quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Da Paz Interior

DA PAZ INTERIOR


§ A sua excelência

Num excelente Tratado sobre a paz interior, o Padre Ambrósio de Lombez diz que toda a nossa piedade só deve tender a nos unir a Deus pelo conhecimento, e pelo amor, a fazê-lO reinar em nós pela nossa dependência absoluta e contínua, por uma fiel correspondência ao Seu atrativo interior e a todos os Seus movimentos, enquanto aguardamos que Ele nos faça reinar conSigo na Sua glória. Ora, sem a paz interior não podemos possuir todas essas vantagens senão imperfeitamente. A perturbação interrompe as nossas meditações; então a nossa alma, enfraquecida, só se eleva a Deus com esforço, e os violentos abalos que ela sofre alteram muito em nós a tranqüilidade e a solidez do Seu reinado.

O nosso coração é sempre o trono dEle, porém um trono vacilante, ameaçada de ruína próxima; é a Sua sede, mas uma sede mal segura, onde Ele não pode achar o repouso. Por isto o profeta diz que Deus habita na paz: Factus est in pace locus ejus (SI 75, v. 2). E continuando diz ainda o mesmo Padre que não é que Ele não habite também na alma do justo agitado; mas está nela como um estranho, porque a agitação e a perturbação que ela sofre anuncia que a permanência dEle nela será de pouca duração. Daí fácil é concluir quão excelente e necessária é essa paz da alma, e como se deve banir a agitação e a perturbação que os escrúpulos nela introduzem.

1º. A paz interior dispõe-nos para as comunicações divinas, e ao mesmo tempo dispõe Deus a no-las conceder, pois Ele gosta de falar à alma na calma, na solidão, na liberdade. Então, Sua voz harmoniosa faz-se ouvir melhor, a Sua graça opera, ilumina, inflama, revolve e conduz como quer. Mas, se a perturbação forma como que uma nuvem espessa que nos furta uma parte dessa luz celeste, se o ruído confuso das agitações e das perturbações interiores impede de ouvir a voz do Espírito divino, então a Sua ação é neutralizada, e a nossa alma, por sua vez, é privada desses preciosos favores que tanto a ajudariam no cumprimento do bem.

2º. Como, então, discernirmos os movimentes que Deus opera em nós daqueles que não vêm dEle? Só na paz é que a alma pode fazê-lo, porque então está recolhida, atenta, e no ponto de vista verdadeiro para esse discernimento. Ao passo que, quando, deixamos entrar a dissipação, as angústias, a perturbação que o espírito de malícia nela entretém, é impossível ser bem sucedido nisso. Oh! diz o P. Lombez, quantos escrúpulos eliminados, quantas ilusões dissipadas, quantas falsas devoções retificadas, se nunca saíssemos dessa paz que nos leva a Deus sem ruído e sem perturbação, e, ao menos, se tivéssemos por suspeito tudo o que pode alterar a doçura dela!

3º. De que socorro não é ainda a paz interior para lutarmos com vantagem contra o inimigo da salvação e triunfarmos das tentações! Quando se vela no interior da casa, quando se tem luz, quando se está forte armado, não se teme a surpresa do inimigo; assim também, quando a alma está recolhida, atenta sobre o seu interior, quando se possui, quando está esclarecida pelas luzes do Espírito Santo, da Sagrada Escritura e dos prudentes avisos do diretor, quando empunha as armas da salvação, esse gládio de que o arcanjo se serviu contra Lúcifer, isto é, a oração, não pode a alma ser surpreendida pelo inimigo, nem vencida pela tentação. Ao contrário, a perturbação, lançando em nós a confusão, como no meio de um exército em desordem, desconcerta-nos, abre as portas ao inimigo, faz-nos esquecer as armas, e então somos fáceis de vencer. O grande segredo, nos perigos em geral, e nestes em particular, é possuir-se.

4º. Mas é pela calma da alma que podemos, sobretudo fazer progressos no conhecimento de nós mesmos, conhecimento este indispensável para progredirmos na humildade e na abnegação de nós mesmos. Ora, este estudo não pode fazer-se senão ao favor da paz da alma: numa água tranqüila e clara distinguem-se os mais pequenos grãos de areia; e na alma tranqüila percebem-se também as mais leves faltas. Então nos vemos tais quais somos, conhecemo-nos e desprezamo-nos, porquanto conhecer-se e desprezar-se são duas coisas inseparáveis: dai nasce à humildade, fundamento de todo edifício interior.

5º. Outra vantagem bem preciosa, dessa paz interior é a facilidade que dela retiramos, para nos recolhermos. Sem dúvida, a presença de Deus, a atenção à oração, os pensamentos graves e sérios contribuem poderosamente para nos recolhermos, mas a paz da alma é para isto um meio mais direto e mais eficaz. Quem diz paz; calma, tranqüilidade interior, diz recolhimento; porquanto, se é verdade que a dissipação provém do espírito e do coração, só da paz da alma se pode esperar o recolhimento.

6º. Digamos, enfim, que ela produz nos nossos corações delícias inexprimíveis, que ela nos desgosta dos bens sensíveis e dos prazeres insulsos deste mundo, para nos fazer degustar as coisas espirituais e celestes; que nos faz saborear as doçuras que se respiram no serviço de Deus, nos dá uma conduta uniforme, doce, modesta, tranqüila, ingênua, que faz sentir o encanto da virtude aos homens que estão mais distanciados dela, os leva a amá-la a honrar a. piedade, a respeitar a religião e a glorificar a Deus.

A paz da alma é, pois, algo de inteiramente divino; é como que a alma da piedade, o manancial das graças e das consolações, a felicidade desta vida o título mais seguro às predileções de Jesus Cristo que diz: "Felizes os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus". É um meio poderoso de obter a paz futura, pois ela firma em nós o Reino de Deus, dispõe para as comunicações divinas, favorece o discernimento dos movimentos sobrenaturais, repele as tentações, ajuda-nos a nos reconhecermos, dá-nos a simplicidade, secunda o recolhimento, enche-nos enfim de inefáveis doçuras, de merecimentos e de bens.

Se tais são as vantagens e a excelência dessa paz, não é de admirar que o demônio se encarnice em perturbá-la e em destruí-la em nós, e, pelo contrário, de admirar seria que não estivéssemos prontos a superar tudo para obtê-la e possuí-la.

(Tratado dos Escrúpulos, Instruções para esclarecer, dirigir, consolar e curar as pessoas escrupulosas pelo Padre Grimes – 1952)

PS.: Grifos meus.

Assuntos para a Pregação

Assuntos para a Pregação 
(De uma carta de São Francisco Xavier ao padre Gaspar Barzeu,
que partia para a missão de Ormuz) 


"A pregação é um bem geral; de todas as funções do ministério evangélico, é dela que se tiram os melhores frutos. Pregai, pois, o maior número de vezes que puderdes; mas evitai de avançar proposições duvidosas; não tomeis por assunto de vossos sermões senão verdades incontestáveis, claras, e que por si mesmas promovam a reforma dos costumes. 

Fazei sobressair a majestade infinita de Deus e a enormidade do pecado que O ultraja. Imprimi nos espíritos a crença da aterradora sentença que será fulminada contra os réprobos no dia do Juízo Final. Apresentai com todos os recursos da eloqüência os suplícios eternos dos que forem condenados. Falai, finalmente, da morte e da morte súbita, aos que vivem na indiferença e no esquecimento da sua salvação, com uma consciência carregada de crimes." 

(J.M.S. Daurignac, São Francisco Xavier, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto: 1947, 4ª edição, p. 323).

PS.: Grifos meus.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pensamento da noite de 28/11/2011

Pensamento da noite de 28/11/2011


"O cristão compreende a sublime beleza do sofrimento, aceita-a, não só em silêncio, com resignação e coragem, mas com amor. Vós, ide mais longe, ensaiai  sorrir ao sofrimento. Tirar-lhe-eis assim uma boa parte do seu amargor, e agradareis a Deus. Santa Joana d'Arc, ferida, dizia: 'Não me lastimeis! não é sangue que corre, é glória!' Dizei também, nos vossos sofrimentos pequenos ou grandes: 
Não me lastimeis, é por Deus que eu sofro! O sofrimento depura, engrandece,
vem de Deus, a Ele nos conduz ou reconduz."
(Padre Baeteman, Formação da Donzela)

domingo, 27 de novembro de 2011

O Verbo Eterno de rico se fez pobre

O Verbo Eterno de rico se fez pobre 


Excutere de pulvere, consurge, sede, Jerusalem. 
Sacode-te do pó, levanta-te; assentate, Jerusalém.
(Is 52,2)

Coragem, alma cristã, exclama o profeta, sacode-te do pó das afeições terrenas; levanta-te, sai da lama do vício em que te mergulhaste miseravelmente. Assenta-te no trono que te pertence, e reina sobre as paixões que procuram privar-te da glória celeste e te expõem ao perigo duma eterna ruína. 

Mas que deverá fazer uma alma para conseguir isso? — Lançar os olhos para a vida de Jesus Cristo, que, soberano Senhor de todas as riquezas do céu e da terra, se fez pobre e calcou aos pés todos os bens deste mundo. À vista de Jesus feito pobre por amor de nós, é impossível que não nos movamos a desprezar tudo por amor de Jesus. — Consideremo-lo, pois, atentamente; e para isso peçamos a Jesus e Maria nos iluminem. 

I. Tudo o que há no céu e na terra pertence a Deus: Minha é a terra e tudo o que ela encerra, diz o Senhor. Mas isso é pouco; o céu e a terra não são o todo, mas uma mínima parte das riquezas de Deus. A riqueza de Deus é infinita e imperecível, porque não depende de outrem: Ele a possui em si mesmo e é um bem infinito. Eis por que Davi lhe dizia: Tu és o meu Deus, que não tens necessidade dos meus bens. — Pois bem, esse Deus tão rico se fez pobre fazendo-se homem, a fim de enriquecer a nós miseráveis pecadores. Ele sendo rico se fez pobre por vós, a fim de que vós fosseis ricos pela sua pobreza, diz o apóstolo

Como! um Deus fazer-se pobre! e por que? — Procuremos compreendê-lo. Os bens terrenos não podem ser senão terra e lama; mas essa lama cega de tal forma o homem, que este não vê mais os verdadeiros bens. Antes da vinda de Jesus Cristo, o mundo era cheio de trevas, porque era cheio de pecados: Toda a carne corrompera o seu caminho. Todos os homens haviam violado e alterado a lei da razão; viviam como irracionais pensando só em gozar os bens ou prazeres terrenos e descuidando-se inteiramente dos bens eternos. Mas, graças à divina misericórdia, o Filho de Deus veio esclarecer esses cegos: Aos que habitavam na região da sombra da morte nasceu-lhes o dia. 

Jesus Cristo foi chamado por Simeão a Luz das nações; e por S. João a Luz que resplandece nas trevas e que ilumina a todo o homem. O Senhor já nos predissera que Ele mesmo seria o nosso Mestre, e um Mestre visível a nossos olhos, que viria ensinar-nos o caminho da salvação, o qual não é outro que a prática das virtudes e esclarecimentos da santa pobreza

Os teus olhos verão o teu Mestre. Ora, esse divino Mestre devia ensinar-nos não só por Sua palavra, mas ainda e sobretudo pelo exemplo da Sua vida. 

A pobreza, diz S. Bernardo, não existia no céu; ela só se achava na terra; mas o homem não conhecia o seu valor e por isso a detestava. Eis porque o Filho de Deus desceu do céu à terra e escolheu a pobreza por companheira de toda a Sua vida a fim que seu exemplo no-la fizesse estimar e procurar. Eis, pois, vosso Redentor Menino, desde o Seu nascimento feito Mestre da pobreza na gruta de Belém, que por esse motivo Bernardo chama “escola de Jesus Cristo” e S. Agostinho “a gruta do Mestre”. 

Por expressa disposição de Deus, o edito de César fez que Jesus nascesse não só pobre, mas o mais pobre de todos os homens, vindo ao mundo longe de sua própria habitação numa gruta que servia de abrigo aos animais. Ordinariamente os pobres nascem em suas casas e aí encontram ao menos as coisas indispensáveis: panos, lume e pessoas que ao menos por compaixão os socorrem. Qual a criança cujos pais são tão pobres que a fazem nascer num estábulo? Nos estábulos só se vêem animais

S. Lucas narra as circunstâncias desse grande acontecimento. Chegado o tempo que Maria devia dar à luz, José Lhe procurou alojamento na cidade. Em vão vai de porta em porta, nenhuma se lhes abriu. Dirige-se à hospedaria, e lá não há mais lugar para eles. É assim que a Mãe de Deus Se viu obrigada a refugiar-Se a uma miserável gruta, onde, apesar da grande afluência de estranhos, só se achavam dois animais. 

Os filhos dos príncipes da terra nascem em apartamentos preparados com cuidado e ricamente ornados; têm berços de prata e os mais finos paninhos; os grandes do reino e as mais nobres damas os assistem. O Rei do céu, em vez de apartamento bem guarnecido e aquecido, não tem por abrigo senão uma fria gruta onde crescem as ervas; em lugar dum leito de plumas, só tem um pouco de palha dura e pungente; em vez de panos finos tem só alguns trapos grosseiros, frios e úmidos; dois animais formam a sua corte, e o hálito deles, substituindo o fogo, lhe aquece os membros; enfim por berço só tem uma miserável manjedoura. 

Ah! exclama S. Pedro Damião, ao ver o Criador dos anjos nesse abatimento, envergonhe-se o nosso orgulho!”E como é possível, pergunta S. Gregório de Nissa, ao Rei dos reis, que enche o céu e a terra, não encontrar para repousar Seus membros vindo ao mundo, senão essa pobre manjedoura?” É que por nosso amor esse Rei dos reis quis ser pobre e o mais pobre de todos os homens. — Os filhos dos pobres tem ao menos leite suficiente para saciá-las; mas mesmo nisso Jesus quis ser mais pobre do que eles, pois o leite de Maria era miraculoso; Ela o recebera não da natureza, mas do céu, como a Igreja no-lo dá a entender; e Deus para comprazer Seu Filho que queria ser o mais pobre dos filhos dos homens, não proveu Maria de grande abundância de leite, mas só de quantidade apenas suficiente para sustentar a vida de Seu divino Infante; isso a Santa Igreja exprime em seus cânticos: “Por alimento teve apenas um pouco de leite”. 

Nascido na pobreza, continuou Jesus a ser pobre durante toda a sua vida, e não só pobre, mas indigente, segundo a expressão de S. Paulo: Egenus. Do texto grego Cornélio a Lápide deduz que Ele foi até mendigo. Nascido nessa extrema pobreza nosso Redentor foi constrangido a fugir para o Egito, deixando a Sua pátria. S. Boaventura contempla compassivo a Maria e José nesse longo e penoso trajeto; imagina-os privados de tudo e levando em seus braços o santo Infante que muito sofreu com a pobreza deles: “Onde achavam alimento? pergunta-se ele; onde pernoitavam? onde se hospedavam?” Mas de que podiam eles nutrir-se senão dum pouco de pão duro? onde se deitavam no deserto senão sobre a terra nua, ao relento ou debaixo duma árvore? Ah! se alguém encontrasse de caminho esses três nobres exilados, por quem os poderia tomar senão por três pobres mendigos? 

Chegaram enfim ao Egito; e podemos imaginar-nos quão penosa foi a permanência de sete anos que lá estiveram, eles pobres, em um país estranho, onde não tinham nem amigos, nem parentes. Segundo S. Basílio, eles mal chegavam a conseguir o necessário à força de trabalho. “Mais duma vez, ajunta Landolfo de Saxônia, o Menino Jesus, premido pela fome, pediu à Sua Mãe um pedaço de pão, e Maria teve de dizer-Lhe que não havia mais”.

Do Egito voltam de novo à Palestina e dirigem-se a Nazaré; e lá Jesus continua a viver na pobreza. “Uma casa pobre, móveis pobres, eis com que se contenta o Criador do mundo”, diz S. Cipriano. Nessa humilde morada leva a vida dos pobres: ganha o pão com o trabalho e no suor de seu rosto, como o faz um pobre artífice, filho de artífice; é assim que os hebreus o conheciam e o designavam: Não é Ele o carpinteiro, — o filho do carpinteiro? 

Nosso divino Redentor começa enfim a pregar o Seu Evangelho. Nesses três últimos anos que Ele passou sobre a terra, longe de ficar à vontade, pratica uma pobreza ainda mais rigorosa que antes, e vive de esmolas. A alguém que mostrara intenção de segui-lO levado pela esperança duma vida cômoda, Jesus disse: As raposas têm suas covas e os pássaros do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça. Cornélio a Lápide interpreta assim essas palavras: Se esperais fazer fortuna seguindo-Me, estais enganados, porque Eu vim à terra ensinar a pobreza, e para esse fim Me tornei mais pobre do que os animais, que têm ao menos um abrigo, enquanto que Eu não tenho neste mundo nem a menor parcela de terra que me pertença e onde possa repousar; e Eu quero que os Meus discípulos sejam como Eu. E com efeito, observa S. Jerônimo, os verdadeiros discípulos de Jesus não têm e não desejam nada senão a Jesus. 

Numa palavra, Jesus Cristo viveu pobre e morreu pobre, sendo preciso que José de Arimatéia Lhe desse um lugar de sepultura, e outros Lhe fizessem a esmola dum lençol para sepultar o Seu corpo. 

II. O Cardeal Hugo, considerando a pobreza, as humilhações e os sofrimentos a que nosso divino Salvador quis submeter-se, não pôde contentar-se e disse: Parece que nosso Deus levou o amor dos homens até a demência, tomando sobre Si tantas misérias, a fim de lhes proporcionar as riquezas da graça divina e da glória celeste

E se Jesus Cristo não houvesse operado esse prodígio de amor, continua o mesmo autor, quem poderia achar possível que o Senhor de todos os bens quisesse jamais tornar-Se tão pobre, o Senhor de todos os seres fazer-Se servo, o Rei do céu padecer tanto desprezo, o Ser infinitamente feliz sujeitar-Se a tantas dores?"

Sem dúvida, há na terra príncipes compassivos que gostam de empregar seus tesouros em alívio dos pobres; mas viu-se jamais algum rei que, para auxiliar os pobres, se tenha tornado semelhante a eles como o fez Jesus Cristo? Cita-se como um prodígio de caridade o que fez S. Eduardo: encontrando de caminho um mísero mendigo incapaz de se mover e abandonado de todos, tomou-o afetuosamente sobre os ombros e levou-o à igreja. Isso foi certamente uma ação sublime de molde a excitar a admiração dos povos; mas procedendo assim, esse Santo não deixou de ser rei e rico como antes. O Filho de Deus, o Rei do céu e da terra, vai mais longe: desejando salvar sua ovelha desgarrada, isto é, o homem, não se contenta de descer do céu para vir buscá-la, nem de pô-la sobre os ombros: não hesita despojar-Se de Sua majestade, de Suas riquezas, de Suas honras; faz-Se pobre e o mais pobre de todos os homens. 

Ele oculta a sua púrpura, isto é, a Sua divindade e realeza sob as aparência dum pobre operário”. Assim fala S. Pedro Damião. E S. Gregório de Nazianzo exclama com transporte: “Aquele que enriquece os outros submete-Se à indulgência; abraça a minha pobreza humana para me fazer partilhar Suas riquezas divinas”. Sim, Aquele do qual os ricos tem suas riquezas, quer ser pobre a fim de nos merecer não os bens faltos e transitórios deste mundo, mas as riquezas divinas que são imensas e eternas; e com  Seu exemplo induz-nos a nos desapegarmos das coisas deste mundo, que nos põem em grande perigo de eterna ruína! — Lê-se na vida de S. João Francisco Regis, que o assunto ordinário de suas meditações era a pobreza de Jesus. 

S. Alberto Magno diz que Jesus quis nascer num estábulo, perto da via pública, por dois fins. O primeiro foi para nos fazer melhor compreender que somos todos viajores sobre a terra, onde estamos de passagem, como o diz S. Agostinho. Ninguém se apega certamente ao lugar onde se hospeda uma noite de passagem: sabe que o tem de deixar em breve. Ah! se os homens não se esquecessem que são viajores neste mundo, e que se dirigem à morada da eternidade, haveria acaso um só que quisesse prender-se aos bens terrenos com risco de perder os do céu? — O segundo fim que Nosso Senhor teve em vista, segundo S. Alberto Magno, foi de ensinar-nos por Seu exemplo “a desprezar o mundo”, que nos não oferece bem algum capaz de contentar nosso coração. O mundo ensina a seus adeptos que a felicidade consiste no gozo das riquezas, dos prazeres, e das honras; mas esse mestre enganador foi condenado pelo Filho de Deus feito homem: Agora chegou o juízo do mundo. Esse julgamento do mundo começou, segundo S. Anselmo e S. Bernardo, no estábulo de Belém. Jesus quis lá nascer pobre para induzir-nos com Seu exemplo a banirmos dos nossos corações a afeição aos bens terrenos e a consagrar-nos inteiramente ao amor de Deus e da virtude. Ele assim entrou, diz Cassiano, e nos conduziu por um caminho novo inteiramente oposto ao do mundo, que odeia e foge da pobreza. 

Fiéis a esse divino exemplo os Santos nada tiveram tanto a peito como despojar-se de tudo para na pobreza seguirem a Jesus pobre. “A pobreza de Jesus, disse S. Bernardo, é mais rica do que qualquer tesouro”

Com efeito ela nos proporcionou bens mais preciosos do que todos os tesouros do mundo, porque pelo desprezo que nos inspira das riquezas da terra, nos anima à conquista das riquezas celestes. O Apóstolo considerava todas as coisas como lodo e fumaça em comparação da graça de Jesus Cristo: Renunciei todas as coisas e as considero como esterco para ganhar a Cristo. S. Bento, filho de família opulenta, renuncia na flor da mocidade às comodidades da casa paterna, e retira-se a uma caverna onde viverá dum pouco de pão recebido de esmola dum caridoso monge chamado Romano. S. Francisco de Borja abandona todas as suas riquezas para abraçar a via pobre na Companhia de Jesus. S. Antão vende todo o seu rico patrimônio, distribui-o aos pobres e retira-se a um deserto. S. Francisco de Assis devolve ao pai até a camisa para viver mendigando o resto de sua vida. 

Quem ama as riquezas, dizia S. Filipe Néri, jamais se santificará. E com efeito, num coração cheio de terra não pode ter lugar o amor divino. “Trazeis um coração vazio?” essa era, na opinião dos antigos monges, a pergunta mais necessária a fazer-se aos que se apresentavam para ser admitidos em sua companhia. Perguntando se tinham o coração livre de afeições terrenas, queriam dizer: Sabei que sem isso jamais podereis ser inteiramente de Deus. Onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração, disse Jesus Cristo. Ora, tesouro de cada um é o objeto de sua estima e de sua afeição

Morrendo uma vez um rico, S. Antônio de Pádua publicou do alto do púlpito que esse infeliz estava condenado; e como prova do que avançava, disse que fossem ver o lugar onde estava o seu dinheiro, e lá encontrariam o seu coração. Com efeito foram e acharam o coração daquele infeliz ainda quente no meio de seu dinheiro. 

Deus não pode ser o tesouro duma alma apegada aos bens da terra; eis por que Davi fazia esta oração: Senhor, criai em mim um coração puro, tirai do meu coração toa afeição terrena, a fim de que eu possa exclamar: Vós só, ó meu Deus, pois o Deus do meu coração e a minha partilha para sempre. 

Quem, pois, deseja santificar-se de verdade, deve banir de seu coração tudo o que não é Deus. De que servem os tesouros, as riquezas? para que esses bens, se não podem contentar o nosso coração, e se os temos de deixar tão depressa? Não amontoeis tesouros sobre a terra, diz o Senhor, onde a ferrugem e a traça os consomem; entesourai para vós tesouros no céu. 

Oh! que bens imensos prepara Deus no céu aos que O amam! Que tesouro é a graça de Deus e o divino amor para quem lhe conhece o valor! Comigo estão as riquezas... para enriquecer os que me amam. Deus contém em Si e leva consigo a riqueza e o prêmio. No paraíso Deus só é a recompensa dos eleitos; dando-Se a eles satisfaz plenamente todos os seus desejos, conforme disse a Abraão: Eu mesmo serei a tua recompensa infinitamente grande. 

Mas se queremos amar muito a Deus no céu, temos primeiro de amá-lO muito na terra. O grau de amor ao qual tivermos chegado no fim de nossa peregrinação terrestre, será a medida eterna do amor em que nos abrasaremos por Deus no céu. E se queremos estar ao abrigo de todos os perigos que nos poderiam separar de Deus nesta vida, estreitemos sempre mais os laços do nosso amor, a exemplo da esposa sagrada que dizia: Achei a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele e não o largarei mais. Como pode a esposa sagrada agarrar o seu dileto? Brachiis caritatis. Nos braços de seu amor, responde Guilherme. Sim, diz S. Ambrósio, “é pelo amor que Jesus se deixa prender”. Feliz pois quem puder exclamar com S. Paulino: “Guardem os ricos o seu ouro e os reis os seus cetros; Jesus é a nossa glória, a nossa riqueza, a nossa coroa”. E com S. Inácio: “Senhor, dai-me a Vossa graça e o Vosso santo amor; fazei que Vos ame e seja de Vós amado; e sou bastante rico e não quero outra coisa e nada mais tenho a desejar!” “Quem possui tudo em Deus, diz S. Leão, tem certeza de nunca sentir falta de coisa alguma”. 

Para chegarmos a essa perfeição, invoquemos sem cessar nossa augusta Mãe, Maria, e procuremos amá-lA sobre tudo depois de Deus; Ela nos afirma pelas palavras que a Santa Igreja Lhe põe nos lábios, que enriquece de graças a todos os que A amam. 

Afetos e Súplicas 

Meu caro Jesus, inflamai-me de Vosso santo amor, pois que para isso viestes à terra. É verdade que eu, miserável, por Vos haver ofendido após tantas luzes e graças especiais que me destes, não mereço arder nessas benditas chamas, em que ardiam os Santos; as chamas do inferno deveriam ser a minha partilha; mas, apesar da minha ingratidão, estou ainda fora dessa horrível prisão que tenho merecido; ouço que Vos, voltando-Vos para mim, me dizeis: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração. Ó meu Deus, agradeço-Vos por me renovardes esse doce preceito; e já que me mandais amar-Vos, quero obedecer-Vos, quero amar-Vos de todo o meu coração. 

Senhor, no passado fui um ingrato, um cego; esqueci voluntariamente o amor que tendes por mim; mas agora que me aclarais novamente e me recordais tudo o que fizestes por meu amor; agora que considero que Vos fizestes homem por mim e que Vos carregastes das minhas misérias; agora que Vos vejo pobre na palha, tremendo de frio, gemendo e chorando por mim, ó divino Infante, como poderia viver sem Vos amar? Ah! perdoai-me, amor meu, perdoai todos os desgostos que Vos tenho dado. 

Ó Deus, como pude ofender-Vos assim, sabendo pela fé tudo o que sofrestes por mim? Mas essas palhas que Vos pungem, essa vil manjedoura que Vos acolhe, esses ternos vagidos que soltais, essas lágrimas de amor que derramais, fazem-me esperar com confiança o perdão de minhas falta e a graça de Vos amar o resto de minha vida. Sim, eu Vos amo, ó Verbo encarnado, eu Vos amo, ó divino Infante, eu Vos amo e me dou todo a Vós. Pelas penas que sofreis no estábulo de Belém, ó meu Jesus, não rejeiteis um mísero pecador que quer amar-Vos. Ajudai-me e dai-me a perseverança; tudo espero de Vós. 

Ó Maria, que sois a digna Mãe de tão grande Filho e a mais amada desse Filho, rogai por mim.

(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo por Santo Afonso Maria de Ligório)
PS.: Grifos meus.

Medalha Milagrosa

Nota do blogue: Republico um ótimo texto sobre a Medalha Milagrosa.

Medalha Milagrosa
por
Dom Antonio de Castro Mayer

Medalha Milagrosa

Oval, tendo-no anverso a imagem da Virgem Santíssima, com os braços amavelmente estendidos, as mãos abertas de onde procedem raios de graças os pés poisando sobre a cabeça de uma serpente deitada sobre um globo, bordejando a medalha e começando à altura da mão direita e terminando à altura da mão esquerda, a frase: ó Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós

No reverso um “M” atravessado por um traço que sustentam a Cruz, e repousando sobre outro traço, tendo em baixo dois corações, um chamejante e coroado de espinhos, outro também chamejante e atravessado por uma espada: doze estrelas bordejam, deste lado a medalha.

Essa é a medalha que chama “milagrosa” pelas inúmeras garças que obtêm da Virgem Santíssima aqueles que a trazem devotamente com sigo. Não é, pois uma medalha comum. Não. Ela tem sua história que mostra o desvelo materno de Maria Santíssima para com seus filhos na terra. Vamos contá-la:

Origem: a visão

Vivia em Paris à rua do Bac no convento das filhas da caridade a irmã Catarina Labouré – hoje, Santa Catarina Labouré. Agraciada por diversas visitas da Virgem Santíssima, Mãe de Deus, conta ela especial que teve no dia 27 de novembro de 1830, sábado véspera do primeiro domingo de Advento apareceu-lhe Maria Santíssima por detrás do Sacrário: 

A Virgem Santíssima, diz ele estava de pé sobre um globo, vestida de branco, com um véu branco a cobrir-lhe a cabeça e um manto azul que descia até os pés um o cabelo em tranças, seguro por uma fita debruada de pequena renda, o rosto bem descoberto e de uma formosura indiscritível.

As mãos elevada até as cintas sustentavam outro globo, figura do mundo rematado por uma cruzinha de ouro. A Senhora toda rodeada de tal esplendor que era impossível fixá-la. O rosto iluminou-se-lhe de radiante claridade no momento em que com os olhos levantados ao Céu, oferecia ao Senhor o globo.

De repente os dedos cobriram-se de anéis e pedrarias preciosas de extraordinária beleza, de onde se desprendiam raios luminosos envolvendo a senhora em tal esplendor que já se lhe não via a túnica nem os pés. As pedras preciosas eram maiores umas menores outras e proporcionais eram também os raios luminosos. – O que então experimentei e aprendi naquele momento é impossível de explicar.

As palavras da Virgem

Como estivesse ocupada em contemplá-la, a Virgem Santíssima baixou para meus olhos e uma voz interior me disse no íntimo do coração: “este globo que vez representa o mundo inteiro e em especial a França e cada pessoa em particular”.

- Não sei exprimir o que descobri de beleza e brilho nos raios tão resplandecentes. A Santíssima Virgem acrescentou “eis o símbolo das graças que derrama sobre as pessoas que mais pedem”. – desapareceu então o globo que tinha nas mãos: e como se estas não pudessem com o peso das graças, os braços se abaixaram e se abriram na atitude graciosa reproduzida na Medalha.

A Medalha e a Promessa da Virgem Mãe

Formou-se, então em torno da Virgem um quadro um pouco oval onde em letras de ouro se liam estas palavras: “O Maria Concebida Sem pecado Rogai por nós que Recorremos e Vós”. Fez-se então ouvir uma voz que me dizia: “manda cunhar uma medalha com este modelo: as pessoas que a trouxerem receberam grandes graças, mormente se a trouxerem ao pescoço: ao de ser abundantes as graças às pessoas que a trouxerem com confiança”. 

– No mesmo instante, o quadro apareceu voltar-se e a viu no reverso a letra “M” encimada por uma Cruz, tendo um traço na base e por baixo do monograma de Maria dois corações de Jesus e Maria, o primeiro cercado de espinhos, o segundo atravessado por uma espada, e, segundo uma tradição oral comunicada pela vidente, uma coroa de doze estrelas a cercar o monograma de Maria e os dois corações. Também a mesma irmã disse que a Virgem Santíssima calçava aos pés uma serpente de cor esverdeada com pintas amarelas.

A Difusão da Medalha

Após dois anos, terminado o processo canônico o arcebispo de Paris, D. Quelen mandou cunhar a Medalha. Difundiu-se logo a Medalha, acompanhada de graças espirituais e corporais. Celebre é conversão do Judeu Afonso Ratisbona.

Ratisbona

Afonso Maria Ratisbona, nascido em Estransburgo, de família judia riquíssima, em 1º de maio de 1814, viveu como ateu dos 15 aos 23 anos, alimentando ódio mortal ao irmão Teodoro já convertido, aos padres, especialmente aos jesuítas, e às Religiosas. Visitando Roma, contra sua vontade acompanhou seu amigo o Barão Teodoro de Bussier, membro da embaixada francesa, à Igreja de Santo André delle frate.

Ficou na carruagem, enquanto o amigo fazia sua visita ao Templo. Cansado de esperar desceu ele também à Igreja, com intenção de apressar o amigo. Ali o aguardava a Misericórdia de Deus, amavelmente, pois vinha-lhe ao encontro através de Maria Santíssima. Naquele dia, 20 de janeiro de 1842, aparece a Virgem Santíssima segundo o modelo da Medalha Milagrosa, prostra o judeu incrédulo, que se levanta convertido apostolo ardorosamente voltado à conversão dos seus conacionais judeus.

Dia 31 de janeiro desse ano recebia, na Igreja de Gesú dos jesuítas, o Batismo, a confirmação e a Sagrada Comunhão. No dia 08 de dezembro de 1868 Pio IX confirmava “Instituto pela regeneração dos Israelitas”, por ele fundado e seu irmão Teodoro. Após várias obras apostólicas, morria em Jerusalém no dia 1º de maio de 1884, com o nome santíssimo de Maria Imaculada nos lábios.

Conclusão

Alimentemos a devoção à Medalha Milagrosa. Não deixemos de trazê-la ao pescoço, como recomendou a Virgem Mãe. E todos os dias rezemos pedindo-lhe a proteção, três Aves-Marias. Habituamo-nos a dá-la aos doentes que não se animam confessar-se, ou mesmo recusam o padre; pois, esta Medalha vence todas as resistências. É, pois, um meio fácil e ótimo de exercermos a caridade para como nosso próximo, a mais importante, a que cuida da salvação eterna.

Dom Antonio de Castro Mayer
(Boletim diocesano de novembro de 1975 - Diocese de Campos)

PS: Grifos meus

sábado, 26 de novembro de 2011

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus

Ladainha do Sagrado Coração de Jesus 


Senhor, tende piedade de nós. 
Cristo, tende piedade de nós. 
Senhor, tende piedade de nós. 
Jesus Cristo, ouvi-nos. 
Jesus Cristo, atendei-nos. 

Deus Pai dos Céus, tende piedade de nós. 

Deus Filho, Redentor do mundo, ... 
Deus Espírito Santo, ... 
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, ... 

Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, ... 
Coração de Jesus, formado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Mãe, ... 
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus, ... 
Coração de Jesus, de majestade infinita, ... 
Coração de Jesus, templo santo de Deus, ... 

Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, ... 
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do Céu, ... 
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, ... 
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor, ... 
Coração de Jesus, cheio de bondade e amor, ... 

Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, ... 
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor, ... 
Coração de Jesus, rei e centro de todos os corações, ... 
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência, ... 
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da Divindade, ... 

Coração de Jesus, no qual o Pai Celeste põe as Suas complacências, ... 
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos, ... 
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas, ... 
Coração de Jesus, paciente e misericordioso, ... 
Coração de Jesus, rico para todos os que Vos invocam, ... 

Coração de Jesus, fonte de vida e santidade, ... 
Coração de Jesus, propiciação pelos nossos pecados, ... 
Coração de Jesus, saturado de opróbrios, ... 
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes, ... 
Coração de Jesus, feito obediente até a morte, ... 

Coração de Jesus, atravessado pela lança, ... 
Coração de Jesus, fonte de toda consolação, ... 
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, ... 
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, ... 
Coração de Jesus, vítima dos pecadores, ... 

Coração de Jesus, salvação dos que em Vós esperam, ... 
Coração de Jesus, esperança dos que em Vós expiram, ... 
Coração de Jesus, delícia de todos os Santos, ... 

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor. 
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor. 
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. 

V: Jesus, manso e humilde de Coração. 
R: Fazei o nosso coração semelhante ao Vosso. 

Oração: Deus onipotente e eterno, olhai para o Coração do Vosso Filho diletíssimo e para os louvores e as satisfações que Ele Vos tributa em nome dos pecadores e, aos que imploram a Vossa misericórdia, concedei benigno o perdão, em nome do mesmo Vosso Filho, Jesus Cristo, que conVosco vive e reina, em unidade do Espírito Santo Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Oração retirada do livro "Adoremus: Manual de Orações e Exercícios Piedosos", de Dom Eduardo Herberhold, OFM, 1926, 15ª edição)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Acerca das dores de Maria

Acerca das dores de Maria


Maria falando ao Coração das Donzelas
por Abade A. Bayle
1917 

I. Tu, Minha filha, tens considerado até ao presente as dores do Meu divino Filho, mas não deixes de lançar um olhar para aquelas que Eu tive de sofrer nesses terríveis momentos. Só uma mãe pode apreciar a grandeza delas e dizer se não eram infinitamente cruéis. Era Mãe desse Filho que, concebido pela operação do Espírito Santo, era todo o Meu amor, a Minha vida, em quem tudo era amável, afetuoso, imaculado. O Seu olhar, a Sua esperança, eram a Minha felicidade. 

Era Mãe, e Mãe dum Filho que era Deus, que Se tinha encarnado em Meu seio virginal para salvar todos os homens da escravidão do inferno, dum Filho consubstancial ao Pai, que criou juntamente com Ele, que rege e governa com Ele o mundo inteiro, dum Filho que tinha realizado as esperanças dos patriarcas e as predições dos profetas. Mas este Filho adorado pelos anjos, saudado pelos astros, obedecido por todas as coisas visíveis e invisíveis, devia Eu vê-lO, vítima dos mais afrontosos tormentos e dos mais vergonhosos ultrajes. Como Ele não tinha querido encarnar-Se em Mim sem o Meu consentimento também não quis sofrer sem o Meu consentimento a Sua dolorosa paixão.

A Minha hora é chegada, ó Minha Mãe, Me disse Ele: a traição de Judas, as cordas, as cadeias, os escarros, as bofetadas, a flagelação, a coroa de espinhos, a cruz, o Calvário, esperam-Me. Devo cumprir a obra da Redenção. Podes tu imaginar um momento mais terrível! Bem sabia Eu que uma espada devia atravessar-Me o coração; disse-Me Simeão, quando apresentei no templo o Meu divino Filho; mas quando vi chegar esse momento, não teria podido suportar a Minha dor, se a força divina Me não tivesse amparado. Eu, Mãe dum Filho, vê-lO ser submetido aos mais horríveis tormentos que a barbaridade humana tinha podido inventar! Quem podia consolar-Me? 

II. Não te narrarei quanto o Meu coração foi despedaçado sabendo e vendo Jesus atado, arrastado por cordas de um tribunal ao outro, espancado por milhares de vezes, exposto ao povo como objeto: de desprezo, a cabeça magoada por uma coroa de Espinhos, vestido com um farrapo de púrpura, uma cana na mão à maneira de cetro, para entregá-lO ao escárnio da populaça! Não te contarei as Minhas dores quando O vi carregado com a cruz subir ao Calvário sem que me fosse permitido ajudá-lO. Pára unicamente coMigo aos pés da cruz. 

Muitas mães têm tido seus filhos cruelmente assassinados, mas não tiveram a dor de assistir ao seu suplício; esta dor suprema estava reservada para o Meu amor. Jesus devia beber o cálice de amargura, e Eu mesma bebi dele uma parte. 

Houve dois sacrifícios, um do Filho, outro da Mãe. Tive de assistir a esse terrível espetáculo, ver os membros puríssimos do Meu divino Filho pregados sobre Cruz. Vi Meu filho sobre a Cruz pedindo socorro a Seu Pai, que não Lhe dava atenção, e não poder Eu mesma socorrê-lO. Pedia de beber, queria saciar-Lhe a sede, mas não podia: tinha de vê-lO beber fel e vinagre.

Ah! Minha filha, posso apenas exprimir-te quanto o Meu coração foi despedaçado nesse momento. Dois altares foram erigidos sobre o Calvário, e dois sacrifícios de dor foram aí oferecidos: um sobre a Cruz; outro em Meu coração. Jesus não carecia dos Meus merecimentos para resgatar o mundo; Eu mesma devia pertencer ao número das remidas, devia ser a primeira. Mas não tinha sido só o homem a perder o mundo pelo pecado, a mulher tinha tido nisso grande parte, por isso o Deus Todo-Poderoso quis que não fosse só Jesus o único a remir o mundo e que unisse os Meus merecimentos aos do Meu Filho, tudo o que alcançavam os Meus merecimentos de conveniências a tudo o que obtinham os merecimentos absolutos e perfeitos da Sua paixão e da Sua morte.

III. Mas não acabaram ali as Minhas dores, ó Minha filha. Todo o ódio e toda a crueldade para os condenados, culpados dos maiores crimes, acaba logo que morrem. Mesmo eles tornavam-se então objeto duma compaixão involuntária. Mas ai! não houve piedade alguma para com Meu divino Filho. Tinha exalado o último suspiro depois de ter pedido a Seu Pai que perdoasse aos Seus algozes, mas a Sua cólera contra este inocente não estava inteiramente satisfeita; vem um soldado furioso que envia uma lançada a Jesus rasga-Lhe o lado e atravessa-Lhe o coração. Fui ainda testemunha dessa ferida, e esse golpe terrível penetrou no Meu Coração ao mesmo tempo que no Seu; que digo Eu? - toda a violência da dor recaiu sobre Mim, porque Jesus estava morto. Uma única coisa podia consolar-Me, era o pensamento de que tudo se cumpriu para salvação do mundo.

Era para a salvação do mundo que o Meu divino Filho devia morrer e verter até á ultima gota do Seu sangue. Mas essa consolação trocava-se em dor, locupletava-a mesmo. Pensava que para muitas almas esse sangue se derramava em vão que seria para muitos uma causa de condenação mais terrível em lugar de ser uma causa de salvação.

O dor! se tens um coração sensível, Minha filha, compreende a Minha situação.

Resignei-Me ao desejo do Eterno que Me pedia Meu Filho para holocausto e vítima de expiação

Não havia outro meio. Ou o mundo devia ser eternamente desgraçado ou Jesus devia morrer. - Que a Vossa vontade seja feita, disse Eu ao Pai celeste e curvei a cabeça diante dos decretos eternos do céu. Assisti à dolorosa Paixão, vi derramar todo esse sangue que para muitos devia correr inutilmente conforme o compreendi no Calvário mesmo. Alguns rasgavam o peito e pediam perdão, outros obstinavam-se na sua cegueira. E Eu, desgraçada Mãe, via o Meu Filho morto para todos os homens e não os salvando a todos! Ouvia a Sua voz que dizia: - Salvei-os, tudo está consumado, - e Eu via muitos sem cuidado algum na Sua redenção. Esta dor, ó Minha querida filha, tortura o Meu coração mais que todas as dores as mais amargas

Ora, este desprezo que Me magoou excessivamente, quantos agora são dele culpados! Quantos por vãos prazeres e para seguir as suas paixões tornam inútil o sangue vertido para a sua salvação! E tu, Minha filha, quererás também desprezar um tão grande beneficio! quererás infligir-Me a dor de te ver eternamente perdida! tem piedade da tua alma e de Mim. 

Afetos. Ó minha Mãe das dores, ó Mãe de misericórdia, ó Maria, tenho aumentado os meus sofrimentos multiplicando os meus pecados. Ao pé da cruz sentíeis uma dor mais viva pensando que muitos desprezariam esse sangue que víeis correr com tanta abundância das chagas do Vosso divino Filho. E eu, ah! bem o compreendo, até ao presente tenho tido a desgraça de ser do número desses infelizes! Tenho sido até ao presente um desses cruéis algozes que não tem sentido arrependimento algum pela morte de Jesus. 

Mas Vós tendes tocado o meu coração, ó querida Mãe. Um raio de luz desceu sobre mim. Quero ser do número daqueles que desciam do Calvário despedaçando o peito e pedindo misericórdia. Tende piedade de mim, Vossa miserável filha, que tenho ficado tão cruelmente insensível às Vossas dores, que não tenho feito senão aumentá-las. Ao pé da cruz Vós chorastes por mim também. Mas de que me serviriam os Vossos choros se ficasse imóvel nos mesmos desvarios? Sou feliz por ter podido, graças a Vós, conhecer a minha cegueira e a necessidade que tenho de chorar as minhas culpas e corrigir-me delas! Chorá-las-ei até ao fim da vida e acautelar-me-ei de cometê-las ainda de futuro. 

Vós tendes-me ensinado a aproveitar-me do beneficio da redenção, e com o Vosso auxilio, enquanto viver, não mais o desprezarei. 

PS.: Grifos meus.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Saudações ao Santíssimo Coração de Jesus

Saudações ao Santíssimo Coração de Jesus 


Ave, ó Coração de meu Jesus, salvai-me! 
Ave, ó Coração de meu Criador, aperfeiçoai-me! 
Ave, ó Coração de meu Salvador, libertai-me! 
Ave, ó Coração de meu Juiz, perdoai-me! 
Ave, ó Coração de meu Pai, governai-me! 
Ave, ó Coração de meu Mestre, ensinai-me! 
Ave, ó Coração de meu Rei, coroai-me! 

Ave, ó Coração de meu Benfeitor, enriquecei-me! 
Ave, ó Coração de meu Pastor, guardai-me! 
Ave, ó Coração de meu Jesus Menino, atraí-me! 
Ave, ó Coração de meu Jesus morrendo na Cruz, satisfazei por mim! 
Ave, ó Coração de Jesus no Santíssimo Sacramento, alimentai-me! 

Ave, ó Coração de Jesus em todos os Vossos mistérios e estados, dai-Vos a mim! 
Ave, ó Coração de Jesus, meu Irmão, morai comigo! 
Ave, ó Coração de incomparável bondade, tende piedade de mim! 
Ave, ó Coração magnífico, resplandecei sobre mim! 
Ave, ó Coração caridoso, compadecei-Vos de mim! 

Ave, ó Coração misericordioso, respondei por mim! 
Ave, ó Coração pacientíssimo, suportai-me! 
Ave, ó Coração fidelíssimo, pagai por mim! 
Ave, ó Coração dulcíssimo, abençoai-me! 
Ave, ó Coração pacífico, acalmai-me! 
Ave, ó Coração belíssimo, encantai-me! 
Ave, ó Coração nobilíssimo, enobrecei-me! 

Ave, ó Coração bendito, Médico e remédio de todos os nossos males, curai-me! 
Ave, ó Coração amante, fornalha ardente de amor, consumi-me! 
Ave, ó Coração modelo de toda perfeição, iluminai-me! 
Ave, ó Coração origem de toda felicidade, fortalecei-me! 
Ave, ó Coração, fonte de eterna benção, chamai-me, uni-me a Vós na vida e na eternidade!

(Oração retirada do livro "Adoremus: Manual de Orações e Exercícios Piedosos",
de Dom Eduardo Herberhold, OFM, 1926, 15ª edição)

24 de Novembro - São João da Cruz

24 de Novembro
São João da Cruz


"Ó Deus, que fizestes o bem-aventurado João, Vosso Confessor e Doutor, 
preclaro amante da cruz e da abnegação evangélica, 
fazei que, imitando sempre o seu exemplo, 
alcancemos a glória eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo."


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Aos que sofrem

Aos que sofrem


"Eu estou com ele na sua tribulação, dela o livrarei e glorificarei."
(Ps. XL, 15).

Jesus Cristo. - Porque estás triste, filha Minha? O que é que te atormenta? 

A alma. - Senhor, é que eu não posso mais. Sofro horrivelmente; é muito pesada a cruz que levo sobre os ombros; sobrecarrega-me; e eu quisera, se possível fosse, livrar-me dela. Choro incessantemente; aflijo-me; em vão procuro quem me console; o meu único alívio é queixar-me, soluçar, e dar livre curso às minhas lágrimas. Quão mal sabem consolar os tristes aqueles que estão alegres! As suas palavras ainda me irritam mais. Se eles sofressem como eu sofro, outra seria a sua linguagem. 

Jesus Cristo. - Desabafa, à vontade, o teu coração angustiado. Não Me ofendem as tuas lágrimas, nem as tuas queixas amorosas; pois, fui Eu que te fiz sensível às penas e a dor, às contrariedades e à cruz; ouve-Me, porém, com atenção, Eu amo-te verdadeiramente; desejo fazer-te feliz, e sei consolar-te porque conheço, por experiência própria, o que é uma dor acerba e uma cruz pesada. 

I. Eu estou contigo na tribulação. Eu bem podia tirar-te de sobre os ombros essa cruz que te sobrecarrega, como também podia ter evitado que ela te caísse sobre eles. Mas de quem te queixas tu? Quem julgas que te fabricou essa cruz, que assim te oprime? Pensas que foram os homens ignorantes ou maus. Pensas acaso que foram os elementos? 

Ergue-te, e olha um pouco mais acima. Quem te deu essa cruz fui Eu mesmo; fui Eu que permiti que te impusessem. Mas, muito antes de impô-la, pesei-a: e até toquei-a na Minha, para santificá-la. Não me faças a injúria de a achares pesada de mais; pois nisso Me acusarias de injusto ou de ignorante. É pesada, bem o sei, difícil de levar e aflitiva; mas não por demais. 

Ao cometeres o pecado abandonaste-Me para procurares um gozo ilícito nas criaturas; quero Eu, pois, que esse deleite o pagues tu agora com este tormento. Mais insuportável é o inferno, que mereceste por cada pecado teu. Parecia-te o mundo digno do teu amor; estavas muito aferrada às criaturas; e Eu quero desapegar-te delas, fazendo-te ver quanto elas são vãs, enganosas e custáveis, e quanta é a amargura que o seu trato deixa sempre no coração. 

A muitos tem a perseguição dado a coroa de mártires; a cada passo a prosperidade leva não poucos a serem viciosos.

Quantos pecados, em tuas tribulações, não tens tu deixado cometer, por não teres à disposição tantos meios nem ocasião de pecar? É assim que, vendo-te aflita, te desgostas do mundo e de ti mesmo; purifica-te mais e lembra-te do céu; e recorres a Mim por única consolação.

O caminho mais curto, e o mais seguro, para chegar ao céu - é o caminho da cruz. Anima o covarde, humilha o soberbo, purifica o penitente, ilumina o cego e coroa o justo. 

Não satisfeito com ter sido Eu próprio que te pus essa cruz aos ombros, tendo-lhe, primeiro, tomado o peso, Eu estou ao teu lado para te ajudar a levá-la, embora teus olhos não logrem descobrir-Me. Não durmo, filha Minha; não Me esqueço de ti nem te abandono, mas quero que, da tua parte, faças alguma coisa: quero que recorras à Minha proteção, e que te convenças de que nada podes sem o auxilio da Minha divina graça.  Foi por esse caminho que levei os Meus santos; por esse caminho foi a Minha Mãe Santíssima; foi por ele que Eu mesmo dirigi também os Meus passos. 

A alma. - Perdoai-me, Senhor, se a força da dor me faz perder o tino, e me leva a dizer que Vós não estivestes na cruz senão três horas, e que o meu padecimento dura já há muitos anos.

Jesus Cristo. - Minha filha, é verdade que eu não estive senão três horas pregado sobre a cruz; mas desde o primeiro instante da Minha vida, Eu tive-a cravada no coração. Acaso só a sua representação não me fez suar sangue no horto? Pois isso mesmo que Eu então quis mostrar no exterior para o teu aproveitamento, passava-se a cada instante no íntimo da minha alma. Toda a minha vida foi um martírio nunca interrompido. 

Os meus servos, sabendo isto, animavam-se a padecer por Meu amor. 

Senhor, dizia-Me o venerável João de Ávila, mais dor e mais paciência. Seja ainda a dor maior, contanto que o amor também aumente; que eu me deleite em padecer por Vós.” 

A minha amorosa esposa Teresa tambem exclamava assim: Ou padecer, ou morrer.” 
Madalena de Pazzi acrescentava: "Padecer e não morrer."

Perguntando Eu, um dia, ao meu servo João da Cruz que recompensa queria ele pelas penas sofridas em Meu serviço, respondeu-Me: "Quero padecer, Senhor, e ser desprezado por amor de Vós."

O meu servo Agostinho julgava ver, no pé da Minha Cruz, escritas estas palavras: Solução de todas as dúvidas. 

Não queiras, pois, ser mais do que os santos, nem ser mais bem tratada do que o teu Mestre, se não queres renunciar a ser Minha discípula. 

Também os pecadores levam a sua cruz; e com certeza mais pesada que a dos Meus servos; pois que é com impaciência e sem mérito algum que eles a sofrem. 

Ergue os olhos ao Calvário, e lá verás três cruzes: a Minha, que Eu mesmo quis, sem ter culpa alguma própria, levar por amor de ti; a do bom ladrão, que soube arrepender-se das suas culpas; e finalmente, a do mau ladrão, que viveu mal e que mal morreu, que viveu sofrendo, e continuará sofrendo indizíveis tormentos por toda a eternidade. Eu estava com ele na tribulação; tinha-Me ao seu lado; porém não quis aproveitar-se dos Meus merecimentos; e a sua impenitência tornou-lhe mais insuportáveis as suas dores. 

II. Eu te livrarei - É a esperança que adoça as amarguras da vida. A tua cruz é pesada; mas virá um dia em que te livrarei dela. Agora mesmo alguns momentos há, em que Eu te alivio, fazendo com que tu sintas algum tanto menos o seu peso. Aligeiram-te estas consolações, que às vezes misturo em teu penar; mas dia virá em que Eu te retirarei de todo, e então quererias tê-la levado com mais paciência e mais resignação. 

Muito padeceram, por meu amor, os meus mártires; mas os tormentos deles já acabaram. Se as tuas horas de sofrimento se te fazem longas e pesadas, muito mais pesadas se tornarão pela tua impaciência; e muito mais longa e pesada ainda será a eternidade para os condenados. Mas nesta vida mesmo, eu te livrarei da cruz sempre que isso convenha à tua salvação, e tu Me peças com confiança, com amor e com perseverança. 

III. Eu te glorificarei. - Se Me acompanhares no caminho do Calvário, levando a tua cruz com paciência, e melhor ainda com alegria, é assim que merecerás entrar no Meu santo Reino. 

Aqui trabalhas, e lá descansarás; aqui sofres privações como peregrino, lá gozarás como quem já está na sua pátria; não tendo mal algum a evitar, terás a desfrutar um bem imenso; aqui pelejas contra o inimigo, lá reinarás sem ter inimigos. 

O prêmio com que Eu, no céu, galardoarei os seus trabalhos, é um bem interminável, sem mescla do menor mal. Por pequenas cruzes, terás grande recompensa; por sofrimentos passageiros, terás eterno gozo. 

É tão sem medida este gozo que te espera, que não poderás deixar de exclamar, ao entrar de posse dele: Gratuitamente me dais todo este gozo, Senhor; não mereciam tanto os meus pequenos sofrimentos. Oh! quem nunca houvera fugido da cruz! Agora conhece com quanta sabedoria os santos costumavam procurá-la.

A alma. - Iluminai, Senhor, o meu entendimento, para que conheça os bens que o padecer encerra; inflamai a minha vontade para não repelir as cruzes que Vós vos dignais impor-me; e dai-me graça copiosa para levá-las não só com resignação e constância, mas até mesmo, Senhor, com gozo e com alegria. Assim seja! 

(100 dias de indulgência, por cada vez que se ler esta meditação, concedidos pelos Em.mo e Rev.mo   Cardeal D. Americo, Bispo do Porto, texto retirado do livro Maria falando ao Coração das Donzelas por Abade A. Bayle, 1917)

PS.: Grifos meus.