10. DAR O EXEMPLO
Quereis obter alguma coisa dos vossos filhos...
começai por dar o exemplo. O exemplo pode muitas vezes substituir tudo, mas é
insubstituível.
• Conselho sem exemplo, discurso sem alcance. O
exemplo é quase sempre o mais eficaz dos conselhos.
• O exemplo serve, a um templo, de modelo e apoio.
De modelo, porque o conhecimento das virtudes pelas crianças é a
princípio imitação: é por imitação que a criança aprende a falar e a agir.
De apoio, porque dele a criança precisa: o que se lhe ordena ou pede,
sobretudo quando se trata de algo novo, é difícil para ela. Cumpre que ela
se domine, vença as suas repugnâncias. Para ter coragem é
preciso encontrar estímulo. A melhor ajuda é o exemplo dos que
a cercam.
• Nada como o exemplo para animar a criança,
mostrando-lhe por evidência palpável que o que se lhe pede para fazer é
realmente possível.
• Nada melhor para encorajar uma criança ao
“mergulho” do que mergulhar com ela.
• Sede o que quereis que os vossos filhos sejam. Eles seguirão
mais vossos atos do que vossas palavras ou conselhos.
• É preciso conduzir-se em presença da criança
como se ela fosse adulta e compreendesse tudo. A criança não larga os
olhos dos pais. Observa-os permanentemente com atenção tanto mais intensa
quanto mais jovem for. Não lhe escapam nenhuma das vossas palavras e
nenhum dos vossos gestos: tudo se registra no seu cerebrozinho como sons
num disco de fonógrafo... Isto, inclusive, quando está absorvida
por preocupações de outra ordem. Notai que ela não dá, necessariamente,
parte à família do que ouviu, mas lá um dia, às vezes muito tempo depois,
fará uma reflexão que demonstrará haver entendido tudo muito bem.
Ora, as pessoas que uma criança vê e ouve
constantemente são o pai e a mãe, Seres humanos que mais contam no mundo para
ela, que julga infalíveis em seus julgamentos, perfeitos na conduta. A
criança molda os seus próprios pensamentos e a sua conduta pessoal, tudo,
enfim, até as suas atitudes e inflexões vocais, nos do pai e da mãe. Nem
nas grandes coisas nem nos pequenos detalhes, a criança deve
ser levada a pensar: ‘‘Meus pais não fazem o que me mandam fazer”.
A vida do pai e da mãe deve ser para ela um modelo
sem jaça do que deve ser a sua própria vida.
• O olhar da criança tem mais habilidade do
que se pensa para apreender as contradições entre a vida e os
conselhos dados. Pelo que fazemos ela julga a importância do
que dizemos.
• A criança é um lógico simplista e sem matizes.
“Se o que exigem de mim é correto, vale também para os meus pais; se
não tem utilidade, por que me é imposto?” Sem dúvida, pode-se discutir esse
raciocínio; mas não se pode impedir a sua formulação; e quando vem a
propósito de coisas nas quais há realmente negligência dos pais, todas
as explicações que se deem não mudarão a lógica da criança e não lhe
darão o troco: por exemplo, princípios fundamentais, dizer a verdade, praticar
a religião, ter uma boa atitude, etc.
• Conheço infelizmente muitos pais que, diante dos
filhos, usam termos que a mãe deveria proibir-lhos. Isto pode levar, por
parte das crianças, a observações impertinentes, mas de qualquer modo justificáveis,
e ninguém tem o direito de surpreender-se do que elas transgridam a
proibição em causa.[1]
• O exemplo é que é o grande mestre da
educação — autoridade tanto mais forte quanto sem brilho, influência
tanto mais poderosa quanto se insinua sem rumor.
• As palavras passam, os exemplos ficam, diz
o provérbio. Sim, mas se vos recusais a vos deixar levar por eles,
voltarão para vós e vos perseguirão com insistência. Tal é a força que
se liga à sua lembrança.
• Para formar uma consciência, é preciso
deixar ver a própria retidão e a própria lealdade; para formar um coração,
é preciso mostrar o seu, dedicado e compassivo; para formar uma alma, é
preciso mostrar a sua, fiel à oração. Assim, para tudo: para o gosto
do trabalho, da ordem, da caridade. O filósofo De
Bonaldi observa com justeza: “As crianças julgam os pais numa idade
em que apenas deviam amá-los; tornam-se severas antes da razão lhes ter
ensinado a ser indulgentes.” As crianças são nossas testemunhas, não
façamos delas nossos juízes. Essa preocupação nos obriga a que nos
contenhamos: é, na realidade, a educação dos pais pelos filhos.
Quantos atos heroicos cumpridos pelos pais que se preocupam em não
comprometer a educação dos filhos poderiam inspirar, nesse ponto, qualquer
educador![2]
• A educação não consiste em fazer discursos
aos nossos filhos, bem tranquilos, com a cabeça descansada (às vezes são
necessários, mas se a eles nos limitássemos, como seria insuficiente!).
Educação dos nossos filhos? Mas ela será toda a nossa atitude cotidiana em
face da alimentação, do vestir, do trabalho e do repouso, em face do
sofrimento dos outros e dos acontecimentos etc. Atitude essa que os
nossos filhos observam dia a dia, que os impregna, que os edifica. É
vivendo retamente, corajosamente, generosamente, que conduziremos nossos
filhos à vida reta, forte e dedicada.
A educação “representada” é uma caricatura de
educação. Só se educa sendo. No primeiro caso, a criança, ao se
tornar adulta, pode furtar-se orgulhosamente ao que aprendeu: não pode,
entretanto, furtar-se à influência de uma vida reta.[3]
[1] J. Lamers-Hoogveld, L’Enfant, notre Espérance (pelo Dr.
C. Meuleman e J. Lamers-Hoogveld), pág. 167 (Ed. Ch. Dessart,
Bruxelas).
[2]
Henri Pradel, op. cit., pág. 15.
[3]
Jeanne Le Gros, “Comment faire,
des difficultés actualles, des moyen d’éducation", na
revista Enfance et Jeunesse (Junho de 1944).