sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Do ódio santo de si mesmo


Se se considera bem o que se há dito, bastará para engendrar em nós aquele ódio e aborrecimento santo de nós mesmos, que Cristo Nosso Redentor nos encomenda tanto no Sagrado Evangelho, que, sem ele, diz (Jo 14, 26), não podemos ser discípulos Seus.

Por que, que mais é mister para isso, que saber que este nosso corpo é o maior opositor e inimigo que temos? Inimigo mortal, o maior traidor que jamais se viu, que anda buscando a morte, e morte eterna, a quem lhe dá de comer e tudo de que necessita; que por ter ele um pouco de prazer, não teme em nada ultrajar a Deus e jogar alma e corpo no inferno, para sempre. 

Se dissessem a alguém: "Sabei que um de vossa casa e dos que comem e bebem convosco, vos arma uma traição para matar-vos", que temor teria?

E, se lhe dissessem: "Pois sabei mais, que é tanto o ódio e inimizade que tem convosco, que tragada tem a própria morte em troca de matar-vos; já sabe que logo lhe hão de colher e matar a ele, e, com tudo isso, traz arriscada a vida para conseguir o que quer", como [o que fosse assim avisado] estando a comer e indo a dormir e a todas as horas, temeria e estaria sobressaltado, se havia de vir então [seu inimigo] e dar-lhe um golpe que o matasse!

E, se pudesse descobrir quem é, que ódio lhe conceberia e que vingança faria contra ele!

Pois esse é o nosso corpo, que come e dorme conosco, e sabe muito bem que fazendo mal a nossa alma, o faz também a si mesmo, e que jogando a alma no inferno, há de ir-se para lá com ela, com tudo isso, em troca de sair com seu gosto, atropela tudo e não repara em nada. 

Vede se temos razões de aborrecê-lo!

Quantas vezes vos há posto no inferno esse vosso inimigo?
Quantas vezes vos há feito ofender aquela Infinita Bondade?
De quantos bens espirituais vos há privado?
Quantas vezes põe vossa salvação em perigo a cada hora?

Pois quem não se indignará e tomará uma coragem santa contra quem tantos males lhe há feito e de tantos bens lhe há privado e em tantos perigos lhe põe a cada momento?

Se detestamos ao demônio e lhe temos por capital inimigo pela guerra e dano que que nos faz, maior inimigo é nossa carne, porque ela nos faz mais cruel e mais contínua guerra, e muito pouco poderiam os demônios, se não tivessem por eles esta carne e sensualidade para fazer-nos guerra com ela. 

Isto fazia aos Santos ter este ódio e aborrecimento contra si mesmos; e daí nascia neles um espírito grande de mortificação e penitência para vingar-se de este seu inimigo, e trazê-lo sujeito e rendido, e andar sempre com temor de dar algum contento e conforto a seu corpo, parecendo-lhes que isso era ajudar e dar armas a seu inimigo, com que cobrasse brios e forças para fazer-lhes mal.

Diz Santo Agostinho: "Não ajudemos nem demos forças a nossa carne, para que não faça guerra contra o espírito" (De salutaribus monitis, c. 35), mas procuremos castigá-la e mortificá-la para que não se rebele, porque, como diz o Sábio (Prov 29, 21), "aquele que delicadamente cria a seu servo desde sua primeira idade, depois o achará rebelde e contumaz".

Andavam aqueles santos monges antigos com tão grande cuidado neste exercício, procurando mortificar e diminuir as forças a este inimigo, que quando outros meios não bastavam, realizavam trabalhos corporais muito excessivos para domar e quebrantar seu corpo, como conta Paládio de um monge que era muito fatigado de pensamentos de vaidade e soberba, e não podendo afastá-los de si, resolveu tomar uma pá e passar um grande montão de terra de uma parte a outra.

Perguntavam-lhe: "Que fazeis?"

Respondia: "Atormento e fatigo a quem me fatiga e atormenta; vingo-me de meu inimigo". 

O mesmo se diz de São Macário em sua Vida; e de São Doroteo se conta que fazia grande penitência e afligia muito a seu corpo, e, uma vez, vendo-lhe outro tão torturado, disse-lhe: "Por que atormentas tanto teu corpo?" Respondeu: "Porque me mata ele a mim".

O glorioso São Bernardo, encendido em um ódio e coragem santa contra seu corpo, como contra seu inimigo capital, dizia: "Levante-se Deus em nossa ajuda, e seja destruído este inimigo, menosprezador de Deus, amador do mundo e de si mesmo, servo e escravo do demônio. Por certo, se tendes bom sentir, que digais comigo: Bem merece a morte! morra o traidor! coloquem-no no madeiro, crucifiquem-no!"

Pois com estes brios e zelos temos de andar nós, mortificando nossa carne e sujeitando-a para que não se rebele, e arraste após si o espírito e a razão, e tanto mais que, vencido este inimigo, ficará também o demônio vencido. 

Assim como os demônios nos fazem guerra e nos procuram vencer por meio de nossa carne, assim nós havemos de fazer guerra aos demônios e vencê-los, mortificando-a e contradizendo-a.

Nota isto muito bem Santo Agostinho sobre aquelas palavras do Apóstolo (I Cor 9, 20): "Não luto eu contra o demônio como quem dá golpes no ar e briga com fantasmas, porque isso é inútil, senão que castigo e mortifico minha carne, e procuro trazê-la sujeita e rendida", diz o Santo:

"Pois castigai vossa carne, mortificai vossas paixões e más inclinações, e dessa maneira vencereis os demônios, porque dessa maneira nos ensina o Apóstolo a pelejar com eles".

Quando um capitão que está em fronteira de mouros vai ao rebate, põe na masmorra e deixa preso em ferros o mouro que tem cativo, para que não se levante contra ele e ajude aos inimigos; pois isso é o que nós havemos de fazer, sujeitando e mortificando nossa carne, para que não se faça do bando de nossos inimigos.

(Padre Alonso Rodríguez, S. J., Exercício de Perfeição e Virtudes Cristãs, parte 2, trat. I, cap. IV)

PS.: Agradeço a alma generosa o envio do texto, Deus lhe pague!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 16/02/2012


"Combate animosamente qualquer inclinação que tenhas para a tristeza e, embora te pareça que combates fria e negligentemente não o deixeis de fazer; porque o inimigo, que nos quer dar essa indiferença e tibieza para as boas obras, cessará de nos afligir, vendo que, sendo elas feitas com repugnância, têm tanto mais valor."
(São Francisco de Sales)

PENITÊNCIA OU... PURGATÓRIO!


I. Acerbidade das penas do Purgatório

Ouvindo Santo Agostinho alguns de seu tempo dizer que, se escapassem do inferno, do Purgatório não tinham tanto medo, encheu-se de zelo e lhes fez ver o grande erro em que estavam, pois as penas do Purgatório superam tudo o que há de mais penoso neste mundo.

E com razão, porque o fogo que atormenta as almas do Purgatório é o mesmo que o fogo que atormenta os condenados no inferno, somente com exceção da eternidade.

E assim é que a Santa Igreja não duvida chamar às penas do Purgatório penas infernais [na Liturgia dos defuntos].

O fogo do Purgatório é aceso por um sopro infernal, e é tão ativo que não se chama simplesmente fogo, mas espírito de fogo (Is 4, 4), e derreteria num instante um monte de bronze, mais facilmente que uma de nossas fornalhas devoraria uma palha seca.

Tem ainda este fogo, além da atividade natural, uma potência superior, que lhe dá Deus, para servir de instrumento ao Seu furor (cf. Is 15, 41).

Porém, diz o Senhor pelo profeta Zacarias, que Ele mesmo, mais que o fogo, purgará e limpará a alma eleita, ativando com Seu hálito as suas chamas (cf. Zac 3, 9).

E qual não será o tormento das almas benditas naquele cárcere por meses e anos! Podemos fazer dele uma [longínqua] idéia, considerando que:

a) A alma, assim como é mais nobre que o corpo, é também mais capaz de sentir vivamente, seja a alegria, seja o sofrimento;

b) a alma unida ao corpo, se sente dor, sente-a temperada pelo mesmo corpo, e como que dividida entre ambos, servindo-lhe o corpo de escudo e anteparo da dor. Mas no Purgatório, estando longe do corpo, recebe diretamente sobre si toda a força da dor;

c) a alma unida ao corpo, se sofre no pé ou na mão ferida, não sofre na cabeça ou noutros membros sãos; mas no Purgatório, sendo indivisível e estando separada do corpo, é toda atingida pelas chamas.

Além do fogo, é a alma, no Purgatório, atormentada por si mesma, pensando:

a) Por quão ligeiras faltas está penando: por uma palavra inútil, por um olhar curioso, por uma intenção menos reta, que tão facilmente pudera evitar;

b) que, podendo durante a vida tão facilmente descontar a pena merecida por suas faltas com praticar algumas ações meritórias, não o fez;

c) que, deixando na terra filhos, amigos e herdeiros, que a deviam aliviar naquelas chamas, não o fazem, e só pensam em desfrutar dos bens que lhes deixou (Sl 30, 13). Com quanta razão se lamentará de não ter descontado os seus pecados, dando esmolas, e empregando em obras de caridade os bens que Deus lhe deu e que aumentou com tantos suores?

Sobre tudo isto, acresce o maior tormento do Purgatório, que é a privação da visão de Deus.

São João Crisóstomo disse (Hom. 24 in c. 7 Mat.) que o inferno do inferno é estar o condenado privado para sempre da visão de Deus. Assim também se pode dizer que o Purgatório do Purgatório é estar uma alma por muito tempo longe da visão de Deus.

As almas são, pois, atormentadas por dois verdadeiros e profundíssimos sentimentos: desejo e amor.

O maior tormento de uma alma do Purgatório é desejar ir para Deus, e não poder.

Esta pena é tanto maior, quanto maior é o conhecimento que lá a alma tem de Deus, pois, separada do corpo, conhece mais claramente a suma bondade de Deus, e se sente movida com maior força a ir para Ele, como a pedra para o seu centro.

Por isso, as suas maiores ânsias, no Purgatório, são suspiros pela visão beatífica, de que já sente a aproximação, mas que ainda não pode desfrutar.

Clama ela, como o cego do Evangelho (Lc 18, 41): "Senhor, que eu veja" essa luz da glória; que meus olhos desfrutem já da presença divina!

Para chegar mais depressa à visão de Deus, esta alma preferiria que se lhe duplicasse o tormento do fogo, contanto que findasse o tormento do desejo de ver a Deus.

Conta-se [por exemplo] de Rutília que, sabendo que seu filho fora condenado ao desterro para terras longínquas, se desterrou também, para não padecer, longe dele, o tormento da saudade.

Mas muito maior que o desejo, é o tormento do amor.

Três são os amores que atormentam as almas do Purgatório:

a) O amor natural, pelo qual a alma, por uma inclinação inata, é atraída para Deus como a Seu Criador, seu Princípio e último Fim, com maior ímpeto que a pedra propende para o centro da terra ou a chama para o ar;

b) o amor sobrenatural, pelo qual, [sob a ação da Graça,] é a alma vivíssimamente atraída para Deus como seu sumo, único e eterno Bem;

c) o amor de ardentíssima caridade, por saber que é esposa do divino Cordeiro, Jesus Cristo, destinada ao Reino Celestial, e, no entanto, vê que seu Esposo Divino lhe fecha a porta, e que seu amor é assim frustado.

A todos estes tormentos se deve juntar a duração das penas, por meses, por anos e, talvez, até o fim do mundo.

Quanto se amedronta e aterra um malfeitor, ao ouvir a sentença de ficar por algum tempo encerrado num cárcere escuro ou de por três anos trabalhar nos porões das galés!

Quanto se lamenta um enfermo a quem se avisa de que terá de sofrer por um quarto de hora uma dolorosíssima operação!

E a quem não de gelar o sangue ao pensar que, por seus pecados, há de estar sepultado nas chamas do Purgatório por anos inteiros, e talvez até o dia do Juízo Final?!

Santo Agostinho diz que, no Purgatório, um dia é como mil anos (In Ps 37).

Assim é que a esperança e o desejo de ver a Deus, e de passar de um excessivo tormento a uma indizível alegria, fará parecer uma hora mais longa que um século.

Conta Santo Antonino que um enfermo havia muito tempo que sofria horríveis dores. Apareceu-lhe o seu Anjo da Guarda e lhe propôs, por ordem de Deus, que escolhesse: ou sofrer aquelas dores por mais um ano, ou passar meia hora no Purgatório. O enfermo respondeu que preferiria estar meia hora no Purgatório, pois assim acabava mais depressa de sofrer. Pouco depois expirou, e o Anjo foi visitá-lo no Purgatório. Ao ver o Anjo, a pobre alma começou a soltar gemidos inconsoláveis, dizendo-lhe que a tinha enganado, pois, tendo-lhe assegurado que estaria ali só meia hora, já eram passados vinte anos que estava lá penando. Vinte anos? - replicou o Anjo - não passaram mais que poucos minutos de tua morte, e teu cadáver ainda está quente sobre o leito!

Tanto é verdade que as penas do Purgatório, em certo modo, - sapiunt naturam aeternitatis -, têm um sabor de eternidade, por parecer à imaginação do padecente que uma hora é como um século.

II. Dificuldade em evitar o Purgatório

Um mal qualquer, por maior que seja, se facilmente se pode evitar, não é grande mal; mas um mal grande, que dificilmente se pode evitar, torna-se extremo.

Tal é o Purgatório; pois, como atesta o cardeal e Doutor da Igreja São Roberto Belarmino (De amis. grat., c. 13), até dos homens mais santos e perfeitos, pouquíssimos são os que vão direto ao Paraíso.

O mesmo Santo, estando próximo à morte, recebeu a visita do Geral da Companhia de Jesus, que, sabendo como era santíssima a vida de Belarmino, lhe disse que todos tinham firme esperança de que, depois da morte, ele voaria logo para o Céu. - "Mas não a tenho eu, disse o Santo; eu não tenho essa esperança".

Santa Teresa d'Ávila conta que, sendo-lhe revelado o estado de muitas almas na outra vida, só de três sabia que tivessem ido para o Céu sem passar pelo Purgatório [e uma destas almas era ninguém menos que um São Pedro de Alcântara].

Nem isto nos deve maravilhar. São Bernardo diz (Decl. sup. Ecce nos) que, assim como não há obra boa, por mais pequena que seja, que Deus não remunere largamente, assim não há mal, por mais ligeiro que seja, que Deus não castigue severamente.

Ora, sendo a alma mais justa e santa sujeita a muitas imperfeições, naturalmente está exposta a ir pagar por elas no Purgatório.

Se por um lado não quer Deus que nada impuro entre no Céu, por outro não escapa a Seus olhos a mais ligeira mancha, que nós, muitas vezes, nem chegamos a descobrir.

Por isso diz a Escritura que até nos Anjos encontra Deus que repreender (Job 4, 18), e que os mesmos céus não são puros na Sua presença (Job 15, 15), e que até nas obras dos justos encontra que emendar (Sl 74, 3).

O santo Jó, conhecendo esta minuciosa Justiça de Deus, temia que as suas ações, ainda as mais santas, não Lhe fossem plenamente agradáveis (Job 9, 28).

Oh! Como são terríveis os juízos de Deus, e como são diversos dos d'Ele os juízos dos homens!

O homem não vê senão o que aparece por fora; Deus, porém, penetra o coração (1 Rs 16, 7).

O padre Baltasar Álvarez, da Companhia de Jesus, confessor de Santa Teresa d'Ávila, era, por testemunho de sua Santa penitente, um dos homens mais santos e piedosos de seu tempo. Um dia, ele pediu ao Senhor que lhe revelasse quais eram as suas obras que mais O agradavam. Deus Nosso Senhor ouviu a sua oração, e fez-lhe ver as suas obras no símbolo de um cacho de uvas, em que umas eram verdes, outras amargas, e só duas ou três estavam maduras, e estas ainda não de todo doces ao paladar. "Tais são, disse-lhe o Senhor, as tuas ações; delas só duas ou três são boas, e mesmo nestas, se examinarem com rigor, não lhes faltará que repreender".

Daqui se vê como é severa a Justiça Divina em julgar as ações dos homens, e como é difícil, ao morrer, estar um alma tão purificada, que não fique nada por que satisfazer no Purgatório.

Não faltam exemplos na vida dos Santos que confirmam esta doutrina.

Na vida de São Severino se conta que, enquanto um clérigo passava um rio, apareceu-lhe um sacerdote e, tomando-lhe a mão, a queimou toda, dizendo: Isto sofro no Purgatório por não rezar as Horas canônicas com atenção.

De São Martinho escreve São Gregório Turinense que, orando no sepulcro de sua irmã e recomendando-se a ela como a santa, de repente ela lhe apareceu, vestida do hábito de penitente, com o rosto triste e pálido, e lhe disse que ainda estava no Purgatório, por ter penteado o cabelo na Sexta-Feira Santa, não se lembrando que era o dia da Paixão do Senhor.

A irmã de São Pedro Damião, como ela mesma revelou a uma santa alma, foi condenada a penar dezoito dias no Purgatório, por ter, de sua cela, ouvido curiosamente os cantos e músicas que entoavam debaixo da janela.

São Severino, Arcebispo de Colônia, foi condenado a um gravíssimo Purgatório, por ter recitado as Horas canônicas sem a devida distinção de tempos, apesar de serem muitos os negócios de seu palácio, que parece o desculpariam.

Entremos agora dentro de nós mesmos, e tiremos a conseqüência, que tirou também Santo Antonino depois de contar a seus religiosos semelhantes exemplos: "Tema, pois, cada um de vós, cometer pecados veniais e não se purificar deles nesta vida".

Se Deus é tão severo em punir no Purgatório as menores faltas, e se é tão difícil, mesmo para as almas mais perfeitas, evitá-lo, como é que me atrevo a acumular pecados veniais em minha vida, sem fazer penitência deles?...

E se aqui me parece insuportável uma pequena fagulha, que será sofrer aquele fogo atrocíssimo?...

Por que não procuro depurar as minhas ações de toda impureza, e fazer penitência pelos pecados cometidos?...

Andemos sempre alumiados pelas chamas do Purgatório, para evitarmos, com a perfeição de nossas obras, cair naqueles horríveis tormentos (Is 40, 11).

III. Como devemos evitar o Purgatório

É verdade de Fé que ninguém entra no Céu sem estar de todo purificado (Apoc 21, 17), e sem primeiro ter satisfeito todas as suas dívidas à divina Justiça (Mt 5, 26).

Deste modo, ou havemos de punir em nós mesmos, nesta vida, os nossos pecados, ou então Deus se encarregará de os castigar depois da nossa morte. Não há como escapar, diz Santo Agostinho (Conc. 1 in Ps 58).

Quem, na vida, não apaga os pecados com as lágrimas da penitência, depois da morte se purificará deles com as chamas do Purgatório. Ora, não é melhor lavar os pecados com água do que com fogo?

Na vida, com um dia de penitência, e até com uma hora, podemos satisfazer por nossos pecados o que no Purgatório nem por um ano expiaríamos.

Ora, não é melhor padecer por um pouco, neste mundo, que padecer no outro por longo tempo, que pode ser até o dia do Juízo?

Ajuntemos que a penitência feita em vida é meritória, e depois da morte nada merece. Ainda que penemos por mil anos no Purgatório, não adquiriremos um novo grau de graça, nem um novo grau de glória no Céu.

E não é mais sensato sofrer pouco e por pouco tempo, e com mérito, do que sofrer muito e por muito tempo, e sem mérito nenhum?

Finalmente, a Divina Justiça fica mais satisfeita com a penitência, ainda que pequena, feita nesta vida, do que com a pena, ainda que maior, tolerada depois da morte; porque a primeira é um sacrifício voluntário e uma pena tomada espontaneamente, ou espontaneamente aceita, ao passo que a segunda é um sacrifício forçado, e uma pena tolerada por necessidade e contra vontade.

Por todas estas razões se vê claramente quanto importa descontar, nesta vida, as penas que devemos a Deus por nossos pecados, pela enorme vantagem de nos livrarmos, desta maneira, dos males do Purgatório.

Frutos:

Consideremos os frutos que devemos tirar desta doutrina, para nos resolvermos a evitar o Purgatório, usando de todos os meios que a isto nos possam ajudar.

O primeiro é fazermos agora, por nós mesmos, penitência dos nossos pecados, e praticar boas obras o mais que pudermos, e não pôr a nossa esperança em sufrágios futuros. E isto devemos fazer sem demora, antes que sejamos assaltados por algum acidente (Gál 6, 10).

O segundo é pôr todo o cuidado em ganhar as santas indulgências, com as quais satisfaremos por nossos pecados com a satisfação e méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O terceiro, finalmente, é usar de piedade com as almas do Purgatório, ajudando-as com os nossos sufrágios, obras e orações, porque Deus disporá que aquela caridade que usamos com os outros seja também usada conosco (Mt 7, 2).

Depois essas almas, quando estiverem no Céu, serão gratíssimas para conosco, obtendo-nos muitas graças de Deus.

Feliz de quem salvou uma alma do Purgatório com seus sufrágios, porque terá diante de Deus quem interceda por ele, quando também estiver penando naquele lugar!

Conta Bernardino de Bustis que morreu um pai, e com seus bens deixou um filho riquíssimo. Este ingrato filho não pensou mais em quem tanto o tinha beneficiado, pois nunca mandou sufragar a alma de seu pai, que ardia no Purgatório. Ora, que aconteceu? Ainda que os seus capitais fossem avultadíssimos, contudo estava sempre em penúria. Contínuas tempestades lhe destruíam as plantações, males imprevistos dizimavam-lhe os rebanhos, incêndios e desastres arruinavam-lhe a casa. Já os pleitos, já o fisco, já os inimigos o obrigavam a gastos desmedidos. Um dia, encontrando-se com um servo de Deus, pediu-lhe que o recomendasse em suas orações. Fê-lo o santo varão, a quem foi revelado que aquele filho ingrato não podia desfrutar dos bens herdados, porque tinha o pai no Purgatório, que o amaldiçoava, e as suas maldições eram aceitas da Divina Justiça pela sua perversa ingratidão.

Façamos bem aos nossos defuntos, que o mesmo farão conosco (Ecli 12, 2).

Imaginemos que Jesus Cristo diz a cada um de nós a respeito dos nossos defuntos, o que disse a respeito de Lázaro: "Desatai-o e deixai-o ir" (Jo 11, 44).

+ + +

(Padre Alexandrino Monteiro S. J., Exercícios de Santo Inácio de Loyola, II Edição, Editora Vozes, Petrópolis: 1959, páginas 80-90).

PS.: Grifos meus, agradeço a alma generosa que me enviou o texto, Deus lhe pague!

A SANTIFICAÇÃO DA JUVENTUDE


Dois são os lugares que nos estão preparados na outra vida: um inferno em que se padece todo gênero de males; um Paraíso onde se desfruta de todos os bens. O Senhor, porém, vos adverte, que se principiardes a ser bons desde a vossa infância, continuareis a sê-lo durante toda a vossa vida, que terá por coroa uma felicidade cheios de glória. Pelo contrário, a vida má, principiada na mocidade, em geral continua assim até a morte, e vos há de conduzir inevitavelmente ao inferno. 

Por conseguinte, quando virdes homens de idade avançada entregues aos vícios da embriagues, do jogo, das blasfêmias, podeis geralmente dizer: estes vícios principiaram na mocidade. “Adolescens juxta viam suam, etiam cum senuerit non recedet ab ea”. – Ah! Filho meu, diz o Senhor, recorda-te do teu Criador no tempo da tua juventude!” 

E em uma outra passagem da Sagradas Escrituras, Deus chama bem-aventurado o homem que desde a sua adolescência começou a observar os Mandamentos: “Beatus homo cum portaverit jugum ab adoslencentia sua”. Esta verdade foi bem conhecida pelos santos, especialmente por Santa Rosa de Lima e São Luís Gonzaga, os quais desde a idade de cinco anos começando a servir ao Senhor com todo o fervor, depois de adultos não achavam gosto senão nas coisas de Deus, e tornaram-se assim grandes santos. O mesmo podemos dizer do filho de Tobias, o qual logo desde menino começou a ser muito obediente e em tudo submisso à vontade de seus pais, continuando até depois do falecimento dos mesmos e até à morte a viver sempre praticando a virtude. 

Mas, dirão alguns, se começarmos desde já a servir ao Senhor, levaremos uma vida cheia de melancolia e tristeza. Não é assim: melancólico e triste vive aquele que serve ao demônio, pois, conquanto se esforce por mostrar-se alegre, sentirá todavia o coração cheio de angústia , e ouvirá em seu interior uma voz que lhe dirá: “És um desgraçado, pois és um inimigo de Deus”. Quem mais afável e jovial do que São Luís Gonzaga? Quem mais ameno e alegre que São Filipe Néri e que São Vicente de Paulo? E, entretanto, a vida de ambos foi um exercício contínuo das maiores virtudes. 

Coragem, pois, caríssimos filhos, entregai-vos logo cedo à prática da virtude, e eu vos assevero que tereis sempre o coração alegre e contente, e conhecereis quanto é doce e suave servir ao Senhor. 

(São João Bosco, O Jovem Instruído, citado em "Ao Coração da Mocidade", Tipografia Salesiana, São Paulo: 1895, p. 6-7)

PS.: Grifos meus, agradeço a alma generosa que me enviou o texto, Deus lhe pague!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Oração Sublime

Vigésima-Sexta Rosa 


“Evite cuidadosamente fazer o que certa piedosa mas voluntariosa senhora de Roma fez. Era uma pessoa tão piedosa e fervorosa que com sua vida santa confundiu os religiosos mais austeros da Igreja de Deus.

Ao pedir a São Domingos que lhe aconselhasse sobre sua vida espiritual ela pediu-lhe que a ouvisse em confissão. Por penitência, ele lhe mandou que rezasse um Rosário completo e aconselhou-a que o rezasse diariamente. Ela disse que não tinha tempo para rezá-lo, desculpando-se e dizendo que tinha que fazer as Estações de Roma [trata-se de uma devoção da Igreja Primitiva; consiste-se em visitar certas igrejas estacionárias em Roma e rezar certas orações prescritas em cada uma delas. Esta prática tinha cunho penitente – “Encyclopaedia Catholica”] todo dia, que vestia roupas de sacas, camisas de cilício, que tomava disciplina sobre si várias vezes por semana, que tinha tantas outras penitências e que jejuava bastante. São Domingos aconselhou-a novamente e várias outras vezes a seguir seu conselho e rezar o Rosário, mas ela continuava a recusar. Ela saiu do confessionário, horrorizada pela tática de seu novo diretor espiritual, que arduamente lhe persuadia a seguir a devoção que não era de seu agrado. 

Mais tarde, quando ela estava orando, caiu em êxtase, e viu sua alma se apresentando diante do Trono do Julgamento de Nosso Senhor. São Miguel pôs todas as suas penitências e outras orações em um dos pratos da balança e todos os seus pecados e imperfeições no outro. O prato das boas obras ficou grandemente suspenso sem conseguir se equilibrar ao outro dos pecados e imperfeições. 

Cheia de espanto ela chamou por misericórdia, implorando o auxílio da Santíssima Virgem, sua graciosa Advogada, que pegou o único Rosário que ela tinha rezado por aquela penitência e o pôs no prato das boas obras. Só este único Rosário era tão pesado que pesava mais que todos seus pecados e também suas boas obras. Nossa Senhora, então, repreendeu-a por não ter seguido o conselho de Seu servo Domingos e por não ter rezado o Rosário diariamente. 

Logo que voltou a si, correu e se pôs aos pés de São Domingos e lhe disse o acontecera, implorou seu perdão por não ter acreditado e prometeu rezar o Rosário fielmente todos os dias. Por este meio ela se elevou à perfeição cristã e finalmente à glória da vida eterna (...)”. 

(O Segredo do Rosário, por São Luis Maria Grignion de Montfort. Pgs. 75 e 76).

PS.: Agradeço uma alma generosa (amiga) pelo envio do texto. Deus lhe pague.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 14/02/2012


"Eis o que havemos de ser para nos prepararmos para ser oferecidos por Maria no templo: fiéis, tranquilos, simples, confiantes, cegos como se fica com o excesso de luz. Ela, então, pegará em nós. Cada uma das nossas ações oferecidas por Ela ao Pai terá um valor infinito. Já não há pequenas coisas para uma alma assim abandonada: cortar o pão, descansar as batatas, lavar as escadas, entoar uma canção, tudo é imenso porque está nas mãos de Maria."
(Um cartuxo anônimo)

Belíssimo texto de São Bernardo sobre a Santíssima Virgem


“Ó tu, quem quer que sejas, que te sentes longe da terra firme, arrastado pelas ondas deste mundo, no meio das borrascas e tempestades, se não queres soçobrar, não tires os olhos da luz desta estrela.
Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria.
Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria.
Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria.
Se, perturbado pela lembrança da enormidade de teus crimes, confuso à vista das torpezas de tua consciência, aterrorizado pelo medo do Juízo, começas a te deixar arrastar pelo turbilhão da tristeza, a despenhar no abismo do desespero, pensa em Maria.
Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria.
Que Seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dEla, não negligencieis os exemplos de Sua vida.
Seguindo-A, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando nEla, evitarás todo erro.
Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim.
E assim verificarás, por tua própria experiência, com quanta razão foi dito: 'E o nome da Virgem era Maria'”.
(São Bernardo – Super Missus, 2ª homilia/17)
PS.: Agradeço a alma generosa (amiga) o envio do texto. Deus lhe pague!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 13/02/2012


"Em tempos de tristeza e inquietação, não abandones nem as boas obras de oração, nem a penitência, a que estás habituado. Antes, intensifica-ás. E verás com que prontidão o Senhor te sustentará!".
(Santa Teresa d'Ávila)

Caridade Fraterna - Última parte (Padre Álvaro Negromonte)

PECADOS CONTRA A CARIDADE


Assim como todo pecado é contrário ao amor de Deus, podemos também dizer que todo pecado contra o próximo viola a caridade fraterna. Mas há pecados que se orientam contra o amor do próximo, ferindo-o diretamente.

Os pecados de omissão, além, de muito freqüentes, podem ser tão graves que levam até ao inferno, segundo as palavras de Jesus (Mt. 25, 42-43) e a condenação do rico avarento. Há outros pecados que estudaremos agora, com a preocupação de evitá-los, a fim de nos mantermos no amor do próximo, que é dos sinais de que vivemos na graça divina.

            I. Ódio

1. Amar é querer o bem para o próximo. Odiar é querer o mal.

2. É diferente o sentimento que experimentamos contra os defeitos do próximo. “Amai os homens, e combatei os seus erros”. Mas esta detestação dos defeitos não atinge as pessoas.

3. Não é ódio a antipatia natural que nos causam algumas pessoas, ou mesmo o transtorno sensível que nos inspiram pessoas cuja presença nos lembra desgostos ou males que por sua causa padecemos. São movimentos instintivos, que não constituem pecado, embora os devamos refrear por serem um perigo para a caridade.

4. O ódio, em si, é pecado mortal, pois inverte totalmente a ordem estabelecida por Deus. “Quem odeia a seu irmão é homicida, e sabeis que nenhum homicida possui em si a vida eterna.” (Jo. 3, 15).

5. Constitui também uma verdadeira fonte de pecado: falseia a verdade, ora aumentando os defeitos reais, ora inventando-os; viola a justiça, negando ao próximo o que lhe é devido; favorece a calúnia, estimula à maledicência; levanta iras; fomenta rixas; estabelece discórdias entre famílias inteiras, passando, às vezes, de geração em geração; leva até ao homicídio.

II. Inveja

1. A inveja é a tristeza que se sente por causa dos bens do próximo. Toma-se a felicidade alheia como uma diminuição da própria. Daí o desejo de diminuí-la ou destruí-la, fazendo o mal ao próximo.

2. Quando o bem do próximo nos estimula, e nós queremos atingi-lo também, mas sem prejuízo a ninguém, não é inveja que sentimos. É uma legítima emulação, que leva à imitação das virtudes, muito natural, recomendada por São Paulo (Hb. 10, 24), aconselhada pela Igreja ao nos apresentar os exemplos dos santos, intimada pelo próprio Cristo, que se apresentou como nosso modelo (Mt. 11, 29).

3. Em si, é a inveja um pecado mortal, porque transtorna inteiramente a ordem da caridade, que é nos alegrarmos dos bens alheios.

4. Lamentavelmente são também as conseqüências da inveja.

Para diminuir o próximo, desacredita-o com maledicências e calúnias, praticando injustiças, fomentando discórdias, criando inimizades, dividindo famílias, perturbando a paz, impedindo o bem pela desunião dos bons (entre católicos). Foi a inveja que cometeu o primeiro crime do mundo (Caim: Gn. 4, 8), vendeu o irmão como escravo (José: Gn. 37, 28), inspirou a Saul a morte de Davi (1 Reg. 19, 8-10), consumou a morte do próprio Filho de Deus: “Porque sabia que o tinham entregado por inveja” (Mt. 27, 18).

            III. Vingança

1. Condenada por Cristo: “Não pagueis o mal com o mal” (Mt. 5, 31), a vingança é um pecado que revela maus sentimentos e baixeza moral.

2. O verdadeiro cristão sabe perdoar as injúrias que recebe. “Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos”. A parábola dos dois devedores (Mt. 18, 21-35) mostra como serão tratados os que não querem perdoar.

            IV. Escândalo

1. Escândalo (no grego significa tropeço) é uma palavra, ação ou omissão que dá ao próximo ocasião de pecado.

2. Se a pessoa faz isto com a intenção de levar o próximo ao pecado, sua falta é muito grave, mais grave do que o homicídio, porque mata a alma.

“Ai daquele homem por quem vier o escândalo. Melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o atirassem ao fundo do mar” (Mt. 18, 7).

3. Quem dá um escândalo fica responsável por todos os pecados que se cometem por sua causa. Ainda hoje proliferam escândalos dados há séculos. (Dar exemplos históricos).

4. Um bom cristão evitará mesmo algumas ações, que são boas mas possam escandalizar o próximo. É que a caridade obriga a evitar a ruína espiritual do próximo.

Para viver a doutrina

1. Tratemos com caridade as pessoas antipáticas, e estaremos praticando a caridade, melhor do que se as simpatizássemos.

2. Evitemos as pessoas cuja amizade não nos convém, cuja convivência nos é prejudicial. Isto não é inimizade, é prudência.

3. Pessoas elevadas gostam de ver a prosperidade alheia, e de ajudar o próximo em suas dificuldades. Dá mostra de nobreza quem se alegra com as boas notas dos colegas, a fortuna dos amigos, a prosperidade dos outros.

4. Em geral, é nossa ambição, vaidade, excessivo amor-próprio, desejo de louvor, etc., a verdadeira causa da inveja. Sofreássemos as paixões, moderando-nos, e sentiríamos o direito que têm os outros de ser felizes. E seríamos nós muito mais felizes. Porque o invejoso é realmente infeliz: sofre de sua própria desgraça e da felicidade dos outros...

5. Acostumemo-nos a perdoar o que sofremos. O perdão é o melhor sinal de que amamos a Deus no próximo. Ordena Jesus que nos reconciliemos sem demora. (Mt. 5, 25). O perdão eleva os homens como elevou a José diante dos próprios irmãos que o venderam.

6. Levando uma boa vida cristã, evitarei facilmente qualquer escândalo ao próximo. E nisto eu serei bastante cuidadoso, porque o mau exemplo de um católico recai também sobre a Igreja, que os ímpios freqüentemente acusam por causa dos erros individuais. Brilhem nossas boas obras diante dos homens para que Deus seja por todos glorificado (Mt. 5, 16).

7. Entre os jovens são, infelizmente, muito comuns conversas, cantigas e anedotas más, fonte, quase sempre, de graves ruínas. Não somente devemos evitá-las, mas impedir que outros as tenham. Às vezes, uma atitude séria basta. Outras vezes, é preciso dizer expressamente nosso desagrado, ou mesmo retirar-nos – sem nenhum receio de desagradar.

8. Pior que Herodes, o matador dos inocentes, é quem escandaliza as crianças, porque lhes tira a vida sobrenatural. No entanto, por minhas palavras, meu procedimento, eu posso em casa, no colégio ou na sociedade, escandalizar meus irmãos menores ou outras crianças. (De que maneira?). Muito cuidado, pois.

9. Para quem ama a Deus e quer a salvação do próximo, não escandalizar é pouco. Mesmo o apostolado do bom exemplo não basta. Desenvolverei um apostolado mais ativo, no meio em que vivo, a fim de afastar meus companheiros do pecado e conseguir que permaneçam no estado de graça. (Como há de ser este apostolado?).

(O Caminho da Vida, pelo Pe. Alvaro Negromonte. 15ª edição. Pgs. 212-217).

PS.: Agradeço a alma generosa (amiga) pelo envio do texto, Deus lhe pague.
PS.2: Ver as demais partes aqui:

Os Sete Santos fundadores dos Servitas da B.V.M, Confessores

Nota do blogue: Texto retirado do blogue Escravas de Maria.
“Eis os Servos de Maria!”


Nos princípios do século 13 viviam em Florença sete fidalgos, igualmente distintos pela riqueza, pela posição social e pela piedade, mas principalmente pela devoção extraordinária que tinham a Nossa Senhora. Seus nomes eram: Bonfílio Monáldio, Bonajuncta, Manetto Antellense, Amidéo, Ugúccio, Sosteneo e Aleixo. 

O povo italiano, devido a uma política mal orientada, achava-se dividido em muitos partidos que se odiavam e se perseguiam. Destes sete nobres cidadãos, Deus se serviu para, no meio de uma sociedade dilacerada pelo fanatismo e pelo ódio, estabelecer exemplos vivos de caridade e verdadeira fraternidade. Quando, no dia 15 de agosto de 1233 todos se achavam reunidos em fervorosas orações, a cada um Maria Santíssima apareceu exortando-os a abraçarem um gênero de vida mais perfeito. Fizeram comunicação disto ao Bispo. Trocaram sua vestimenta de nobres com um hábito pobre, usando ainda um cilício por cima e foram residir numa casa de campo, formando assim uma santa comunidade. Escolheram para este seu passo o dia da natividade de Maria Santíssima. Pouco tempo passara, o povo florentino viu-se diante o espetáculo de ver estes mesmos homens andar de porta em porta pedir esmolas. A atitude dos homens, de fidalgos que ontem foram, se transformar em mendigos, causou sensação. Censurados por uns, ridicularizados por outros, pela maioria porém admirados e reverenciados, tiveram uma prova da beneplacência Divina, quando inesperadamente, com estupefação de todos que presenciaram a cena, vozes de crianças os aclamaram, dizendo: “Eis os Servos de Maria!” Entre estas crianças se achava São Felipe Benício. O nome que as crianças, por inspiração divina lhes deram, lhes ficou para sempre. 

Como a sua residência se tornasse alvo de verdadeiras romarias e assim não pudessem levar a vida de solidão, de penitência, oração e meditação que a Deus tinham prometido, retiraram-se para o monte Senário, quatro léguas distante de Florença. No ermo daquela região se entregaram aos exercícios da mais rigorosa penitência e por assunto quase único e predileto das suas meditações tomaram a Paixão de Nosso Senhor e as Dores de sua Mãe Santíssima. 

À Santa Sé pediram, se dignasse dar-lhes uma Regra escrita. Em fervorosas orações se dirigiram a Jesus e Maria recomendando à sua Providência e ao amor esta importante causa. Foram atendidos de uma maneira maravilhosamente encantadora. Na madrugada de 28 de fevereiro de 1239 – que era a terceiro Domingo da quaresma, apresentou-se-lhes a sua vinha, havia pouco plantada, em toda pujança, toda verde, as parreiras carregadas de cachos de uvas maduras, quando os campos e as montanhas da redondeza se achavam cobertas de gelo e neve. Sua admiração diante deste milagre cresceu ainda, quando o Bispo, a quem relataram o fenômeno lhes disse que ele, na mesma noite em sonho tinha visto uma parreira viçosa com sete galhos, cada um trazendo sete cachos; e a Maria ouvira dizer que esta parreira iria crescer ainda. A interpretação que o Prelado deu a este seu extraordinário sonho, foi, ser da vontade de Deus e de Nossa Senhora, a Ordem se estender, e os “Servos de Maria” não continuar na atitude de negar admissão, a quem se lhes quisesse associar. Os santos homens prometeram se conformar com este alvitre e aceitar candidatos. 

Na noite de Sexta-feira Santa viram-se diante de um outro milagre. Maria Santíssima apareceu aos seus Servos, vestida de pesado luto. Em sua companhia viram anjos, dos quais alguns com instrumentos martirizantes da Sagrada Paixão e Morte de Jesus, outro com o livro aberto da Regra de Santo Agostinho, e ainda outro com o título escrito em ouro: “Servos de Maria”. Seguiam mais anjos trazendo um hábito preto e uma palma. O hábito com a palma, Maria deu-os aos Religiosos, dizendo estas palavras: “Escolhi-vos meus Servos, para que, usando do meu nome, vades trabalhar na Vinha de meu Filho. Eis aqui o hábito, que vos dou. Sua cor negra vos lembrará as dores que hoje sofri ao pé da Cruz, assistindo a agonia de meu Filho, Jesus. A Regra de Santo Agostinho recebei-a por norma da vossa vida; a palma far-vos-á lembrar a glória eterna, prêmio da perseverança fiel no meu serviço”. Maria também apareceu ao Bispo e ordem lhe deu, para proceder a solene vestição do hábito preto aos seus Servos. Esta se realizou logo no dia da páscoa. O Papa Inocêncio IV em 1251 deu a aprovação eclesiástica à Ordem dos Servitas. Esta rapidamente se desenvolveu. Setenta anos depois de sua fundação contava já 10.000 Religiosos em diversos estados da Europa. No Brasil se estabeleceu em 1920.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 12/02/2012


"Ponhamo-nos de olhos fechados entre as mãos da Virgem Santíssima para que Ela cuide de nós e nos ofereça a Deus. Estamos porventura num estado de alegria e doçura espiritual? Fechemos os olhos e finjamos ignorá-lo na nossa conduta. Estamos num estado de tristeza e de lassidão? Fechemo-los também e saibamos abandonar-nos. Que nos seja indiferente saber se somos apreciados ou não; isso não preocupa a alma lucidamente abandonada. Nenhum juízo devemos fazer sobre as perfeições dos nossos irmãos: outra coisa que será bom abandonarmos a Maria. Àquele que se abandona deste modo, posso garantir que a Virgem não tardará em tomá-lo nos Seus braços e em o elevar até ao Pai... Toda a arte de passar deste mundo para Deus se resume em fechar os olhos e entregar o leme a Maria."
(Por um cartuxo anônimo)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 11/02/2012


"Uma alma transformada em Cristo é obediente: a sua submissão ao Pai é espontânea como as pulsações do coração. Segue os impulsos divinos sem desvio e sem cálculo, com um movimento tão direto e tão pronto que o mundo se espanta; porque os caminhos do mundo são tortuosos e os passos da prudência humana são incertos. Mas aquele que vive na humildade perfeita, é perfeitamente dúctil sob a inspiração misteriosa do Espírito. 'Aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.'"
(Por um cartuxo anônimo)