11. MOSTRAR CONSTÂNCIA E CONTINUIDADE
A educação exige continuidade. Se mudais de
opinião ou de humor a cada instante, desconcertareis a criança. Semelhantemente,
se, por faltas idênticas, mostrais ora indulgência, ora severidade, a criança,
que possui uma lógica rigorosa, se perturba, e, cedo, perde a cabeça.
• É nos primeiros anos, sobretudo, que se adquirem
os hábitos. Qualquer que seja o temperamento da criança, quaisquer que
sejam os seus atavismos, é fácil orientar a “plantinha tenra” no caminho do
bom-senso. Seja pela ordem, pelo respeito, pela higiene, pela polidez;
seja pela lealdade, pela aceitação alegre das pequenas dificuldades da
vida, pela aquisição dos reflexos da caridade — nada vale mais do que
a constância para criar hábitos que, ao se tornarem autênticos traços
psicofisiológicos, tudo facilitarão.
Mas, enquanto não se criar o hábito, é preciso não
largar a presa.
São essa constância e essa continuidade que exigem
o maior esforço do educador. Não será, talvez, necessário fazer tudo ao
mesmo tempo, mas será por esforços repetidos no mesmo sentido, com doçura
e firmeza, que se liberta a criança de sua tendência arraigada à preguiça
e ao egoísmo.
• Agir, castigar ou recompensar às tontas, sem
razão proporcional, dá mais ou menos vagamente à criança a impressão de
que “não é sério”. Daí ao “toma lá, dá cá”, há apenas um passo.
• “Se mamãe está nervosa e tem caprichos, por que
não terei direito de fazer o mesmo?” O que menos se pode exigir da
autoridade é a coerência. Não há nada pior do que as ordens contraditórias
e a falta de lógica na apreciação de um mesmo ato para levar a criança à
incerteza do que tem o direito de fazer ou o dever de não fazer.
Quando não se manda ou castiga em estado de
agitação, é provável que se tenha ficado no justo termo. Salvo fato novo,
não há como voltar atrás da decisão tomada. Sem perseverança, o educador
perde pouco a pouco sua autoridade moral, com grave risco da formação da
criança que tanto precisa apoiar sua franqueza e suas hesitações sobre
uma base firme.
• Há, por vezes, indulgências que são traições.
• Aqui temos uma mamãe que achou dever privar
da sobremesa o seu filho de 8 anos. Que não vá, pois, terminado o jantar,
comover-se com a fisionomia desfeita do “delinquente” e declarar: “Vá lá, perdoo-te
por esta vez... Toma o doce, mas não repitas a graça!” Isto seria um erro
a repercutir no futuro, pois ou a criança não merecia a punição, e nesse
caso não lhe deveria ser imposta; ou a merecia de fato e, portanto, que a
sofresse. Se a mãe perdoa “por esta vez”, o filho não compreenderá que não
o perdoe “cada vez”.
• Mesmo se tiverdes a mão pesada, se a sanção
aplicada for excessiva, é melhor manter, no próprio interesse do
vosso filho, a sentença proferida, já com o espírito preparado a ter
mais moderação de outra vez. Do contrário, a criança não levará mais a sério
as vossas ameaças ou reprimendas.
• Se as ordens que dais aos vossos filhos, se as
reprimendas que lhes infligis procedem de impulsos do momento, de movimentos
de impaciência, da imaginação, ou de sentimentos cegos ou mal ponderados,
como impedir que não pareçam, na maioria das vezes, arbitrárias, incoerentes,
talvez mesmo injustas e inoportunas? Um dia, vos mostrais desarrazoadamente exigentes, inexoravelmente severos para com os pobres
petizes. No dia seguinte, deixais que façam tudo. Começais por lhes recusar uma
coisa insignificante, que, logo em seguida, fatigados de suas queixas e amuos,
lhes concedereis com demonstrações de ternura, ansiosos por acabar, de uma
vez por todas, uma cena quo vos irrita os nervos. Por que, então, não
aprendeis a dominar os movimentos do vosso humor, frear vossa fantasia, quando
vos empenhais na educação dos vossos filhos? Se, em certos momentos, não
vos sentis de todo senhores de vós mesmos, adieis para mais tarde, para
uma hora melhor, a reprimenda que imaginastes, a punição que vos
acreditais no dever de infligir. Na calma e tranquila firmeza do
vosso espírito, vossa palavra e vosso castigo terão outra eficácia, uma força mais
educativa e mais autorizada do que as “pancadas” de uma paixão mal
dominada.
Não vos esqueçais de que as crianças, mesmo
pequenas, têm olhos para observar e registrar; num relance, elas percebem
vossas mudanças de humor. Desde o berço, mal chegam a distinguir a mãe
entre as outras mulheres, rapidamente percebem a força que um capricho
ou uma queixa podem exercer sobre os pais, e não se privarão, na
sua maliciazinha inocente, de abusar dessa força.
Evitai, assim, tudo quanto possa diminuir vossa
autoridade sobre elas. Evitai o enervamento dessa autoridade pelo uso habitual
e pela insistência fastidiosa de recomendações e observações. Os ouvidos
infantis acabarão por habituar-se a isto e não lhe darão mais
qualquer importância.[1]
[1]
Sua Santidade Pio XII, Alocução, 1941, op. cit.