quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Emancipação feminista por Engels

Emancipação feminista por Engels


"A emancipação da mulher só se torna possível quando ela pode participar em grande escala, em escala social, da produção, e quando o trabalho doméstico lhe toma apenas um tempo insignificante. Esta condição só pode ser alcançada com a grande indústria moderna, que não apenas permite o trabalho da mulher em grande escala, mas até o exige, e tende cada vez mais a transformar o trabalho doméstico privado em uma indústria pública."

(Engels - Origem da Família, da propriedade privada e do Estado - pág. 58)

PS: Grifos meus.

Sofrimento e a família!

Sofrimento e a família!


Era simplesmente magistral aquela professora no seu papel de educadora. Amor e dedicação acendrados dedicavam-lhes os alunos. Muita alegria colheu no seu magistério. Um dia, porém, adoece, indo parar nunca cadeira de rodas, com dores contínuas. Ao lado dessas sentavam-se também muita paciência e muita alegria.

Anualmente era peregrina de Lourdes, tornando-se figura proverbial para os padroeiros da gruta. Admiravam-se da teimosia da professora, sempre fracassada nos seus pedidos. Nunca recebia a saúde. É que ignoravam um segredo. Aquela doente rezava diferente. Não pedia a saúde. Pedia à Mãe de Deus que a não curasse. Queria sofrer pelas intenções apostólicas de seu amor cristão.

Veja a prezada família até aonde chegam os clarões da fé! Nossa paciente enxergava horizontes ocultos a muitos outros cristãos. Via e apalpava o valor do sofrimento. Por isso pedia a continuação de sua doença.

Os lares que me (lêem) tirem daí umas conclusões. Não digo que devam imitar a oração dessa professora. Mas copiem-lhe a visão cristã, valorizada, do sofrimento. Há nele um fator de salvação e de pedagogia insubstituível. Pesa na balança muito mais do que capital e juros, do que imóveis e terras. É paganismo receber uma família os sofrimentos com pedras na mão. Digo com reclamações, com interpelações dirigidas a Deus. Pior ainda quando no caso abandona a religião.

É visível que sua religiosidade era interesseira, como a dos judeus no Velho Testamento. Por causa da saúde dos filhos, das farturas em colheitas do campo e do pomar, da paz em suas propriedades, adoravam a Deus. É praticada só para receber de Deus como prêmio neste mundo a saúde, a ausência de sofrimentos físicos e morais.

Para os filhos o modo de aceitar os sofrimentos na família é lição de primeira grandeza. Grava-se em suas almas. Amanhã a dor achará o endereço deles, morem onde morarem. Tiveram diante de si uma atitude cristã mostrada pelos pais? Ei-los imitando o que viram. Viram o contrário? Irão copiar as atitudes pagãs e demolidoras.

Um lar cristão tem de acertar essa atitude correta. Deus não criou seus filhos para o sofrimento. Permite-o para maiores méritos na eternidade. O pecado trouxe a dor, mas a graça valoriza-a, suaviza-a. Há valores expiatórios e redentores neles. Se fracassam os meios humanos e lícitos para mitigar a dor, resta aceitá-la cristãmente. Entre ela e a coroa do céu não há proporção.

(Mundos entre berços, do Pe. Geraldo Pires de Souza)

PS: Grifos meus.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Meditação da quarta-feira (Sobre a Paixão de Nosso Senhor)

MEDITAÇÃO DA QUARTA-FEIRA


JESUS AÇOITADO

1- Considera como Pilatos vendo que os judeus não desistiam de pedir a morte de Jesus, O mandou açoitar, pensando o injusto juiz, que desta arte se dariam por satisfeitos os seus inimigos, e assim poderia livra-lO da morte; tornou-se, porém excessivamente doloroso para o Salvador este recurso; porquanto, conhecendo os judeus que Pilatos, depois daquele suplício, queria pô-lO em liberdade, peitaram os verdugos para O açoitarem até Lhe tirarem a vida naquele tormento.

Entra alma minha, no Pretório de Pilatos, convertido em teatro das dores e ignominias do Redentor, e vê como Jesus Se despi a Si próprio, e Se abraça à coluna, segundo as revelações de Santa Brígida, dando assim aos homens uma prova evidente do Seu amor e da generosidade com que Se entregava aos tormentos.

Contempla aquele inocente Cordeiro, com a cabeça pendida, o rosto coberto de pejo, esperando o princípio daquele cruel martírio; e eis que aqueles bárbaros dão começo ao tormento; uns dão começo ao tormento; uns O açoitam pelas espáduas, outros pelo peito, estes dos lados, não Lhe poupam nem a Sua sagrada cabeça, nem o rosto formoso; espadana já o sangue; estão ensangüentados os açoites, a mãos dos verdugos, a coluna e o chão; não fica são parte alguma do Seu corpo adorável; que as chagas unem-se umas às outras, e aquelas carnes sacrossantas ficam todas despedaçadas.

E como tens tu podido, alma minha, ofender um Deus açoitado por teu amor?
E Vós, ó Meu Jesus, como pudestes consentir em sofrer tanto por um ingrato?

Ó chagas preciosíssimas do meu Jesus, sois Vós a minha esperança!
Ó meu Jesus, sois Vós o único amor de minha alma.

2 - Segundo a revelação que teve Santa Maria Madalena de Pazzi, chegaram a sessenta os verdugos, que se iam substituindo uns aos outros. Os instrumentos escolhidos para esta flagelação foram os mais cruéis, de modo que cada golpe produzia a sua chaga, e os golpes contaram-se por muitos milhares, ficando em alguns pontos os ossos descarnados, segundo revelações, feitas a Santa Brígida.

Em tão lastimável estado ficou o Senhor, que Pilatos julgou, poder excitar a compaixão os seus próprios inimigos, quando lh'O apresentou dizendo: Ecce homo. E o profeta Isaías predisse com bem exatidão o estado lastimoso a que devia ser reduzido o Salvador neste passo, dizendo, como Suas carnes haviam de ser despedaçadas, e o Seu corpo bendito de ficar como o dum leproso, todo coberto de chagas.

Dou-Vos graças, ó meu Deus e meu Jesus, por tanto amor, e detesto os meus criminosos prazeres, que tanto Vos custaram. Fazei que me lembre frequentemente do Vosso amor para comigo, para Vos amar e nunca mais Vos tornar a ofender. Eu mereceria um inferno especial, se depois de conhecer o Vosso amor, de ser tantas vezes perdoado, Vos tornasse a ofender, e de novo me condenasse! Não: não o permitais, ó meu amado Jesus. Que eu Vos ame com todas as véras do meu coração e quero amar-Vos sempre.

3 - Considera que foi para satisfazer pelas nossas culpas, especialmente pelas da impureza, que o Salvador quis padecer tamanhos tormentos em Seu corpo inocente, como claramente o anunciou o profeta, dizendo:

"Foi ferido por causa das nossas iniquidades."

E, crendo, nesta verdade, podes tu, alma minha, pertencer ao número desses ingratos que vêem com indiferença um Deus açoitado por seu amor? Pondera bem esta dor, e mais ainda o amor com que o vosso doce Jesus, sofreu tanto por ti. Se houvera recebido um só golpe, devera bastar para te abrasares no seu amor, considerando, e exclamando: "Haver um Deus recebido semelhante afronta por meu amor!" Quanto mais tendo Ele sofrido tratos tão cruéis em Seu Corpo sacrossanto?

Oh! meu Jesus e meu Senhor! Fomos nós que ofendemos a Divina Majestade, e sois Vós que quereis sofrer o castigo dos nossos pecados! seja para sempre bendita a Vossa misericórdia e bondade! Que seria de mim, se Vós não houvésseis satisfeito esta dívida? Eu bem sei que, pecando, deitei ao desprezo o Vosso amor; agora, porém, só desejo amor-Vos e ser de Vós amado.

Vós declarastes, Senhor, amar os que Vos amam; pois eu vos amo com toda a minha alma de todo o meu coração; tornai-me menos indigno do Vosso amor. Ligai-me indissoluvelmente com esse amor, e não permitais que eu me separe outra  vez de Vós. Eu me entrego nas Vossas mãos; castigai-me como quiserdes, contanto que não me priveis do Vosso amor. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

(Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)

PS: Grifos meus.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Meditação da terça-feira (Sobre a Paixão de Nosso Senhor)

MEDITAÇÃO DA TERÇA-FEIRA
A PRISÃO DE JESUS


1- Considera como, chegado Judas ao Horto, e tendo dado em seu divino Mestre, o pérfido ósculo, sinal da sua traição, aquela soldadesca insolente que fora prender a Jesus, se lançou sobre Ele, atacando-O como um malfeitor! Um Deus preso! E por amor de Suas próprias criaturas!

Ó Anjos dos Céu e homens da terra, que dizeis vós a semelhante espetáculo?! E por que é que Vos deixais prender, ó meu Jesus?

"Ó Rei dos Reis, exclama, banhado em pranto, São Bernardo, que relação têm conVosco estas cordas, próprias só para criminosos? E, se os homens ousam atar-Vos com elas, Vós que sois todo poderoso, por que não desatais os seus laços? Por que Vos não livrais dos cruéis tormentos que Vos preparam os malvados? Não; não, são esses bárbaros quem Vos subjuga, mas o amor que nos tendes: ele é que Vos prende, que Vos ata, que Vos prende, que Vos condena à morte"

"Olhai, cristãos, diz São Boaventura, olhai como aqueles cães raivosos maltratam a Jesus: este O agarra, aquele O empurra, este outro O está atando, em quanto aquele outro O fere e espanca: e Jesus, vede, qual manso cordeiro, não opõe a mínima resistência, deixa-se conduzir ao sacrifício. E vós, discípulos covardes que fazeis? porque não acudis a libertá-lO das mãos dos Seus inimigos? Porque O não acompanhais ao menos para defender a Sua inocência na presença dos juízes? Ao contrário, ao vê-lO preso e atado, os discípulos fogem e O abandonam."

Ó Jesus meu, quem, tomará a Vossa defesa, se os Vossos próprios apóstolos Vos abandonam? E o pior é que esta injúria não terminou com a Vossa Paixão: não; quantas almas há ali que, havendo-se consagrado ao Vosso serviço, e tendo recebido de Vós muitos favores especialíssimos, por um interesse mesquinho, por um vil respeito humano, ou por um deleite imundo e degradante Vos abandonam? Ai de mim! pois também eu tenho sido do número desses ingratos. Perdoai-me, ó meu Jesus; que eu não quero mais apartar-me de Vós: amo-Vos sobre todas as coisas e antes quero perder a vida do que a Vossa graça.

2 - Preso assim Jesus, e levado perante Caifás, Lhe perguntou este pelos seus discípulos e pela sua doutrina. O Salvador respondeu-lhe, - que sempre havia falado em público e nunca a ocultas; que todos os que ali estavam sabiam o que Ele tinha ensinado; a esta resposta, um daqueles ministros atrevidos, tratando-O de insolente e temerário, descarrega-Lhe na face uma tremenda bofetada, dizendo: "Assim respondes ao Pontífice!" Oh! paciência infinita do meu Jesus! Pois que! uma resposta tão ajustada, tão pacífica, mereceria tão grave afronta? e diante de tanta gente? e do mesmo Pontífice, que em vez de repreender aquele ousado, mostrou com o seu silêncio aprovar o desacato?

Em seguida o iníquo Pontífice perguntou a Jesus, se na verdade era Ele o Filho de Deus, e tendo-lhe tornado o Senhor, que sim, Caifás rasga as suas vestes, e declara a Jesus blasfemo; e todos proclamam - "É réu de morte."

Sim, ó meu amado Salvador; réu de morte sois, porque Vos obrigastes a satisfazer por mim, que sou digno da morte eterna: mas, já que pela Vossa morte me alcançastes a vida da graça, justo é que eu me sacrifique por amor de Vós. Eu Vos amo e estimo, Senhor, e não desejo senão amar-Vos: e, se Vós, Rei dos Reis, quisestes ser desprezado até este ponto por meu amor, eu quero pelo Vosso sofrer todos os desprezos e injúrias que me fizerem. Eia, pois, Senhor, pelos merecimentos dos Vossos ultrajes dai-me força e valor para sofrer os meus.

3 - Declarado, assim, Jesus réu de morte pelo conciliábulo dos ministros da sinagoga, pôs-se a turbamulta dos seus satélites a maltratá-lO às bofetadas e pancadas e cuspindo-Lhe no rosto nojentos escarros, e assim, estiveram todo o resto da noite diabolicamente entretidos, vendando-Lhe os olhos, e dizendo-Lhe por escarneo; "Tu que és profeta adivinha quem foi que te bateu?" Considera aqui o silêncio admirável e a paciência heróica deste manso Cordeiro, que, sem se queixar, tudo sofreu por nós, e dize-Lhe:

"Se estes, ó meu amado Jesus, Vos não conhecem, reconheço-Vos eu e Vos confesso por meu Deus e meu Senhor, e declaro que tudo quanto sofreis, sendo inocente, por amor de mim o sofreis: eu Vo-lO agradeço e Vos amo de todo o meu coração."

Ao amanhecer levaram-nO ao pretório de Pilatos, para que em forma judicial O condenasse à morte. Pilatos declarou-O inocente; e não obstante, para comprazer com os judeus, que prosseguiam amotinados, remeteu-O a Herodes. Este que desejava ver algum milagre do Salvador, movido só da curiosidade, foi-Lhe fazendo neste intuito algumas perguntas: Jesus, porém, calava-se e não lhe dava nenhuma resposta, que Lh'a não merecia aquele malvado. Irritado por isso Herodes, fê-lO sofrer muitos desprezos, e, com especialidade, fez que O vestissem de branco, e O fizessem passar por louco.

Ó Eterna Sabedoria! esta injúria Vos faltava! ser tratado como louco!

Oh! meu Deus! Também eu até agora por amor das criaturas Vos hei desprezado: não me castigueis, porém, Senhor, como a Herodes, privando-me da Vossa palavra; pois que se ele não se arrependeu de haver-Vos ofendido, eu me arrependo; se ele Vos não amou, amo-Vos eu sobre todas as coisas. Não me negueis a voz de Vossas inspirações; dizei-me o que quereis, pois tudo quero fazer com a Vossa graça. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

(Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)

PS: Grifos meus.

CARIDADE COM O PRÓXIMO

CARIDADE COM O PRÓXIMO
(PADRE FABER)


“(...) que diremos duma teoria errônea da correção fraterna? É o mais difícil dos deveres e a mais obscura das obrigações, e uma teoria errônea a seu respeito causa muito escândalo aos outros e muitas vezes infunde também uma idéia exagerada da nossa própria importância.

Devemos nos lembrar que são poucos os que, em virtude de sua posição ou adiantamento, são de qualquer modo chamados a corrigir os seus irmãos; ainda um menor número é competente para fazê-lo com doçura; e não há ninguém cuja santidade não seja submetida à mais rude provação pelo perfeito cumprimento deste dever.

Ao contrário, os que assumirem com leviandade e por conta própria esta responsabilidade delicada não somente pecam por desobediência, por falta de respeito, por arrogância, por azedume, por presunção e por exagero, como são causa de pecado para os outros, fazendo das coisas de Deus um escândalo e um obstáculo.

Antes, portanto, de empreender a correção fraternal, verifiquemos se temos vocação para isto, consultando a opinião de outros, tanto quanto a nossa própria. Quando tivermos certeza desta vocação, façamos preceder nossa correção pela oração e a deliberação.

Podemos acrescentar que corrigir o nosso próximo com o fim de edificar uma terceira pessoa é uma prática que raramente evita conseqüências desagradáveis, e só não prejudica nossa humildade por ser uma prova de que não temos esta de todo.

Nessa fase da vida espiritual [isto é, na via purgativa ou dos principiantes], só podemos, a respeito da correção fraternal, reconhecer que ela existe. Mais adiante, Deus no-la confiará e saberemos empregá-la. Se por acaso este dever nos fosse imposto agora, não deveríamos empreendê-lo sem tremer e refletir, esperando que Deus nos ajude com o resto.

Portanto, guardar-nos-emos de edificar o próximo por estes meios. Vejamos agora o verdadeiro meio de edificá-lo. Podemos fazê-lo de dois modos: pela mortificação de Jesus e pela doçura de Jesus.

Primeiro, pela mortificação de Jesus, isto é: guardar o silêncio sob justas repreensões, abster-nos de julgamentos levianos e superficiais, não insistir pelos nossos direitos de um modo pedante e desagradável, servir aos outros com desinteresse, sem nos queixarmos das dificuldades e dos transtornos que nos causam, e sem exagerarmos, teimosa e tolamente, os pontos onde todos têm direito de guardar sua liberdade; são estes os modos pelos quais devemos praticar a mortificação de Jesus no nosso trato com os outros, e, além da edificação que assim daremos, conseguiremos por essas práticas um grau de perfeição interior acima de toda a nossa previsão. E isso porque quase não há uma inclinação corrupta, orgulho secreto ou dobra de amor próprio que elas não atinjam e purifiquem.

Entretanto, devemos também edificar pela doçura de Jesus.
Uma resposta branda afugenta a cólera, diz a Escritura.

Palavras boas e meigas, como as de Nosso Senhor, são em si um apostolado.

Ao contrário, palavras irônicas e mordazes, embora tenhamos muitas vezes o direito de empregá-las, ajudam continuamente o demônio em seu trabalho, prejudicam as almas dos outros, infringindo na nossa feridas que não deixam de ser sérias.

Nossas maneiras devem ser cheias de unção, sendo por si um meio de atrair os outros, e de fazê-los amar o espírito que nos anima.

A frieza, a falta de interesse, um certo e inexplicável ar de superioridade ou mesmo uma afetada condescendência, no entanto, são coisas não raro encontradas em pessoas piedosas. Não dominaram ainda o seu espírito a ponto de empregá-lo graciosamente, ou não apreciam como deviam a delicadeza e a ternura. Não têm, portanto, presente ao espírito uma imagem fiel de Jesus, e dificilmente O podem refletir na sua conduta exterior.

Nosso próprio aspecto deve estar sujeito à Graça.

Quanto mais nos esforçarmos em gravar a imagem de Jesus em nossos corações, tanto mais a Sua doçura transparecerá, sem o sabermos, em nossas feições.

A não ser em tempos de grande dor física (e mesmo isto nem sempre o impede), a paz interior e a harmonia da alma se refletem visivelmente no semblante.

Notemos que no Evangelho de São Marcos, escrito sob o ditado de São Pedro, há freqüentes alusões à expressão e aos gestos de Nosso Senhor; e a história do jovem que não teve coragem de renunciar ao dinheiro, bem como a própria conversão de São Pedro, mostram o que podia a doçura do olhar de nosso Salvador.

Praticamos também esta doçura, louvando todo o bem que descobrirmos nos outros, mesmo quando ele se mistura ao que não é bom.

Quem louva livremente, porém sem extravagância, sempre influi na conversa, e pode empregar sua influência na causa de Deus.

Um espírito crítico, pelo contrário, diverte pela vivacidade ou assusta pela malícia, mas não suaviza, não atrai, não persuade, não governa.

Devemos exercer também essa doçura cristã, interpretando favoravelmente as ações duvidosas, sem tomarmos todavia atitude forçada ou pouco natural, e sobretudo sem desculparmos pecados positivos. Fora disto há vasto campo de ação para essa amável prática. Nunca a praticareis sem fazerdes obra de missionário pela glória de Deus, ainda que de modo inconsciente.

Devemos guardar-nos também de certos olhares, de umas certas maneiras, e sobretudo de um certo silêncio, que fazem sentir aos outros que interiormente os censuramos. Nada é mais irritante do que isto. Quando o pecado presenciado torna o santo silencioso, há no seu silêncio uma triste doçura, que mostra sua aflição pelo pecador, e que se esforça por amá-lo apesar do pecado. O nosso silêncio crítico, tão contrário à doçura de Jesus, irrita aos outros e os põe na defensiva. Assim arrojam o pouco de Graça que ainda possuíam, endurecendo seus corações contra qualquer Graça possível. Esse silêncio severo, sendo de fato a mais clara das correções fraternas, ninguém o pode exercer sem verificar, pelos métodos que indiquei, se tem ou não o direito de corrigir seu irmão. Ainda assim é o meio mais arriscado de cumprir uma obrigação já por si perigosa.

Faz também parte da doçura de Jesus não permitirmos que nossa piedade ou devoção incomode aos outros. Quando Santa Joana Francisca de Chantal passou a estar sob a direção espiritual de São Francisco de Sales, seus criados diziam que o antigo diretor da senhora a fizera rezar uma ou duas vezes por dia, e ela todos incomodava assim, ao passo que o novo diretor a fazia rezar o dia inteiro e a ninguém incomodava. Um pouco de prudência bastaria, de certo, para que as nossas Comunhões e orações não perturbassem o arranjo da família, nem exigissem dos outros a menor abnegação. Ninguém deveria ter má vontade para essas coisas; mas nós nada lhes devemos impor.

Assim é que o nosso trato com os outros deve a um tempo santificar a nós mesmos e edificar ao próximo, pelo duplo exercício da mortificação e da doçura de Jesus.

Provavelmente já nos ocorreu que, nesta fase da nossa carreira, nosso trato com os outros se resumisse principalmente no governo da língua.

Não sei o que deve surpreender mais: se a importância inesperada que a Santa Escritura assinala ao dever de governar a língua, ou se a inteira indiferença que este dever inspira até às almas piedosas. Só quem toma a concordância [bíblica] e procura na Bíblia todas as passagens que se referem ao assunto, desde os Provérbios e o Eclesiástico até S. Tiago, terá uma idéia da soma total de ensinos contidos sob este título [do governo da língua] e do espaço que ocupa naquele único volume. É incompatível com a brevidade que me proponho o entrar detalhadamente no assunto. Basta sugerir a cada um esta única pergunta: a atenção escrupulosa que cada um presta ao governo da língua está de todo em proporção com a tremenda verdade revelada por São Tiago quando disse: ‘Se eu não puser um freio à minha língua, toda a minha religião é vã’? A resposta dificilmente deixará de ser tão assustadora quanto humilhante.

Mas como governar a língua? A simples enumeração dos males há de implicitamente sugerir os remédios. Atendei a uma hora de conversa em qualquer companhia cristã. O assunto volve quase unicamente em torno das ações e dos caracteres dos outros! A razão é provavelmente esta: o trono do juízo de Nosso Senhor como que já está erigido na terra, não estando porém ocupado, mas à Sua espera. Nós, entretanto, com incivilidade, sem convite, subimos constantemente os degraus, sentamo-nos no Seu trono, antecipando e imitando a Sua sentença sobre os nossos irmãos. Procedendo deste modo, vemos quanto nossa conduta é perniciosa. Esta idéia nos ajudará de certo a purificar a nossa conversa da discussão desnecessária sobre motivos e ações alheias. Na maioria das vezes, porém, é só depois de longamente percorrido o caminho da devoção, e quando já nos prejudicamos irreparavelmente, que começamos a dedicar ao governo da nossa língua um pouco do cuidado que merece e que imperiosamente exige.

O primeiro efeito da espiritualidade em nós é o de avivar o nosso lado crítico. Temos novas medidas para avaliar, temos nova luz para ver tudo, e com esses novos meios de observação prejudicamos nosso juízo sobre o próximo. Fazei disto o assunto do vosso exame particular, e vos surpreendereis de ver quão numerosas são vossas quedas. Com efeito, é difícil exagerar a facilidade, a multidão ou os efeitos fatais dos pecados a que nos levam todas essas conversas sobre os outros, mesmo quando temos e melhor e mais benévola das intenções. (...)”

(FABER, Padre Frederick William [1814 – 1863], in: O PROGRESSO NA VIDA ESPIRITUAL, tradução segundo o original inglês por Marianna Nabuco, Editora Vozes, Petrópolis:1924, páginas 82-87. Doutor em Teologia, Co-Fundador e Superior do Oratório de São Filipe Néri de Londres e, sobretudo, morto em odor de santidade, Padre Faber é considerado o maior escritor espiritual do século XIX.) Algumas de suas obras:

- O Progresso na Vida Espiritual;
- Tudo por Jesus ou Caminhos Fáceis do Amor Divino;
- O Criador e a Criatura ou As Maravilhas do Amor Divino;
- O Preciosíssimo Sangue ou O Preço da Nossa Salvação;
- Ao Pé da Cruz ou As Dores de Maria;
- O Santíssimo Sacramento ou As Vias e Vozes de Deus;
- Belém ou Os Mistérios da Santa Infância;
- A Bondade;
- A Devoção à Igreja;
- A Devoção ao Papa;
- Conferências Espirituais.)

PS: Recebido por e-mail, mantenho os grifos.

A FORMAÇÃO DA VONTADE - PARTE VI

A FORMAÇÃO DA VONTADE
PARTE VI


A duração na decisão

Que é preciso para praticar esta primeira forma da perseverança: a duração na decisão?
É preciso resguardarmo-nos e proteger as crianças das más influências que possam exercer-se sobre a vontade.

Quais são as influências más de que é preciso resguardarmo-nos e das quais é necessário proteger as crianças?
Todas as que são capazes de desanimar a vontade, de enfraquecer a energia, ou arruinar a perseverança:

- A inconstância natural;
- O mau exemplo;
- O temor das dificuldades.

A inconstância é, portanto, natural no homem?
Cremos que sim; e, na generalidade dos casos, o homem carece dum certo esforço para chegar a manter uma decisão um pouco onerosa.

Entregue às suas naturais inclinações, o homem seria, em breve, uma imagem do tipo do inconstante traçado por Boileau:

"Vai dum extremo ao outro, sem a menor pena,
o que louva de dia, à noite já o condena,
pra todos maçador, a si próprio incomoda.
Muda constantemente a opinião e a moda.
O menor vento o vira; os golpes menos crus
o fazem despenhar, andando muito à roda.
Hoje, num capacete; amanhã, num capuz".
(Boileau, Sátiras, VIII)

É preciso advertir as crianças dos maus exemplos que estão expostas a encontrar no mundo?
Sim, a seu tempo, a criança deve saber que no mundo há loucos, mentirosos, enganadores, malévolos, covardes, homens que se vendem, homens que são vítimas dos respeitos humanos, etc.; que existem desgraçados, pessoas mal educadas, que se devem lastimar, mas nunca imitar.

Não se deve contar com dificuldades?
Sim, é preciso encará-las, mas não temê-las, nem subordinar-lhes as resoluções tomadas...

(Excertos do livro: Catecismo da Educação, pelo Abade René de Bethléem, continua com o post: A duração no esforço)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Meditação da segunda-feira (Sobre a Paixão de Nosso Senhor)

MEDITAÇÃO DA SEGUNDA-FEIRA
ORAÇÃO DE JESUS CRISTO NO HORTO


1- O nosso amorosíssimo Redentor, ao avizinhar-se a hora da Sua morte, foi ao horto de Getsêmani, e lá deu por Si mesmo princípio a Sua dolorosíssima Paixão, permitindo que o temor, o tédio, e a tristeza se apoderassem da Sua alma e o atormentassem. Começou por experimentar um mui sensível receio e aborrecimento da morte e das penas que haviam de acompanhá-la.

Representaram-se-lhe vivamente na imaginação os açoites, os espinhos, os cravos, a Cruz, atormentando-O, não uns depois dos outros, mas todos juntos. De um modo especial se Lhe apresentou aquela morte afrontosíssima que devia padecer, no maior abandono, sem nenhum conforto humano nem divino. De tal sorte se viu acabrunhado com a vista daquele horrível tropel de ignominias e tormentos, que pediu ao Seu Eterno Pai que O livrasse deles dizendo:

"Meu Pai, se é possível, afaste de mim este cálice de amargura" - Pater , si possibile est, transeat a me calix iste.

Pois que! não era Ele o mesmo Jesus, que tantas vezes tinha desejado padecer e morrer pelos homens?

Como é que tanto teme agora as penas e a morte: Sim, cristãos: Ele queria morrer por nós, mas, para não pensarmos que morria sem sentir angústias por virtude divina, dirigiu aquela súplica ao Eterno Pai, para assim entendermos que não só morria por nós, mas que sofria uma morte dolorosíssima e cheia de amargura.

E quem é, ó Jesus meu, que Vos obriga a padecer tantos tormentos! Que é isto, Senhor: Aflito um Deus, que é a alegria dos Anjos? Mostrar-se assim débil e fraco um Deus omnipotente! E para que, Senhor? Para salvar os homens, criaturas ingratas?!

E neste horto ofereceis já as primícias do Vosso sacrifício, sendo Vós a Vítima, e o sacerdote o Vosso amor. Ah! Senhor, fazei, que também eu me sacrifique por amor de Vós.

2 - A isto veio juntar-se uma cruel tristeza, para mais e mais atormentar o já aflito Senhor; a ponto de chegar a dizer que "tristis est anima mea usque ad mortem", a minha alma está cheia duma tristeza mortal. Mas, Senhor, na Vossa mão está evitar as dores que Vos preparam os homens; porque é pois que estais tristes?... Não foram, porém não os tormentos que ralaram o coração amorosíssimo do Salvador, foram sim os nossos pecados.

Ele tinha vindo a terra para apagar os pecados do mundo; e a consideração de quem, anda mesmo depois da Sua Paixão, haviam de continuar as iniquidades dos homens, encheu-Lhe o coração de amargura tal que, ainda mesmo antes de começar aquela Paixão, O reduziu a tão cruel agonia, que O fez suar sangue, e em tanta copia, que chegou acorrer pela terra, onde estava ajoelhado, como diz o Evangelho.

Viu Jesus então os pecados todos que os homens haviam de cometer depois da Sua morte, os ódios e desonestidades, os furtos e blasfêmias, e os sacrilégios e profanações, que, como outras tantas feras raivosas e indomitas, se arrojavam sobre o Seu amantíssimo Coração, e o despedaçavam, de modo que bem podia dizer:

"É assim, ó homens, que me retribuís? É assim que recompensais o meu amor? Oh! se Eu Vos vira mais agradecidos, quanto mais alegre não caminhara para a morte? Mas ver Eu tantos pecados depois de tanto padecer; tanta ingratidão depois de tanto amor! É isto o que me contrista e me faz suar sangue!"

Foram por tanto os meus pecados, amado Jesus meu, os que tanto Vos afligiram? E o deleite, que acompanhou as minhas culpas, foi a causa da Vossa tristeza? E se eu houvera pecado, menos, menos houvéreis padecido? Ah! e como não morro agora que O conheço; como não morro de dor, considerando que fui eu quem afligiu assim o Vosso Coração que tanto nos amou?

Tenho sido agradecido às criaturas, e só para conVosco, tenho sido ingrato! Perdoai-me, ó Jesus meu, pois me arrependo de todo o meu coração, e me pesa de tão negra ingratidão.

3 - Vendo-se Jesus assim oprimido com o peso dos nossos pecados, prostrou-Se e colou Sua face com a terra, como envergonhando-Se de levantar os olhos para o Céu, e, entrando em agonia, ficou por largo espaço em oração por todos os homens em geral, e por cada um em particular; de modo que também a mim me teve presente, e também por mim orou aquele Coração divino, apesar da minha iniquidade e das minhas maldades, oferecendo-Se por causa delas à morte.

E não te deixarás vencer, alma minha, por tanto amor? E em presença deste espetáculo, como poderás amar a outrem mais do que a Jesus? Eia, pois, prostra-te aos pés desse Jesus agonizante e dize-Lhe:

"O meu amado Jesus, como pudestes Vós sofrer a morte por quem Vos havia de ser tão ingrato? Dai-me, eu Vo-lo peço, dai-me parte daquela dor, que experimentastes no Horto, que eu detesto desde já todos os meus pecados, e uno a dor que por eles sinto, à que então por mim sentistes!

Oh! amor do meu Jesus, Vós serás o meu amor! Eu Vos amo, Senhor, e por amor de Vós me ofereço a sofrer, tudo, até a morte. Dai-me, ó Jesus meu, pelos merecimentos de Vossa agonia o dom da perseverança final. Maria, minha esperança, rogai a Deus por mim".

(Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910)

PS: Grifos meus.

A FORMAÇÃO DA VONTADE - PARTE V

A FORMAÇÃO DA VONTADE
PARTE V

A energia da ação


É sempre fácil começar a ação e meter-se ao caminho?
Eis um ponto que, segundo parece, só um ato positivo e enérgico da vontade poderá realizar.

Será preciso que a vontade se converta numa mola, impulsionada pela indicação do dever e que salte num ímpeto até ao seu pleno desenvolvimento, isto é, até ao cumprimento do que é preciso fazer. Que a vontade seja como que um chefe de serviço bem adestrado, que recebe as ordens e as faz executar sem discussão, sem hesitação, sem demora.

Qual é a virtude que esta energia supõe necessariamente?
É o dominio de si mesmo, isto é, a autoridade própria da inteligência e da vontade sobre as faculdades inferiores, a imaginação, a sensibilidade, a memória e, por elas, sobre os próprios sentidos.

Qual é o primeiro meio de desenvolver esta energia nas crianças?
É o de evitar tudo o que conduz ao sensualismo e à preguiça.

"Esta preguiça, a que se liga pouca importância é, contudo cheia de perigos; torna incapaz de todas as virtudes, abre a porta a todos os vícios, rouba todas as energias ao caráter, impede a formação da vontade, deixando a alma sofrer o jogo do corpo, e este mesmo fica sem força e sem vigor."
(Renovamento da vida cristã)

Tem-se notado que aqueles que foram submetidos a uma disciplina severa mostram uma energia moral mais intensa do que outros que foram tratados com doçura execessiva.

Praticamente, que convém fazer para escapar a este perigo?
É preciso proibir à criança os alimentos e as bebidas que não tenham outro fim senão lisonjear o paladar; que a cama seja um tanto dura; que os vestuários sejam modestos; que o corpo seja tonificado pelo uso da água fria; que os divertimentos não sejam demasiados nem fatigantes.

Não se deve esquecer que os concertos, os jogos carnavalescos, os teatros, os bailes infantis, produzem impressão prejudicial na alma e amolecem a vontade.

E sobretudo não se tolerará a preguiça.

A preguiça é o mais pernicioso dissolvente da vontade, porque é a negação do trabalho, forma ordinária do esforço.

Pedimos um dia a uma pessoa que nos desse por escrito o relato dos atos de sensualidade e moleza, que reconhecia cometer, ordinariamente, em cada dia; hiavia páginas inteiras, a maior parte, hábitos de má educação.

Qual é o segundo meio de desenvolver a energia nas crianças?
É a obediência.

A experiência ensina-nos que as crianças habituadas, desde a mais tenra idade, a obedecer, adquirem uma força de caráter pouco vulgar.

Por que é a obediência um fator de energia?
- A obediência é um fator de energia, porque ela dispõe para a disciplina e, por assim dizer, porque prepara o terreno à vontade, que não avança. nem pode avançar, sem uma regra.

"Com efeito, para obedecer verdadeiramente, é preciso que a vontade reprima as revoltas do espírito e da independência, tão natural às nossas almas; e ela não pode dominar esta inevitável oposição, sem que se desenvolvam grandes esforços. Ora, são precisamente estes esforços que aumentam a soma das energia."
(Vítor Rocher, A mulher sensata cristã)

- A obediência é um fator de energia, porque se ela está submetida a uma autoridade séria, que tanto dirija como modere, dará à vontade um impulso que decuplica as forças.

- A obediência é uma fator de energia, porque habitua a vontade a dirigir-se a fins claramente determinados, Porque "para querer, é preciso querer qualquer coisa"
(Paul Gaultier, A verdadeira educação, p. 208)

- A obediência é um fator de energia, porque ela fortifica a vontade.

Para obedecer, é preciso fazer calar as preferências, contradizer os gostos, impor esforços a si mesmo.

Qual é o terceiro meio de desenvolver a energia nas crianças?
É ajudar as crianças a fazer o que elas devem fazer.

- Quando se haja esclarecido o seu espírito com a verdadeira luz da vontade de Deus, esforçar-nos-emos por levá-las a praticar aquilo que é bom.

Deve fazer-se-lhes compreender que Deus é que é o Mestre; que Ele tanto manda os pais e as mães como manda as crianças; que é preciso obedecer sempre a Deus; que se elas obedecem prontamente, agradarão a Deus e a seus pais, que estão no lugar de Deus; que é o Céu que está prometido em recompensa àqueles que se sabem sacrificar.

Iluminem-se estes conselhos com exemplos tirados da Bíblia, da vida dos santos, etc.

- Sustentem-se os seus esforços por uma vigilância discreta e afetuosa. Os homens são fracos.

E as crianças muito mais.
É preciso, pois, ajudá-las.

Por exemplo, pode-se-lhes sugerir pela manhã um certo número de atos de vontade a praticar durante o dia, e á noite faça-se com eles um exame dos seus atos. Podem-se também animar as crianças a submeter à apreciação dos seus confessores o resultado obtido no decurso da semana.

- Se elas opuserem alguma resistência, procurar-se-á intimidá-las branda e afetuosamente. Se a criança não obedecer, o pai e a mãe serão obrigados a castigá-la e fazê-la obedecer, apesar da sua relutância. Então obedecerá custe o que custar, e terá causado desgosto a todos.

(Excertos do livro: Catecismo da educação, pelo Abade René de Bethléem, continua com o post: A duração na decisão)

PS: Grifos meus.

ATO DE CONFORMIDADE COM A VONTADE DIVINA

ATO DE CONFORMIDADE COM A VONTADE DIVINA
(Santo Afonso Maria de Ligório)


Meu Jesus, cada vez que eu disser: Louvado seja Deus! ou: Seja feita a Vontade de Deus!, tenho intenção de aceitar todas as disposições da Vossa Providência a meu respeito, no tempo e na eternidade.

Só quero o estado de vida, a habitação, os vestuários, o nutrimento, a saúde que fordes servido conceder-me.

Não quero outro emprego, outro talento, outra fortuna, que os que me tendes destinado.

Se quereis que os meus negócios não surtam feliz êxito, os meus projetos se esvaeçam, os meus processos se percam, tudo quanto possuo seja roubado, eu também o quero.

Se quereis que eu seja desprezado, odiado, desamparado, difamado, maltratado, até por aqueles a quem mais amo, eu também o quero.

Se quereis que eu seja privado de tudo, banido da minha pátria, encerrado numa prisão e viva em penas e angústias constantes, eu também o quero.

Se quereis que esteja sempre enfermo, coberto de chagas, inválido, estendido sobre um leito, abandonado de todos, eu também o quero.

Tudo seja como Vos agradar e por quanto tempo quiserdes.

A minha vida mesma ponho nas Vossas mãos, e aceito a morte que me destinais: resigno-me igualmente à morte dos meus pais e amigos, e a tudo que quiserdes.

Quero também o que quereis no que diz respeito ao meu bem espiritual. Desejo Vos amar com todas as minhas forças nesta vida e ir Vos amar no Paraíso como Vos amam os Serafins; mas contente fico com o que bem quiserdes conceder-me. Se não quereis dar-me senão um só grau de amor, graça e glória, não quero mais do que isto, porque isto é o que Vós quereis. Prefiro o cumprimento da Vossa Vontade a todos os bens.

Numa palavra, ó meu Deus, de mim e de tudo o que me pertence, disponde como for a Vossa Vontade; com a minha não tenhais consideração alguma, pois só quero o que Vós quereis. Qualquer que seja o tratamento que me deis, amargo ou doce, agradável ou penoso, com alegria o aceito, porque me virá sempre da Vossa mão.

Aceito, meu Jesus, de maneira especial a morte que me espera e todas as penas que devem acompanhá-la, no lugar e momento que for a Vossa Vontade. Unindo-as à Vossa santa Morte, ó meu Salvador, Vo-las ofereço em testemunho do meu amor a Vós. Quero morrer para Vos agradar e cumprir a Vossa divina Vontade. Amém.

(Oração extraída da obra: “As Mais Belas Orações de Santo Afonso”)

PS: Recebi esta belíssima oração por e-mail.

02 DE AGOSTO - Santo Afonso Maria de Ligório

02 DE AGOSTO
SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO,
BISPO, CONFESSOR E DOUTOR


"Já velho e alquebrado, pediu uma vez o Santo que lhe fizesse a leitura de um livro piedoso. O Irmão que o assistia pôs-se a ler as "Glórias de Maria". Interrompeu-o de repente o Santo com a pergunta: Mas quem terá escrito coisas tão belas sobre a Mãe de Deus? - Leu-lhe o Irmão o nome do autor: Afonso Maria de Liguori. Ferido na sua modéstia, Afonso tratou de outro assunto." (Glórias de Maria, página 14)

Hoje inicia-se a novena de Santa Filomena!

IMPORTANTE: HOJE INICIA-SE A NOVENA DE SANTA FILOMENA

Você pode obtê-la aqui:
http://a-grande-guerra.blogspot.com/2009/10/novena-de-santa-filomena.html

Santa Filomena, rogai por nós!


domingo, 1 de agosto de 2010

Amor manifestado por Jesus padecendo por nós!

Nota: Transcreveremos no decorrer desta semana sete meditações sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, retiradas do livro: A Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910.

PRIMEIRA MEDITAÇÃO
DOMINGO


AMOR MANIFESTADO POR JESUS PADECENDO POR NÓS

1- O tempo posterior à vinda de Jesus Cristo, já não é tempo de temor, senão de amor, como predisse o Profeta Ezequiel (cap. 16, v.8) "et ecce tempus tuum tempus amantium" o Seu tempo é tempo de quem ama, pois que foi visto um Deus morrer por nós. "Christus dilexil nos, et tradidit semetipsum pro nobis", Cristo amou-nos, e Se entregou a Si próprio à morte por amor de nós, disse também São Paulo.

...  Depois que o homem viu Cristo, por sua causa, morrer, coberto de opróbrios e exangue sobre um madeiro infamante, ninguém pode pôr em dúvida o Seu amor, verdadeiramente cheio de ternura para conosco.

E quem há aí que possa compreender os excessos do amor do Filho de Deus, que O levaram a querer satisfazer pessoalmente a pena devida pelos nossos pecados? E não obstante, é de fé! "Verdadeiramente, diz Isaías, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores: foi esmagado sob o peso das nossas iniquidades". (Is. 53). E tudo isto foi obra do grande amor que nos tem, pois que, para lavar a imundice das nossas culpas, derramou até a última gota o Seu sangue, e nele nos preparou um banho salutar.

Oh! misericórdia infinita!
Oh! infinito amor de um Deus!

Demasiado haveis feito, ó Redentor meu para me obrigardes a amar-Vos, e eu seria demasiadamente ingrato se Vos não amasse de todo o meu coração. Tenho-Vos até agora desprezado, ó meu Jesus, vivendo esquecido do Vosso amor, e Vós nunca Vos esquecestes de mim! Afastei-me de Vós, e Vós me haveis seguido e buscado! Ofendi-Vos tantas vezes, e Vós outras tantas me haveis perdoado! repeti a ofensa, e Vós, Senhor, tornastes a perdoar-me!

Por aquele entranhado afeto, com que de Vós fui amado sobre a Cruz, prendei-me, Senhor, agora tão estreitamente com os doces laços da Vossa caridade, e uni-me tanto a Vós, que eu nunca mais possa tornar-me a separar. Eu Vos amo, ó Sumo Bem, e quero amar-Vos sempre.

2 - O que nos deve abrasar mais e mais no amor de Jesus não é tanto a morte, as dores, as ignominias, que por nós sofreu, como o fim, por Ele intentado, ao sujeitar-Se a tantas e tão graves penas, e este foi o manifestar-nos melhor o Seu amor, e cativar mais os nossos corações. Para nos salvar não tinha Jesus necessidade de padecer tanto, e de sacrificar a própria vida: bastava certissimamente derramar uma só gota de sangue, bastava uma só lágrima; porque, sendo de um Homem-Deus, essa gota de sangue, essa lágrima eram bastantes para salvar não um só mundo, mas mil mundos se os houvera.

Ele, porém, quis derramar todo o Seu sangue, e perder a vida num pélago imenso de dores e opróbrios, para nos manifestar melhor o grande amor, que nos tem, e assim nos obrigar a amá-lO.

"O amor de Jesus Cristo, diz São Paulo (note-se que não disse a Sua Paixão, nem a Sua morte, mas o Seu amor) obriga-nos a amá-lO".

Quem somos nós, Senhor, para quererdes comprar o nosso amor por tão excessivo preço?

Oh! meu Jesus; por nós morrestes para que nós todos só por Vós vivêssemos e por Vosso amor! Se Vós, porém, Senhor, sois tão amável, se tanto padecestes para que Vos amem os homens, como é que tão poucos Vos compreendem? Vemo-los quase todos entretidos, uns com o amor das riquezas, outros com o das honras, estes com os prazeres, aqueles com os parentes e amigos, estes outros com qualquer coisa terrena; e que Vos amem a Vós, único objeto digno de ser amado, quão poucos são, Deus meu, quão poucos?

Um desses poucos desejo ser eu, que até agora Vos hei ofendido, como os demais, amando esse lodo vil, que são as criaturas da terra. Sim, ó meu Jesus, eu Vos amo sobre todas as coisas; as penas que por mim haveis sofrido, me obrigam a amar-Vos, e ainda mais me obriga o amor, que me haveis manifestado em padecer tanto, para que eu Vos amasse.

Sim, amabilíssimo Jesus, se Vós por amor Vos tendes dado todo a mim, também eu por amor me quero dar todo a Vós; se Vós morrestes por meu amor, eu pelo Vosso aceito desde já a morte que me tendes destinada. Recebei-me no número de Vossos amantes e ajudai-me com a Vossa graça a Vos amar condignamente.

3- Não há nada mais próprio para atear em nossas almas o fogo do amor divino, do que o considerar na Paixão de Jesus Cristo. São Boaventura diz, que as Chagas de Jesus, por serem chagas de amor, são setas, que ferem os corações mais duros e insensíveis, e chamas que inflamam as almas mais regeladas.

Uma alma crente, que pensa na Paixão do Senhor, não pode tornar a ofendê-lO, nem deixar de O amar, ou ainda de enlouquecer de amor, ao ver um Deus, que é a própria Sabedoria como que "fora de Si" por amor de nós. Por isso é que os gentios, segundo refere o Apóstolo, ao ouvir pregar da Paixão de Jesus Crucificado, a tinham por loucura. Como pode ser, pois, diziam eles, que um Deus omnipotente e felicíssimo em Si mesmo, quisesse morrer pelas Suas criaturas?

Oh! Deus meu! Como pode ser tanto excesso de amor pelos homens? Como pode ser? perguntaremos também nós que acreditamos firmemente neste mistério, como pode ser que tão grande bondade e tão extremado amor sejam tão mal correspondidos?

Dizem comummente que o amor com amor se paga, amor amore compensatur; mas o Vosso, ó meu Deus, com que amor poderá pagar-se? Seria necessário que outro Deus morresse por Vós, para recompensar o amor que nos manifestastes em morrer por nós.

Oh! Cruz preciosa!
Oh!Chagas sacratíssimas!
Oh! morte afrontíssima do meu Jesus! quão poderosas sois para me obrigardes a amá-lO!

Oh! Deus eterno, Deus infinitamente amável! eu Vos amo, e quero viver somente para Vos amar: dizei-me o que quereis de mim, pois tudo desejo cumprir, ajudado com a Vossa graça.

Maria Santíssima, Esperança nossa, rogai a Jesus por mim.

PS: Grifos meus.