmente, se os pais não são bons católicos, não praticam, não fazem a Páscoa, não vão à Missa de precieto, etc. Esta obrigação se estende para depois da morte dos pais. Às vezes, ficam os nossos pais sofrendo longos anos no Purgatório à falta de nossos sulfrágios!
7 - Especial cuidado deve ter um filho de facilitar a seus pais os socorros espirituais em caso de enfermidade grave. Nada de receios infundados nem de adiantamentos indefinidos. Os sacramentos não matam, antes fortalecem o espírito, podendo curar o corpo. É dever nosso avisar ao pároco para uma visita, e dispor em casa as coisas devidamente. Nem deixe isto para outros, porque, se todos agem assim, ninguém trata disso.
(Excertos do livro: O caminho da vida - Pe. Àlvaro Negromonte)