quinta-feira, 19 de maio de 2016

5. CONHECER E COMPREENDER A PSICOLOGIA DO VOSSO FILHO

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.


5.     CONHECER E COMPREENDER A PSICOLOGIA DO VOSSO FILHO

Há um conhecimento da criança que é essencialmente o fruto do amor, de um amor atento e desinteressado.
• Para conhecer uma criança é preciso viver sua vida, comungar com ela por uma perpétua simpatia, sentir o que ela sente, experimentar todas as suas disposições, adivinhar todas as suas tendências, compreendê-la por dentro.
• A mamãe deve observar, deve procurar compreender seu filho. Para isso muito a ajudará a intuição. Com maior proveito ainda, ajudá-la-á um estudo elementar da psicologia, ciência que realizou progressos consideráveis no curso do século atual, e que não deve ser desdenhada.[1]
• Do nascimento aos 18 anos, as metamorfoses, quer interiores, quer exteriores, se sucedem tão rapidamente que os pais mal podem sintonizar a mesma onda com a realidade sempre nova e sempre movediça que têm à sua frente.
O perigo de ilusão é considerável, porque todo erro grave e repetido de psicologia se traduz na criança por uma concentração em si mesma ou um desdobramento de sua personalidade. Seu “eu” superficial coloca uma tela sobre o seu “eu” profundo. As falhas de desconfiança e de incompreensão mútuas se alargam mesmo sob aparências conformistas que tranquilizam e adormecem. Quantas pontes de neve ocultam fendas! Elas apenas surgem escancaradas em certas horas de crise. Existem pais que disso nunca se apercebem.
• Cada criança tem a sua personalidade que a diferencia da de outra, seu gênio próprio, sua missão insubstituível na terra, seu nome divino.
Ignorá-lo é arriscar-se a tratá-la como um número, um ser anônimo, uma matéria banal a introduzir num mundo vago e em contradição com o seu elemento vital, havendo o perigo de a esvaziar de sua originalidade legítima ou produzir, com um choque de retorno, a explosão de uma revolta, logo que as circunstâncias favoráveis restituírem a liberdade às suas energias por longo tempo comprimidas.
• É sobretudo nos momentos em que a criança está no seu melhor estado natural que se torna preciso observá-la: nos seus brinquedos, à mesa, em meio a seus objetos familiares, quando deve escolher alguma coisa, quando ouve uma história, quando se encontra em companhia de camaradas...
Assim, descobrireis o guloso ou o egoísta sempre primeiro a servir-se; o caprichoso que não pode brincar cinco minutos consecutivos no mesmo jogo, o trapaceiro que busca fraudar a regra, o chefe que tem iniciativa e sabe dirigir os outros, o mau caráter que “manda tudo passear” por um nada, o rotineiro que faz construções sempre semelhantes com os seus cubos, por falta de imaginação; o espírito prático que não se deixa desconcertar por coisa alguma e acha sempre o “fio” da meada; o sensível que chora ouvindo a história; o generoso que consola ou que sabe ajudar.
 • Para bem conhecer uma criança é preciso manter contato e conversar com ela. Uma mãe nunca perde tempo quando, à noite, permanece um pouco junto à cama do filho. É preciso saber escutar as suas inúmeras perguntas sem enervar-se, dando-se ao trabalho de responder a elas com carinho. Será esse o meio mais seguro de transmitir muitas idéias, bem como o de manter o laço afetivo que condiciona a confiança e o desabrochar do espírito.
 •O importante é lembrar-se que a criança não reage como uma pessoa adulta. Seu ritmo não é o mesmo. Sua linguagem não tem matizes, seus centros de interesse são completamente diversos. Nela as próprias palavras não despertam os mesmos conteúdos. Donde mal-entendidos e diferenças de perspectiva. Sabê-lo é, em parte, remediar o perigo.
• As crianças não julgam com o espírito de adulto. Esta é uma lei elementar, mas a que todo educador deve estar sempre atento. (A garotinha, diante de uma gravura de cristãos entregues aos leões, exclamava, apontando uma das feras: “Veja esse leãozinho, coitado, que não tem cristão para comer!”)
• A grande arte da educação consiste não somente em pensar na criança, mas pensar com a criança, esforçando-se por assimilar o que se passa na sua cabeça e no seu coração. Isto requer o esquecimento de si mesmo, plasticidade, renúncia e, por conseguinte, muito amor — mas é o segredo do êxito.
• Para que a criança se revele ao seu educador, é preciso que ela possa ser o que é. Certas educações demasiadamente estreitas só servem para martirizá-la, e podem mesmo chegar ao aniquilamento de sua personalidade. Desconfiemos das crianças excessivamente disciplinadas e comportadas, que vivem e agem sob o império do terror!
• A imaginação da criança possui uma força de amplificação que nada freia. As crianças podem passar horas organizando uma segunda existência, entrelaçada à existência real, por elas povoada de personagens com os quais se entretêm; vivem uma aventura que pode adquirir o tom de uma autêntica epopéia. Há perigo quando esses sonhos constituem uma fuga diante de uma educação demasiado severa ou demasiado estreita.
Com as crianças é preciso tomar cuidado para só exigir esforços ao nível, atos à sua medida. Evitai forçar, ordenai os períodos de repouso e de pausa, não estejais sempre “em cima” delas. Não desejeis que os vossos filhos se tornem prodígios. Tende como ambição ajudá-los a se tornar sólidos e equilibrados.
• Por intermédio de papai e mamãe, a criança está ligada a toda uma cadeia de antepassados que lhe transmitem parcialmente — cada um deles acrescentando uma modificação — o que receberam dos outros.
Mas, nunca vos deixeis tentar pela idéia de procurar com quem a criança se parece. A criança é uma pessoa, com caráter pessoal original. Os dados hereditários constituem conjunto de tendências que nunca são absolutas ou necessárias. Liberdade e educação podem utilizá-las, canalizá-las ou neutralizá-las.


[1] Ler na coleção "Psychologie et Éducation" por Guy Jacquin, Les grandes lignes de la psychologie de l’Enfant (Ed. Fleurus).