terça-feira, 16 de novembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
A PACIÊNCIA (São Francisco de Sales)
PARTE III- Avisos necessários para a prática das virtudes
CAPÍTULO III
A PACIÊNCIA
A PACIÊNCIA
A paciência, diz o Apóstolo, vos é necessária para que, fazendo a vontade de Deus, alcanceis o que Ele vos tem prometido. Sim, nos diz Jesus Cristo, possuireis vossas almas pela paciência.
O maior bem do homem consiste, Filotéia, em possuir seu coração e tanto mais o possuímos quanto mais perfeita é nossa paciência; cumpre, portanto, aperfeiçoarmos nesta virtude. Lembra-te também que, tendo Nosso Senhor nos alcançado todas as graças da salvação pela paciência de Sua vida e de Sua morte, nós também no-las devemos aplicar por uma paciência constante e inalterável nas aflições, nas misérias e nas contradições da vida.
Não limites a tua paciência a alguns sofrimentos, mas estende-a universalmente a tudo o que Deus te mandar ou permitir que venha sobre ti. Muitas pessoas há que de boa mente querem suportar os sofrimentos que têm um certo cunho de honroso: ter sido ferido numa batalha, ter sido prisioneiro ao cumprir seu dever, ser maltratado pela religião, perder todos os seus bens numa contenda de honra, da qual saíram vencedores, tudo isso lhes é suave; mas é a glória e não o sofrimento o que amam.
O homem verdadeiramente paciente tolera com a mesma igualdade de espírito os sofrimentos ignominiosos como os que trazem honra. O desprezo, a censura e a deseducação dum homem vicioso e libertino é um prazer para uma alma grande; mas sofrer esses maus tratos de gente de bem, de seus amigos e parentes, é uma paciência heróica. Por isso aprecio e admiro mais o Cardeal São Carlos Borromeu, por ter sofrido em silêncio, com brandura e por muito tempo, as invectivas públicas que célebre pregador duma ordem reformada fazia contra ele do púlpito, do que ter suportado abertamente os insultos de muitos libertinos; pois, como as ferroadas das abelhas doem muito mais que as das moscas, assim as contradições procedentes de gente de bem magoam muito mais do que as que provêm de homens viciosos. Acontece, no entanto, muitas vezes que dois homens de bem, ambos bem intencionados, pela diversidade de opiniões, se afligem mutuamente não pouco.
Tem paciência não só com o mal que sofres, mas também com as suas circunstâncias e conseqüências. Muitos se enganam neste ponto e parecem desejar aflições, recusando, entretanto, sofrer suas incomodidades inseparáveis. Não me afligiria, diz alguém, de ficar pobre, contanto que a pobreza não me impedisse de ajudar a meus amigos, de educar meus filhos, e de levar vida honrosa. E eu, declarava um outro, pouco me inquetaria disso, se o mundo não atribuísse esta desgraça à minha imprudência. E eu, dizia ainda um terceiro, nada me importaria esta calúnia, contanto que não achasse crédito em outras pessoas. Muitos há que estão prontos a sofrer uma parte das incomodidades conjuntas aos seus males, mas não todas, dizendo que não se impacientam de estar doentes, mas do trabalho que causam aos outros e da falta de dinheiro para se tratar.
Digo, pois, Filotéia, que a paciência nos obriga a querer estar doentes, como Deus quiser, da enfermidade que Ele quiser, no lugar onde Ele quiser, com as pessoas e com todos os incômodos que Ele quiser; e eis aí a regra geral da paciência! Se caíres numa enfermidade, emprega todos os remédios que Deus te concede; pois esperar alívio sem empregar os meios seria tentar a Deus; mas, feito isso, resigna-te a tudo e, se os remédios fazem bem, agradece a Deus com humildade e, se a doença resiste aos remédios, bendize-o com paciência.
Sou do parecer de S. Gregório, que diz: Se te acusarem de uma falta verdadeira, humilha-te e confessa que mereces muito mais que esta confusão. Se a acusação é falsa, justifica-te com toda a calma, porque o exigem o amor à verdade e a edificação do próximo. Mas, se tua escusa não for aceita, não te perturbes, nem te esforces debalde para provar a tua inocência, porque, além dos deveres da verdade, deves cumprir também os da humildade. Assim, não negligenciarás a tua reputação e não faltarás ao afeto que deves ter à mansidão e humildade do coração.
Queixa-te o menos possível do mal que te fizeram; pois queixar-se sem pecar é uma coisa raríssima; nosso amor-próprio sempre exagera aos nossos olhos e ao nosso coração as injúrias que recebemos. Se houver necessidade de te queixares ou para abrandar o teu espírito ou para pedir conselhos, não o faças a pessoas fáceis de exaltar-se e de pensar e falar mal dos outros. Mas queixa-te a pessoas comedidas e tementes a Deus, porque, ao contrário, longe de tranqüilizar a tua alma, a perturbarias ainda mais e, em lugar de arrancares o espinho do coração, o cravarias ainda mais fundo.
Muitos numa doença ou numa outra tribulação qualquer guardam-se de se queixar e mostrar a sua pouca virtude, sabendo bem (e isto é verdade) que seria fraqueza e falta de generosidade; mas procuram que outros se compadeçam deles, se queixem de seus sofrimentos e ainda por cima os louvem por sua paciência. Na verdade temos aqui um ato de paciência, mas certamente duma paciência falsa, que na realidade não passa dum orgulho muito sutil e duma vaidade refinada.
Sim, diz o Apóstolo, tem de que gloriar-se, mas não diante de Deus. Os cristãos verdadeiramente pacientes não se queixam de seus sofrimentos nem desejam que os outros os lamentem; se falam neles é com muita simplicidade e ingenuidade, sem os fazer maiores do que são; se outros os lamentam, ouvem-nos com paciência, a não ser que tenham em vista um sofrimento que não existe, porque, então, lhes declaram modestamente a verdade; conservam assim a tranqüilidade da alma entre a verdade e a paciência, manifestando ingenuamente os seus sofrimentos, sem se queixarem.
Nas contrariedades que te sobrevierem no caminho da devoção (pois que delas não hás de ter falta), lembra-te que nada de grande podemos conseguir neste mundo sem primeiro passarmos por muitas dificuldades, mas que, uma vez superadas, bem depressa nos esquecemos de tudo, pelo íntimo gozo que então temos de ver realizadas as nossas aspirações. Pois bem, Filotéia, queres absolutamente trabalhar para formar a Jesus Cristo, como diz o Apóstolo, em teu coração, como em tuas obras, pelo amor sincero de Sua doutrina e pela imitação perfeita de Sua vida. Há de custar-te algumas dores, sem dúvida; mas hão de passar e Jesus Cristo, que viverá em ti, há de encher tua alma duma alegria inefável, que ninguém te poderá furtar.
Se caíres numa doença, oferece as tuas dores, a tua prostração e todos os teus sofrimentos a Jesus Cristo, suplicando-Lhe de os aceitar em união com os merecimentos de Sua paixão. Lembra-te do fel que Ele bebeu por teu amor e obedece ao médico, tomando os remédios e fazendo tudo o que determinar por amor de Deus. Deseja a saúde para O servir, mas não recuses ficar muito tempo doente para obedecer-Lhe e mesmo dispõe-te a morrer, se for a Sua vontade, para ir gozar eternamente de Sua gloriosa presença.
Lembra-te, Filotéia, que as abelhas, enquanto fazem o mel, vivem dum alimento muito amargo e que nunca nós outros poderemos encher mais facilmente o coração desta santa suavidade, que é fruto da paciência, do que comendo com paciência o pão amargo das tribulações que Deus nos envia; e quanto mais humilhantes forem, tanto mais preciosa e agradável se tornará a virtude ao nosso coração.
Pensa muitas vezes em Jesus crucificado; considera-O coberto de feridas, saturado de opróbrios e dores, penetrado de tristeza até ao fundo de Sua alma, num desamparo e abandono completo, carregado de calúnias e maldições; verás então que tuas dores não se podem comparar às Suas, nem em quantidade, nem em qualidade, e que jamais sofrerás por Ele alguma coisa de semelhante ao que Ele sofreu por ti.
Compara-te aos mártires, ou, sem ires tão longe, às pessoas que sofrem atualmente mais do que tu e exclama, louvando a Deus: Ah! meus espinhos me parecem rosas e minhas dores, consolações, se me comparo àqueles que vivem sem socorros, sem assitência e sem alívio, numa morte contínua, opressos de dores e de tristezas.
(São Francisco de Sales, FILOTÉIA, trad. Frei João José P. de Castro, O.F.M., págs. 180-186, Editora Vozes, 16ª edição, 2008.)
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Prática da caridade para com o próximo
PRÁTICA DA CARIDADE PARA COM O PRÓXIMO
Quem amar a Deus, há de também amar ao próximo: e quem não amar ao próximo também não ama a Deus. Devemos amar o próximo interna e externamente. Internamente amamo-lo:
1º - Se lhe desejamos o mesmo bem que para nós queremos; se nos alegramos com as suas prosperidades, e, se pelo contrário, nos entristecemos com o seu mal.
2º- Se procuramos evitar suspeitas ou juízos temerários contra ele. E nisto consiste a caridade interna.
A externa exercita-se:
1º- Evitando toda e qualquer murmuração, dizendo bem de todos: e, quando uma falta ou delito se não possa desculpar, desculpa-se pelo menos a intenção.
2º- Evitando referir a um o mal que outro houvesse dito a seu respeito, do contrário, podem muitas vezes originar-se graves discórdias e inimizades.
3º- Evitando qualquer dito ofensivo, ainda só por gracejo.
4º- Evitando qualquer altercação, pois ás vezes por coisas de pequena ou nenhuma importância, arma-se rixas e contendas, que logo passam a injúrias, ódios e rancores: e por isso se há de fazer diligência por não contradizer a ninguém, dar a sua opinião só quando for pedida, e calar-se logo.
5º- Falando a todos com mansidão e doçura, ainda que sejam inferiores, e da mesma forma respondendo a quem nos dirija ou faça alguma injúria. E se alguém se sentir interiormente alterado, deve nessa ocasião calar-se, porque a paixão fá-lo-ia ultrapassar os limites da prudência, persuadindo-lhe a necessidade de assentar a mão, muito embora haja depois de se arrepender de o ter feito.
6º- Fazendo ao próximo todo o bem, tanto espiritual como temporal, que se possa. "A esmola, diz a Sagrada Escritura, livra do pecado e do inferno", e por esmola entende-se todo o auxílio que ao próximo se presta. A esmola, porém, de maior preço, e mais meritória é a que se dá, socorrendo a alma: por exemplo, corrigindo oportunamente e com doçura sempre que seja possível.
7º- Visitando, assistindo e consolando os enfermos, ainda que eles se não mostrem agradecidos.
8º- Beneficiando os próprios inimigos, e, se outra coisa se não puder fazer, pedindo por eles a Deus, como ensina Jesus Cristo Nosso Senhor.
9º- Socorrendo as almas do Purgatório, mandando celebrar missas em favor delas, ouvindo-as, ou dando alguma esmola em seu nome por modo de sufrágio, fazendo oração ou aplicando, para as livrar, todas as indulgências que se possam lucrar.
(A Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)
Oração de Santo Agostinho
ORAÇÃO DE SANTO AGOSTINHO
(Mandada publicar por Urbano VII)
Diante de Vós, Senhor, apresentamos o fardo dos nossos crimes e simultâneamente as feridas que por causa deles recebemos. Se pensamos no mal que fizemos, é bem pouco o mal que sofremos e muito maior o que merecemos. Foi grave o que ousamos cometer e leve o que agora sofremos.
Sentimos que é dura a pena do pecado e no entanto não nos decidimos a deixar a ocasião dele. A nossa fraqueza geme esmagada sob o peso dos castigos com que nos punis justamente, e a nossa maldade não se quere desfazer dos seus caprichos. O espírito anda atormentado, mas a cerviz não se verga. A nossa vida suspira no meio das dores e não nos corrigimos.
Se contemporiza conosco, não nos emendamos, e se tirais de nós vingança, gritamos que não podemos. Se nos castigais, sabemos declarar que somos réus, mas se afastais por um pouco a Vossa ira, esquecemos logo o que deploramos. Se levantais a mão, logo prometemos a emenda, se retirais a espada, já nos esquecemos da promessa. Se nos feris, gritamos que nos perdoeis, se nos perdoais logo entramos de Vos provocar.
Tendes-nos aqui, Senhor, diante de Vós, confessamos os nossos pecados; se Vos não amerceais de nós, aniquilar-no-á a Vossa justiça.
Concedei-nos, Pai onipotente, o que sem merecimento algum da nossa parte Vos pedimos, Vós que nos tirastes do nada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
Oremos - Ó Deus, a que, o pecado ofende e a penitência propicia, olhai favoravelmente para as preces do Vosso povo e relegai para longe os castigos da Vossa ira, que merecemos com os nossos pecados. Por Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
(Oração extraída do Missal Quotidiano e vesperal, por Dom Gaspar Lefebvre, 1951)
Oração a São Miguel pedindo assitência na hora da morte
ORAÇÃO A SÃO MIGUEL
PEDINDO ASSISTÊNCIA NA HORA DA MORTE
(bela gravura, clique nela para ampliá-la)
Glorioso Arcanjo São Miguel, pela vossa proteção fazei que, no dia da minha morte, a minha alma seja revestida da graça de Deus, e digna de ser apresentada pelas vossas mãos a Jesus Cristo, meu soberano Juiz. Ah! santo Arcanjo, o inferno tem muitas armas com que pode investir contra mim nessa hora: estas armas são os meus pecados, cuja enormidade ele me há de representar então, para me precipitar no desespero; são todas as horríveis tentações com que me há de assaltar para me reduzir a cair no pecado.
Ó vós, que vencestes e expulsastes do céu este terrível adversário, vinde vencê-lo de novo e expulsá-lo para longe de mim no momento da minha morte; isto vos suplico pelo amor que Deus vos tem, e vós a Ele.
Ó Maria, Rainha do céu, ordenai a São Miguel me assista à hora de minha morte. Amém.
(As mais belas orações de Santo Afonso, Ed.Vozes, Petrópolis, 1961)
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Santo Anjo da Guarda
SANTO ANJO DA GUARDA
"Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida"
(São Basílio)
Santos Anjos da Guarda
defendei-me no combate,
a fim de não sermos condenados.
V. Na presença dos Anjos cantarei salmos.
R. Adorar-Vos-ei em Vosso santo templo e glorificarei o Vosso Nome.
Oremos. Ó Deus que por inefável providência Vos dignais enviar Vossos santos Anjos para nossa guarda, concedei aos que Vos suplicam, sejamos sempre defendidos por sua proteção e possamos gozar eternamente da sua companhia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
R. Amém.
(Oração retirada do livreto: Seleta de orações - Preces Selectae - Editora Veritas)
terça-feira, 9 de novembro de 2010
O desejo de passar a novas núpcias
O DESEJO DE PASSAR A NOVAS NÚPCIAS
Uma das principais causas do divórcio, embora se não ouse confessá-la, é o desejo de passar a novas núpcias e dali provém toda aquela retórica dos seus propagadores, nos comícios, na imprensa, como nas câmaras governamentais.
É um absurdo, um contra-senso, pois não há, nem pode haver novas núpcias, enquanto sobreviverem os cônjuges; contra a lei de Deus, não há apelação.
Por novas núpcias entende-se, no caso, o simples cumprimento de uma formalidade civil, sem valor algum, porquanto os homens, ainda que sejam governos, não têm competência para declarar casados aqueles que Deus declara simplesmente adúlteros.
A autoridade civil, como o seu pretendido divórcio, apenas coopera para que os contraentes se coloquem e permaneçam em estado de pecado mortal, ou, o que vem a dar no mesmo, de condenação eterna; favorece o escândalo público e concorre poderosamente para a destruição e desmoralização da família. É um dever que assiste a todos, o de combater sem tréguas qualquer disposição favorável ao divórcio, venha ela donde vier.
Ouçamos a palavra autorizada de Leão XIII aos italianos, quando, nas câmaras se discutia o projeto do divórcio:
"Qualquer lei que venha implantar o divórcio é ilegítima, injusta e gravemente injuriosa a Deus, Criador e Soberano Legislador; dará origem a um adultério; a um casamento, nunca. O que agrava ainda mais a falta, é que, pretender circunscrever o divórcio nos limites de antemão previstos, é uma empresa mais difícil que extinguir, em pleno incêndio, as chamas das mais violentas paixões. A Igreja absolutamente não dorme, não fechará os olhos, não descansará, não suportará resignada a injúria arrogada a Deus e a ela mesma. Com efeito, esse ultraje será a origem de males incalculáveis de toda espécie e por isso mesmo, aqueles próprios que não admitem a Religião Católica em todos os pontos e quiçá em nenhum, em grande parte, ao menos, lutam com zelo e pleno conhecimento de causa por assegurar ao matrimônio indissolubilidade do vínculo conjugal e, com isso, nada mais fazem que zelar pelos interesses públicos. Na verdade, uma vez sancionada a lei que permite romper o vínculo conjugal, o matrimônio perde toda a sua estabilidade e firmeza e, em forte declive, leva a todos aqueles males que nós mesmos, em outro lugar, lamentávamos: o amor aferrece de parte em parte, nascem as mais funestas instigações à infidelidade, periga a salvação e a educação dos filhos, germinam as discórdias no lar, convulsiona-se a família toda e avilta-se a condição da mulher".
Aqueles mesmo que requerem o divórcio, ou os que, na falta de motivos suficientes para chegar ao mesmo resultado desonesto e antisocial, inventam mil pretextos ridículos para alcançá-lo, não ignoram quanto tem de baixo e perverso o seu procedimento,
Na América do Norte, divorciam-se os casais com a mesma finalidade com que se muda de camisa.
Existem em S. Francisco a "Sociedade dos Divorciados", onde, como o nome indica, só se admitem como sócios, os homens que foram mal sucedidos no matrimônio. Lá foi um jornalista americano colher dados e, dirigindo-se ao secretário, obteve as seguintes informações:
"O senhor bem sabe quanto o casamento é coisa aleatória em toda parte, mas, na América do Norte, o abuso do divórcio tornou-o excepcionalmente difícil. As americanas não têm nenhuma paciência, desde que se lhes colocou o divórcio ao alcance de qualquer pretexto. Temos aqui um homem excelente, repudiado por sua mulher, porque fumava; o fundador da nossa sociedade caiu no desagrado da esposa, porque sonhava alto; o nosso administrador, um perfeito "gentleman", passou pelo desgosto de ver a mulher pedir o divórcio, porque lhe havia feito algumas observações acerca dos exagerados gastos em "toilettes". Sócios há que se viram abandonados só porque se negavam a levar as esposas ao teatro, porque não quiseram ir jantar em casa dos sogros mais que uma vez por semana, ou porque não suportavam cachorros em casa. Outros ainda, viram seu lar destruído, em consequência uma discussão política, literária ou artística, ou por uma simples divergência sobre o modo de preparar um prato".
Claro está, tudo isso não passa de meros pretextos, para novas núpcias. Não ousam confessar publicamente seus miseráveis e criminosos intuitos, mas empenhados em consegui-los a todo transe, usam da mais refinada hipocrisia; verdadeiros sepulcros caiados, exteriormente polidos, mas, na realidade vasos de corrupção moral. Divorciam-se, porém, com jeito, de modo a não perderem o prestígio e continuarem fazer parte da melhor sociedade!
Os partidários do divórcio, para poderem continuar com o bom nome de que fazem alarde, levantam ou inventam um escândalo, que lhes venha encobrir os criminosos desígnios. O Bispo de Rochester, no Parlamento inglês, afirmava que, em noventa e nove por cento dos crimes de sedução, o sedutor nada mais faz do que fornecer ao marido as provas da infidelidade da esposa, com o fim único de obter o divórcio.
Durante o mês de fevereiro de 1904, o tribunal de Louvain condenou um indivíduo que preparara um encontro entre a própria esposa e um desconhecido, à cata de um pretexto para obter o divórcio. A pobre mulher e o desconhecido limitaram-se a um simples cumprimento de cortesia, admirados, um e outro, de se encontrarem naquele lugar, tão inesperadamente. O marido, que queria a todo transe o divórcio, colocara-se de emboscada e, no momento oportuno, atirou-se sobre os inocentes, armando um escândalo e intentando, em seguida, uma ação de divórcio!
Os apologistas do divórcio, facilmente concordam em receber um "sacramento leigo" e não se lhes dá de viverem em permanente adultério, à sombra da lei; mas, nem por isso deixam de conhecer quanto o seu procedimento é abominável e criminoso perante a mulher e os filhos e, daí, esse empenho, que pagariam a bom preço, à procura de motivos mais ou menos plausíveis que lhes justifiquem o crime, ao menos na aparência.
É preciso, portanto, proclamar bem alto que, os que requerem o divórcio ou habilmente forgicam pretextos nesse intuito, não passam de reles farsistas, pelos ardis imoralíssimos a que recorrem.
Casaram sem nenhuma consideração para com aquela que teve a suprema desgraça de confiar-lhes o seu destino e são em tal grau egoístas, que não buscam no casamento mais que o próprio prazer, ainda que seja à custa da desgraça da mulher e dos filhos. Pedem o divórcio, às mais das vezes, por motivos inconfessáveis: as paixões, as esperanças de maiores vantagens friamente calculadas ou a sensualidade infrene, são as causas de um divórcio que virá arruinar e destruir a família, aliás distinta.
Muitos "moralistas" modernos, desses que se arrogam o encargo de defenderem a liberdade humana, nos comícios, inimigos de qualquer sujeição, não passam de egoístas refinados, sem compaixão nem piedade. Elevam às nuvens os defensores da lei iníqua do divórcio que condena suas vítimas à imoralidade, à opressão e à mais triste e vergonhosa miséria.
Diante desse procedimento, eu me pergunto: que confiança poderão depositar as esposas em semelhantes maridos? Claro está que hão de fazer eles mesmos aquilo que aprovam nos demais e, si se casarem, mais tarde, com os compromissos assumidos. E sabe Deus se já não estão procedendo como se esse compromisso não existissem!
Oh! desconfiai dos apologistas do divórcio e de falsos princípios sobre que baseiam um utilitarismo e uma moral sem vergonha. Desconfiai e desconfia muito deles. Infeliz da mulher de um apologista do divórcio; em seu lar não viverão muito tempo o afeto e a fidelidade e não vem longe o naufrágio, em que ela e os filhos se hão de ver, de um momento para outro, sem marido e sem pai.
Raça infame e demolidora da ordem social, escandalosa, algozes da mulher e dos filhos, hipócritas refinados e fariseus da pior espécie, vossa campanha é mais que satânica. Refocilai na lama e afogai-vos no lodo. Um egoísmo disfarçado e um sensualismo grosseiro extinguiram em vós o que havia de humano, para vos deixar apenas o que há de animal. Repelis a vossa legítima esposa e abandonai-la sem recursos; não vos comove a triste sorte dos filhos e só uma coisa vos prende a atenção: uma mulher infame como vós, sem coração, sem entranhas, sem honra e sem vergonha.
Uma mulher, por pouco que se respeite e saiba avaliar um amor sincero, nunca aceitará a mão de um divorciado. Nenhuma sociedade medianamente honesta, quererá admitir tais pessoas em seu grêmio; devem ser tratados como verdadeiros leprosos, cujo contato é perigoso e merecem a repulsão de todos. Nenhuma diferença existe entre um divorciado de mãos calejadas e outro de mãos lisas e fidalgas com luvas de peliça. Tanto vale um como o outro e ambos não valem nada.
Que direi do triste estado de alma de qualquer infeliz que haja, com seu voto ou de qualquer modo auxiliado os infames defensores do amor livre e do divórcio?
Fala-se muitas vezes no bom senso político e, graças a Deus, esse bom senso ainda não está de todo extinto; ainda vive. Mas, quando contemplamos o arengar em público, nas câmaras, ou em particular, de certos indivíduos partidários impudentes do amor livre, é o caso de perguntar se o bom senso não está prestes a desaparecer. Quando verificamos que, em alguns países, certos homens sem moral, recolhem mais votos a favor do divórcio, do que os defensores da família e da honra, vemo-nos forçados a confessar que ainda há muita lama neste mundo e que, os que nela se chafurdam, não pensam em sair tão cedo da degradação por onde enveredaram.
Melhor as condições materiais da sociedade, bem está; muito mais urgente, porém, seria restituir às massas o bom senso cristão, indispensável a quem possui uma alma imortal. Sem esse trabalho, a que devem associar-se todos os homens de bem, ver-nos-emos afundar cada vez mais.
(As desavenças no lar, causas e remédios, J. Nysten, edição de 1927)
PS: Grifos meus.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Educação sobrenatural - XI - Os amparos da vida sobrenatural
EDUCAÇÃO SOBRENATURAL
XI - OS AMPAROS DA VIDA SOBRENATURAL
"A vida da alma é Deus"
(Santo Agostinho)
Quais são os amparos da vida sobrenatural?
São: a oração (art. I); a Confirmação (art. II); a Comunhão(art. III).
Artigo I - A oração
"Uma criança para orar precisa do coração de sua mãe"
(Mgr. Pichenot)
Qual é a primeira oração que a criança deve fazer?
É a oração dos gestos. Consiste em ajoelhar; juntar as mãos; baixar os olhos; bater no peito; em fazer o sinal da cruz, etc.
Esta oração tem algum valor?
"Hábitos maquinais! - murmuram os pretensiosos da pedagogia. Parece-nos que, se um Pascal, na plenitude do gênio, podia implorar algum auxílio para a pobre máquina humana, contar com o hábito para despertar a sua fé, não pode haver presunção alguma em usar do mesmo gênero de incitamento para os mais pequeninos. Quando a idade da vida puramente física tiver passado, o seu corpo, ajudando a alma no seu mais alto serviço, lhe recordará, instintivamente, pelas suas atitudes, que é a hora de retomar a plenitude da sua vida espiritual sob o olhar de Deus".
(Bouvier)
Que orações de devem fazer dizer à criança quando começa a falar?
Que orações de devem fazer dizer à criança quando começa a falar?
Orações muito curtas e muito simples:
“Jesus, dou-Vos o meu coração”; “Jesus abençoai o papai e a mamãe... e toda a família”; “Jesus tornai o meu coração semelhante ao Vosso”, e outras do mesmo gênero, sugeridas pelas circunstâncias à piedade engenhosa das mães de família.
Que desenvolvimento convém dar a oração da criança que vai crescendo?
Um desenvolvimento progressivo em relação com a idade e a capacidade da criança. É preciso nada exagerar; porque o essencial não é que a oração seja longa, mas que seja bem feita.
Quais as condições a realizar para que a oração seja bem feita?
1º- É preciso incutir na criança, desde a mais tenra idade, o hábito e fazer bem a sua oração.
2º- É preciso explicar-lhe, a pouco e pouco, o sentido das fórmulas que emprega.
3º- É preciso exigir que a sua atitude seja séria e recolhida, dando-lhe o exemplo.
4º- É preciso ter cuidado que ninguém faça barulho em volta da criança enquanto desempenha este dever.
5º- É preciso que pronuncie as palavras pausadamente, sem se apressar e sem gaguejar.
Numa excelente família, muito cristã, piedosa, séria, assistimos um dia, por acaso, à oração da noite das crianças. Eram três ou quatro, com uma aia sem autoridade; recitavam as rezas com uma precipitação que lembrava um concurso de velocidade, com modulações que pareciam às vezes gritos, com sorrisos, movimentos nervosos de cabeça e dos olhos; parecia tudo uma comédia. E a isto chamava-se dizer a sua oração (autêntico).
Não seria para desejar que as crianças que não assistem ainda à oração comum pudessem recitar separadamente, e cada uma por sua vez, as orações que convém à sua idade?
Devemos contentar-nos com a oração individual?
1º- É preciso, o mais cedo possível, fazer participar a criança da oração comum, feita em família, pelo menos a noite.
2º- É também preciso iniciá-la sem demora a participar dos cultos divinos, conduzindo-a aos exercícios religiosos, ainda antes que a idade a isso obrigue.
"Vi em Anvers o famoso quadro de Rubens - Jesus pregado na Cruz; o artista representou no Calvário uma mulher amamentando o seu filhinho. O pequenino, à vista de Deus crucificado, parece comovido, esquece o seio de sua mãe, volta a cabeça e contempla com os seus grandes olhos o tocante espetáculo. Na imaginação do pintor há uma idéia verdadeira. Os nossos mistérios sagrados têm alguma coisa que está ao alcance de todas as idades. As crianças cristãs sentem o que não compreendem, adivinham o que ainda não sabem".
(S. Diniz Areopagita)
Artigo II - A Confirmação
"Conduz-me o batizado, vestido com uma túnica branca, junto do bispo, que o unge com o óleo santo e deificante".
(S. Diniz Areopagita)
(S. Diniz Areopagita)
Em que idade se deve receber o sacramento da Confirmação?
O sacramento da Confirmação pode ser validamente recebido antes da idade da razão: na primitiva Igreja dava-se aos pequeninos, mesmo de peito; é ainda o uso dos Gregos e das Igrejas de Espanha.
Seria vantajoso que a criança recebesse este sacramento na idade da razão.
Mgr. Roberr, bispo de Marselha, tendo resolvido adotar esta prática, recebeu, em 22 de junho de 1897, uma carta elogiosa do papa Leão XIII, na qual se lê, entre outras coisas:
Mgr. Roberr, bispo de Marselha, tendo resolvido adotar esta prática, recebeu, em 22 de junho de 1897, uma carta elogiosa do papa Leão XIII, na qual se lê, entre outras coisas:
"Damos os maiores elogios aos vossos desígnios... Desejamos vivamente que aquilo que por vós foi sabiamente regulado, seja fiel e perpétuamente cumprido".
Praticamente, que se deve fazer?
Não depende evidentemente do pai e da mãe fazer confirmar os filhos em certa e determinada idade. Mas, se as circunstâncias deixam à sua escolha a determinação do tempo, é preferível antecipar a retardar a administração do sacramento.
Quais são as vantagens do sacramento da Confirmação na educação da criança?
1º- A maturação da vida sobrenatural, que dá a força de professar a fé, e a coragem de combater os inimigos da salvação.
2º- O caráter, que faz da confirmação um soldado de Jesus Cristo.
3º- O aumento da graça santificante.
E, como a educação tem o seu coroamente na bem-aventurança eterna do céu, que satisfação não é para um pai e uma mãe saberem o seu filho de posse duma graça santificante aumentada, "porque é de fé que a recompensa celeste será na proporção da graça habitual que a alma possua no momento de abandonar o corpo"!
Santa Teresa disse que, "se os homens conhecessem o valor dum só grau de glória, julgariam não o pagar muito caro com os sofrimentos e trabalhos duma longa vida".
(Charruau, Às mães, p.41)
Artigo III - A Comunhão
"Como o veado corre para as águas vivas, a minha alma corre para Vós, ó meu Deus".
(Ps. XLI, 1)
Como preparará a mãe o seu filho para a primeira Comunhão?
Inspirando-lhe um grande amor pela Santa Eucaristia e um profundo respeito pela casa de Deus.
Porque meios chegará a mãe a inspirar um grande amor pela Eucaristia?
1º - No lar - Instruirá a criança neste grande mistério; falar-lhe-á muitas vezes de Jesus, que habita no tabernáculo; inspirar-lhe-á o desejo de se unir a Ele; fará que se ajoelhe à passagem do Santíssimo Sacramento, quando é levado aos doentes ou em procissão.
2º Na Igreja - Aí levará freqüentemente a criança; obriga-la-á a fazer piedosamente o sinal da cruz e a ajoelhar; mostrar-lhe-á o tabernáculo, dizendo-lhe que é ali que Jesus habita, que de lá está olhando para ela.
Um menino de cinco anos, instalo por sua mãe a dizer o que mais o impressionava na catedral de Bolonha sobre o Mar, que visitava pela primeira vez, indica o tabernáculo.
- Porquê?
2º Na Igreja - Aí levará freqüentemente a criança; obriga-la-á a fazer piedosamente o sinal da cruz e a ajoelhar; mostrar-lhe-á o tabernáculo, dizendo-lhe que é ali que Jesus habita, que de lá está olhando para ela.
Um menino de cinco anos, instalo por sua mãe a dizer o que mais o impressionava na catedral de Bolonha sobre o Mar, que visitava pela primeira vez, indica o tabernáculo.
- Porquê?
- Porque Ele está ali! (Autêntico)
Depois far-lhe-á recitar uma pequenina oração. Estas visitas serão repetidas o maior número de vezes possível; devem ser desejadas pela criança e concedidas como uma espécie de recompensa.
Por que é preciso que a criança seja educada num profundo respeito pela Casa de Deus?
Por que é preciso que a criança seja educada num profundo respeito pela Casa de Deus?
Porque estamos convencidos de que não há nada a esperar de bom duma criança que não tem respeito pela igreja.
Numa paróquia, aonde nos conduziram as vicissitudes da guerra, fomos obrigados a descer do nosso lugar, durante o exercício, para ir ao fundo da igreja admoestar e separar dois pequenos, que tagarelavam e riam duma maneira escandolosa. E, durante esse tempo, a mãe dum deles, piedosamente ajoelhada junto da mesa de comunhão, com os outros filhos mais crescidos, convencia-se, sem dúvida, de que cumpria todos os seus deveres de estado, e que, neste ponto, fazia a vontade de Deus.
Pobre e cega mãe, que de lágrimas não derramará!
Pobre criança mal educada ... seria quase um milagre, que se não perdesse!
Como receberam os verdadeiros educadores o decreto de Pio X relativo à idade da primeira comunhão?
Com um frémito de alegria: a sua alma rejubilou de gozo e de reconhecimento; as suas concepções sobre a formação cristã encontraram nas palavras pontifícias um remate e um apoio; e agradeceram a Deus com efusão esta graça, a maior de todas as graças, há tanto tempo sonhada.
Enfim, estavam isolados os apóstolos muito pouco sobrenaturais, que continuavam os erros condenados por Nosso Senhor quando dizia: "Deixai vir a mim as criancinhas e não as afasteis" (Marc. X,14).
Enfim, o Salvador poderá tomar posse, antes que o pecado as tenha manchado, destas pequenas almas de criancinhas tão límpidas, tão luminosas, tão delicadas e tão amáveis. (Nota de rodapé: "Os padres espanhóis, quando dão a comunhão a uma criancinha, dizem-lhe: Que Jesus entre em teu coração antes do pecado". Bouvier)
Enfim, o Salvador poderá tomar posse, antes que o pecado as tenha manchado, destas pequenas almas de criancinhas tão límpidas, tão luminosas, tão delicadas e tão amáveis. (Nota de rodapé: "Os padres espanhóis, quando dão a comunhão a uma criancinha, dizem-lhe: Que Jesus entre em teu coração antes do pecado". Bouvier)
Enfim, o Criador, o Pai, poderá abraçá-las, acariciá-las, inundá-las de graças e de bênçãos, prepará-las, formá-las, santificá-las, salvá-las! Enfim, os pais, sobrenaturalmente cuidadosos da sua responsabilidade, gozarão, desde o primeiro dia da vida racional de seus filhos, da colaboração quotidiana, íntima e pessoal de Nosso Senhor e Mestre, Jesus Cristo, amigo das criancinhas, zelador das almas, a verdadeira luz, a sabedoria eterna.
E, bem longe de retardar a hora bendita do primeiro contato divino, esforçar-se-ão por a aproximar por todos os meios ao seu alcance, interpretando a idade da razão no seu espírito bem melhor que na sua letra.
Todos os educadores terão apreciado do mesmo modo o favor insigne da comunhão precoce?
Não.
Tem havido resistências.
Os meus netos vão fazer a sua primeira Comunhão, dizia um dia uma avó, mas lamento-o; submeto-me, porque é preciso; porém, incomodada. E as disposições interiores refletiam-se na fisionomia e não podiam deixar de se traduzir nas suas palavras, em detrimento da formação de seus netos, que tinham, aliás, nove e dez anos, quando comungaram pela primeira vez. (autêntico).
Que razões alegam para sustentar esta oposição?
1º- A pouca inteligência da criança;
2º- O sacrifício, sem compensação, das vantagens da antiga primeira Comunhão solene.
Que se há de responder à objeção da pouca inteligência da criança?
Eu não queria, dizem certas mamães, que meu filho comungasse tão novo: não sabe o que faz.
Nós respondemos:
1º- Se, na verdade, uma criança não for, aos sete anos capaz de comungar, a não ser que seja idiota, o que é uma exceção, é porque a sua mãe faltou a todos os deveres de educadora.
2º- Certas crianças, das quais se diz que não sabem o que fazem, quando se trata da primeira Comunhão, são apresentadas, em todas as outras circunstâncias, como pequenos prodígios de inteligência e de precocidade.
Que de há de responder à objeção que se apoia nas vantagens perdidas da primeira Comunhão solene?
Havia, com efeito, algumas vantagens na antiga disciplina: a primeira Comunhão solene era bela, edificante, convertedora...; marcava uma data na vida; deixava ordinariamente vestígios inapagáveis. Poderia perguntar-se se esta impressão era bem sobrenatural, ou se não provinha, em grande parte, dos presentes recebidos, das festas de família, das distrações exteriores... Mas, deixemos isso. Tomemos as coisas pelo melhor.
Mesmo nesta hipótese, ousar comparar as vantagens da primeira Comunhão solene com o benefício sobrenatural da Comunhão precoce, necessária e facilmente seguida de muitas outras Comunhões, é não compreender nada das coisas da vida espiritual, da santificação e da salvação.
Qual pode e deve ser a frequência das Comunhões da criança que foi uma vez admitida à Mesa Santa?
Uma vez admitida a criança à primeira Comunhão, é convidada a comungar todos os dias. As condições a realizar são as mesmas que se exigem às pessoas adultas: o estado de graça, a reta intenção, o jejum natural.
Somente, como as crianças são aprendizes, precisam dum mestre nos exercícios da Comunhão, como em todos os outros exercícios. O mestre não é preciso procurá-lo: é o pai ou a mãe, que devem normalmente acompanhar os seus filhos à Mesa Sagrada, ajudá-los a preparar-se, e a fazer ação de graças.
Não se levantam objeções contra esta direção?
Sim; e numerosas objeções. Diz-se:
1º- É uma sujeição acompanhar as crianças;
2º- Não se pode orar convenientemente;
3º- As crianças estão quase constantemente distraídas;
4º- A Comunhão obriga as crianças a levantarem-se muito cedo.
Que se deve responder à primeira objeção: É uma sujeição acompanhar as crianças?
Respondemos: Onde é que vós, pais e mães, aprendestes que a educação é uma partida de prazer?
Não será verdade, pelo contrário, que é uma longa paciência, uma série quase ininterrupta de atos de virtude? E esta responsabilidade, da qual o pensamento não pode e não deve desviar-se, não seria uma alavanca suficiente para elevar o vosso espírito, o vosso coração e a vossa vida à altura de todos os sacrifícios?
Que se deve responder à segunda objeção: Não se pode orar convenientemente?
Respondemos: Se os pais, na sua preparação e na sua ação de graças, só têm as distrações ocasionadas pelo cumprimento do seu dever de estado, com respeito a seus filhos, poder-se-ia propô-los como modelos de recolhimento.
São na verdade distrações?
Orar não é fazer orar os outros?
Os pensamentos e os sentimentos que insinuam a seus filhos, são diferentes daqueles de que tem necessidade para si próprios? E as observações que fazem ao pequeno comungante, que está a seu lado, não poderia servir-lhe de ocasião para recuperarem a posse do próprio espírito e do seu coração?
Que responder à terceira objeção: As crianças estão quase constantemente distraídas?
1º- Deus não pede a cada um senão aquilo que pode dar; espera, pois, muito menos das crianças do que dos adultos.
2º- As distrações das crianças vêem-se, porque, insuficientemente senhoras de si mesmas, traduzem no exterior o que são interiormente, e por isso de diz: Estão quase constantemente distraídas. As distrações dos adultos não se vêem porque conservam a compostura e parecem, algumas vezes pelo menos, melhores do que realmente são.
Mas, aos olhos de Deus, que sonda os espíritos e os corações, que se não deixa seduzir por aparências, qual é a melhor comunhão: a da criança que se não recolhe senão uns segundos, ou a do adulto que parece recolhido durante muitos minutos?
Que responder à quarta objeção: A Comunhão obriga as crianças a levantarem-se muito cedo, para que possa ser frequente?
Entendamo-nos bem!
A criança tem, por exemplo, seis ou sete anos. Os bons autores dizem-nos que, a partir dos três anos, o repouso da noite deve durar de dez a doze horas, suprimindo-se a sesta do dia.
Donde concluímos, e parece legitimamente, que a partir dos seis ou sete anos, é possível, sem inconveniente, contentarmo-nos com o que é considerado como mínimo para os três anos: quer dizer, dez horas. Ora, se a criança se deita à hora razoável, às 20 ou 20 horas e meia, poderá levantar-se às 6 ou 6 e meia (Nota de rodapé: As horas consagradas ao sono podem ser variadas com o fim da adaptação da vida das crianças aos hábitos do seu meio). Onde está então a dificuldade de comungar?
Estas indicações não são teóricas, e, por conseguinte, irrealizáveis?
Nós pensamos, pelo contrário, que em muitas famílias a educação constitui um incitamento ao sono, que ultrapassa os limites do que a criança reclama naturalmente.
Para nos convercermos disso, basta notar a facilidade com que a criancinha de três ou quatro anos desperta após dez ou onze horas de repouso. Até parece que "o somo conveniente que faz repousar as crianças lhes dá um sangue melhor, as torna alegres e vigorosas" (Fénelon).
É só depois de estar formada na escola da preguiça paternal, maternal ou familiar, que a criança sente a necessidade, fictícia e adquirida, dum sono mais prolongado, que atinge muitas vezes proporções exageradas. Quando muito, há tanta necessidade de dormir como de comer. A sobriedade quer que se deixe "a cerimônia no prato" segundo uma expressão popular. A energia cristã quer que se deixe o sono nos lençóis.
Aquele que come até à completa saciedade é um glutão. Aquele que dorme atá ao esgotamento da necessidade de dormir é um preguiçoso.
Na realidade, que é que há no fundo destas diversas objeções?
Há o temor do sacrifício, do sacrifício material, do sacrifício intelectual, do sacrifício moral.
No entanto, devemos reconhecer que Deus é sábio bastante para atingir um duplo fim com uma só prescrição. Sim! Deus, chamando à Santa Mesa as crianças que Ele ama e quer salvar, porpõe-se atingir também os pais, torná-los mais cristãos, mais sobrenaturais, mais perfeitamente educadores.
(Catecismo da educação pelo abade René de Bethléem, continua com o post: A ressurreição da vida sobrenatural)
PS: Grifos meus.
Mesmo nesta hipótese, ousar comparar as vantagens da primeira Comunhão solene com o benefício sobrenatural da Comunhão precoce, necessária e facilmente seguida de muitas outras Comunhões, é não compreender nada das coisas da vida espiritual, da santificação e da salvação.
Qual pode e deve ser a frequência das Comunhões da criança que foi uma vez admitida à Mesa Santa?
Uma vez admitida a criança à primeira Comunhão, é convidada a comungar todos os dias. As condições a realizar são as mesmas que se exigem às pessoas adultas: o estado de graça, a reta intenção, o jejum natural.
Somente, como as crianças são aprendizes, precisam dum mestre nos exercícios da Comunhão, como em todos os outros exercícios. O mestre não é preciso procurá-lo: é o pai ou a mãe, que devem normalmente acompanhar os seus filhos à Mesa Sagrada, ajudá-los a preparar-se, e a fazer ação de graças.
Não se levantam objeções contra esta direção?
Sim; e numerosas objeções. Diz-se:
1º- É uma sujeição acompanhar as crianças;
2º- Não se pode orar convenientemente;
3º- As crianças estão quase constantemente distraídas;
4º- A Comunhão obriga as crianças a levantarem-se muito cedo.
Que se deve responder à primeira objeção: É uma sujeição acompanhar as crianças?
Respondemos: Onde é que vós, pais e mães, aprendestes que a educação é uma partida de prazer?
Não será verdade, pelo contrário, que é uma longa paciência, uma série quase ininterrupta de atos de virtude? E esta responsabilidade, da qual o pensamento não pode e não deve desviar-se, não seria uma alavanca suficiente para elevar o vosso espírito, o vosso coração e a vossa vida à altura de todos os sacrifícios?
Que se deve responder à segunda objeção: Não se pode orar convenientemente?
Respondemos: Se os pais, na sua preparação e na sua ação de graças, só têm as distrações ocasionadas pelo cumprimento do seu dever de estado, com respeito a seus filhos, poder-se-ia propô-los como modelos de recolhimento.
São na verdade distrações?
Orar não é fazer orar os outros?
Os pensamentos e os sentimentos que insinuam a seus filhos, são diferentes daqueles de que tem necessidade para si próprios? E as observações que fazem ao pequeno comungante, que está a seu lado, não poderia servir-lhe de ocasião para recuperarem a posse do próprio espírito e do seu coração?
Que responder à terceira objeção: As crianças estão quase constantemente distraídas?
1º- Deus não pede a cada um senão aquilo que pode dar; espera, pois, muito menos das crianças do que dos adultos.
2º- As distrações das crianças vêem-se, porque, insuficientemente senhoras de si mesmas, traduzem no exterior o que são interiormente, e por isso de diz: Estão quase constantemente distraídas. As distrações dos adultos não se vêem porque conservam a compostura e parecem, algumas vezes pelo menos, melhores do que realmente são.
Mas, aos olhos de Deus, que sonda os espíritos e os corações, que se não deixa seduzir por aparências, qual é a melhor comunhão: a da criança que se não recolhe senão uns segundos, ou a do adulto que parece recolhido durante muitos minutos?
Que responder à quarta objeção: A Comunhão obriga as crianças a levantarem-se muito cedo, para que possa ser frequente?
Entendamo-nos bem!
A criança tem, por exemplo, seis ou sete anos. Os bons autores dizem-nos que, a partir dos três anos, o repouso da noite deve durar de dez a doze horas, suprimindo-se a sesta do dia.
Donde concluímos, e parece legitimamente, que a partir dos seis ou sete anos, é possível, sem inconveniente, contentarmo-nos com o que é considerado como mínimo para os três anos: quer dizer, dez horas. Ora, se a criança se deita à hora razoável, às 20 ou 20 horas e meia, poderá levantar-se às 6 ou 6 e meia (Nota de rodapé: As horas consagradas ao sono podem ser variadas com o fim da adaptação da vida das crianças aos hábitos do seu meio). Onde está então a dificuldade de comungar?
Estas indicações não são teóricas, e, por conseguinte, irrealizáveis?
Nós pensamos, pelo contrário, que em muitas famílias a educação constitui um incitamento ao sono, que ultrapassa os limites do que a criança reclama naturalmente.
Para nos convercermos disso, basta notar a facilidade com que a criancinha de três ou quatro anos desperta após dez ou onze horas de repouso. Até parece que "o somo conveniente que faz repousar as crianças lhes dá um sangue melhor, as torna alegres e vigorosas" (Fénelon).
É só depois de estar formada na escola da preguiça paternal, maternal ou familiar, que a criança sente a necessidade, fictícia e adquirida, dum sono mais prolongado, que atinge muitas vezes proporções exageradas. Quando muito, há tanta necessidade de dormir como de comer. A sobriedade quer que se deixe "a cerimônia no prato" segundo uma expressão popular. A energia cristã quer que se deixe o sono nos lençóis.
Aquele que come até à completa saciedade é um glutão. Aquele que dorme atá ao esgotamento da necessidade de dormir é um preguiçoso.
Na realidade, que é que há no fundo destas diversas objeções?
Há o temor do sacrifício, do sacrifício material, do sacrifício intelectual, do sacrifício moral.
No entanto, devemos reconhecer que Deus é sábio bastante para atingir um duplo fim com uma só prescrição. Sim! Deus, chamando à Santa Mesa as crianças que Ele ama e quer salvar, porpõe-se atingir também os pais, torná-los mais cristãos, mais sobrenaturais, mais perfeitamente educadores.
(Catecismo da educação pelo abade René de Bethléem, continua com o post: A ressurreição da vida sobrenatural)
PS: Grifos meus.
domingo, 7 de novembro de 2010
Recolhimento do Domingo
RECOLHIMENTO DO DOMINGO
(Clique na gravura para ampliá-la)
Como é cheia de solicitude para conosco a Divina Providência que nos deu a noite, com sua paz e sossego, como recolhimento do dia. Foi esta mesma Providência, cuidadosa, que também nos deu, generosamente, para reparação da perda de forças da semana, o recolhimento do domingo. Mil vezes, bendito o dia do Senhor!
Podemos repetir aqui o que dissemos a respeito do recolhimento do dia: só sabe apreciar, devidamente, a importância do descanso dominical quem sabe trabalhar, deveras, durante os seis dias úteis da semana. É uma necessidade esse descanso. Mas também é um prêmio, uma festa, uma renovação.
Mas, ninguém, melhor do que o homem de fé, compreende todo o alcance deste recolhimento semanal.
Entretanto, como decaiu, vergonhosamente, entre os homens de hoje, a idéia reparadora, pacificadora e santificadora do domingo! Para muitos, infelizmente, o domingo é o dia desabusado, que se começa no sábado, com o recebimento do salário, salário que, muita vez, será malbaratado no jogo, no cinema, em bebidas e revistas.
Para outros, o domingo do homem é bem semelhante ao domingo do animal que não puxa a carroça ou não sulca, como o arado, a terra; come-se muito, dorme-se mais ainda.
Outros acham que o domingo só tem razão de ser, quando se tem para ele uma novidade: um divertimento, um passeio.
Para outros ainda, toda a preocupação do domingo se cifra na indumentária, tanta vez em flagrante desacordo com a sua idade, sua posição, seus haveres, seu trabalho... E o domingo - quanta vez! - se passa no campo de excursão (que, em certas circunstâncias e com certa cautela, seria um bem), ou na piscina ou na praia, ou no esporte ou no bar ou em visita e não sei onde mais; mas, em todo o caso, não são muitos os que se lembram de que o domingo é o dia da família, é o dia de Deus, por excelência.
Sim, é o dia do Senhor, com a assistência devota à santa missa, que deveria ser o centro do domingo... O cristão, então, se lembra de que não é só corpo, mas também espírito; lembra-se de que se deve trabalhar não somente para essa terra, mas também para o céu.
Desapegou-se um pouco da matéria, que o prendeu toda a semana, e de suas exigências, e levanta, liberto, seu coração a Deus, para o qual ele foi criado e no qual encontrará sua felicidade.
O domingo, considerado cristãmente, e tomado a sério, tem uma força transformadora e santificante extraordinárias.
Para os cristãos mais fervorosos, vem, ainda, à tardinha ou à noite, a assistência às vésperas ou à bênção do Santíssimo, talvez com nova pregação, que os colocam, pouco a pouco, nesse estado de cristianismo, convencido e convincente, que falta a tantos que se dizem católicos e que traem, na primeira oportunidade, sua fé, tão mal protegida e, pior ainda, tão mal alicerçada.
E que dizer do domingo nos presbitérios fervorosos e nos conventos de bom espírito? Naqueles, é dia de intensa atividade, mas atividade que eleva, que não perturba, e que é tão de acordo com a atividade no céu e para o aperfeiçoamento da almas: as santas missas mais numerosas e mais frequentadas, o confessionário assediado, a mesa sagrada cheia de comensais piedosos; as pregações, os batizados, as reuniões das associações, o catecismo solene, a bênção do Santíssimo.
Ó dia feliz para o cura de almas fervoroso: é, realmente, o dia do Senhor!
Nos conventos, os domingos tomam uma aparência do repouso eterno: um grande silêncio e uma grande paz envolvem a casa de Deus. Da igreja conventual emerge uma onda de bem-estar sobrenatural, que penetra as celas, os claustros, os jardins, as oficinas desertas, mas, principalmente, as almas. Tudo respira um ar solene, e, ao mesmo tempo, singelo e íntimo, sinal de presença de Deus Nosso Senhor.
Os contemplativos, também aqueles, ou, principalmente, aqueles que souberam desenvolver, durante a semana, sua atividade em trabalhos manuais ou intelectuais, ei-los mergulhados em alguma leitura profunda ou prostrados diante dos altares, ou, passeando, lentamente, em oração, pela horta.
Quando soa o grande sino, para logo se povoa o coro ou a capela, e o cântico ou salmodia quebra, com vantagen, aquele silêncio benéfico...
Mas o domingo também é, por excelência, o dia da família. É o dia feliz em que pais e filhos, irmãos e irmãs se encontram mais unidos depois de uma semana de quase separação pelos trabalhos e ocupações de cada um. A casa está mais limpa, enfeitada. A refeição principal, melhorada. Todos com roupas melhores, limpas, frescas. E chegam os parentes, os amigos íntimos. Visita-se o jardim, o quintal; presta-se uma atenção carinhosa a todas as plantas e árvores. Improvisa-se um divertimento, um recreio. É o dia da família cristã.
Como é, realmente, belo o recolhimento da semana: o domingo, transfigurado pelo amor de Deus, embelezado pelo espírito de família. Bem se compreende por que a impiedade procura profanar este dia sagrado. Bem se compreende por que o néo-paganismo procura estragar este recolhimento que tanto fala das suas grandes belezas da terra: a casa de Deus e o lar.
Maria Santíssima, a Virgem do Templo, a Senhora da casa de Nazaré, chorou diante de pastorinhos humildes, Melânia e Maximini, lá nas Montanhas de Salete, chorou, contemplando a destruição criminosa do recolhimento da semana: o domingo, o dia do Senhor.
Amemos este dia extraordinário e saibamos tirar dele aquela força e espírito de fé e de renovação que Deus Nosso Senhor, por meio dele, nos quer conceder.
Como é formoso este recolhimento semanal!
E já se compreende por que a encantadora Santa Teresinha do Menino Jesus, com sua alma delicada e cheia de beleza, gostava tanto do domingo e suspirava à noite: Ai! que passou este dia lindo! amanhã será segunda-feira... Como tarda o domingo eterno do céu!...
(Reconhimento, pelo Frei Henrique Golland Trindade O.F.M, Bispo de Bonfim, edição de 1945)
PS: Grifos meus.
Nos conventos, os domingos tomam uma aparência do repouso eterno: um grande silêncio e uma grande paz envolvem a casa de Deus. Da igreja conventual emerge uma onda de bem-estar sobrenatural, que penetra as celas, os claustros, os jardins, as oficinas desertas, mas, principalmente, as almas. Tudo respira um ar solene, e, ao mesmo tempo, singelo e íntimo, sinal de presença de Deus Nosso Senhor.
Os contemplativos, também aqueles, ou, principalmente, aqueles que souberam desenvolver, durante a semana, sua atividade em trabalhos manuais ou intelectuais, ei-los mergulhados em alguma leitura profunda ou prostrados diante dos altares, ou, passeando, lentamente, em oração, pela horta.
Quando soa o grande sino, para logo se povoa o coro ou a capela, e o cântico ou salmodia quebra, com vantagen, aquele silêncio benéfico...
Mas o domingo também é, por excelência, o dia da família. É o dia feliz em que pais e filhos, irmãos e irmãs se encontram mais unidos depois de uma semana de quase separação pelos trabalhos e ocupações de cada um. A casa está mais limpa, enfeitada. A refeição principal, melhorada. Todos com roupas melhores, limpas, frescas. E chegam os parentes, os amigos íntimos. Visita-se o jardim, o quintal; presta-se uma atenção carinhosa a todas as plantas e árvores. Improvisa-se um divertimento, um recreio. É o dia da família cristã.
Como é, realmente, belo o recolhimento da semana: o domingo, transfigurado pelo amor de Deus, embelezado pelo espírito de família. Bem se compreende por que a impiedade procura profanar este dia sagrado. Bem se compreende por que o néo-paganismo procura estragar este recolhimento que tanto fala das suas grandes belezas da terra: a casa de Deus e o lar.
Maria Santíssima, a Virgem do Templo, a Senhora da casa de Nazaré, chorou diante de pastorinhos humildes, Melânia e Maximini, lá nas Montanhas de Salete, chorou, contemplando a destruição criminosa do recolhimento da semana: o domingo, o dia do Senhor.
Amemos este dia extraordinário e saibamos tirar dele aquela força e espírito de fé e de renovação que Deus Nosso Senhor, por meio dele, nos quer conceder.
Como é formoso este recolhimento semanal!
E já se compreende por que a encantadora Santa Teresinha do Menino Jesus, com sua alma delicada e cheia de beleza, gostava tanto do domingo e suspirava à noite: Ai! que passou este dia lindo! amanhã será segunda-feira... Como tarda o domingo eterno do céu!...
(Reconhimento, pelo Frei Henrique Golland Trindade O.F.M, Bispo de Bonfim, edição de 1945)
PS: Grifos meus.
sábado, 6 de novembro de 2010
Procedimento da alma no tempo da prova
PROCEDIMENTO DA ALMA NO TEMPO DA PROVA
A alma não deve admirar-se por sofrer oposição, mesmo da parte de pessoas de bem. Deve persuardir-se de que esta miséria é uma consequência fatal da estreiteza do espírito humano e do egoísmo inerente ao coração do homem.
Se todos tivessem idéias amplas e elevadas, todos seriam pelo menos tolerantes e respeitariam o modo de ver e de proceder dos outros. Não condenariam tão facilmente as intenções e as atitudes alheias. Ninguém há tão indulgente como Deus para com os erros do espírito, os defeitos do caráter, as extravagâncias do humor, e mesmo para as culpas morais, porque as vistas de Deus são infinitamente largas. Contenta-se com a boa vontade das Suas criaturas; por ela é que forma o Seu juízo.
O homem, limitado por natureza, não procede assim. Vê as aparências, julga pelo exterior, segue as próprias impressões, simpatias ou antipatias, reprova e quer corrigir tudo o que não se conforme com as suas idéias e modo de agir.
Devemos persuadir-se desta verdade: neste mundo, nunca encontraremos, fora do círculo dos que comungam com o nosso ideal, quem esteja disposto a dar-nos a sua aprovação e apoio sem reservas. Enquanto a alma não tiver enraizada esta convicção, não estará livre de penosas desilusões. É preciso conformar-se com esta inclinação da natureza humana. Deus assim o quis, para que a alma só O tenha como ponto de apoio seguro e só confie nEle e nos que por Ele lhe estão unidos.
Uma vez abandonada a Deus definitivamente, a estima dos homens torna-se-lhe indiferente. As suas críticas, violências, zombarias já não têm o poder de abalá-la. Não foi para agradar-lhes nem para capitar-lhes a estima que optou por Deus.
Mesmo que o mundo inteiro se erguesse contra essa alma, em que poderia prejudicá-la? Ela não depende do mundo nem da sua aprovação. Sabe que a opinião dos homens nada vale diante de Deus. Se o universo inteiro se coligasse contra ela, não lhe poderia tirar o mérito de uma única das suas ações. O mundo só é poderoso contra aqueles que o temem. Aqueles que lhe afrontam as ameaças e gritos sabem-no impotente.
É bom repetir às vezes no fundo da alma: pode vir um dia em que serei abandonado pelos que me são caros, incompreendido pelos meus familiares ou colegas e condenado por alguns dos meus amigos. Não temerei essa situação, porque o Senhor me basta. Faço desde já o sacrifício da estima, afeição e confiança dos que estimo e procurarei somente não me afastar do que Deus quer de mim. Quanto mais repelido pelas criaturas, mais me chegarei a Jesus. Só Ele conhece a retidão das minhas intenções e a simplicidade do meu coração.
Este ato, frequentemente renovado na oração, desenvolve na alma um grande desprendimento, uma santa independência de toda a apreciação humana.
Deus, aliás, não deixa a alma indefesa. Quanto mais ela se abandona nEle, mas Ele a toma sob a Sua direção. Quanto menos se justifica diante dos outros, mais Deus Se ocupa da sua defesa e do seu progresso espiritual. Para os Seus desígnios, serve-se dos próprios inimigos. As incompreensões, violências ou astúcias contribuem para pôr em foco a inocência e integridade dessa alma. Basta-lhe entregar-se a Deus, confiar-Lhe os seus cuidados e interesses, limitando-se a amá-Lo, e eis que o céu inteiro se sente obrigado par com ela e se movimenta em sua defesa.
Senhor! O meu proceder nas adversidades e oposições é, pois, bem simples, basta lançar-me nos Vossos braços, confiar-Vos a minha defesa e amar-Vos. Seria mais fácil desaparecer o céu e a terra do que ser confundida uma alma que confia em Vós.
Desta maneira, a atitude da alma interior nunca muda. No tempo da abundância, das consolações, das luzes, da aprovação dos homens, só tem um ato: o dom integral de si mesmo a Jesus. No tempo das trevas, das misérias próprias, das críticas e adversidades, também só tem um mesmo gesto: dar-se a Deus por um ardente ato de amor. Eis todo o seu segredo, toda a sua sabedoria.
(O dom de si, vida de abandono em Deus, pelo Pe. Joseph Schrijvers)
PS: Grifos meus.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
CONFORMIDADE NAS SECURAS DA ORAÇÃO
CONFORMIDADE NAS SECURAS DA ORAÇÃO
Conta-se nas Crônicas da Ordem de São Domingos (Hist. Ord. Praed., I P., lib. I, c.60), que um dos primeiros Padres da Ordem, depois de ter estado nela alguns anos com grande exemplo de vida e grande limpeza e pureza de alma, nenhuma consolação, por pequena que fosse, sentia nos exercícios espirituais da Religião, nem meditando, nem contemplando, nem orando, nem lendo. E como sempre tinha ouvido falar dos singulares favores que Deus fazia a outros na oração, e dos sentimentos espirituais que nela tinham, estava meio desesperado.
Estando em oração diante do crucifixo, chorando amargamente, pôs-se a dizer estes desatinos:
"Senhor, eu sempre entendi que excedeis a todas as Vossas criaturas na bondade e mansidão; porém aqui estou eu, que há tantos anos Vos servi, sofrendo por Vosso respeito muitas tribulações, e sacrificando-me só por Vós, de muito boa vontade; e se a quarta parte do tempo que Vos tenho servido, servisse a um tirano, já me teria mostrado algum sinal de benevolência, ao menos com um ar de sorriso e graça. E Vós, Senhor, nem um pequeno mimo, nem o mínimo favor me tendes feito daqueles que a outros costumais fazer; e sendo Vós a mesma doçura, sois para mim mais duro que cem tiranos. Que é isto, Senhor? Por que razão quereis que isto seja assim?"
Estando dizendo estas coisas tão desatinadas, ouviu de repente um grande estrondo e tão espantoso, que parecia que vinha a igreja ao chão, e no forro da mesma igreja havia um ruído tão temeroso, que parecia que milhares de cães com dentes queriam despedaçar o madeiramento. Ficou em extremo assombrado e tremendo de medo. Voltou o rosto para ver o que fosse aquilo, e viu atrás de si a mais feia e horrível visão do mundo. Era um demônio que, com uma barra de ferro que tinha nas mãos, lhe deu um tão cruel golpe, que caindo em terra não mais pode levantar-se. Teve contudo ânimo para se ir arrastando até chegar a um altar que estava perto, mas sem poder andar nem menear seus membros com a força das dores, que não parecia senão que lhe tinham desconjuntado todos os ossos a poder de pancadas.
Quando depois os religiosos se levantaram para cantar prima, e o acharam como morto, sem saberem a causa de tão inesperado e mortal acidente, levando-o à enfermaria, o trataram durante três semanas inteiras. Mas no meio das dores gravíssimas que o atormentavam era tão intenso e abominável o mau odor que despia, que os religiosos de nenhum modo podiam entrar no aposento a curá-lo e servi-lo senão tapando cautelosamente os narizes e usando de outras prevenções.
Passadas aquelas três semanas, recobrou forças; e tanto que se pode ter em pé, quis logo curar-se de sua louca presunção e soberba; e tornando ao lugar onde tinha cometido a culpa, buscou nele o remédio dela, e com muitas lágrimas e muita humildade fazia a sua oração bem diferente da primeira.
Confessou a sua culpa e reconheceu-se por indigno de algum bem, e por muito merecedor de pena e castigo. Então o Senhor consolou-o com uma voz do céu que lhe disse:
"Se queres consolações e gostos, convém que sejas humilde, e que reconheças a tua vileza, entendendo que és mais vil que o lodo, e de menos valor que os bichinhos que pisas com os pés".
Com isto ficou tão escarmentado, que dali em diante foi perfeitíssimo religioso.
(Exercício de Perfeição e Virtudes cristãs pelo V.P. Afonso Rodrigues da Companhia de Jesus, versão do Castelhano por Fr. Pedro de Santa Clara, edição de 1946)
PS: Grifos meus.
SEM DEDICAÇÃO NÃO HÁ AMOR
SEM DEDICAÇÃO NÃO HÁ AMOR
Jesus, vindo ao mundo, nada ensinou de mais amável do que a dedicação. Esta pequena flor - podemos chamá-la assim? - nasceu no Gólgota, aos pés da Cruz, no solo regado com o sangue de Cristo. Daí por diante, nunca mais desapareceu da terra.
Os amigos de Jesus cultivam-na carinhosamente. Conhecem o terreno onde se dá bem e a seiva de que se nutre. Sabem que evita o clima glacial do egoísmo e que se compraz nas quentes regiões da caridade divina. Mergulham-na no amor de Jesus, que é o seu verdadeiro lugar, o seu canteiro predileto.
Amor e dedicação são duas flores numa só haste. Jesus transplantou-as das regiões celestes para o nosso solo ingrato. Criaram raízes, vicejaram, multiplicaram-se e foram bem recebidas nos jardins dos grandes e nos canteiros dos pobres.
Sob a influência do seu perfume, desabrocharam por toda a parte admiráveis virtudes: a abnegação, a humildade, o sacrifício, a mansidão, a compreensão mútua. A terra, anteriormente deserta, cobriu-se de creches, escolas, hospícios, asilos; povoou-se de irmãos e irmãs de caridade.
Não, não há dedicação sem amor, como não há amor sem dedicação. Nunca a flor da dedicação brotou em terras não cristãs. O joio, o insolente joio do egoísmo, devorava o solo pagão. A sociedade antiga, no apogeu da sua civilização, só engendrava monstros horrendos: a crueldade, a luxúria, a escravidão. Como já era tempo de que Jesus viesse ressuscitar esta pobre humanidade que jazia e se decompunha no túmulo! Como já tardava que Ele viesse ensinar-nos o amor e a dedicação!
(O dom de si, vida de abandono em Deus, pelo Pe. Joseph Schrijvers)
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