31ª ROSA
São Domingos tendo ido visitar Santa Branca, rainha de França, que, depois de 12 anos de casada, ainda não tinha filhos, o que a trazia em grandes cuidados, aconselhou-a a rezar o Rosário todos os dias, para obter do Céu essa graça; o que ela fez, dando à luz, no ano de 1213, o seu primogénito a que chamou Filipe. Mas tendo a morte arrebatado-o de seu berço, a devota rainha mais que nunca recorreu à Santíssima Virgem e mandou distribuir grande quantidade de rosários a toda a corte e em muitas cidades do reino, afim de que Deus a cumulasse de uma bênção completa. E assim aconteceu, pois no ano de 1215 veio ao mundo São Luís, glória da França e modelo dos reis cristãos.
Afonso VIII, rei de Aragão e Castela, foi, por causa dos seus pecados, castigado por Deus de muitas maneiras e viu-se obrigado a refugiar-se na cidade de um dos seus aliados. São Domingos, encontrando-se nessa mesma cidade no dia de Natal, pregou como era seu costume sobre o Rosário e as graças que se obtêm de Deus através dessa devoção e disse, entre outras coisas, que aqueles que o rezassem devotamente obteriam a vitória sobre os seus inimigos e reconquistariam tudo que tivessem perdido.
O rei ouviu atentamente estas palavras e mandou chamar São Domingos perguntando-lhe se o que ele tinha dito sobre o Santo Rosário era verdade. O santo respondeu que não havia do que duvidar e prometeu-lhe que se ele quisesse praticar essa devoção e juntar-se à confraria, veria então seus efeitos. O rei resolveu-se a rezar todos os dias o Rosário, e assim o fez durante um ano. No Natal seguinte, tendo rezado o seu Rosário, a Santíssima Virgem apareceu-lhe e disse-lhe: “Afonso, há um ano que me serves devotamente com meu Rosário, venho recompensar-te. Sabe que obtive de meu Filho o perdão de todos os teus pecados. Eis um rosário que te dou; trá-lo contigo, e jamais inimigo algum te poderá ferir.” Ela desapareceu e deixou o rei muito consolado. Ele voltou a casa, trazendo o rosário na mão e, abordando a rainha, contou-lhe cheio de felicidade o favor que acabara de receber da Santíssima Virgem, e com o rosário tocou-lhe nos olhos e ela recobrou a visão que tinha perdido muitos anos antes.
Algum tempo depois, o rei, tendo reunido algumas tropas, com a ajuda de seus aliados, atacou ousadamente os seus inimigos, obrigou-os a devolver as suas terras, a reparar os danos, derrotou-os completamente e foi tão afortunado na guerra que de todos os lados surgiram soldados para combater a seu lado, pois as vitórias pareciam seguir por toda a parte as suas batalhas. Isto não é de espantar, pois ele nunca iniciava um combate antes de rezar o Rosário de joelhos; e fez ingressar na confraria do Rosário toda a sua corte e exortava os seus oficiais e criados a serem devotos do Rosário. A rainha ingressou também, e ambos perseveraram ao serviço da Santíssima Virgem e viveram piedosamente.
32ª ROSA
São Domingos tinha um primo chamado Dom Pero, que levava uma vida dissoluta. Tendo ouvido que o santo pregava as maravilhas do Rosário e que muitos se convertiam e mudavam de vida dessa maneira, disse: “Tinha perdido a esperança da minha salvação, mas começo a ganhar coragem, é preciso que ouça esse homem de Deus.” E um dia assistiu então a um sermão de São Domingos. Quando o santo o viu, redobrou seu fervor em atacar os vícios, e rezou a Deus do fundo do coração para abrir os olhos de seu primo para que este conhecesse o estado miserável da sua alma.
Dom Pero ficou logo um pouco assustado, mas não se resolveu a converter-se; voltou uma outra vez a um sermão do santo e este, vendo que esse coração endurecido não se converteria sem nenhum acontecimento extraordinário, gritou bem alto: “Senhor Jesus, faz ver a toda esta audiência o estado em que se encontra aquele que acaba de entrar em vossa casa.”
Então todo o povo viu Dom Pero rodeado de uma multidão de demônios em forma de bestas horríveis que o tinham agrilhoado com correntes de ferro. Cada um fugiu assustado para seu lado, e ele ficou ainda mais assustado por se ver objeto do horror de todos. São Domingos mandou-os deterem-se e disse a Dom Pero: “Vede, desgraçado, o estado deplorável em que vos encontrais; arrojai-vos aos pés da Santíssima Virgem.” Deu-lhe um rosário. “Tomai este rosário, recitai-o com devoção e arrependimento de vossos pecados e fazei intenção sincera de mudar de vida.”
Ele pôs-se de joelhos, rezou o Rosário, e sentiu-se movido a confessar-se, o que fez com grande contrição. O santo ordenou-lhe que rezasse todos os dias o Santo Rosário; ele prometeu-lhe fazê-lo, e inscreveu ele próprio o seu nome na confraria. Seu rosto, que horripilante tinha assustado todos, parecia, ao sair da igreja, brilhar como o de um anjo. E assim perseverou na devoção do Rosário, levou uma vida bem ordenada e morreu ditosamente.
33ª ROSA
Pregando São Domingos o Santo Rosário próximo de Carcassone, levaram-lhe um herege albigense possuído pelo demônio. O santo exorcizou-o em presença de uma grande multidão; crê-se que o ouviam mais de doze mil homens. Os demônios, que possuíam esse pobre miserável, foram obrigados a responder, para sua desgraça, às perguntas do Santo, e disseram que eram quinze mil no corpo desse miserável, pois ele tinha atacado os quinze mistérios do Rosário; que, pelo Rosário que pregava, São Domingos causava terror e medo em todo o inferno, e que era o homem do mundo que eles mais odiavam por causa das almas que lhes roubava com a devoção do Rosário; e revelaram ainda muitas outras particularidades.
São Domingos, tendo colocado o seu rosário ao pescoço do possesso, perguntou-lhes qual de todos os santos do Céu eles mais temiam e qual devia ser mais amado e honrado por todos os homens.
A esta pergunta eles soltaram gritos tão assustadores que grande parte dos ouvintes, toldados pelo medo, caíram por terra. Em seguida, os espíritos malignos, para não responder, choraram e lamentaram-se de uma maneira tão piedosa, tão tocante, que muitos dos assistentes choraram também, movidos por uma piedade natural. Eles suplicaram através da boca do possesso com voz lamentosa: “Domingos, Domingos, tem piedade de nós; prometemos jamais te tocar ou causar-te qualquer mal.
Tu que tens piedade dos pecadores e miseráveis, tem piedade de nós, miseráveis. Vê quanto sofremos! Porque te comprazes em aumentar-nos os sofrimentos? Contenta-te com as penas que já suportamos. Misericórdia! Misericórdia! Misericórdia!”
O santo, sem se deixar tocar pelas palavras ternas desses espíritos desgraçados, respondeu-lhes que não pararia de os atormentar até que tivessem respondido à pergunta. Os demônios disseram-lhe que responderiam, mas em segredo e ao ouvido, e não diante de toda a multidão. O santo insistiu e ordenou-lhes que falassem bem alto, para que todos ouvissem. Mas os demônios não disseram uma só palavra, apesar da ordem que tinham recebido.
São Domingos então pôs-se de joelhos e fez esta oração à Santíssima Virgem: "O excellentissima Virgo Maria, per virtutem psalterii et rosarii tui, compelle hos humani generis hostes questioni meae satisfacere. – Ó Santíssima Virgem Maria, pela virtude do Santo Rosário, ordena a estes inimigos do gênero humano que respondam à minha questão.”
Assim que a oração terminou, eis que uma chama ardente saiu das orelhas, das narinas e da boca do possesso, fazendo tremer a todos. Então os demônios exclamaram: “Domingos, rogamos-te, pela paixão de Jesus Cristo e pelos méritos da Sua Santa Mãe e de todos os santos, que nos permitas sair deste corpo sem nada dizer; pois os anjos, quando o quiseres, to revelarão. Não somos nós mentirosos? Porque queres crer em nós? Não nos atormentes, tem piedade de nós.”
“Desgraçados sois, indignos de verdes vossos desejos satisfeitos”, disse São Domingos, que, ainda de joelhos, fez esta oração à Santíssima Virgem: “O Mater sapientiae dignissima et de cujus salutatione quomodo illa fieri debeat jam edoctus est populus; pro salute populi circumstantis rogo: Coge hosce tuos adversarios, ut plenam et sinceram veritatem palam hic profiteantur." (1) Mal ele tinha acabado a oração viu a Santíssima Virgem junto a ele, rodeada por uma grande multidão de anjos, que, com uma vara de ouro que trazia na mão, golpeava o endemoninhado dizendo-lhe: “Respondei ao meu servidor Domingos, conforme vos perguntou.” É preciso notar que o povo não ouvia nem via a Santíssima Virgem, mas apenas São Domingos.
Então os demônios começaram a gritar dizendo: “O inimica nostra, o nostra damnatrix, o nostra inimica, o nostra damnatrix, o confusio nostra, quare de coelo descendisti, ut nos hic ita torqueres? Per te quae infernum evacuas et pro peccatoribus tanquam potens advocata exoras; o Via coeli certissima et securissima, cogimur sine mora et intermissione ulla, nobis quamvis invitis, et contra nitentibus, totam rei proferre veritatem. Nunc declarandum nobis est simulque publicandum ipsum medium et modus quo ipsimet confundamur, unde vae et maledictio in aeternum nostris tenebrarum principibus.
Audite igitur vos, christiani. Haec christi Mater potentissima est in preservandis suis servis quominus precipites ruant in baratrum nostrum inferni. Illa est quae dissipat et enervat, ut sol, tenebras omnium machinarum et astutiarum nostrarum, detegit omnes fallacias nostras et ad nihilum redegit omnes nostras tentationes. Coactique fatemur neminem nobiscum damnari qui ejus sancto cultui et pio obsequio devotus perseverat. Unicum ipsius suspirum, ab ipsa et per ipsam sanctissimae Trinitati oblatum, superat et excedit omnium sanctorum preces, atque pium et sanctum eorum votum et desiderium, magisque eum formidamus quam omnes paradisi sanctos; nec contra fideles ejus famulos quidquam praevalere possumus.
Notum sit etiam vobis plurimos christianos in hora mortis ipsam invocantes contra nostra jura salvari, et nisi Marietta illa obstitisset nostrosque conatus repressisset, a longo jam tempore totam Ecclesiam exterminassemus, nam saepissime universos Ecclesiae status et ordines a fide deficere fecissemus. Imo planius et plenius vi et necessitate compulsi, adhuc vobis dicimus, nullum in exercitio Rosarii sive psalterii ejus perseverantem aeternos inferni subire cruciatus. Ipsa enim devotis servis suis veram impetrat contritionem qua fit ut peccata sua confiteantur, et eorum indulgentiam a Deo consequantur.”
“Ó nossa inimiga, ó nossa ruína, ó nossa confusão, porque viestes do Céu para nos atormentar de tal maneira? É preciso que, para nossa desgraça, ó advogada dos pecadores que os livras do inferno, ó caminho seguro para o Paraíso, sejamos obrigados a dizer toda a verdade? É preciso que confessemos diante de todo o mundo o que será a causa de nossa confusão e de nossa ruína? Malditos nós, maldito nosso príncipe das trevas. Escutai pois, cristãos. Esta Mãe de Jesus Cristo tem o poder de impedir que seus servidores caíam no inferno; é ela que, como um sol, dissipa as trevas das nossas maquinações e astúcias; é ela que descobre as nossas intrigas, que rompe as nossas redes e torna todas as nossas tentações inúteis e sem efeito. Somos obrigados a confessar que ninguém que persevere em seu serviço será condenado connosco. Um só dos seus suspiros, que ofereça à Santíssima Trindade, suplanta todas as orações, votos e desejos de todos os santos. Nós tememo-la mais que todos os bem-aventurados juntos e nada podemos contra os seus fiéis servidores.
Mesmo muitos cristãos que a invocam na hora da morte, e que deviam condenar-se, são salvos por sua intercessão. Ah, se esta Marieta (assim lhe chamavam na sua raiva) não se opusesse aos nossos desígnios e aos nossos esforços, há muito que teríamos derrubado e destruído a Igreja e feito cair todas as suas ordens no erro e na infidelidade. E acrescentamos, pela violência com que nos forçam, que ninguém que persevere na oração do Rosário será condenado; pois ela obtém para seus devotos servidores uma verdadeira contrição de seus pecados pela qual eles conseguem o perdão e a indulgência.”
Então São Domingos fez todo o povo rezar o Rosário, muito lenta e devotamente e, a cada Ave-maria que o santo e o povo rezavam (coisa espantosa), saíam do corpo do desgraçado uma grande multidão de demônios em forma de carvões ardentes. Tendo todos os demônios saído e o herege sido libertado, a Santíssima Virgem deu, ainda que invisivelmente, sua bênção a todo o povo, que ficou cheio de grande alegria, e partiu. Por causa deste milagre um grande número de hereges converteu-se e ingressou na confraria do Santo Rosário.
34ª ROSA
Quem poderá contar as vitórias que Simão, conde de Montfort, conseguiu sobre os albigenses sob a proteção da Nossa Senhora do Rosário? São elas tão famosas que o mundo jamais viu outras iguais. Ele derrotou uma vez dez mil hereges com quinhentos homens; uma outra vez, com trinta, venceu a três mil; de seguida com oitocentos cavaleiros e mil homens de infantaria, fez em pedaços a armada do rei de Aragão, composta de cem mil homens, sem perder mais que um cavaleiro e oito soldados dos seus.
De quantos perigos livrou a Santíssima Virgem a Alain de l’Anvallay, cavaleiro bretão, que combatia pela fé contra os albigenses! Um dia, estando rodeado de seus inimigos por todos os lados, a Santíssima Virgem lançou contra eles cento e cinquenta pedras e o livrou de suas mãos.
Numa outra ocasião, tendo o seu navio naufragado e estando perto de afundar-se, esta boa Mãe fez aparecer cento e cinquenta colinas por cima das quais chegou à Bretanha. E em memória dos milagres que a Santíssima Virgem fizera em seu favor por causa do Rosário que ele rezava diariamente, fundou em Dinan um convento para abrigar os religiosos da nova ordem de São Domingos e, tendo-se feito religioso, morreu santamente em Orleães.
Othère, também ele um soldado bretão, de Vancouleurs, pôs com frequência em fuga companhias inteiras de hereges e ladrões, com seu rosário no braço e à guarda da sua espada. Os seus inimigos, após serem vencidos, asseguraram-lhe terem visto resplandecer sua espada e aparecer uma vez um escudo em seu braço, no qual Jesus Cristo, a Santíssima Virgem e os santos estavam retratados, tornando-o invencível e dando-lhe a força para atacar.
De outra vez, com dez companhias, derrotou vinte mil hereges sem perder um só homem dos seus, o que tocou de tal maneira o general da aramada herege, que este foi ter com Othère, abjurou da sua heresia e declarou que o tinha visto coberto de armas de fogo durante o combate.
35ª ROSA
O Bem-aventurado Alain refere que um cardeal chamado Pierre, de Santa Maria do Tibre, instruído por São Domingos, seu amigo íntimo, se afeiçoou de tal maneira à devoção do Santo Rosário que foi seu panegirista e tentava persuadir a todos quanto podia para essa devoção. O cardeal foi enviado como legado à Terra Santa entre os cristãos cruzados que combatiam os sarracenos. E pregou tão bem a eficácia do Rosário à armada cristã que todos abraçando-a para implorar o socorro do Céu num combate, onde não eram mais que três mil, triunfaram sobre cem mil.
Os demônios, como havemos visto, temem infinitamente o Rosário. São Bernardo diz que a Saudação Angélica os quebranta e que faz tremer todo o inferno. O Bem-aventurado Alain assegura que viu muitas pessoas, que serviam o diabo de corpo e alma, renunciando ao baptismo e a Jesus Cristo, e depois, após abraçarem a devoção do Santo Rosário, serem libertadas da sua tirania.
36ª ROSA
No ano de 1578, uma mulher de Anvers entregou-se ao demônio por um contrato assinado com seu sangue. Mas algum tempo depois arrependeu-se, com grande ensejo de reparar o mal que fizera, e procurou um confessor prudente e caridoso, para saber por que meio poderia libertar-se do poder do diabo.
Ela encontrou um padre sábio e devoto que a aconselhou a procurar o padre Henri, diretor da Confraria do Santo Rosário, do convento de São Domingos, para que este a inscrevesse na confraria e a confessasse. Ela procurou-o mas, em vez do padre, encontrou o diabo, sob a forma de um religioso, que a repreendeu severamente e lhe disse que ela não poderia esperar quaisquer graças de Deus, nem nenhum meio de revogar o que tinha assinado, o que bastante a afligiu. Mas ela não perdeu toda a esperança na misericórdia de Deus, e voltou a procurar o padre encontrando de novo o diabo que a mandou embora como anteriormente. Ela voltou ainda uma terceira vez e encontrou então, por vontade divina, o padre Henri que procurava, o qual a recebeu caridosamente e a exortou a confiar na bondade de Deus e a fazer uma boa confissão; recebeu-a na confraria e ordenou-lhe que rezasse com frequência o Rosário. Um dia, durante a Missa que o padre celebrava por ela, a Santíssima Virgem forçou o diabo a devolver-lhe o contrato que ela tinha assinado; e assim foi ela libertada pela autoridade de Maria e pela devoção do Santo Rosário.
37ª ROSA
Um senhor que tinha muitos filhos pôs uma das suas filhas num mosteiro inteiramente desregrado, onde as religiosas não respiravam que vaidade e prazeres. O confessor, homem fervoroso e devoto do Santo Rosário, desejando conduzir esta jovem religiosa a uma prática de vida mais perfeita, ordenou-lhe que rezasse todos os dias o Rosário em honra da Santíssima Virgem, meditando na vida, paixão e glória de Jesus Cristo. A ela muito lhe agradou esta devoção; pouco a pouco começou a desgostar-se com o desregramento das suas irmãs; começou a amar o silêncio e a oração, malgrado o desprezo e as zombarias das outras, que a tomavam como uma beata fanática e falsa.
Nesse tempo, um santo abade, tendo ido visitar esse mosteiro, teve uma estranha visão, em suas orações; pareceu-lhe ver uma religiosa em sua cela, diante de uma grande senhora de uma beleza admirável, acompanhada por uma armada de anjos, os quais a golpes de flechas inflamadas perseguiam uma multidão de demônios que tentavam entrar. Perseguidos por esses golpes os espíritos malignos fugiam para as celas das outras religiosas, sob a forma de imundos animais, para as incitar ao pecado no qual muitas delas consentiam.
O abade conheceu, por essa visão, o estado desgraçado desse mosteiro e pensou morrer de tristeza. Chamou a jovem religiosa e exortou-a a perseverar. Refletindo sobre a excelência do Rosário, tomou a resolução de reformar essas religiosas através dessa devoção. Adquiriu bonitos rosários que ofereceu a todas elas, persuadindo-as a rezá-lo todos os dias e prometeu-lhes, caso o fizessem, que não as forçaria jamais a reformarem-se. Elas receberam agradecidas os rosários e prometeram rezá-lo com essa condição. (Coisa admirável!) Pouco a pouco deixaram as suas vaidades, remeteram-se ao silêncio e ao recolhimento, e em menos de um ano, pediram todas a reforma. O Rosário operara mais em seus corações do que o abade com suas exortações e com a sua autoridade.
38ª ROSA
Uma condessa de Espanha, tendo sido instruída na devoção do Santo Rosário por São Domingos, rezava-o todos os dias com avanços maravilhosos na virtude. Como ela aspirava à perfeição, pediu um dia a um prelado e famoso pregador algumas práticas de perfeição. O prelado disse-lhe que, primeiramente, tinha de conhecer o estado da sua alma e os seus exercícios de piedade; ela disse-lhe que o principal era o Santo Rosário, o qual ela rezava todos os dias, meditando os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos com grande proveito espiritual de sua alma. O bispo, entusiasmado de ouvir explicar os raros ensinamentos que estão contidos nos mistérios, disse-lhe: “Há vinte anos que sou doutor em teologia, li muitas e excelentes práticas de devoção; mas nada conheci que fosse mais frutuoso nem mais conforme ao cristianismo. Desejo imitar-vos, e pregarei o Rosário.” Assim o fez e com tal aventurado sucesso que, em pouco tempo, viu uma grande mudança de costumes na sua diocese, muitas conversões, restituições e reconciliações; os deboches, o jogo e o luxo cessaram; a paz nas famílias, a devoção e a caridade começaram a florir. Mudança tanto mais admirável quanto este bispo tinha trabalho bastante para reformar a sua diocese com muito poucos frutos.
Para melhor persuadir à devoção do Rosário, trazia sempre consigo um muito bonito e mostrava-o a seus ouvintes. E dizia: “Sabei, meus irmãos, que o Rosário da Santíssima Virgem é tão excelente que eu, que sou vosso bispo, doutor em teologia, e em ambos os direitos, me glorio de trazer sempre a mais ilustre marca de meu episcopado e doutorado.”
39ª ROSA
O Reitor de uma paróquia da Dinamarca contava frequentemente, para maior glória de Deus e com grande alegria de sua alma, que tinha visto na sua paróquia um fruto da devoção do Rosário semelhante ao desse bispo na sua diocese.
“Eu tinha, dizia ele, pregado todas as matérias mais urgentes e frutuosas, sem qualquer proveito; não via qualquer correção na minha paróquia. Por fim tomei a resolução de pregar o Santo Rosário, expliquei a sua excelência e a sua prática, e asseguro que, após ter dado a conhecer esta devoção aos meus fiéis, vi uma mudança evidente de hábitos em seis meses.
Esta oração divina tem sem dúvida uma doçura especial para mover os corações e inspirar horror ao pecado e amor pela virtude.”
A Santíssima Virgem disse um dia ao Bem-aventurado Alain: “Assim como Deus escolheu a Saudação Angélica para a Incarnação de Seu Verbo e a Redenção dos homens, aqueles que desejam reformar os costumes da população e regenerá-los em Jesus Cristo devem honrar-me e saudar-me com a mesma saudação. Eu sou, acrescentou ela, o caminho pelo qual Deus veio aos homens e é preciso que após Jesus Cristo eles obtenham a graça e as virtudes por minha intercessão.”
Eu, que escrevo este pequeno livro, aprendi por experiência própria a força desta oração para converter os corações mais endurecidos. Encontrei alguns a quem as mais terríveis verdades pregadas em missões não tinham causado qualquer impressão e que, tendo adquirido, por meu conselho, a prática de rezar o Rosário diariamente, se converteram e se entregaram completamente a Deus.
Vi uma enorme diferença nos costumes das gentes das paróquias onde estive em missões, pois que uns, tendo abandonado a prática do Terço e do Rosário, tinham voltado a cair nos seus pecados; enquanto outros, por a terem conservado, conservavam-se também na graça de Deus e adiantavam todos os dias na virtude.
40ª ROSA
O Bem-aventurado Alain de la Roche, o Padre Jean Dumont, o Padre Thomas, as crônicas de São Domingos e de outros autores, que foram com frequência testemunhas oculares, falam de uma grande quantidade de conversões miraculosas de pecadores e pecadoras que depois de vinte, trinta e quarenta anos em extrema desordem, sem que nada os pudesse converter, converteram-se através desta devoção maravilhosa. Mas quanto a estes casos não os relatarei, receando alongar-me em demasia.
Nem mesmo relatarei das conversões que eu mesmo vi; passo-as todas em silêncio por variadas razões.
Caro leitor, se praticais e pregais esta devoção, aprendereis por experiência própria mais do que o podereis fazer em qualquer livro, e experimentareis ditosamente, o efeito das promessas que a Santíssima Virgem fez a São Domingos, ao Bem-aventurado Alain de la Roche e àqueles que fizeram florir esta devoção que lhe é tão agradável; devoção que instrui os povos nas virtudes de Seu Filho e nas Suas próprias, que conduz à oração mental, à imitação de Jesus Cristo, à frequência dos sacramentos, à prática segura das virtudes e a toda a sorte de boas obras, e a ganhar maravilhosas indulgências que os povos ignoram pois os pregadores desta devoção não falam delas quase nunca e contentam-se em fazer sermões do Rosário para agradar às modas, os quais frequentemente causam admiração mas que raramente instruem.
Por fim, contento-me em dizer-vos, com o Bem-aventurado Alain de la Roche, que o Rosário é uma fonte e um depósito de toda a espécie de bens:
1) P Peccatoribus praestat poenitentiam;
2) S Sitientibus stillat satietatem;
3) A Alligatis adducit absolutionem;
4) L Lugentibus largitur laetitiam;
5) T Tentatis tradit tranquillitatem;
6) E Egenis expellit egestatem;
7) R Religiosis reddit reformationem;
8) I Ignorantibus inducit intelligentiam;
9) V Vivis vincit vastitatem;
10) M Mortuis mittit misericordiam per modum suffragii. (2)
"Volo, disse um dia a Santíssima Virgem ao Bem-aventurado Alain, ut psaltae mei in vita et in morte, et post mortem, habeant benedictionem, gratiae plenitudinem ac libertatem, immunesque sint a caecitate, obduratione, inopia ac servitute."
“Quero que os devotos de meu Rosário tenham a graça e a bênção de meu Filho durante a sua vida, a sua morte, e após a sua morte, que sejam livres de toda a escravidão e sejam reis, com a coroa sobre a cabeça, o cetro na mão e a glória eterna. Ámen.”
Notas:
(1) Ó digníssima Mãe da Sabedoria, rogo-vos por este povo aqui presente que está já instruído sobre a maneira de bem rezar a Saudação Angélica. Forçai Vossos inimigos a confessar em público a verdade completa e sincera sobre este ponto.
(2) Os pecadores obtêm o perdão. As almas sedentas são saciadas. Aqueles que estão presos são libertados. Aqueles que choram encontram alegria. Aqueles que são tentados encontram tranquilidade. Os pobres são socorridos. Os religiosos são reformados. Os ignorantes são instruídos. Os vivos triunfam da decadência. Os mortos alcançam misericórdia através de sufrágios.