"Oh! Como, após uma longa meditação sobre a Imaculada Conceição, o amor se escapa de cada poro de nosso coração, ao pensar que esta excelsa Rainha é que se manterá de pé junto à Cruz, com o Coração amargurado e as mãos tingidas de Sangue! Ó Mãe! Nós podemos chorar de alegria junto ao Vosso trono, mas lágrimas vertidas assim não são como aquelas que podemos derramar ao Vos ver sobre o Calvário: não nos aliviam tanto. Quando vemos Vossa doce e triste face, onde se estampa toda a dor maternal, as lágrimas que Vos correm, Vossa calma em meio a males tão grandes, a sombra escura que sobre Vós se abate, chega a parecer então que Vos encontramos após um longo tempo de perdida, e que sois uma Maria diferente daquela maravilha que os céus admiram; e então mais Vós nos pareceis uma Mãe sobre o cimo pouco elevado do Calvário, do que quando Vos vemos sobre as alturas inacessíveis do Céu." (Padre Frederick William Faber)
sexta-feira, 30 de março de 2012
COLETÂNEA de textos sobre Nossa Senhora das Dores
quarta-feira, 28 de março de 2012
terça-feira, 27 de março de 2012
Pensamento da noite de 27/03/2012
"Por que será que tantos cristãos têm tamanha dificuldade em se conformar com as provações da vida? É por que querem discutir em vez de aceitar cegamente a vontade divina; não querem lembrar-se do grande princípio de que, sendo Deus infinitamente sábio e nós essencialmente limitados, não devemos discutir com Ele, e sim adorar a conduta da Providência e deixar-nos levar pelos caminhos que nos traçou. Em tais pessoas a fé será forçosamente fraca e débil."
(Cônego Augusto Saudreau)
segunda-feira, 26 de março de 2012
Terceira dezena: Excelência do Santo Rosário na meditação da vida e da paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo
Os quinzes mistérios do Rosário
Um mistério é uma coisa sagrada e de difícil compreensão. As obras de Jesus Cristo são todas sagradas e divinas, porque ele é Deus e homem ao mesmo tempo. As da Santíssima Virgem são muito santas, porque Ela é a mais perfeita de todas as puras criaturas. As obras de Jesus Cristo e de Sua Santíssima Mãe chamam-se com razão mistérios, porque estão cheias de grande quantidade de maravilhas, perfeições e instruções profundas e sublimes, que o Espírito Santo dá a conhecer aos humildes e às almas simples que os honram.
Pode-se ainda chamar às obras de Jesus e de Maria flores admiráveis, cujo odor e beleza são apenas conhecidos daqueles que delas se aproximam, e daqueles que as cheiram e as abrem por meio de uma atenta e séria meditação.
São Domingos dividiu a vida de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem em quinze mistérios, que representam as Suas virtudes e os Seus principais atos como quinze quadros cujos traços nos devem servir de regra e de exemplo na condução da nossa vida. São quinze tochas para guiar nossos passos neste mundo; quinze espelhos ardentes para conhecer Jesus e Maria, para nos conhecermos a nós mesmos e para alumiar o fogo do seu amor em nossos corações; quinze fornalhas para nos consumirem inteiramente com suas celestes chamas.
A Santíssima Virgem ensinou a São Domingos este excelente método de rezar e ordenou-lhe que o pregasse, afim de despertar a piedade dos cristãos e fazer reviver o amor de Jesus Cristo em seus corações. Ela ensinou-o também ao Bem-aventurado Alain de la Roche. “É uma oração utilíssima, disse-lhe Ela, e um serviço que me é muito agradável, a recitação de cento e cinquenta Saudações Angélicas. E o é ainda mais, e será ainda de maior proveito, se se rezarem as Saudações acompanhadas da meditação da vida, da paixão e da glória de Jesus Cristo, pois essa meditação é a alma destas orações.” Com efeito, o Rosário, sem a meditação dos mistérios sagrados da nossa salvação, será quase como que um corpo sem alma, uma excelente matéria sem sua forma, que é a meditação, e que a distingue das outras devoções.
A primeira parte do Rosário contem cinco mistérios: o primeiro é a Anunciação do Arcanjo Gabriel à Santíssima Virgem; o segundo, a Visitação da Santíssima Virgem a sua prima Santa Isabel; o terceiro, o Nascimento de Jesus Cristo; o quarto, a Apresentação do Menino Jesus no templo e a purificação da Santíssima Virgem; o quinto, o Encontro de Jesus no templo entre os doutores; os quais se chamam Mistérios Gozosos por causa da alegria que proporcionaram a todo o universo. A Santíssima Virgem e os anjos ficaram cheios de alegria no momento ditoso em que o Filho de Deus se incarnou; Santa Isabel e São João Batista ficaram cheios de alegria pela visita de Jesus e de Maria; o Céu e a terra rejubilaram com o nascimento do Salvador; Simeão foi consolado e regozijado, quando recebeu Jesus em seus braços; os doutores estavam arrebatados de admiração ouvindo as respostas de Jesus; e quem pode exprimir a alegria de Maria e de José encontrando Jesus após três dias de ausência?
A segunda parte do Rosário é igualmente composta de cinco mistérios que são chamados de Mistérios dolorosos, porque representam Jesus Cristo oprimido pela tristeza, coberto de chagas, carregado de opróbrios, de dores e de tormentos. O primeiro desses mistérios é a oração de Jesus e a Sua Agonia no Horto das Oliveiras; o segundo, a Flagelação; o terceiro, o Coroação de espinhos; o quarto, o Caminho do Calvário carregando a cruz; o quinto, a Crucificação e Morte no Calvário.
A terceira parte do Rosário contem outros cinco mistérios que se chamam Gloriosos, porque aí se contemplam Jesus e Maria em Seu triunfo e sua glória. O primeiro é a Ressurreição de Jesus; o segundo, Sua Ascensão ao Céu; o terceiro, a Descida do Espírito Santo sobre os apóstolos; o quarto, a Assunção da gloriosa Virgem; o quinto, Sua Coroação.
Eis as quinzes flores odoríferas do Rosário místico sobre as quais as almas piedosas se detêm como diligentes abelhas, para aí recolherem a substância admirável e produzir o mel de uma devoção sólida.
22ª ROSA
A meditação do Rosário nos conforma com Jesus
A principal preocupação da alma cristã é de tender à perfeição. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados”, (1) diz-nos o grande Apóstolo. Esta obrigação está compreendida no decreto eterno da nossa predestinação, como o único meio ordenado para atingir a glória eterna. São Gregório de Nice diz graciosamente que somos pintores. Nossa alma é a tela branca sobre a qual devemos aplicar o pincel, as virtudes são as cores que devem revelar seu brilho, e o original que devemos copiar é Jesus Cristo, a imagem viva que representa perfeitamente o Pai eterno. Assim, como um pintor para fazer um retrato ao natural põe diante dos olhos o original, e a cada golpe de pincel que dá o olha, do mesmo modo o cristão deve ter sempre diante dos olhos a vida e as virtudes de Jesus Cristo, para não dizer, nem pensar, nem fazer nada que não seja de acordo com Ele.
Foi para ajudar-nos na importante obra da nossa predestinação, que a Santíssima Virgem mandou São Domingos ensinar os fieis a rezar o Rosário, os mistérios sagrados da vida de Jesus Cristo, não somente para que O adorem e glorifiquem, mas principalmente para que regulem sua vida e suas ações de acordo com as Suas virtudes. Ora, como as crianças imitam seus pais vendo-os e conversando com eles, como aprendem a sua linguagem ouvindo-os falar; ou como um aprendiz, vendo trabalhar seu mestre, aprende a sua arte; assim os fieis confrades do Rosário, considerando seriamente e devotamente as virtudes de Jesus Cristo, nos quinze mistérios da Sua vida, tornam-se semelhantes a este divino Mestre, com o auxílio da Sua graça e pela intercessão da Santíssima Virgem.
Se Moisés ordenou ao povo hebreu, da parte do próprio Deus, que jamais esquecesse os benefícios que tinham recebido, ainda com mais razão o Filho de Deus nos pode mandar gravar no coração e ter sempre diante dos olhos os mistérios da Sua vida, da Sua paixão e da Sua glória, uma vez que também eles são benefícios com que nos favoreceu e pelos quais nos mostrou a excelência do Seu amor para nossa salvação. Diz Ele: “Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta, e que suportei por amor a vós.(2) Lembrai-vos da minha aflição e amargura, do absinto e do fel, que tomei por vós na minha paixão.” (3)
Estas palavras e muitas outras que podemos recordar devem bastar para nos convencer da obrigação que temos de não nos contentarmos em rezar o Rosário vocalmente em honra de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, mas meditando ao mesmo tempo os mistérios sagrados.
23ª ROSA
O Rosário, memorial da vida e da morte de Jesus
Jesus Cristo, o divino Esposo de nossas almas, nosso dulcíssimo amigo, deseja que nos lembremos dos Seus benefícios e que os estimemos acima de todas as coisas. Ele recebe uma glória acidental, assim como a Santíssima Virgem e todos os santos do Paraíso, quando meditamos com devoção e afeição os mistérios sagrados do Rosário, que são os efeitos mais assinaláveis do Seu amor por nós e os mais ricos presentes que Ele nos pode oferecer, pois que através deles gozam da glória a Santíssima Virgem e todos os santos.
A Bem-aventurada Angèle de Foligno rezava um dia a Nosso Senhor para que lhe dissesse com que exercício ela mais O honraria. Ele apareceu-lhe pregado à cruz e disse-lhe: “Minha filha, contempla as minhas chagas.” Assim ela aprendeu deste amabilíssimo Salvador que nada Lhe é mais agradável que a meditação dos Seus sofrimentos. Depois Ele revelou as feridas da Sua cabeça e muitas circunstâncias dos Seus tormentos e disse-lhe: “Sofri tudo isto para tua salvação, que podes tu fazer que iguale o meu amor por ti?
O Santo Sacrifício da Missa honra infinitamente a Santíssima Trindade, porque representa a paixão de Jesus Cristo e porque por meio dela oferecemos a Deus os méritos da Sua obediência, do Seus sofrimentos e do Seu sangue. Toda a corte celeste recebe também com a Santa Missa glória acidental, e muitos doutores, incluindo São Tomás, dizem, pela mesma razão, que a mesma corte celeste se alegra com a comunhão dos fiéis, porque o Santo Sacramento é um memorial da paixão e da morte de Jesus Cristo, e que, por este meio, os homens partilham os seus frutos e avançam no caminho da salvação.
Ora, o Santo Rosário, rezado com a meditação dos mistérios sagrados, é um sacrifício de louvores a Deus pelos benefícios do nosso Redentor e uma devota lembrança dos sofrimentos, da morte e da glória de Jesus Cristo. É pois verdade que o Rosário causa glória e alegria acidental a Jesus Cristo, à Santíssima Virgem e a todos os bem-aventurados, porque eles mais não desejam, para nossa felicidade eterna, que ver-nos ocupados com um exercício tão glorioso para o nosso Salvador e tão salutar para nós.
O Evangelho assegura-nos que um pecador que se converta e faça penitência causa alegria a todos os anjos. Se é suficiente para alegrar os anjos que um pecador deixe os seus pecados e faça penitência, que alegria, que júbilo será para toda a corte celeste, que glória para o próprio Jesus Cristo, ver-nos sobre a terra, meditar devotamente e com amor as Suas humilhações, os Seus tormentos, a sua morte cruel e ignominiosa? Há alguma coisa mais eficaz para nos tocar e levar a uma sincera penitência?
O cristão que não medita os mistérios do Rosário mostra uma grande ingratidão para com Jesus Cristo e a pouca estima que tem para com tudo o que o divino Salvador sofreu para salvação do mundo. Sua conduta parece dizer que ele ignora a vida de Jesus Cristo, e que põe pouco cuidado em aprender aquilo que Ele fez e o que sofreu para nos salvar. Esse cristão devia temer que, não tendo conhecido Jesus Cristo, ou que tendo-O esquecido, Ele o rejeite no dia do julgamento com esta censura: “Em verdade vos digo: não vos conheço!”(4)
Meditemos pois sobre a vida e os sofrimentos do Salvador durante o Santo Rosário, aprendamos a conhecer e reconhecer os Seus benefícios, afim de que Deus nos reconheça como Seus filhos e como Seus amigos no dia do julgamento.
24ª ROSA
A meditação dos mistérios do Rosário é um grande meio de perfeição
Os santos tinham como seu principal estudo a vida de Jesus Cristo. Meditavam sobre as Suas virtudes e sobre os Seus sofrimentos, e, por este meio, chegavam à perfeição cristã. São Bernardo começou por este exercício, que continuou sempre. “Desde o princípio da minha conversão, diz ele, fiz um ramo de mirra composto das dores do meu Salvador; e pus esse ramo sobre o meu coração, pensando nas chicotadas, nos espinhos e nos cravos da paixão. Apliquei todo o meu espírito a meditar todos os dias sobre esses mistérios.”
Este foi também o exercício dos santos mártires; e é espantosa a forma como eles triunfaram dos mais cruéis tormentos. De onde poderia vir aquela admirável constância dos mártires, diz São Bernardo, senão das chagas de Jesus Cristo, sobre as quais eles faziam a sua mais frequente meditação? Onde estava a alma desses generosos atletas, quando seu sangue corria e seus corpos eram triturados pelos suplícios? Suas almas estavam nas chagas de Jesus Cristo e as suas chagas os tornavam invencíveis.
A Santíssima Mãe do Salvador ocupou unicamente a vida a meditar sobre as virtudes e os sofrimentos do seu Filho. Quando ouviu os anjos cantar no Seu nascimento cânticos de alegria, quando viu os pastores adorando-O no estábulo, seu espírito encheu-se de admiração e meditava todas essas maravilhas. Ela comparava as grandezas do Verbo incarnado com os Seus profundos abatimentos; a palha e o presépio, com Seu trono e com o seio de Seu Pai; o poder de Deus, com a delicadeza de uma criança; a Sua sabedoria, com a Sua simplicidade.
A Santíssima Virgem disse um dia a Santa Bígida: “Quando eu contemplava a beleza, a modéstia, a sabedoria de meu Filho, a minha alma enchia-se de alegria; e quando considerava as Suas mãos e os Seus pés que pereceriam com cravos, eu vertia uma torrente de lágrimas, e o meu coração partia-se-me de tristeza e de dor.”
Após a Ascensão de Jesus Cristo, a Santíssima Virgem passou o resto da sua vida a visitar os lugares que o divino Salvador tinha santificado com a Sua presença e com os Seus tormentos. Aí Ela meditava sobre a Sua caridade infinita e sobre os rigores da Sua paixão. Esse era também o exercício continuo de Maria Madalena durante os trinta anos que viveu solitária na santa gruta. Do mesmo modo, São Jerônimo diz que esta era a devoção dos primeiros fiéis; de todos os países do mundo eles visitavam a terra santa para gravar mais profundamente em seus corações o amor e a lembrança do Salvador dos homens, pela vista dos objetos e dos lugares que Ele havia consagrado pela Sua nascença, pelos Seus trabalhos, pelos Seus sofrimentos e pela Sua morte.
Todos os cristãos têm apenas uma fé, adoram um só Deus, esperam uma mesma felicidade no Céu, e conhecem um único mediador que É Jesus Cristo. Todos devem imitar esse divino modelo, e para isso considerar os mistérios da Sua vida, das Suas virtudes e da Sua glória. É um erro imaginar-se que a meditação das verdades da fé e dos mistérios da vida de Jesus Cristo não compete senão aos padres, aos religiosos e àqueles que se afastaram dos embaraços do mundo. Se os religiosos e os eclesiásticos são obrigados a meditar sobre as grandes verdades da nossa santa religião para responder dignamente à sua vocação, os leigos estão igualmente obrigados, por causa do perigo que correm diariamente de perder-se. Eles devem pois armar-se com a frequente lembrança da vida, das virtudes e dos sofrimentos do Salvador, que estão representados nos quinze mistérios do Santo Rosário.
25ª ROSA
Riquezas de santificação encerradas nas orações e meditações do Rosário
Jamais alguém poderá compreender as riquezas admiráveis de santificação que estão encerradas nas orações e nos mistérios do Santo Rosário. Esta meditação de mistérios da vida e da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo é, para todos aqueles que a praticam, a fonte dos frutos mais maravilhosos. Hoje, querem-se coisas que impressionem, que comovam, que produzam na alma impressões profundas. Mas o que há no mundo de mais comovente que a história maravilhosa de nosso Redentor, desenrolando-se em quinze quadros que nos recordam as grandes cenas da vida, da morte e da glória do Salvador do mundo? Que orações são mais excelentes e mais sublimes que a Oração Dominical e a Ave do anjo? Aí se encerram todos os nossos desejos, todas as nossas necessidades.
A meditação dos mistérios e das orações do Rosário é a mais fácil de todas as orações, porque a diversidade de virtudes e de estados de Jesus Cristo que nela se estudam, recreia e fortifica maravilhosamente o espírito e impede as distracções. Os sábios encontram nas suas fórmulas a doutrina mais profunda, e os pequenos, as instruções mais familiares.
É preciso passar por esta fácil meditação, antes de ascender ao grau mais sublime de contemplação. Tal é a opinião de São Tomás de Aquino e o conselho que nos dá, quando diz que é preciso exercitarmo-nos antecipadamente, como num campo de batalha, com a aquisição de todas as virtudes das quais temos o modelo perfeito nos mistérios do Rosário. É aí, diz o sábio Caetano, que adquirimos a união íntima com Deus, sem a qual a contemplação não passa de uma ilusão capaz de seduzir as almas.
Se os falsos iluminados de nossos dias ou os quietistas tivessem seguido este conselho, não teriam tido tão vergonhosas caídas, nem causado tantos escândalos em questões de devoção. É uma estranha ilusão do demônio crer que se possam fazer orações mais sublimes que o Pai-nosso e a Ave-Maria, abandonando estas divinas orações que são o sustento, a força e a guarda da alma.
Reconheço que não é sempre necessário rezá-las vocalmente e que a oração interior, de certo modo, é mais perfeita que a vocal; mas asseguro-vos que é bastante perigoso, para não dizer pernicioso, abandonar de vontade própria a recitação do Terço ou do Rosário sob o pretexto de uma mais perfeita união a Deus. A alma sutilmente orgulhosa, enganada pelo demônio, faz tudo o que pode interiormente para se elevar ao grau mais sublime das orações dos santos, desprezando e deixando por isso as suas antigas formas de rezar, que são boas para a generalidade das almas. Ela faz-se surda à oração e à saudação de um anjo e mesmo à oração que Deus fez, praticou e aconselhou: Sic orabitis: Pater noster. (5) Chegando a este ponto essa alma mais não faz que tropeçar de ilusão em ilusão e de precipício em precipício.
Crede em mim, caro confrade do Rosário, se pretendeis chegar a um alto grau de oração, sem a afectação e sem cair nas ilusões do demónio tão frequentes nas pessoas de oração, rezai todos os dias, se puderdes, todo o Rosário ou pelos menos o Terço.
Chegastes já a esse alto grau de oração pela graça de Deus? Se quereis conservar-vos nele e crescer na humildade, conservai a prática do Santo Rosário, pois jamais uma alma que reze o Rosário todos os dias será formalmente herética ou enganada pelo demónio; e esta é uma afirmação que eu assinaria com meu sangue.
Se contudo Deus, pela sua infinita misericórdia, vos atrai, no meio do Rosário, tão poderosamente como a alguns santos, deixai-vos arrastar pela sua atração, deixai Deus operar e rezar por vós e recitar o Rosário à Sua maneira, e tal vos bastará por esse dia.
Mas se estais apenas na contemplação ativa ou oração ordinária de quietude, de presença de Deus e de afeto, tendes ainda menos razão para abandonar o Rosário, e bem longe de recuar na oração e na virtude rezando-o, pelo contrário, ele vos será uma ajuda maravilhosa e a verdadeira escada de Jacob, de quinze degraus, pela qual ireis de virtude em virtude, de luz em luz, e chegareis facilmente, sem enganos, até à plenitude da idade de Jesus Cristo.
26ª ROSA
Evitai imitar a obstinação daquela devota de Roma de quem tanto falam as maravilhas do Rosário. Era uma pessoa tão devota e tão fervorosa que confundia com a sua santa vida os religiosos mais austeros da Igreja de Deus.
Desejando consultar São Domingos e estando-se a confessar com ele, este impôs-lhe como penitência que rezasse apenas um Rosário e como conselho que o rezasse todos os dias; ela porém escusou-se dizendo que tinha os seus exercícios e orações regulares, que trazia cilício, que se mortificava, que fazia muitos jejuns e outras penitências. São Domingos instou-a com maior insistência a seguir o seu conselho, mas ela não o quis fazer; e saiu do confessionário como que escandalizada com o proceder do seu novo director espiritual, que queria persuadi-la a uma devoção que não lhe agradava.
Mas eis que, estando em oração, foi arrebatada em êxtase e viu sua alma obrigada a comparecer diante do Soberano juiz. Viu então São Miguel aparecer e colocar todas as suas penitências e orações num prato de uma balança e no outro prato todos os seus pecados e imperfeições. O anjo levantou a balança, e o prato das suas boas obras subiu e não conseguiu contrabalançar o prato dos seus pecados e imperfeições. Toda alarmada, ela gritou misericórdia, e dirigiu-se à Santíssima Virgem, sua advogada, a qual deixou cair sobre o prato das suas boas obras apenas o Rosário que ela dissera por penitência, o qual pesava tanto que fez o prato dos seus pecados subir. E de imediato foi repreendida pela Santíssima Virgem por se ter recusado a seguir o conselho de seu servidor Domingos de rezar o Santo Rosário todos os dias.
Voltando a si, ela foi ter com São Domingos e lançou-se-lhe aos pés, prometendo rezar o Rosário diariamente; e por este meio chegou à perfeição cristã, e à glória eterna.
Aprendei com estes exemplo, pessoas de oração, a força, o prêmio e a importância da devoção do Santo Rosário com a meditação dos mistérios.
Ninguém houve mais elevado na oração que Santa Madalena, que era transportada aos Céus pelos anjos sete vezes ao dia, que frequentara a escola de Jesus Cristo e da Sua Santíssima Mãe; contudo, quando pediu um dia a Deus um bom meio para avançar em seu amor e chegar à mais alta perfeição, o arcanjo São Miguel veio da parte de Deus dizer-lhe que não conhecia outro que meditar, por meio de uma cruz que lhe colocou diante da caverna, os mistérios dolorosos que ela tinha presenciado com seus próprios olhos.
Que o exemplo de São Francisco de Sales, o grande diretor das almas espirituais do seu tempo, vos estimule a ingressar na Santa Confraria do Rosário, pois, apesar de santo, fez votos de rezar o Rosário inteiro todos os dias da sua vida até à hora da morte.
São Carlos Borromeu também rezava o Rosário todos os dias e recomendava encarecidamente esta devoção aos seus sacerdotes, aos seus seminaristas e a todo o seu povo.
O Beato Pio V, um dos Papas mais eminentes que governaram a Igreja, rezava todos os dias o Rosário. São Tomás de Vilanova, Arcebispo de Valência, Santo Inácio, São Francisco Xavier, São Francisco de Borja, Santa Teresa, São Filipe de Neri, e muitos outros grandes homens praticaram esta devoção. Segui os seus exemplos, vossos diretores espirituais ficarão bem agradados, e se os informardes dos frutos que podeis retirar dele, eles serão os primeiros a vo-lo aconselhar.
27ª ROSA
Para vos animar ainda mais a esta devoção das grandes almas, acrescento que o Rosário rezado com a meditação dos mistérios: 1) eleva-nos gradualmente ao conhecimento perfeito de Jesus Cristo; 2) purifica-nos as almas do pecado; 3) permite-nos vencer todos os inimigos;) facilita-nos a prática das virtudes; 5) abrasa-nos de amor a Jesus Cristo; 6) enriquece-nos de graças e de méritos; 7) proporciona-nos com que pagar nossas dívidas a Deus e aos homens, e por fim, permite-nos receber de Deus toda a espécie de graças.
O conhecimento de Jesus Cristo é a ciência dos cristãos e a ciência da salvação; ela suplanta, diz São Paulo,(6) todas as ciências humanas em prêmio e em excelência: 1) pela dignidade do seu objecto, que é um Deus homem, em presença do qual todo o universo não é que uma gota de orvalho ou grão de areia; 2) pela sua utilidade, pois que as ciências humanas não nos enchem que de vento e fumaça do orgulho; 3) pela sua necessidade, pois não podemos ser salvos se não tivermos o conhecimento de Jesus Cristo, e aquele que ignora todas as outras ciências será salvo, conquanto esteja iluminado pela ciência de Jesus Cristo. Ditoso Rosário que nos proporciona esta ciência e o conhecimento de Jesus Cristo, fazendo-nos meditar Sua vida, Sua morte e paixão, e Sua glória.
A Rainha de Saba, admirando a sabedoria de Salomão, exclamou: “Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria!”; (7) mais ditosos os fiéis que meditam atentamente a vida, as virtudes, os sofrimentos e a glória do Salvador, porque adquirem, por este meio, Seu perfeito conhecimento no qual consiste a vida eterna. Haec est vita aeterna.(8)
A Santíssima Virgem revelou ao Bem-aventurado Alain que, assim que São Domingos pregou o Rosário, os pecadores endurecidos foram tocados e choraram amargamente todos os seus crimes; mesmos as crianças mais novas fizeram penitências incríveis e o fervor foi tão grande, por todo o lado onde ele pregou o Rosário, que os pecadores mudaram de vida e edificaram todo o mundo com as suas penitências e a sua emenda.
Se sentis a vossa consciência carregada com algum pecado, pegai no vosso rosário, rezando uma parte em honra de alguns mistérios da vida, da paixão e da glória de Jesus Cristo, e estai persuadidos de que, enquanto meditais e honrais estes mistérios, Ele mostrará Suas chagas sagradas a Seu Pai no Céu, e intercederá por vós obtendo-vos a contrição e o perdão dos pecados. Ele disse um dia ao Bem-aventurado Alain: “Se esses miseráveis pecadores rezassem frequentemente o meu Rosário, participariam dos méritos da minha paixão, e, como seu Advogado, eu apaziguaria a divina justiça.”
Esta vida é uma guerra e uma tentação contínua; não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra as forças espirituais do mal. (9) E que melhores armas podemos tomar para combatê-las que a oração que o nosso grande Capitão nos ensinou? Que a Saudação Angélica, que expulsou os demônios, destruiu o pecado e renovou o mundo? Que a meditação da vida e da paixão de Jesus Cristo, que são pensamentos dos quais nos devemos armar, como nos ordena São Pedro, para nos defender dos mesmos inimigos que Ele venceu e que nos atacam todos os dias? “Depois que o demônio, diz o cardeal Hugo, foi vencido pela humildade e pela paixão de Jesus Cristo, não consegue atacar uma alma armada da meditação destes mistérios ou, se ataca, é vencido de maneira vergonhosa.” Induite vos armaturam Dei. (10)
Armai-vos pois destas armas de Deus, do Santo Rosário, e quebrareis a cabeça do demônio, e habitareis seguros contra todas as tentações. Eis porque o Rosário mesmo material é tão horrível ao diabo, e os santos se serviram dele para encarcerá-lo e expulsá-lo do corpo dos possessos, como muitas histórias dão testemunho.
Um homem, diz o Bem-aventurado Alain, tendo em vão tentado toda a sorte de práticas de devoção para se livrar do espírito maligno que o possuía, lembrou-se de pôr ao pescoço um rosário, o que o aliviou. E tendo percebido que quando o tirava do pescoço o demônio o atormentava cruelmente, resolveu carregá-lo ao pescoço dia e noite, o que afastou o diabo para sempre, não podendo este suportar uma tão terrível cadeia. O próprio Bem-aventurado Alain assegura que livrou um grande número de possessos pondo-lhes um rosário ao pescoço.
Ao Padre Jean Amât, da ordem de São Domingos, pregando um dia a Quaresma num lugar do Reino de Aragão, trouxeram-lhe uma jovem possuída pelo demônio. Após tê-la exorcizado várias vezes, em vão, colocou-lhe ao pescoço o seu rosário, e de imediato ela se pôs a gritar com uivos assustadores, dizendo: “Tira-o, tira-me estes grãos que me atormentam!” Por fim o padre, por compaixão para com a pobre jovem, tirou-lhe o rosário do pescoço.
Na noite seguinte, quando o Padre estava em seu leito a descansar, os mesmos demônios que possuíam a jovem vieram ter com ele, escumando de raiva, para se apoderarem da sua pessoa; mas com o seu rosário que apertava fortemente na mão, malgrado os esforços que os demônios faziam para arrancar-lho, ele combateu-os admiravelmente e pô-los em fuga, dizendo: “Santa Maria, Nossa Senhora do Santo Rosário, ampara-me!”
Quando na manhã seguinte, indo para a igreja, encontrou a pobre jovem ainda possuída, um dos demônios que estava nela pôs-se a dizer, gozando dele: “Ah, irmão, se não tivesses o teu rosário, nós bem te teríamos possuído.” Então o Padre meteu de novo o rosário no pescoço da jovem e disse: “Pelo santíssimo nome de Jesus e de Maria, Sua santa Mãe, e pela virtude do Santíssimo Rosário, eu comando-vos, espíritos malignos, que saiam desse corpo imediatamente!”; e logo eles tiveram de obedecer, e foi a jovem libertada.
Estas histórias mostram-nos a força que tem o Santo Rosário para vencer toda a sorte de tentações de demónios e toda a sorte de pecados, porque os grãos benditos do Rosário os metem em fuga.
28ª ROSA
Santo Agostinho assegura que não há exercício mais frutuoso e mais útil à salvação que pensar com frequência nos sofrimentos de Nosso Senhor. Santo Alberto Magno, mestre de São Tomás, soube por revelação que a simples lembrança, ou a meditação, da paixão de Jesus Cristo é mais meritória ao cristão que jejuar todas as sextas-feiras durante um ano a pão e água, flagelar-se até ao sangue todas as semanas, ou rezar todos os dias o saltério. Ah, quão grande é pois o mérito do Rosário, que relembra toda a vida e paixão de Nosso Senhor!
A Santíssima Virgem revelou um dia, ao Bem-aventurado Alain de la Roche, que após o santo sacrifício da Missa, que é a primeira e mais viva memória da paixão de Jesus Cristo, não há devoção mais excelente e mais meritória que o Rosário, que é como uma segunda memória e representação da vida e da paixão de Jesus.
O Padre Dorland conta que a Santíssima Virgem disse um dia ao venerável Domingos, cartuxo, devoto do Santo Rosário, que residia em Trèves no ano de 1481: “Todas as vezes que um fiel reza o Rosário meditando os mistérios da vida e da paixão de Jesus Cristo, em estado de graça, obtém plena e completa remissão de todos os seus pecados.”
Ela disse também ao Bem-aventurado Alain: “Sabe que ainda que haja grande quantidade de indulgências concedidas ao meu Rosário, eu juntarei muitas mais por cada cinquentena àqueles que o rezarem sem pecado mortal, de joelhos, devotamente; e a todo aquele que perseverar na devoção do Santo Rosário com estas condições e meditações, eu lhe obterei, como recompensa por esse bom serviço, plena remissão da pena e da culpa de todos os seus pecados no fim da sua vida.
E que isto não te pareça inacreditável; é-me fácil, pois eu sou a Mãe do Rei dos Céus, que me chama cheia de graça, e, como cheia de graça, farei uma ampla efusão dela sobre os meus queridos filhos.”
São Domingos estava tão persuadido da eficácia e mérito do Santo Rosário que não dava quase nenhuma outra penitência àqueles que confessava, como vimos na história que contei da devota romana a quem ele deu por penitência apenas um Rosário.
Os confessores deveriam também, para seguir o exemplo desse grande santo, mandar os penitentes rezar o Rosário, com a reflexão sobre os sagrados mistérios, em detrimento de outras penitências que não são tão merecedoras de mérito, nem tão agradáveis a Deus, nem tão salutares às almas para as fazer avançar na virtude, nem tão eficazes para as impedir de cair no pecado; até porque, rezando o Rosário, se ganham uma quantidade de indulgências que não são concedidas a muitas outras devoções.
“Sem dúvida, diz o abade Blosius, que o Rosário, com a meditação da vida e da paixão, é muito agradável a Jesus Cristo e à Santíssima Virgem e muito eficaz para obter todas as coisas. Podemos rezá-lo tanto por nós como por aqueles que nos foram confiados ou mesmo por toda a Igreja. Recorramos pois à devoção do Santo Rosário em todas as nossas necessidades, e obteremos infalivelmente o que a Deus pedirmos para nossa salvação.”
29ª ROSA
Não há nada mais divino, segundo São Dionísio, nem nada mais nobre, nem mais agradável a Deus, que cooperar na salvação das almas e derrubar as máquinas do demónio que intentam perdê-las. Eis o motivo pelo qual desceu o Filho de Deus à terra. Ele derrubou o império de Satã com a fundação da Igreja; porém esse tirano recuperou as suas forças e exerceu uma cruel violência sobre as almas dos Albigenses, pelos ódios, pelas dissensões e pelos vícios abomináveis que fez reinar em todo o mundo no século XI.
Qual o remédio para tão grandes desordens? Como derrubar as forças de Satã? A Santíssima Virgem, protetora da Igreja, não deu meio mais eficaz para apaziguar a cólera de Seu Filho, para extirpar a heresia e reformar os costumes dos cristãos, que a confraria do Santo Rosário, como os fatos o demonstram. Reavivou-se a caridade, voltou-se à frequência dos sacramentos dos primeiros séculos de ouro da Igreja, e reformaram-se os costumes dos cristãos.
O Papa Leão X diz em sua bula que esta confraria foi fundada em honra de Deus e da Santíssima Virgem como um muro para travar as desgraças que se iriam abater sobre a Igreja.
Gregório XIII diz que o Rosário foi dado pelo Céu como um meio para apaziguar a cólera de Deus e implorar a intercessão da Santíssima Virgem.
Júlio III diz que o Rosário foi inspirado para nos abrir mais facilmente o Céu, através das mercês da Santíssima Virgem.
Paulo III e o Bem-aventurado Pio V declararam que o Rosário foi estabelecido e dado aos fiéis para se procurar mais eficazmente o repouso e a consolação espiritual. Quem negligenciará entrar numa confraria instituída para fins tão nobres?
O Padre Domingos, cartuxo, muito devoto do Rosário, viu um dia o Céu aberto e toda a corte celeste, disposta numa ordem admirável, cantando o Rosário, numa melodia arrebatadora, honrando a cada dezena um mistério da vida, da paixão e da glória de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem. E notou que quando pronunciavam o sagrado nome de Maria faziam todos uma inclinação de cabeça, e ao de Jesus, faziam todos uma genuflexão e prestavam graças a Deus pelos grandes bens concedidos ao Céu e à terra pelo Santo Rosário. Ele viu também a Santíssima Virgem e os santos presentear Deus com os Rosários que os confrades rezavam na terra, e rezando por aqueles que praticavam essa devoção. Ele viu ainda inumeráveis coroas, e lindíssimas e olorosas flores, preparadas para aqueles que rezam devotamente o Santo Rosário, os quais por cada vez que o rezam fazem para si uma coroa com que serão adornados no céu. A visão deste devoto cartuxo está em conformidade com a que teve o discípulo bem-amado, na qual viu uma multidão inumerável de anjos e de santos louvando e bendizendo Jesus Cristo por tudo o que fez e sofreu neste mundo para nossa salvação; não é isso que fazem os devotos confrades do Rosário?
Não há porque pensar que o Rosário é só para mulheres, para crianças e para ignorantes; ele é também para os homens, e para os maiores dos homens. Assim que São Domingos deu conta ao Papa Inocêncio III da ordem que recebeu do Céu de estabelecer esta santa confraria, o Santo Padre aprovou-a, exortou São Domingos a pregá-la e quis associar-se a ela. Os próprios cardeais a abraçaram com grande fervor, o que levou Lopez a dizer: Nullum sexum, nullam aetatem, nullam conditionem ab oratione rosarii subtraxit se. (11)
Deste modo pode ver-se nesta confraria todo o gênero de pessoas. Duques, príncipes, reis, prelados, cardeais, soberanos pontífices, entre outros, cuja enumeração seria demasiado longa para este pequeno livro. Assim, se ingressardes, caro leitor, nesta confraria, partilharás da sua devoção e das suas graças sobre a terra e da sua glória no Céu. Cum quibus consortium vobis erit devotionis, erit et communio dignitatis. (12)
30ª ROSA
Se os privilégios, as graças e as indulgências tornam uma confraria recomendável, pode-se dizer que a do Rosário é a mais recomendável da Igreja, pois é a mais favorecida e rica em indulgências, e não há quase nenhum Papa que após a sua instituição não tenha aberto os tesouros da Igreja para gratificá-la. E como o exemplo persuade melhor que as palavras e os benefícios, os Santos Padres não souberam demonstrar melhor a estima que tinham por esta confraria que associando-se a ela.
Eis aqui um pequeno resumo das indulgências que os Soberanos Pontífices inteiramente acordaram para a confraria do Santo Rosário, confirmadas de novo pelo nosso Santo Padre o Papa Inocêncio XI em Julho de 1679, recebida e tornada pública pelo Arcebispo de Paris em 25 de Setembro do mesmo ano:
1) No dia do ingresso na confraria: indulgência plenária;
2) Na hora da morte: indulgência plenária;
3) Por cada terço: dez anos e dez quarentenas de indulgências;
4) Por cada vez que forem pronunciados devotamente os santos nomes de Jesus e de Maria: sete dias de indulgências;
5) Para aqueles que assistam devotamente à procissão do Santo Rosário: sete anos e sete quarentenas de indulgências;
6) Àqueles que, verdadeiramente penitentes e confessados, visitarem a capela do Rosário na igreja em que esteja estabelecida, nos primeiros domingos de cada mês e nas festas de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem: indulgência plenária;
7) Aos que assistam à Salve Rainha: cem dias de indulgência;
8) Aos que devotamente e para dar exemplo carreguem abertamente o Santo Rosário: cem dia de indulgências;
9) Aos confrades doentes que não possam ir à igreja que, tendo-se confessado e comungado, rezem nesse dia o Santo Rosário ou pelo menos o terço: indulgência plenária no dia marcado para ganhá-la;
10) Os Santos Padres, por grande bondade para com os confrades do Santo Rosário, deram-lhes a possibilidade de ganhar as indulgências das Estações de Roma, visitando cinco altares e rezando diante de cada um deles cinco vezes o Pai-nosso e a Ave-maria, pela prosperidade da Igreja. Se não houver mais que um ou dois altares dentro dessa igreja rezar-se-ão 25 vezes o Pai-nosso e a Ave-maria diante de um deles.
Este é um grande favor para os confrades do Santo Rosário, porque nas igrejas das Estações de Roma se podem obter indulgências plenárias, porque liberta as almas do purgatório e concede muitas outras grandes remissões que os confrades podem ganhar sem esforço, sem gastos, sem sair do seu país; e mesmo, se a confraria não está estabelecida no lugar onde habitam os confrades, eles ganham indulgências, visitando cinco altares de outra igreja qualquer, segundo a concessão de Leão X.
Eis os dias nos quais se podem ganhar indulgências, determinados e fixos, para quem não habita em Roma, por um decreto da Sagrada Congregação de Indulgências, aprovado pelo nosso Santo Padre a 7 de Março de 1678, que ordenou que seja inviolavelmente observado:
Todos os domingos do Advento; nos três dias de Quatro-têmporas; na vigília de Natal, nas missas da meia-noite, da aurora e do dia; nas festas de Santo Estêvão, de São João Evangelista, e dos Santos Inocentes, da Circuncisão e dos Reis; nos domingos da Septuagésima, Sexagésima, Quinquagésima e, desde a Quarta-feira de Cinzas, todos os dias, até ao Domingo de Ramos inclusivamente; nos três dias das Rogações; no dia da Ascensão; na vigília de Pentecostes, e todos os dias da oitava e os três dias de Quatro-têmporas de Setembro.
Caro confrade do Rosário, há um grande número de outras indulgências. Se as quiserdes conhecer, podeis ler o sumário das indulgências concedidas aos confrades do Rosário. Aí vereis os nomes dos papas, o ano e muitas outras particularidades que este livro não abrange.
Notas:
(1) Efésios 5: 1
(2) Lamentações 1: 12
(3) Lamentações 3: 19
(4) Mateus 25: 12
(5) (Mateus 6, 9) “Eis como deveis rezar: Pai nosso...”
(6) Filipenses 3: 8
(7) I Reis 10: 8
(8) São João 17:3 “A vida eterna consiste em que conheçam a Ti.”
(9) Efésios 6:12
(10) Efésios 6: 11 “Revesti-vos da armadura de Deus.”
(11) "Nem sexo, nem idade, nem condição social são impedimento para se ser devoto do Rosário.”
domingo, 25 de março de 2012
Pensamento da noite de 25/03/2012
"Evidentemente que não é sem trabalho e sacrifício que o olhar se orienta assim para o seu objeto divino e aprende a fitá-lo fielmente. É muito fácil deixar-se distrair pelas mínimas coisas e apaixonar-se, infelizmente, pelas mais fúteis. A concentração paciente no que é essencial é um esforço indispensável para a vida do espírito. 'Tu afadigas-te e andas inquieto com muitas coisas, mas só uma é necessária' - Luc., X, 41-42."
(Por um cartuxo anônimo)
sábado, 24 de março de 2012
Pensamento da noite de 24/03/2012
"Só Deus pode acalmar a nossa sede, porque Ele próprio a pôs dentro de nós desde a origem, como um instinto sobrenatural de que só Ele é o objeto. Nem os deleites nem os sucessos deste mundo a podem satisfazer: o coração do homem não se prende muito tempo com as criaturas; parece gostar só de coisas novas: é que ele é feito para a eternidade: 'Vós criaste-nos para Vós, meu Deus, e o nosso coração anda inquieto enquanto não repousa em Vós' - Santo Agostinho".
(Por um cartuxo anônimo)
Concepto de La Realeza de Cristo
Por Monsenhor Tihamér Tóth
¿Por qué los hombres rechazan a Cristo? Porque no quieren aceptar el reinado de Cristo.
Recordemos la escena de Belén: Los tres magos están postrados ante el pesebre... Este Niño, al que adoran y le traen regalos, es el Hijo del Dios vivo, el Verbo encarnado, el Soberano del linaje humano. Es decir, ¡Jesucristo es Rey! ¡Es niño, pero también es Legislador! Nos ama, pero también es nuestro Juez. Es dulce, pero a la vez exigente. Y si es mi Rey, entonces yo no puedo vivir tan frívolamente como lo he hecho hasta ahora. Jesucristo debe tener voz y voto en mis pensamientos, en mis planes, en mis negocios, en mis diversiones. ¡Ah!, pero esto nos resulta demasiado exigente. Nos resulta muy duro y no queremos admitirlo.
Porque la sencillez, la pobreza, la humildad de este Cristo de Belén es una acusación inexorable contra nuestro modo de vivir. Porque si Cristo tiene razón, es patente que nosotros no la tenemos; no tiene razón mi orgullo, mi afán inconmensurable de gloria, mis ansias de placeres, mis idolatrías de tantas cosas terrenas, mi culto al becerro de oro.
Esta es la causa por la que nos resistimos a someternos al yugo de Cristo.
No quiero a Cristo, porque su humildad condena mi jactancia.
No quiero a Cristo, porque su pobreza reprueba mi afán de bienestar y de placeres.
No quiero a Cristo, porque su confianza en la Providencia condena mi materialismo y autosuficiencia.
Pero si Cristo es mi Rey, entonces no pueden ser mis ídolos la razón, el placer ni el dinero.
Si Cristo es mi Rey y mi Dios, no puedo hacer de la razón o de la ciencia un ídolo.
He de respetar la ciencia, sí; pero no elevarla a la categoría de divinidad. La ciencia no puede explicármelo todo y mucho menos colmar mis ansias de felicidad.
Nunca como en la actualidad ha habido tantas escuelas y universidades, tantas bibliotecas, tantos recursos para adquirir conocimientos y culturizarse. Y no obstante, proliferan los asesinatos, la corrupción y la decadencia moral. La ciencia, el libro, la cultura, no pueden suplirlo todo. No ocupan el primer lugar, que sólo puede ocuparlo Dios. ¿No fue acaso el ángel que más sabía, Lucifer, el que se precipitó en los más profundos abismos? ¿Y no leemos a cada paso que entre los grandes criminales hay hombres muy cultos, con muchas cualidades, muy astutos y hábiles?
Sabemos muchas cosas, sí, pero… ¿qué sabemos? Construimos rascacielos, explotamos los recursos naturales, nos divertimos, nos lo pasamos muy bien... pero no sabemos ser honrados, no sabemos perseverar haciendo el bien, no sabemos ser felices, no sabemos vivir una vida digna del hombre.
¡Cristo es nuestro Rey! ¿Qué significa esto? Significa que el alma es superior al cuerpo; que la integridad moral es más preciosa que tener muchos conocimientos.
Que la fe religiosa vale más que mi carrera o mi quehacer profesional.
Que la santa Misa tiene un valor infinito, que no se puede comparar con una película.
Que un rato de oración vale mucho más que una fiesta mundana...
Todo esto significa la realeza de Cristo.
Si Cristo es mi Rey, no puede ser mi ídolo la moda. Donde reina Cristo no hay sitio para la frivolidad. El que tiene por Rey a Cristo, no puede vestirse, bailar o divertirse con tanta superficialidad y ligereza... Muchas mujeres ingenuamente no se percatan de que el paganismo intenta abrirse camino de nuevo a través de la moda: a través de los vestidos indecentes, a través de los bailes obscenos, a través del veneno que difunden ciertas películas, a través de lujo exorbitante..., todo esto es paganismo.
Si Cristo es mi Rey, no puedo desterrarle de la vida pública, que es justamente lo que pretende el laicismo: expulsar el cristianismo del mayor número de lugares posible, arrancarle a Cristo más y más fieles.
Si Cristo es mi Rey, no puedo dar culto al dinero o a los placeres. Porque el espíritu está por encima de la materia, porque mi alma está llamada a vivir la vida de Dios. Pero nos olvidamos de Cristo, y no tenemos tiempo para alimentar nuestro espíritu.
Y por no poner nuestro corazón en Cristo, acabamos poniéndolo en las religiones exotéricas orientales, y abdicamos de la fe católica. Pero estas religiones no tienen nada nuevo que decirnos, y están llenas de muchos errores.
He aquí, pues, la razón por que se rechaza la realeza de Cristo... No aceptamos a Cristo-Rey, porque condena nuestro modo pagano de vivir.
Según una leyenda cuando el Niño Jesús se encaminaba hacia Egipto, huyendo de Herodes, a su paso se iban desplomando todas las estatuas de los ídolos que se cruzaban por el camino...
Es lo mismo que nos tendría que suceder hoy: ¡Ante Cristo deben desplomarse todos los ídolos! Ante Jesucristo humilde, debe caer mi orgullo altanero. Ante Jesucristo pobre, debe desaparecer mi jactancia presuntuosa y mis ansías de placeres. Y cuando acatemos a Cristo como Rey, entonces —sólo entonces— se curará la sociedad humana de sus innumerables males.
¡Ven, oh Cristo Rey, porque ya no podemos más!
Tú eres nuestro Sol, el que nos da la vida, el que nos da la luz y el calor.
(Monsenhor Tihamér Tóth, livro Cristo Rey)
sexta-feira, 23 de março de 2012
Oração ao Coração Imaculada de Maria
Nota do blogue: A pedido de um leitor transcrevo esta bela oração.
1. Eu vos saúdo, amabilíssimo Coração de Maria, que ardeis continuamente em vivas chamas do divino amor, por ele suplico-Vos minha Mãe amorosíssima, acendais o meu tíbio coração nesse divino fogo em que estais toda abrasada.
Ave Maria e Gloria Patri.
2. Eu Vos saúdo, puríssimo Coração de Maria, donde brota a formosura açucena da virginal pureza; por ela peço-Vos, minha Mãe imaculada, que purifiqueis meu impuro coração, infundindo nele a pureza e a castidade.
Ave Maria e Gloria Patri.
3. Eu vos saúdo, aflitíssimo Coração de Maria, transpassado com a espada de dor pela Paixão e Morte do Vosso querido Filho Jesus, e pelas contínuas ofensas, que se cometem contra a Sua divina Majestade: dignai-Vos, minha Mãe dolorosa, penetrar, o meu duro coração com uma viva dor de meus pecados e com o mais amargo sentimento dos ultrajes e injúrias que está recebendo dos pecadores o divino Coração do meu adorável Redentor.
Ave Maria e Gloria Patri.
V. Ó Maria Imaculada, mansa e humilde de coração.
R. Uni o meu coração ao Coração do meu Divino Redentor.
Oração: Clementíssimo Deus, que para a salvação dos pecadores e refúgio dos miseráveis, quisestes fazer o Coração de Maria tão semelhante, no amor e na misericórdia ao de Jesus, concedei-me, celebrando as admiráveis prerrogativas desde dulcíssimo Coração, mereçamos ser achados conformes ao Coração de Jesus Cristo, que vive e reina convosco por todos os séculos dos séculos. Amém.
(Oração retirada do Manual de Piedade Venha a nós o Vosso Reino, 1959)
quinta-feira, 22 de março de 2012
Pensamento do dia 22/03/2012
"É um dom de Deus uma mulher sensata e silenciosa, e nada se compara a uma mulher bem-educada. A mulher santa e honesta é uma graça inestimável; não há peso para pesar o valor de uma alma casta. Assim como o sol que se levanta nas alturas de Deus, assim é a beleza de uma mulher honrada, ornamento de sua casa. Como a lâmpada que brilha no candelabro sagrado, assim é a beleza do rosto na idade madura. Como colunas de ouro sobre alicerces de prata, são as pernas formosas sobre calcanhares firmes. Como fundamentos eternos sobre pedra firme, assim são os preceitos divinos no coração de uma mulher santa."
Eclo, 26 (18,24)
Segunda dezena: A excelência do Santo Rosário nas orações de que é composto
Nota do blogue: Acompanhe este Especial AQUI.
11ª ROSA
O Credo ou o Símbolo dos Apóstolos que se reza sobre a cruz do Rosário ou do Terço, sendo um sagrado resumo das verdades cristãs, é uma oração de grande mérito, pois que a fé é a base, o fundamento e o começo de todas as virtudes cristãs, de todas as virtudes eternas e de todas as orações agradáveis a Deus. Accedentem ad Deum credere oportet (1). É preciso que aquele que se aproxima de Deus pela oração comece por crer, e quanto maior for a sua fé, tanto mais vigor e mérito terá a sua oração em si mesma e tanta mais glória dará a Deus.
Não me deterei a explicar as palavras do Credo, mas não posso deixar de dizer que estas três primeiras palavras Credo in Deum, Creio em Deus, encerram os atos das três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade, que têm uma eficácia maravilhosa para santificar a alma e aterrar o demônio. Foi com estas palavras que muitos santos venceram as tentações, particularmente aquelas que são contra a fé, a esperança ou a caridade, tanto durante a sua vida como na hora da morte. Estas foram as últimas palavras que São Pedro, o mártir, escreveu o melhor que pode com o dedo na areia quando, tendo a cabeça fendida em dois por um golpe de espada desferido por um herege, estava prestes a expirar.
Como a fé é a única chave para entrar em todos os mistérios de Jesus e de Maria encerrados no Santo Rosário, convém começá-lo rezando o Credo com grande atenção e devoção; desse modo a fé tornar-se-á mais viva e forte, e o Rosário será mais meritório. É preciso que esta fé seja viva e animada pela caridade, o mesmo é dizer que para bem rezar o Santo Rosário, é preciso estar na graça de Deus ou na procura dessa graça. É preciso que a fé seja forte e constante, o mesmo é dizer que não se deve procurar na prática do Santo Rosário apenas o seu gosto sensível e a sua consolação espiritual, isto é, não se deve abandoná-lo por termos uma tropel de distrações involuntárias no espírito, um desgosto estranho na alma, um tédio opressivo ou um torpor quase contínuo no corpo. Não é preciso gosto, nem consolação, nem suspiros, nem fervor, nem lágrimas, nem aplicação contínua da imaginação, para se rezar o Rosário; a fé pura e a boa intenção bastam. Sola fides sufficit. (2)
12ª ROSA
O Pai-nosso, ou Oração Dominical, tem a sua primeira excelência no seu autor, que não é um homem nem um anjo, mas o Rei dos anjos e dos homens, Jesus Cristo. “Era necessário, diz São Cipriano, que Aquele que vinha dar-nos a vida da graça como Salvador, nos ensinasse a maneira de rezar como Mestre celestial.”
A sabedoria deste divino Mestre manifesta-se bem na ordem, na doçura, na força e na claridade desta divina oração. Ela é curta mas rica em ensinamentos, inteligível para os simples mas cheia de mistérios para os sábios.
O Pai-nosso encerra todos os deveres que devemos ter para com Deus, os atos de todas as virtudes e os pedidos de todas as nossas necessidades espirituais e corporais. Contém, diz Tertuliano, o resumo do Evangelho. Supera, diz Thomas de Kempis, todos os desejos dos santos, contém um resumo de todas as doces sentenças dos salmos e dos cânticos, pede tudo aquilo que nos é necessário, louva a Deus de uma excelente maneira, e eleva a alma da terra ao Céu unindo-a estreitamente com Deus.
São Crisóstomo diz que quem não reza como o divino Mestre rezou e ensinou a rezar não é seu discípulo, e que Deus Pai não escuta com agrado as orações compostas pelo espírito humano, mas antes as do Seu Filho, que Ele nos ensinou.
Deve-se rezar a Oração Dominical com a certeza de que o Pai eterno a acolherá favoravelmente, uma vez que é a oração de Seu Filho, que ele sempre acolhe favoravelmente, e com a certeza de que somos membros de Jesus; pois que pode recusar um Pai tão bom a um pedido tão bem concebido e apoiado sobre os méritos e a recomendação de um tão digno Filho?
Santo Agostinho assegura que o Pai-nosso bem rezado apaga os pecados veniais. O justo tomba sete vezes, a Oração Dominical contém sete pedidos através dos quais ele pode remediar as suas quedas e fortificar-se contra os seus inimigos. É uma oração curta e fácil, afim de que, assim como somos frágeis e sujeitos a muitas misérias, recebamos um mais rápido auxílio rezando-o mais frequentemente e mais devotamente.
Desenganai-vos pois, almas devotas que desprezais a Oração que o próprio Filho de Deus compôs e que recomendou a todos os fiéis; vós que apenas tendes estima pelas orações compostas pelos homens, como se o homem, mesmo o mais esclarecido, soubesse melhor que Jesus Cristo como se deve rezar. Vós procurais nos livros dos homens a maneira como se deve louvar e rezar a Deus, como se tivésseis vergonha de servir-vos daquela que Seu Filho nos prescreveu. Vós vos persuadis que as orações que estão nos livros são para os sábios e para os ricos, e que o Rosário é só para mulheres, para crianças e para o povo, como se os louvores e as orações que vós ledes fossem mais belas e mais agradáveis a Deus do que aquelas que estão contidas na Oração Dominical.
É uma perigosa tentação enfastiarmo-nos da Oração que Jesus nos recomendou para rezar as orações feitas pelos homens. Não que se desaprove aquelas que os santos compuseram para incitar os fiéis a louvar a Deus, mas não se pode admitir que eles as prefiram à Oração que saiu da boca da Sabedoria incarnada, e que deixem a fonte para correr atrás do riacho, e que desdenhem a água clara para beber a água turva. Porque enfim o Rosário, composto da Oração Dominical e da Saudação Angélica, é esta água clara e perpétua que corre da fonte da graça, enquanto que as outras orações que se encontram nos livros não são mais que bem pequenos riachos que dela derivam.
Pode-se chamar ditoso a quem, rezando a Oração do Senhor, pesa atentamente cada palavra; aí ele encontrará tudo o que precisa, tudo o que pode desejar.
Quando se reza esta admirável oração, imediatamente se cativa o coração de Deus invocando-o pelo doce nome de Pai. “Pai Nosso”, o mais terno de todos os pais, todo-poderoso na criação, todo admirável na conservação, todo amável na Sua Providência, infinitamente bom na Redenção. Deus é nosso Pai, nós somos todos irmãos, o Céu é a nossa pátria e a nossa herança. Não nos inspirará isso à fé, ao amor de Deus, ao amor do próximo, e ao desprendimento de todas as coisas terrenas? Amemos pois um tal Pai e digamo-Lhe mil e mil vezes: “Pai nosso que estais nos Céus.” Vós que encheis o Céu e a terra pela imensidão da Vossa essência, que Sóis omnipresente. Vós que estais nos santos por Vossa glória, nos condenados por Vossa justiça, nos justos por Vossa graça, nos pecadores por Vossa paciência que lhes suporta as traições, fazei com que nos lembremos sempre da nossa celeste origem, que vivamos sempre como Vossos verdadeiros filhos; que tendamos sempre somente para Vós com todo o ardor da nossa vontade.
“Santificado seja o Vosso nome.” O nome do Senhor é santo e temível, diz o rei profeta, e no Céu, segundo Isaías, ressoam louvores que os serafins não cessam de prestar à santidade do Senhor, Deus dos exércitos. Aqui se pede que toda a Terra conheça e adore os atributos deste Deus tão grande e tão santo. Que Ele seja conhecido, amado e adorado pelos pagãos, pelos turcos, pelos judeus, pelos bárbaros e por todos os infiéis. Que todos os homens O sirvam e O glorifiquem com uma fé viva, uma esperança firme, uma caridade ardente, e na renúncia a toda a mentira. Em uma palavra, que todos os homens sejam santos porque Ele próprio é santo.
“Venha a nós o Vosso reino.” O mesmo é dizer que reineis em nossas almas por Vossa graça, durante a vida, afim que mereçamos, após a nossa morte, reinar convosco em Vosso Reino, que é a soberana e eterna felicidade; felicidade na qual cremos, esperamos e desejamos, e que nos está prometida pela bondade do Pai, que nos foi adquirida pelos méritos do Filho e que nos é revelada pelas luzes do Espírito Santo.
“Seja feita a Vossa vontade assim na Terra como no Céu.” De fato, nada pode afastar-se às disposições da Providência que tudo previu e dispôs antes dos acontecimentos. Nenhum obstáculo pode afastá-lO do fim a que se propôs, e quando pedimos a Deus que Sua vontade seja feita, não é porque creiamos, diz Tertuliano, que alguém se possa opor com sucesso à execução dos Seus desígnios, mas que aquiescemos humildemente a tudo aquilo que possa ordenar a nosso respeito; que cumprimos sempre e em todas as coisas Sua santíssima vontade, que nos é conhecida pelos mandamentos, com tanta prontidão, amor e constância, quanto os anjos e os bem-aventurados Lhe obedecem no céu.
“O pão nosso de cada dia nos dai hoje.” Jesus Cristo ensina-nos a pedir a Deus tudo o que é necessário à vida do corpo e à vida da alma. Com estas palavras da Oração Dominical, fazemos a humilde confissão da nossa miséria e rendemos homenagem à Providência, declarando que cremos e queremos obter da sua bondade todos os bens temporais. Sob o nome de pão nós pedimos o que é simplesmente necessário à vida, o supérfluo não está contido. Este pão pedimo-lo hoje, o mesmo é dizer que limitamos ao presente todos os nossos cuidados, confiando à Providência o amanhã. Pedimos o pão de cada dia, confessando assim nossas necessidades que sempre renascem e mostrando a contínua dependência em que estamos da protecção e do socorro de Deus.
“Perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores.” Nossos pecados, diziam Santo Agostinho e Tertuliano, são dívidas que contraímos para com Deus, e Sua justiça exige o pagamento até ao último óbolo. Portanto temos todas essas tristes dívidas. Malgrado o nome das nossas iniquidades, aproximemo-nos pois d’Ele com confiança e digamo-Lhe com verdadeiro arrependimento: Pai nosso que estais nos céus, perdoai-nos os pecados do nosso coração e da nossa boca, os pecados de atos ou de omissões que nos tornam infinitamente culpados aos olhos de Vossa justiça, porque como filhos de um pai clemente e misericordioso, perdoamos por obediência e por caridade àqueles que nos ofendem.
“E não nos deixeis” por causa da nossa infidelidade às vossas graças, “cair em tentação” do mundo, do demônio e da carne; “mas livrai-nos do mal”, que é o pecado, do mal das penas temporais e das penas eternas, que fizemos por merecer.
“Amém”. Palavra de uma grande consolação, que é, diz São Jerônimo, como um selo que Deus põe no fim dos nossos pedidos para nos assegurar de que nos escutou, como se Ele mesmo nos respondesse: Assim seja!!! Que seja feito como pedistes, em verdade o haveis obtido, pois tal é o significado desta palavra: Amém.
13ª ROSA
Nós honramos as perfeições de Deus rezando cada palavra da Oração Dominical. Honramos a sua fecundidade com o nome de Pai. Pai que geraste desde a eternidade um Filho que é Deus convosco, eterno, consubstancial, que é uma mesma essência, uma mesma potência, uma mesma bondade, uma mesma sabedoria convosco, Pai e Filho, que, amando-vos, produzis o Espírito Santo, que é Deus como Vós, três pessoas adoráveis, que são um só Deus.
Pai nosso! O mesmo é dizer, Pai dos homens pela criação, pela conservação e pela redenção, Pai misericordioso dos pecadores, Pai amigo dos justos, Pai magnífico dos bem-aventurados.
Que estais. Por estas palavras adoramos a infinidade, a grandeza, a plenitude da essência de Deus, que se chama verdadeiramente Aquele que é, o mesmo é dizer, que existe essencialmente, necessariamente e eternamente, que é o Ser dos seres, a causa de todos os seres. Que encerra eminentemente em Si mesmo as perfeições de todos os seres; que está em todos os seres pela sua essência, pela sua presença e pela sua potência, sem a eles estar confinado. Nós honramos a Sua sublimidade, a Sua glória e a Sua majestade com estas palavras: Que estais nos Céus, o mesmo é dizer sentado como em Vosso trono, exercendo Vossa justiça sobre todos os homens.
Nós adoramos a Sua santidade desejando que o Seu nome seja santificado. Reconhecemos a sua soberania e a justiça de Suas leis, ansiando a chegada do Seu Reino, e esperando que os homens Lhe obedeçam sobre a terra como os anjos Lhe obedecem no Céu. Cremos na Sua Providência, rezando que nos dê o nosso pão de cada dia. Invocamos a Sua clemência, pedindo-Lhe a remissão dos nossos pecados. Recorremos à Sua potência, rezando para que não nos deixe cair em tentação. Confiamo-nos à Sua bondade, esperando que nos livre do mal. O Filho de Deus sempre glorificou Seu Pai com Suas obras. Ele veio ao mundo para que O glorifiquem os homens. Ele lhes ensinou a maneira de honrá-lO, através desta Oração que Ele se dignou a ditar-lhes Ele mesmo. Nós devemos pois rezá-la frequentemente com atenção e com o mesmo espírito com que Ele a compôs.
14ª ROSA
Quando rezamos atentamente esta divina Oração, fazemos tantos atos das mais nobres virtudes cristãs quantas as palavras que pronunciamos. Dizendo “Pai nosso que estais nos Céus”, praticamos actos de fé, de adoração e de humildade. Desejando que Seu nome seja santificado e glorificado, mostramos um zelo ardente pela sua glória.
Pedindo-Lhe a possessão do Seu Reino, praticamos um ato de esperança. Ansiando que Sua vontade seja cumprida assim na Terra como no Céu, mostramos um espírito de perfeita obediência. Pedindo-Lhe nosso pão de cada dia, praticamos a pobreza de espírito e o desprendimento dos bens terrenos. Rogando-Lhe que nos perdoe os pecados, praticamos um ato de arrependimento; e perdoando àqueles que nos ofenderam, exercemos a misericórdia na mais alta perfeição. Pedindo-Lhe socorro nas tentações, praticamos atos de humildade, de prudência e de força. Esperando que nos livre do mal, praticamos a paciência. E por fim, pedindo todas estas coisas, não apenas para nós, mas também para o nosso próximo e para todos os membros da Igreja, fazemos o dever de verdadeiros filhos de Deus, imitamo-lO na caridade que abrange todo os homens e cumprimos o mandamento de amar o próximo.
Nós detestamos todos os pecados e observamos todos os mandamentos de Deus, quando rezando esta Oração o nosso coração está de acordo com a nossa língua, e não temos nenhuma intenção contrária ao sentido destas divinas palavras. Pois quando refletimos que Deus está no Céu, o mesmo é dizer infinitamente elevado acima de nós por Sua grandeza e majestade, entramos nos sentimentos do mais profundo respeito em Sua presença. Todos cheios de temor, fugimos do orgulho e rebatemo-nos quase até ao nada.
Quando pronunciamos o nome do Pai, lembramo-nos que devemos a nossa existência a Deus, por meio dos nossos pais, e mesmo a nossa instrução por meio dos nossos mestres, que tomam aqui o lugar de Deus, do qual são imagens vivas, sentindo-nos obrigados a honrá-los ou, para dizer melhor, a honrar a Deus em suas pessoas, e nos guardamos de desprezá-los e afligi-los.
Quando desejamos que o santo Nome de Deus seja glorificado, estamos bem guardados de o profanar. Quando vemos o reino de Deus como nossa herança, renunciamos a prendermo-nos aos bens deste mundo. Quando pedimos sinceramente para o nosso próximo os mesmo bens que desejamos para nós mesmos, renunciamos ao ódio, às discórdias e à inveja. Pedindo a Deus o nosso pão de cada dia, detestamos a gula e a voluptuosidade que se alimenta da abundância. Rezando a Deus que verdadeiramente nos perdoe, como perdoamos àqueles que nos ofendem, reprimimos a nossa cólera e a nossa vingança, trocamos o bem pelo mal e amamos os nossos inimigos. Pedindo a Deus que não nos deixe cair em pecado no momento da tentação, mostramos que fugimos da preguiça, que procuramos os meios de combater os vícios e de conseguir a nossa salvação. Rezando a Deus que nos livre do mal, cremos em sua justiça, e somos ditosos, pois o temor a Deus é o começo da sabedoria; é pelo temor a Deus que todo o homem evita o pecado.
15ª ROSA
A Saudação Angélica é tão sublime, tão elevada, que o bem-aventurado Alain de la Roche creu que nenhuma criatura podia compreendê-la e que não existiria ninguém além de Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, que pudesse explicá-la.
A sua excelência vem principalmente da Santíssima Virgem a quem foi endereçada; do seu fim, que foi a Incarnação do Verbo para o qual foi enviada do Céu; e do arcanjo Gabriel que foi o primeiro a pronunciá-la.
A Saudação Angélica resume na síntese mais concisa toda a teologia cristã sobre a Santíssima Virgem. Aí se encontra um louvor e uma invocação. O louvor encerra tudo o que forma a verdadeira grandeza de Maria; a invocação encerra tudo o que lhe devemos pedir, e o que podemos esperar da sua bondade para connosco.
A Santíssima Trindade revelou a primeira parte; Santa Isabel, iluminada pelo Espírito Santo, juntou a segunda; e a Igreja, no Primeiro Concílio de Éfeso, no ano 430, pôs-lhe a conclusão, após ter condenado o erro de Nestorius e definido que a Santíssima Virgem é verdadeiramente Mãe de Deus. O Concílio ordenou que se invocaria a Santíssima Virgem sob este glorioso título com estas palavras: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte.
A Santíssima Virgem foi aquela a quem esta divina Saudação foi apresentada para levar a cabo a maior e mais importante tarefa do mundo, a incarnação do verbo eterno, a paz entre Deus e os homens e a redenção do gênero humano. O embaixador desta ditosa nova foi o arcanjo Gabriel, um dos primeiros príncipes da corte celeste. A Saudação Angélica contém a fé e a esperança dos patriarcas, dos profetas e dos apóstolos. Ela é a constância e a força dos mártires, a ciência dos doutores, a perseverança dos confessores e a vida dos religiosos. Ela é o cântico novo da lei da graça, a alegria dos anjos e dos homens, o terror e a confusão dos demônios.
Pela Saudação Angélica, Deus fez-se homem, uma Virgem tornou-se Mãe de Deus, as almas dos justos foram libertadas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios encheram-se, o pecado foi perdoado, a graça foi-nos dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados, a Santíssima Trindade foi apaziguada, e os homens obtiveram a vida eterna. Enfim, a Saudação Angélica é o arco-íris, o símbolo da clemência e da graça dadas ao mundo por Deus.
16ª ROSA
Apesar de não existir nada tão grande como a majestade divina nem nada tão abjeto como o homem considerado como pecador, esta suprema Majestade não desdenha apesar disso as nossas homenagens, e compraz-se quando cantamos Seus louvores. E a Saudação Angélica é um dos mais belos cânticos que podemos dirigir à glória do Altíssimo. Canticum novum cantabo tibi (3): “Cantar-vos-ei um cântico novo.” Este cântico novo que David predisse que se cantaria na vinda do Messias, é a Saudação do arcanjo.
Há um cântico antigo e um cântico novo. O antigo é aquele que os Israelitas cantaram em reconhecimento da criação, da conservação, da libertação do seu cativeiro, da passagem do Mar Vermelho, do maná e de todas as outras dádivas do Céu. O cântico novo é aquele que os cristãos cantam em ação de graças da Incarnação e da Redenção. Como esses prodígios se realizaram pela Saudação Angélica, repetimos essa mesma saudação para agradecer à Santíssima Trindade esses bens inestimáveis. Louvamos a Deus Pai porque Ele amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho único para o salvar. Bendizemos o Filho porque desceu dos Céus à terra, porque Se fez homem e porque nos redimiu. E glorificamos o Espírito Santo porque concebeu no seio da Santíssima Virgem esse corpo puríssimo que foi a vítima dos nossos pecados. É neste espírito de reconhecimento que devemos rezar a Saudação Angélica, produzindo atos de fé, de esperança, de amor e de ação de graças para benefício da nossa salvação.
Apesar deste cântico novo se dirigir diretamente à Mãe de Deus e conter seus louvores, é apesar disso muito glorioso para a Santíssima Trindade, porque toda a honra que prestamos à Santíssima Virgem volta para Deus como causa de todas as Suas perfeições e de todas as Suas virtudes. Deus Pai é glorificado porque honramos a mais perfeita das Suas criaturas. O Filho é glorificado porque louvamos Sua puríssima Mãe. E o Espírito Santo é glorificado porque admiramos as graças com que Ele dotou a Sua esposa.
Do mesmo modo que a Santíssima Virgem, com o seu belo Magnificat, devolveu a Deus os louvores e as bênçãos que Lhe prestara Santa Isabel por Sua eminente dignidade de Mãe do Senhor, assim Ela devolve prontamente a Deus os louvores e as bênçãos que Lhe prestamos através da Saudação Angélica.
Se a Saudação Angélica presta glória à Santíssima Trindade, ela é também o louvor mais perfeito que podemos dirigir a Maria.
Santa Matilde, desejando saber por que meio poderia testemunhar melhor a ternura da sua devoção à Mãe de Deus, foi arrebatada em espírito, e nesse arrebatamento a Santíssima Virgem apareceu-lhe, trazendo sobre o seio a Saudação Angélica escrita em letras de ouro, e disse-lhe: “Sabe, minha filha, que ninguém me pode honrar com uma saudação mais agradável que aquela que me ofereceu a Beatíssima Trindade e pela qual me elevou à dignidade de Mãe de Deus. Pela palavra “Ave”, que é o nome de Eva, percebi que Deus, por Sua omnipotência, me preservara de todo o pecado e das misérias às quais a primeira mulher foi sujeita. O nome de “Maria”, que significa “senhora de luz”, mostra que Deus me encheu de sabedoria e de luz, como um astro brilhante, para iluminar o céu e a terra. As palavras “cheia de graça”, revelam que o Espírito Santo me bafejou de tantas graças, que posso comunicá-las abundantemente a quem as pedir por meu intermédio. Dizendo “o senhor esteja convosco”, recorda-me a alegria inefável que senti quando o Verbo eterno se incarnou em meu seio. Quando dizem: “bendita sois vós entre as mulheres”, louvo a divina misericórdia que me elevou a este alto estado de felicidade. A estas palavras: “bendito o fruto de vosso ventre”, todo o céu rejubila comigo por ver Jesus, meu Filho, adorado e glorificado por ter sido salvação para os homens.”
17ª ROSA
Entre as coisas admiráveis que a Santíssima Virgem revelou ao bem-aventurado Alain de la Roche (e sabemos que este grande devoto de Maria confirmou com juramento as suas revelações), há três mais dignas de destaque: a primeira, que é um sinal provável e próximo da condenação eterna ter menosprezo, tibieza e aversão pela Saudação Angélica que reparou o mundo; a segunda, que aqueles que têm devoção por esta divina Saudação carregam um grande sinal de predestinação; terceira, que aqueles que receberam do Céu o favor de amar a Santíssima Virgem e de servi-lA com afeto, devem ser extremamente cautelosos de continuar a amá-lA e a servi-lA até que Ela os coloque no Céu por Seu Filho no grau de glória conveniente a Seus méritos.
Todos os hereges, que são filhos do diabo e que carregam as marcas evidentes de condenação, têm horror à Ave-maria; eles ainda aprendem o Pai-nosso, mas não a Ave-maria, e prefeririam carregar sobre si uma serpente a trazer consigo um rosário.
Entre os católicos, aqueles que carregam a marca de condenação não se importam quase nada com o Terço nem com o Rosário, são negligentes ao rezá-lo ou rezam-no com tibieza e apressadamente. Ainda que eu não aceitasse com fé piedosa o que foi revelado ao bem-aventurado Alain de la Roche, a minha experiência bastar-me-ia para estar persuadido desta verdade simultaneamente terrível e doce. Não percebo, e nem mesmo vejo com clareza, como uma devoção tão pequena na aparência seja sinal infalível da salvação eterna, e a sua ausência sinal de condenação, contudo nada há mais certo.
Nós mesmos vemos que os que professam as novas doutrinas de nossos dias, condenadas pela Igreja, com toda a sua piedade aparente, desprezam bastante a devoção do Terço e do Rosário e com frequência o eliminam do espírito e do coração daqueles ou daquelas que deles se aproximam, sob os melhores pretextos do mundo. Eles evitam condenar abertamente, como os calvinistas, o Terço, o Rosário e o Escapulário, mas a sua maneira de conduzir-se é tanto mais perniciosa quanto é sutil. Disso falaremos já de seguida.
A Ave-maria, o Rosário ou o Terço, é a minha oração e a minha segura pedra de toque para distinguir aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus daqueles que estão sob a ilusão do espírito maligno. Eu conheci almas que parecia que voavam, como águias, até às nuvens pela sua sublime contemplação, e que contudo eram desgraçadamente enganadas pelo demónio. Só descobri e percebi suas ilusões quando as vi rejeitar a Ave-maria e o Rosário como lhes sendo inferiores.
A Ave-maria é um orvalho celeste e divino que, caindo na alma de um predestinado, lhe comunica uma fecundidade admirável para produzir toda a espécie de virtudes, e quanto mais a alma é regada por esta oração, mais ela se torna iluminada no espírito, abrasada no coração e fortificada contra todos os seus inimigos.
A Ave-maria é um dardo penetrante e inflamado que, unido por um pregador à palavra de Deus que anuncia, lhe dá a força de penetrar, de tocar e de converter os corações mais endurecidos, ainda que ele não tenha grande talento natural para a pregação.
Foi este o dardo secreto que a Santíssima Virgem, como já disse, ensinou a São Domingos e ao bem-aventurado Alain, para converter os hereges e os pecadores. É daí que vem a prática dos pregadores de rezar uma Ave-maria no principio dos seus sermões, como assegura Santo Antonino.
18ª ROSA
Esta divina Saudação lança sobre nós a bênção de Jesus e de Maria, pois é um princípio infalível que Jesus e Maria recompensam magnificamente aqueles que os glorificam; eles devolvem em cêntuplo as bênçãos que recebem. Ego diligentes me diligo... ut ditem diligentes me et thesauros eorum repleam.(4) É o que dizem claramente Jesus e Maria: “Amo os que me amam... e acumulo seus tesouros.” – Qui seminat in benedictionibus, in benedictionibus et metet (5): “Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará.”
Ora bem, não é amar, bendizer e glorificar Jesus e Maria rezar devidamente a Saudação Angélica? Em cada Ave-maria, oferecemos uma dupla bênção a Jesus e a Maria. Bendita sois Vós entre as mulheres e bendito o fruto de Vosso ventre, Jesus. Por cada Ave-Maria, prestamos a Maria a mesma honra que Deus Lhe prestou saudando-A através do arcanjo Gabriel. Quem pode crer que Jesus e Maria que fazem o bem frequentemente àqueles que os maldizem, lancem Suas maldições àqueles e aquelas que Os bendizem e Os honram com a Ave-maria?
A rainha dos Céus, diz São Bernardo e São Boaventura, não é menos agradecida e cortês que as pessoa de alta condição deste mundo; Ela suplanta-os mesmo nessa virtude como em toda as outras perfeições, e não deixará pois que a honremos com respeito sem que nos retribua em cêntuplo. Maria, diz São Boaventura, saúda-nos com a graça, se a saudarmos com a Ave-maria: Ipsa salutabit nos cum gratia si salutaverimus eam cum Ave Maria.
Quem poderá compreender as graças e as bênçãos que operam em nós as saudações e os olhares benignos da Santíssima Virgem?
No momento em que Santa Isabel ouviu a saudação que Lhe fez a Mãe de Deus, Ela encheu-Se do Espírito Santo, e a criança em Seu seio saltou de alegria. Se nos fazemos dignos da saudação e da bênção recíproca da Santíssima Virgem, sem dúvida seremos cheios de graça e uma torrente de consolações espirituais inundará as nossas almas.
19ª ROSA
Está escrito: “Dai, e dar-se-vos-á.” (6) Vejamos a comparação do Bem-aventurado Alain: “Se eu vos desse diariamente cento e cinquenta diamantes, quando fosseis meus inimigos não me perdoaríeis? Não me daríeis como a um amigo todas as graças que vos fossem possíveis? Quereis enriquecer com bens de graça e de glória? Saudai a Santíssima Virgem, honrai vossa boa Mãe.”
Sicut qui thesaurizat, ita et qui honorificat matrem. (7) Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro.
Presenteai-a cada dia com pelo menos cinquenta Ave-marias as quais, cada uma, contém quinze pedras preciosas, que Lhe são mais agradáveis que todas as riquezas da terra. O que não podereis esperar da Sua bondade? Ela é nossa Mãe e nossa amiga. Ela é a imperatriz do universo que nos ama mais que todas as mães e rainhas juntas alguma vez amaram a um homem, pois, diz Santo Agostinho, a caridade da Santíssima Virgem excede todo o amor natural de todos os homens e de todos os anjos.
Um dia, Nosso Senhor apareceu a Santa Gertrudes contando moedas de ouro; ela teve a curiosidade de Lhe perguntar o que contava. “Conto, respondeu-lhe Jesus, as tuas Ave-Marias, que é a moeda com que se compra o meu Paraíso.”
O devoto e douto Suarez, da companhia de Jesus, estimava tanto o mérito da Saudação Angélica, que dizia que com gosto daria toda a sua ciência em troca de uma Ave-Maria bem rezada.
O Bem-aventurado Alain de la Roche dirigiu-se assim à Santíssima Virgem: “Que aquele que Vos ame, ó divina Maria, escute isto e o saboreie. O Céu rejubila de alegria, a terra enche-se de admiração, todas a vezes que digo “Ave Maria”; eu desprezo as coisas do mundo, tenho o amor de Deus em meu coração, quando digo “Ave Maria”; meus receios desvanecem-se, minhas paixões mortificam-se, quando digo “Ave Maria”; creio com devoção, encontro a compunção, quando digo “Ave Maria”; minha esperança confirma-se, minha consolação aumenta, quando digo “Ave Maria”; meu espírito rejubila, minhas tristezas dissipam-se, quando digo “Ave Maria”; pois a doçura desta afável saudação é tão grande que não existem termos para explicá-la como é preciso, e após se terem dito suas maravilhas, ela permanece ainda tão escondida e tão profunda que não se pode descobrir. Ela é parca em palavras, mas grande em mistérios; é mais doce que mel e mais preciosa que o ouro; é preciso tê-la no coração para a meditar, e na boca para lê-la e repeti-la devotamente.”
"Auscultet tui nominis amator, o Maria, coelum gaudet, omnis terra stupet cum dico Ave Maria; Satan fugit, infernus contremiscit, cum dico Ave Maria; mundus vilescit, cor in amore liquescit, cum dico Ave Maria; terror evanescit, caro marcescit, cum dico Ave Maria; crescit devotio, oritur compunctio, cum dico Ave Maria; spes proficit, augetur consolatio, cum dico Ave Maria; recreatur animus, et in bono confortatur aeger affectus, cum dico Ave Maria. Siquidem tanta suavitas hujus benignae salutationis, ut humanis non possit explicari verbis, sed semper manet altior et profundior quam omnis creatura indagare sufficiat. Haec oratio parva est verbis, alta mysteriis, brevis sermone, alta virtute, super mel dulcis, super aurum pretiosa; ore cordis est jugiter ruminanda labiisque puris frequentissime legenda ac devote repetenda."
O mesmo Bem-aventurado Alain conta, no capítulo 69 do seu saltério, que uma religiosa muito devota do Rosário apareceu depois de morta a uma de suas irmãs e lhe disse: “Se eu pudesse retornar ao meu corpo para dizer apenas uma Ave-maria, ainda que sem grande fervor, para ter o mérito dessa oração, sofreria voluntariamente de novo todas as dores que sofri antes de morrer.” É preciso sublinhar que ela sofreu durante anos antes muitas dores violentas deitada em seu leito.
Michel de Lisle, bispo de Salubre, discípulo e colega do Bem-aventurado Alain de la Roche no restabelecimento do Santo Rosário, disse que a Saudação Angélica é o remédio para todos os males que nos afligem, contanto que a rezemos devotamente em honra da Santíssima Virgem.
20ª ROSA
Breve explicação da Ave Maria.
Estais na miséria do pecado? Invocai a divina Mãe, dizei-Lhe: Ave, que quer dizer: eu Vos saúdo com profundo respeito, ó Vós que sóis sem pecado e sem desgraça. Ela livrar-vos-á do mal dos vossos pecados.
Estais nas trevas da ignorância ou do erro? Vinde a Maria, dizei-Lhe: Ave Maria, o mesmo é dizer iluminada pelos raios do sol de justiça; e Ela tornar-vos-á participantes na Sua luz.
Estais afastados do caminho do Céu? Invocai Maria, que quer dizer: estrela do mar e estrela polar que guia nossa navegação neste mundo, e Ela conduzir-vos-á ao porto de salvação eterna.
Estais aflitos? Recorrei a Maria que quer dizer: mar amargo que foi cheio de amargura neste mundo e que se tornou agora num mar de puras doçuras no Céu; Ela converterá vossa tristeza em alegria e vossas aflições em consolações.
Haveis perdido a graça? Honrai a abundância das graças com que Deus encheu a Santíssima Virgem, dizei-Lhe: “Cheia de graça” e de todos os dons do Espírito Santo, e ela dar-vos-á as Suas graças.
Estais sós, privados da proteção de Deus, dirigi-vos a Maria, dizei-lhe: “O Senhor é convosco” mais nobremente e intimamente que nos justos e nos santos, pois Vós sóis uma mesma coisa com Ele; sendo Vosso Filho, Sua carne é Vossa carne, Vós estais com o Senhor por uma perfeita semelhança e por uma mútua caridade, pois sois Sua Mãe. Dizei-Lhe enfim: Toda a Santíssima Trindade está conVosco pois sois o Seu Templo precioso; e Ela colocar-vos-á sob a protecção e a salvaguarda de Deus.
Haveis-vos tornado objeto da maldição de Deus? Dizei: “Bendita sois Vós entre as mulheres” e sobre todas as nações, por Vossa pureza e fecundidade; Vós haveis mudado a maldição divina em bênção; e Ela abençoar-vos-á.
Tendes fome do pão da graça e do pão da vida? Aproximai-vos dAquela que carregou o pão vivo que desceu do Céu, dizei-Lhe: “Bendito o fruto de Vosso ventre”, o qual haveis concebido sem detrimento algum de Vossa virgindade, carregado sem trabalho e dado à luz sem dor. Bendito seja “Jesus”, que resgatou o mundo cativo, curou o mundo doente, ressuscitou o homem morto, libertou o desterrado, justificou o criminoso, salvou o condenado. Sem dúvida vossa alma será saciada do pão da graça nesta vida e da glória eterna na outra. Amém.
Terminai vossa oração com a Igreja e dizei: “Santa Maria”, santa em corpo e em alma, santa por uma dedicação singular e eterna ao serviço de Deus, santa na qualidade de Mãe de Deus que vos dotou de uma eminente santidade, como convinha a tão infinita dignidade.
“Mãe de Deus”, que sois também nossa Mãe, nossa Advogada e Mediadora, Tesoureira e Distribuidora das graças de Deus, procurai-nos prontamente o perdão de nossos pecados e nossa reconciliação com a divina Majestade.
“Rogai por nós pecadores”, Vós que sois cheia de compaixão pelos miseráveis, que não desprezais nem afastais os pecadores, sem os quais não seríeis a Mãe do Salvador.
“Agora”, durante o tempo desta vida curta, frágil e miserável; pois só nos pertence este momento presente, agora que somos atacados e rodeados noite e dia de inimigo poderosos e cruéis.
“E na hora de nossa morte”, tão terrível e tão perigosa, em que nossas forças estarão esgotadas, em que nossos espíritos e nossos corpos estarão abatidos pela dor e pelo sofrimento; na hora de nossa morte em que Satã redobra os seus esforços afim de nos perder para sempre; nessa hora que será a da decisão da nossa sorte para toda a eternidade ditosa ou desgraçada. Vinde em socorro de vossos pobres filhos, ó Mãe compassiva, ó advogada e refúgio dos pecadores, afastai de nós, na hora da morte, os demônios acusadores e nossos inimigos, cujo aspecto horroroso nos assustará. Vinde iluminar-nos nas trevas da morte. Conduzi-nos, acompanhai-nos ao tribunal de nosso juiz, vosso Filho; intercedei por nós, afim de que Ele nos perdoe e nos receba no número dos Seus eleitos na mansão da glória eterna. Assim seja. “Amém”.
Quem não admirará a excelência do Santo Rosário, composto destas duas divinas partes: a Oração Dominical e a Saudação Angélica? Existe oração mais agradável a Deus e à Virgem Santíssima, mais fácil, mais doce e mais salutar aos homens? Tenhamo-la sempre no coração e na boca para honrar a Santíssima Trindade, Jesus Cristo nosso Salvador e Sua Santíssima Mãe. Além disso, ao fim de cada dezena, é conveniente juntar um Glória, o mesmo é dizer: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos.
Amém.
Notas:
(1) Heb 11: 6 “Para se chegar a Deus é necessário que se creia.”
(4) Pr 8: 17, 21
(5) 2 Coríntios 9: 6
(6) Lucas 6: 38
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