Como preparar-se para tal ato?
Primeiramente, é preciso prepara-se
Algumas; muitas até, não se preparam.
Seguras de si mesmas, um pouco loucas, provavelmente inconscientes, improvisam o casamento do mesmo modo como improvisa seu discurso... Rebaixam o ideal a tal ponto que não pensam ter de subir muito para atingi-lo. Não refletiram nem nos deveres, nem nos riscos, nem nas responsabilidades que surgirão. Ficam, pois, tranqüilas. De qualquer jeito, elas se desembaraçarão!...
Sempre se desembaraçarão!... Infelizmente, sim, mas de outra maneira que consiste em não se desembaraçarem...
Não se improvisa o traje nupcial nem tão pouco o enxoval. Ele é preparado com tanto afã! Com tanta minúcia! É uma coisa verdadeiramente emocionante...
Toda a família dele participa. O pai, a mãe, os irmãos e irmãs, o avô, a avó, a amiga Emília, a vizinha Deltanira, o tio Augusto, a tia Ondina, cada qual tem sua sugestão a apresentar. Ah! este traje! Este enxoval!...
Coisa alguma é improvisada, exceto o próprio casamento, no que ele tem de essencial.
E sabe-se acaso o que é o casamento? O que exige? A que obriga? Quebra-se a cabeça por causa de um botão a mais ou a menos, mas não se quebra por causa de palavras tão importantes como são: “amor, fidelidade, sinceridade, dedicação”... Será por medo de, uma vez quebrada, nada ser encontrado dentro dela?...
Espalham-se pela mesa os presentes oferecidos. Mas, de antemão, não se espalham os temíveis presentes que a vida poderá trazer.
Percorrem-se todas as casas de modas para a compra dos móveis e da roupa... mas não se põe de joelhos num oratório para pensar maduramente no desconhecido que se vai afrontar e perguntar a si mesma, lealmente, se tem a necessária força para lutar contra as ondas da travessia.
Ora, existem coisas que não se improvisam. O casamento é uma delas. Tanto mais grave se apresenta como obrigações, tanto mais vasto como promessas, tanto maiores conseqüências acarreta, menos se tem o direito de improvisá-lo. Também não se improvisa um tratado de paz. Uma guerra também não. O sacerdócio também não, e a eternidade muito menos.
E o casamento também não. A menos que, pensando-se dissolvê-lo ao primeiro incidente, se deixe de respeitar o que foi desonrado por si mesmo.
Mas, então, não se será mais uma cristã.
Não se é mais honesta visto que, sem que o pareça, o anel nupcial já se rachou sutilmente e está ameaçado de uma fácil ruptura...
Sendo o que é, o casamento deve ser preparado.
E como preparar-se para ele?
Por uma reflexão minuciosa
Não se trata de dizer: “Contanto que eu esteja casada, tanto melhor para o resto!” A palavra “casamento” pode, em certos casos, significar tantos sofrimentos com tão poucas alegrias que, decididamente, é mais do que prudente bem considerá-lo antes.
A vida obriga a não exigir demais. O bom senso quer que as pretensões sejam moderadas. O rapaz “perfeito” não se colhe em qualquer jardim... E tão pouco a moça “perfeita”. Mas, entre tudo e nada, há muita coisa, e a cristã, chegada a hora de escolher ou aceitar, deve saber quem a solicita e exigir dele o mínimo que a possa tranqüilizar.
Saber quem a solicita! Conhecer a quem ela se entrega! Que vale ele, moral e religiosamente falando? Oferecerá algumas garantias de felicidade? Casando-se com ele, a fé correrá algum risco? A piedade ficará comprometida? É ele honesto ou não? Trabalhador ou não? Sobre que bases se organizará a educação dos futuros filhos? O lar comum terá probabilidades de conservar intacta a fidelidade?
Numa palavra, para onde irá ela na companhia dele?...
Muitas vezes os pais mostram-se indiferentes a tais questões. Já consideraram o peso da carteira do pretendente e chegaram à conclusão de que ele é “um bom partido”. Mas isso não deve bastar à jovem ainda livre. Porque é ela quem se casa, é ela quem será feliz ou infeliz, é ela quem carregará o fardo pesado ou leve, ela quem viverá depois que seus pais morrerem. Poderão eles impor-lhe um fardo que não terão de suportar com ela? O rapaz lhes agrada, está bem. Mas é preciso que ele também agrade à filha... Não poderão, pois, forçar seu consentimento, nem censurar suas reflexões, nem recusar o direito de recusar.
O casamento não é um idílio, nem um romance de uma hora, nem um negócio.
Pelo casamento a jovem se entrega. Cristãmente falando, entrega-se sem compensação. Mesmo que os pais, os interesses, a opinião mundana, seu próprio coração diga “sim”, se sua consciência disser “não”, será “não” o que deve ser dito. Melhor será salvar a alma do que ter um marido. Melhor será entrar como solteirona no Paraíso do que ser atirada, casada, ao Inferno.
Ora acontece que com esse casamento a jovem compromete sua saúde. É um pecado. Quantas o cometem! Quantos pais, os primeiros culpados, por ele responderão!
Pelo aprendizado de virtudes que nele devem ser praticadas
A mulher cristã deve ser trabalhadora
Ela o deve ser antes, porque, depois, poderá não vir a sê-lo. O hábito de nada fazer adquire-se num instante e muito custa perdê-lo. Enquanto está em casa de seus pais, a jovem deve procurar criar-se um temperamento de trabalhadora que fará dela, uma vez casada, a dona da casa segura, exata, conscienciosa, que aproveita suas folgas em vez de desperdiçá-las.
A mulher cristã deve ser séria
Por acaso torna-se alguém sério somente com a promessa de vir a sê-lo algum dia? A experiência diz que não. Sem dúvida, com o tempo, alguns se modificam. Muitas vezes, a uma juventude leviana sucede uma maturidade sisuda. Mas essa é uma sorte que nem todos têm e não constitui um princípio. Cantando, a cigarra aprende a cantar; dançando, a gazela aprende a dançar. A uma jovem leviana geralmente sucede uma mulher leviana. E porque não? É normal. As conversões repentinas são raras. Fica-se sendo o que se faz anteriormente. Troca-se de nome, mas não se troca de alma. Denomina-se “senhora” aquela que não passa de uma garota.
A mulher cristã deve ser uma amorosa
O que, na prática, significa uma devotada, o contrário de uma egoísta. Tanto os maridos como os filhos terão muitas vezes direito a seus cuidados, algumas vezes a suas fadigas, algumas vezes aos seus enormes sacrifícios, mas sempre à sua vigilante atenção.
Uma jovem que se preocupa (só) consigo, como e quando será a mulher que se preocupa com os outros? Conta-se com o instinto materno que surgirá com o nascimento dos filhos. Atenção! Essa geração espontânea, esse repentino crescimento de dedicação num terreno em que impera o egoísmo, não é nada certo. Será mesmo prudente prevê-lo?
Mas a jovem pode aprender a esquecer-se de si mesma quando lida com seus pais, com seus irmãozinhos, com suas amigas. Se ela não tiver essa coragem hoje, como a terá amanhã? Isso equivaleria a ceifar em sulcos onde nada foi semeado e, com voz falsa, ambicionar o êxito dos artistas da Ópera...
A mulher cristã deve ser fiel
Senão, que será ela?... Respondam.
Fiel! Isso quer dizer que mantém sua promessa, que conserva seu coração para o único, que ele pode confiar nela, pois não ouve os apelos da rua, que caminha pelo seu braço sem voltar a cabeça, que nenhum outro nome que não o seu é lido em seus olhos, que triunfa da monotonia da vida íntima sempre igual, que o cansaço jamais a domina.
Sendo fiel, a jovem torna-se capaz de ser a mulher fiel. Não se diverte com o coração, não multiplica o “flirt”, não muda de amizades, não borboleteia, entre seus quinze e vinte anos, de uma flor para outra, de uma confissão para outra. Assim se mantém durante alguns anos, para ficar certa de que assim se poderá manter por toda a vida.
A mulher cristã deve ser forte
Como mamãe, para os filhos que têm necessidade de que ela o seja, como esposa, para o marido que nem sempre o é.
Em caso de necessidade, ser-lhe-á preciso sem queixar-se, sorrir com olhos enquanto o coração chora. Outras vezes, quando o dever o ordenar, ser-lhe-á necessária a força de resistir à tentação grave, de manter a energia da moral católica, de não se prestar a imperdoáveis compromissos.
Em matéria de educação, ser-lhe-á indispensável a força de querê-la e praticá-la cristãmente. Daí surgirão, talvez, conflitos, cenas, lutas, desacordos. Força delicada da haste que verga sem se quebrar, força real do carvalho que nem chega a vergar-se.
Força de alma nas provações habituais. Uma noite, é a mulher que apóia a cabeça ao ombro do marido. Mas uma outra noite é o marido quem apóia a cabeça ao ombro da mulher.
Fortaleza de Suzana às voltas com os dois velhos. Fortaleza de Felicidade diante dos injuriadores de Deus. Fortaleza de Maria aos pés da Cruz.
A vida, para ser bela, exige tudo isso de uma jovem. À falta desta fortaleza, quantas não se arruinaram e permaneceram impotentes, desencorajadas, cansadas do grande cansaço das vencidas!...
Durante a juventude aprende-se a ser forte. Não faltam ocasiões. E já seria alguma coisa a força unicamente adquirida com a luta contra os caprichos e paixões para manter-se à altura do dever cumprido. Mas a jovem que se entrega, pronta a qualquer covardia, submissa ao jogo da vida, incapaz de uma decisão firme, comprando um doce todas as vezes que passa por uma confeitaria, dançando todas as vezes que houver um baile, aborrecendo-se todas as vezes que surgir uma contrariedade, só sabendo pronunciar “talvez” e “se assim o quer”, que será feito dela, qual folha atirada ao vento, quando, como esposa e mãe, o vento sul abalar a casa ou, mais simplesmente ou menos dificilmente, a tarefa cotidiana lhe impuser uma reserva extraordinária de coragem?
A mulher cristã deve ser uma condutora para Deus
Durante um tempo, ela trará seus filhos em seu seio, mas para sempre trará a alma deles na dela. Sua alma e a alma do pai, que é seu marido.
Ela, exemplo vivo, educadora responsável, não tem esses filhos se não para, à frente deles e levando-os pela mão, conduzi-los a Deus, que os espera. E ela deve querer conduzi-los a tais alturas, sob pena de se diminuir.
É a isso que chamamos “o ser apostólico”, “praticar o bem”. É, simplesmente, ser uma verdadeira cristã.
E existem muitas que assim o façam? A resposta consoladora ou não, em nada modifica o belo dever. Se muitas o fazem, que ela lhes aumente o número. Se existem poucas, que seja ela uma a mais. E, se não existir nem uma, ela que se torne ou a primeira ou a única.
Mas só se pode dar aquilo que se tem. E tem-se o que se recebeu, ganhou ou conquistou. Aquela que, com dezoito anos, se desinteressa da alma de seus pais, se interessa pouco pela ama de seu noivo, se interessará superficialmente pela alma de seus filhos, com o risco ou a probabilidade de não se interessar de modo algum pela alma de seu marido.
Adquirir para ter. Tornar-se para vir a ser. Preparar-se para estar pronta. Essa é que é a lei. O vestido nupcial e o enxoval são feitos de pano. A fazenda é feita de fios entrelaçados. O fio de linho germinou da terra e o fio de seda não caiu da lua em noite de outono. Tudo tem sua origem longínqua. O que existe foi feito.
A jovem que pensar em tudo isso no momento de vestir seu traje nupcial e de preparar seu enxoval aprenderia uma preciosa lição. Aplicada ao casamento, significa que também ele, como a fazenda do enxoval e do vestido está feito de tudo que se leva e que foi lenta e piedosamente armazenado no bendito cantinho das reservas de valor.
Dentre as mulheres, foram as que teceram para a vida a mais linda vestimenta, o mais rico enxoval, as que, como jovens, no tempo da preparação, fio por fio, praticaram o trabalho, a seriedade, a fidelidade, o amor, a dedicação, o apostolado e, com o cruzamento de todos esses fios, teceram a tela indestrutível do casamento cristão.
(Jovens: Vocês e a vida, pelo Fr. M. A. Bellouard O. P., coleção moças; Editora Caravelas LTDA, 1950, continua com o post: Religiosa)
PS: Grifos meus.