
Quem
é a Santíssima Virgem?
A Santíssima Virgem Maria é a
Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem para nos salvar.
Para bem conhecer a vida da Santíssima
Virgem, não basta considerar o tempo que Maria passou sobre a terra; precisa-se
ainda seguir o curso dos séculos que precederam seu nascimento, e durante os quais
tantos oráculos e figuras anunciaram-na
ao mundo; penetrar até nas profundidades da eternidade onde, pela sua predestinação,
esta Augusta Virgem existiu
no pensamento do Altíssimo, inseparavelmente unida ao Cristo Redentor, o «Primogênito
de toda criatura» (São Paulo, aos Colos.,
1, 15).
Com efeito, de toda
eternidade, Deus tinha previsto o pecado do primeiro homem; desde então, tinha
resolvido repará-lo pela Encarnação de seu Unigênito, e decretado que este inefável
mistério se cumpriria no seio virginal de Maria.
2. — Que
se deve entender por «predestinação» de Maria?
Deve-se entender o lugar especial e privilegiado que
Maria ocupou no pensamento de Deus decretando e preparando, desde toda a
eternidade, a grande obra de nossa redenção...
Deus tinha diferentes meios
para purificar o homem da mancha do pecado; na hipótese da Encarnação, isto é, da
união pessoal do Verbo com a natureza humana, «Deus podia mesmo, diz São Francisco
de Sales[1], formar de diversos modos a humanidade de seu Filho: criando-a
do nada, ou como fez Adão e Eva, ou de qualquer outro modo; mas preferiu o
plano que realizou: efetuar a Encarnação do Verbo pela divina maternidade de
Maria».
3. — Para
o que foi predestinada Maria?
Maria foi predestinada para
ter a honra de ser a Mãe do Verbo, feito homem, e, por isso, para os mais ricos
dons da graça neste mundo e para a maior glória no outro.
Além da predestinação à graça
e à glória comum a todos os eleitos, Maria foi objeto de uma predestinação
especialíssima, muito acima de toda a comparação, que é a predestinação à
maternidade divina, fonte, causa e fim da todas as suas perfeições.
4. — É
esta predestinação muito gloriosa para Maria?
Esta predestinação é para
Maria o motivo de uma glória incomparável, porque, de toda a eternidade, uniu-a
no pensamento divino, ao Verbo Encarnado, e tornou-a participante da dignidade
de seu divino Filho[2].
Maria não tinha ainda nascido,
e já tratava-se dela nos conselhos da adorável Trindade. Já Deus o Padre
amava-a como sua filha, Deus o Filho amava-a como sua mãe; Deus o Espírito
Santo amava-a como sua esposa. Que predileção! Ó Virgem celeste, como os homens
não vos hão de amar e glorificar no tempo, quando o Senhor deposita em vós suas
complacências desde os séculos eternos?
5 — Não fomos nós também objeto
de uma predestinação completamente gratuita da parte de Deus?
Sim, porque, desde toda a
eternidade, Deus resolveu, na sua bondade, chamar-nos à vida, preferindo-nos a
milhões de seres possíveis, que nunca hão de existir; ainda mais:
predestinou-nos para tornarmo-nos, pelo batismo, seus filhos adotivos, membros
do corpo místico de Cristo, que é a Igreja, e templos vivos do Espírito Santo; enfim,
preparou-nos uma infinidade de graças, as quais se soubermos corresponder[3] a elas, ajudar-nos-ão a merecer uma glória eterna no
céu.
6 — Que
sentimentos devem inspirar-nos a lembrança dos benefícios
de Deus a nosso respeito?
A lembrança dos benefícios de
Deus a nosso respeito deve penetrar-nos da mais viva gratidão para com este bom
Pai e estimular-nos poderosamente a bem cumprir os deveres que nos impõe o
nosso título de cristão, de católico, para que possamos participar um dia, no
céu, da glória de Cristo, nosso divino Chefe.
[1] Tratado de amor de Deus, liv. II, cap. iv.
[2] É porque, no plano divino, a predestinação de
Maria à maternidade divina confunde-se com o decreto da Encarnação, que a
Igreja aplica a Nossa Senhora este trecho dos Livros sagrados onde se acha
descrita a origem eterna do Verbo de Deus, a Sabedoria incriada: «O Senhor me
possuía no começo de suas sendas e desde o princípio, antes que desse o ser à
criatura alguma. De toda eternidade fui ungida e desde os tempos mais remotos,
antes que a terra fosse formada. Ainda não existiam os abismos, e eu era
concebida; as fontes ainda não tinham brotado, as montanhas não estavam
assentadas; antes dos outeiros, já eu existia, antes que
se fizessem a terra,os rios, antes que se firmassem os polos do mundo... » (Prov., VIII, 22-26).
[3] Corresponder à graça é receber com ardor e prazer as suas
inspirações, com elas conformar o procedimento e
aproveitar todos os socorros que a Providencia manda para nossa salvação.