O Verbo Eterno de rico se fez pobre
Excutere de pulvere, consurge, sede, Jerusalem.
Sacode-te do pó, levanta-te; assentate, Jerusalém.
(Is 52,2)
Coragem, alma cristã, exclama o profeta, sacode-te do pó das afeições terrenas; levanta-te, sai da lama do vício em que te mergulhaste miseravelmente. Assenta-te no trono que te pertence, e reina sobre as paixões que procuram privar-te da glória celeste e te expõem ao perigo duma eterna ruína.
Mas que deverá fazer uma alma para conseguir isso? — Lançar os olhos para a vida de Jesus Cristo, que, soberano Senhor de todas as riquezas do céu e da terra, se fez pobre e calcou aos pés todos os bens deste mundo. À vista de Jesus feito pobre por amor de nós, é impossível que não nos movamos a desprezar tudo por amor de Jesus. — Consideremo-lo, pois, atentamente; e para isso peçamos a Jesus e Maria nos iluminem.
I. Tudo o que há no céu e na terra pertence a Deus: Minha é a terra e tudo o que ela encerra, diz o Senhor. Mas isso é pouco; o céu e a terra não são o todo, mas uma mínima parte das riquezas de Deus. A riqueza de Deus é infinita e imperecível, porque não depende de outrem: Ele a possui em si mesmo e é um bem infinito. Eis por que Davi lhe dizia: Tu és o meu Deus, que não tens necessidade dos meus bens. — Pois bem, esse Deus tão rico se fez pobre fazendo-se homem, a fim de enriquecer a nós miseráveis pecadores. Ele sendo rico se fez pobre por vós, a fim de que vós fosseis ricos pela sua pobreza, diz o apóstolo.
Como! um Deus fazer-se pobre! e por que? — Procuremos compreendê-lo. Os bens terrenos não podem ser senão terra e lama; mas essa lama cega de tal forma o homem, que este não vê mais os verdadeiros bens. Antes da vinda de Jesus Cristo, o mundo era cheio de trevas, porque era cheio de pecados: Toda a carne corrompera o seu caminho. Todos os homens haviam violado e alterado a lei da razão; viviam como irracionais pensando só em gozar os bens ou prazeres terrenos e descuidando-se inteiramente dos bens eternos. Mas, graças à divina misericórdia, o Filho de Deus veio esclarecer esses cegos: Aos que habitavam na região da sombra da morte nasceu-lhes o dia.
Jesus Cristo foi chamado por Simeão a Luz das nações; e por S. João a Luz que resplandece nas trevas e que ilumina a todo o homem. O Senhor já nos predissera que Ele mesmo seria o nosso Mestre, e um Mestre visível a nossos olhos, que viria ensinar-nos o caminho da salvação, o qual não é outro que a prática das virtudes e esclarecimentos da santa pobreza:
Os teus olhos verão o teu Mestre. Ora, esse divino Mestre devia ensinar-nos não só por Sua palavra, mas ainda e sobretudo pelo exemplo da Sua vida.
A pobreza, diz S. Bernardo, não existia no céu; ela só se achava na terra; mas o homem não conhecia o seu valor e por isso a detestava. Eis porque o Filho de Deus desceu do céu à terra e escolheu a pobreza por companheira de toda a Sua vida a fim que seu exemplo no-la fizesse estimar e procurar. Eis, pois, vosso Redentor Menino, desde o Seu nascimento feito Mestre da pobreza na gruta de Belém, que por esse motivo Bernardo chama “escola de Jesus Cristo” e S. Agostinho “a gruta do Mestre”.
Por expressa disposição de Deus, o edito de César fez que Jesus nascesse não só pobre, mas o mais pobre de todos os homens, vindo ao mundo longe de sua própria habitação numa gruta que servia de abrigo aos animais. Ordinariamente os pobres nascem em suas casas e aí encontram ao menos as coisas indispensáveis: panos, lume e pessoas que ao menos por compaixão os socorrem. Qual a criança cujos pais são tão pobres que a fazem nascer num estábulo? Nos estábulos só se vêem animais.
S. Lucas narra as circunstâncias desse grande acontecimento. Chegado o tempo que Maria devia dar à luz, José Lhe procurou alojamento na cidade. Em vão vai de porta em porta, nenhuma se lhes abriu. Dirige-se à hospedaria, e lá não há mais lugar para eles. É assim que a Mãe de Deus Se viu obrigada a refugiar-Se a uma miserável gruta, onde, apesar da grande afluência de estranhos, só se achavam dois animais.
Os filhos dos príncipes da terra nascem em apartamentos preparados com cuidado e ricamente ornados; têm berços de prata e os mais finos paninhos; os grandes do reino e as mais nobres damas os assistem. O Rei do céu, em vez de apartamento bem guarnecido e aquecido, não tem por abrigo senão uma fria gruta onde crescem as ervas; em lugar dum leito de plumas, só tem um pouco de palha dura e pungente; em vez de panos finos tem só alguns trapos grosseiros, frios e úmidos; dois animais formam a sua corte, e o hálito deles, substituindo o fogo, lhe aquece os membros; enfim por berço só tem uma miserável manjedoura.
“Ah! exclama S. Pedro Damião, ao ver o Criador dos anjos nesse abatimento, envergonhe-se o nosso orgulho!” “E como é possível, pergunta S. Gregório de Nissa, ao Rei dos reis, que enche o céu e a terra, não encontrar para repousar Seus membros vindo ao mundo, senão essa pobre manjedoura?” É que por nosso amor esse Rei dos reis quis ser pobre e o mais pobre de todos os homens. — Os filhos dos pobres tem ao menos leite suficiente para saciá-las; mas mesmo nisso Jesus quis ser mais pobre do que eles, pois o leite de Maria era miraculoso; Ela o recebera não da natureza, mas do céu, como a Igreja no-lo dá a entender; e Deus para comprazer Seu Filho que queria ser o mais pobre dos filhos dos homens, não proveu Maria de grande abundância de leite, mas só de quantidade apenas suficiente para sustentar a vida de Seu divino Infante; isso a Santa Igreja exprime em seus cânticos: “Por alimento teve apenas um pouco de leite”.
Nascido na pobreza, continuou Jesus a ser pobre durante toda a sua vida, e não só pobre, mas indigente, segundo a expressão de S. Paulo: Egenus. Do texto grego Cornélio a Lápide deduz que Ele foi até mendigo. Nascido nessa extrema pobreza nosso Redentor foi constrangido a fugir para o Egito, deixando a Sua pátria. S. Boaventura contempla compassivo a Maria e José nesse longo e penoso trajeto; imagina-os privados de tudo e levando em seus braços o santo Infante que muito sofreu com a pobreza deles: “Onde achavam alimento? pergunta-se ele; onde pernoitavam? onde se hospedavam?” Mas de que podiam eles nutrir-se senão dum pouco de pão duro? onde se deitavam no deserto senão sobre a terra nua, ao relento ou debaixo duma árvore? Ah! se alguém encontrasse de caminho esses três nobres exilados, por quem os poderia tomar senão por três pobres mendigos?
Chegaram enfim ao Egito; e podemos imaginar-nos quão penosa foi a permanência de sete anos que lá estiveram, eles pobres, em um país estranho, onde não tinham nem amigos, nem parentes. Segundo S. Basílio, eles mal chegavam a conseguir o necessário à força de trabalho. “Mais duma vez, ajunta Landolfo de Saxônia, o Menino Jesus, premido pela fome, pediu à Sua Mãe um pedaço de pão, e Maria teve de dizer-Lhe que não havia mais”.
Do Egito voltam de novo à Palestina e dirigem-se a Nazaré; e lá Jesus continua a viver na pobreza. “Uma casa pobre, móveis pobres, eis com que se contenta o Criador do mundo”, diz S. Cipriano. Nessa humilde morada leva a vida dos pobres: ganha o pão com o trabalho e no suor de seu rosto, como o faz um pobre artífice, filho de artífice; é assim que os hebreus o conheciam e o designavam: Não é Ele o carpinteiro, — o filho do carpinteiro?
Nosso divino Redentor começa enfim a pregar o Seu Evangelho. Nesses três últimos anos que Ele passou sobre a terra, longe de ficar à vontade, pratica uma pobreza ainda mais rigorosa que antes, e vive de esmolas. A alguém que mostrara intenção de segui-lO levado pela esperança duma vida cômoda, Jesus disse: As raposas têm suas covas e os pássaros do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça. Cornélio a Lápide interpreta assim essas palavras: Se esperais fazer fortuna seguindo-Me, estais enganados, porque Eu vim à terra ensinar a pobreza, e para esse fim Me tornei mais pobre do que os animais, que têm ao menos um abrigo, enquanto que Eu não tenho neste mundo nem a menor parcela de terra que me pertença e onde possa repousar; e Eu quero que os Meus discípulos sejam como Eu. E com efeito, observa S. Jerônimo, os verdadeiros discípulos de Jesus não têm e não desejam nada senão a Jesus.
Numa palavra, Jesus Cristo viveu pobre e morreu pobre, sendo preciso que José de Arimatéia Lhe desse um lugar de sepultura, e outros Lhe fizessem a esmola dum lençol para sepultar o Seu corpo.
II. O Cardeal Hugo, considerando a pobreza, as humilhações e os sofrimentos a que nosso divino Salvador quis submeter-se, não pôde contentar-se e disse: Parece que nosso Deus levou o amor dos homens até a demência, tomando sobre Si tantas misérias, a fim de lhes proporcionar as riquezas da graça divina e da glória celeste.
E se Jesus Cristo não houvesse operado esse prodígio de amor, continua o mesmo autor, quem poderia achar possível que o Senhor de todos os bens quisesse jamais tornar-Se tão pobre, o Senhor de todos os seres fazer-Se servo, o Rei do céu padecer tanto desprezo, o Ser infinitamente feliz sujeitar-Se a tantas dores?"
Sem dúvida, há na terra príncipes compassivos que gostam de empregar seus tesouros em alívio dos pobres; mas viu-se jamais algum rei que, para auxiliar os pobres, se tenha tornado semelhante a eles como o fez Jesus Cristo? Cita-se como um prodígio de caridade o que fez S. Eduardo: encontrando de caminho um mísero mendigo incapaz de se mover e abandonado de todos, tomou-o afetuosamente sobre os ombros e levou-o à igreja. Isso foi certamente uma ação sublime de molde a excitar a admiração dos povos; mas procedendo assim, esse Santo não deixou de ser rei e rico como antes. O Filho de Deus, o Rei do céu e da terra, vai mais longe: desejando salvar sua ovelha desgarrada, isto é, o homem, não se contenta de descer do céu para vir buscá-la, nem de pô-la sobre os ombros: não hesita despojar-Se de Sua majestade, de Suas riquezas, de Suas honras; faz-Se pobre e o mais pobre de todos os homens.
“Ele oculta a sua púrpura, isto é, a Sua divindade e realeza sob as aparência dum pobre operário”. Assim fala S. Pedro Damião. E S. Gregório de Nazianzo exclama com transporte: “Aquele que enriquece os outros submete-Se à indulgência; abraça a minha pobreza humana para me fazer partilhar Suas riquezas divinas”. Sim, Aquele do qual os ricos tem suas riquezas, quer ser pobre a fim de nos merecer não os bens faltos e transitórios deste mundo, mas as riquezas divinas que são imensas e eternas; e com Seu exemplo induz-nos a nos desapegarmos das coisas deste mundo, que nos põem em grande perigo de eterna ruína! — Lê-se na vida de S. João Francisco Regis, que o assunto ordinário de suas meditações era a pobreza de Jesus.
S. Alberto Magno diz que Jesus quis nascer num estábulo, perto da via pública, por dois fins. O primeiro foi para nos fazer melhor compreender que somos todos viajores sobre a terra, onde estamos de passagem, como o diz S. Agostinho. Ninguém se apega certamente ao lugar onde se hospeda uma noite de passagem: sabe que o tem de deixar em breve. Ah! se os homens não se esquecessem que são viajores neste mundo, e que se dirigem à morada da eternidade, haveria acaso um só que quisesse prender-se aos bens terrenos com risco de perder os do céu? — O segundo fim que Nosso Senhor teve em vista, segundo S. Alberto Magno, foi de ensinar-nos por Seu exemplo “a desprezar o mundo”, que nos não oferece bem algum capaz de contentar nosso coração. O mundo ensina a seus adeptos que a felicidade consiste no gozo das riquezas, dos prazeres, e das honras; mas esse mestre enganador foi condenado pelo Filho de Deus feito homem: Agora chegou o juízo do mundo. Esse julgamento do mundo começou, segundo S. Anselmo e S. Bernardo, no estábulo de Belém. Jesus quis lá nascer pobre para induzir-nos com Seu exemplo a banirmos dos nossos corações a afeição aos bens terrenos e a consagrar-nos inteiramente ao amor de Deus e da virtude. Ele assim entrou, diz Cassiano, e nos conduziu por um caminho novo inteiramente oposto ao do mundo, que odeia e foge da pobreza.
Fiéis a esse divino exemplo os Santos nada tiveram tanto a peito como despojar-se de tudo para na pobreza seguirem a Jesus pobre. “A pobreza de Jesus, disse S. Bernardo, é mais rica do que qualquer tesouro”.
Com efeito ela nos proporcionou bens mais preciosos do que todos os tesouros do mundo, porque pelo desprezo que nos inspira das riquezas da terra, nos anima à conquista das riquezas celestes. O Apóstolo considerava todas as coisas como lodo e fumaça em comparação da graça de Jesus Cristo: Renunciei todas as coisas e as considero como esterco para ganhar a Cristo. S. Bento, filho de família opulenta, renuncia na flor da mocidade às comodidades da casa paterna, e retira-se a uma caverna onde viverá dum pouco de pão recebido de esmola dum caridoso monge chamado Romano. S. Francisco de Borja abandona todas as suas riquezas para abraçar a via pobre na Companhia de Jesus. S. Antão vende todo o seu rico patrimônio, distribui-o aos pobres e retira-se a um deserto. S. Francisco de Assis devolve ao pai até a camisa para viver mendigando o resto de sua vida.
Quem ama as riquezas, dizia S. Filipe Néri, jamais se santificará. E com efeito, num coração cheio de terra não pode ter lugar o amor divino. “Trazeis um coração vazio?” essa era, na opinião dos antigos monges, a pergunta mais necessária a fazer-se aos que se apresentavam para ser admitidos em sua companhia. Perguntando se tinham o coração livre de afeições terrenas, queriam dizer: Sabei que sem isso jamais podereis ser inteiramente de Deus. Onde está o vosso tesouro, aí está também o vosso coração, disse Jesus Cristo. Ora, tesouro de cada um é o objeto de sua estima e de sua afeição.
Morrendo uma vez um rico, S. Antônio de Pádua publicou do alto do púlpito que esse infeliz estava condenado; e como prova do que avançava, disse que fossem ver o lugar onde estava o seu dinheiro, e lá encontrariam o seu coração. Com efeito foram e acharam o coração daquele infeliz ainda quente no meio de seu dinheiro.
Deus não pode ser o tesouro duma alma apegada aos bens da terra; eis por que Davi fazia esta oração: Senhor, criai em mim um coração puro, tirai do meu coração toa afeição terrena, a fim de que eu possa exclamar: Vós só, ó meu Deus, pois o Deus do meu coração e a minha partilha para sempre.
Quem, pois, deseja santificar-se de verdade, deve banir de seu coração tudo o que não é Deus. De que servem os tesouros, as riquezas? para que esses bens, se não podem contentar o nosso coração, e se os temos de deixar tão depressa? Não amontoeis tesouros sobre a terra, diz o Senhor, onde a ferrugem e a traça os consomem; entesourai para vós tesouros no céu.
Oh! que bens imensos prepara Deus no céu aos que O amam! Que tesouro é a graça de Deus e o divino amor para quem lhe conhece o valor! Comigo estão as riquezas... para enriquecer os que me amam. Deus contém em Si e leva consigo a riqueza e o prêmio. No paraíso Deus só é a recompensa dos eleitos; dando-Se a eles satisfaz plenamente todos os seus desejos, conforme disse a Abraão: Eu mesmo serei a tua recompensa infinitamente grande.
Mas se queremos amar muito a Deus no céu, temos primeiro de amá-lO muito na terra. O grau de amor ao qual tivermos chegado no fim de nossa peregrinação terrestre, será a medida eterna do amor em que nos abrasaremos por Deus no céu. E se queremos estar ao abrigo de todos os perigos que nos poderiam separar de Deus nesta vida, estreitemos sempre mais os laços do nosso amor, a exemplo da esposa sagrada que dizia: Achei a quem ama a minha alma; agarrei-me a ele e não o largarei mais. Como pode a esposa sagrada agarrar o seu dileto? Brachiis caritatis. Nos braços de seu amor, responde Guilherme. Sim, diz S. Ambrósio, “é pelo amor que Jesus se deixa prender”. Feliz pois quem puder exclamar com S. Paulino: “Guardem os ricos o seu ouro e os reis os seus cetros; Jesus é a nossa glória, a nossa riqueza, a nossa coroa”. E com S. Inácio: “Senhor, dai-me a Vossa graça e o Vosso santo amor; fazei que Vos ame e seja de Vós amado; e sou bastante rico e não quero outra coisa e nada mais tenho a desejar!” “Quem possui tudo em Deus, diz S. Leão, tem certeza de nunca sentir falta de coisa alguma”.
Para chegarmos a essa perfeição, invoquemos sem cessar nossa augusta Mãe, Maria, e procuremos amá-lA sobre tudo depois de Deus; Ela nos afirma pelas palavras que a Santa Igreja Lhe põe nos lábios, que enriquece de graças a todos os que A amam.
Afetos e Súplicas
Meu caro Jesus, inflamai-me de Vosso santo amor, pois que para isso viestes à terra. É verdade que eu, miserável, por Vos haver ofendido após tantas luzes e graças especiais que me destes, não mereço arder nessas benditas chamas, em que ardiam os Santos; as chamas do inferno deveriam ser a minha partilha; mas, apesar da minha ingratidão, estou ainda fora dessa horrível prisão que tenho merecido; ouço que Vos, voltando-Vos para mim, me dizeis: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração. Ó meu Deus, agradeço-Vos por me renovardes esse doce preceito; e já que me mandais amar-Vos, quero obedecer-Vos, quero amar-Vos de todo o meu coração.
Senhor, no passado fui um ingrato, um cego; esqueci voluntariamente o amor que tendes por mim; mas agora que me aclarais novamente e me recordais tudo o que fizestes por meu amor; agora que considero que Vos fizestes homem por mim e que Vos carregastes das minhas misérias; agora que Vos vejo pobre na palha, tremendo de frio, gemendo e chorando por mim, ó divino Infante, como poderia viver sem Vos amar? Ah! perdoai-me, amor meu, perdoai todos os desgostos que Vos tenho dado.
Ó Deus, como pude ofender-Vos assim, sabendo pela fé tudo o que sofrestes por mim? Mas essas palhas que Vos pungem, essa vil manjedoura que Vos acolhe, esses ternos vagidos que soltais, essas lágrimas de amor que derramais, fazem-me esperar com confiança o perdão de minhas falta e a graça de Vos amar o resto de minha vida. Sim, eu Vos amo, ó Verbo encarnado, eu Vos amo, ó divino Infante, eu Vos amo e me dou todo a Vós. Pelas penas que sofreis no estábulo de Belém, ó meu Jesus, não rejeiteis um mísero pecador que quer amar-Vos. Ajudai-me e dai-me a perseverança; tudo espero de Vós.
Ó Maria, que sois a digna Mãe de tão grande Filho e a mais amada desse Filho, rogai por mim.
(Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo por Santo Afonso Maria de Ligório)
PS.: Grifos meus.