terça-feira, 29 de dezembro de 2009

As negações de Pedro

Depois da prisão de Cristo, Pedro seguiu-O de longe; com ele estava João. Dirigiram-se ambos a casa de Anás e Caifás onde o Mestre foi julgado. A casa do sumo sacerdote, que serviu de tribunal, levantava-se, como muitas casas do Oriente, em volta dum pátio quadrangular, para o qual dava acesso uma entrada na frontaria da casa. Esta passagem, ou arcada, estava fechada do lado da rua por um pesado portão; e nesta ocasião servia de porteira uma criada do sumo sacerdote.

O pátio interior, aonde conduzia aquela passagem, era lajeado e descoberto por cima. A noite estava fria, por ser no começo de abril. Pedro tinha já falhado ao Senhor, no Horto, deixando-se adormecer; apresentava-se agora uma oportunidade para reparar a falta. Mas o perigo rondava à volta de Pedro, sobretudo por causa da confiança exagerada que tinha na própria lealdade.

Não obstante haver um antigo profeta anunciado que o rebanho seria disperso, Pedro julgava que, por lhe terem sido entregues as chaves do Reino dos Céus, estava seguro dum tal colapso. O segundo perigo era o seu anterior fracasso quando foi avisado que "vigiasse e orasse". Não vigiou porque adormeceu; não orou porque substituiu espiritualidade por atividade puxando a espada. O terceiro perigo era a distância física a que se mantinha de Cristo e que podia significar a distância espiritual que separava um do outro. Toda a distância do Sol da Justiça é feita de trevas.

Entrando no pátio, Pedro foi aquecer-se ao lume. À luz das chamas, a criada que lhe abrira a porta pôde observar-lhes melhor o rosto. Se a lealdade de Pedro fosse posta em cheque por um homem ou por uma espada, talvez se mostrasse mais valente; mas embaraçado pelo seu orgulho, uma donzela mostrou ser mais forte do que o presunçoso Apóstolo.

O plano de Cristo era conquistar pelo sofrimento; o plano de Pedro era conquistar pela resistência. Mas ali a oposição parecia fraca. Apanhado de surpresa pela jovem, fez a primeira negação. Disse-lhe a criada:

Tu também estavas com Jesus, o Galileu.
(Mateus 26,69)

Pedro respondeu, dirigindo-se a todos os que se encontravam à volta da fogueira:

Não sei o que dizes.
(Mateus 26,70)

Começou a sentir-se pouco à vontade. Teve a impressão de estar sob um foco de luz que lhe examinava a alma e lhe explorava o rosto; afastou-se, por isso, um pouco na direção do pórtico. Desejoso de escapar aos olhos investigadores e às línguas comprometedoras, achou que ficava mais seguro no retiro da obscuridade das colunas. Mas a mesma, ou possivelmente outra criada, aproximou-se dele afirmando que o tinha visto com Jesus de Nazaré. Tornou a negar, desta vez proferindo um juramento:

Juro que não conheço tal homem.
(Mateus 26,72)

Ele, que poucas horas antes puxara a espada em defesa do Mestre, nega agora Aquele mesmo que procurou defender. Ele, que chamou o Mestre "o Filho de Deus vivo", chama-o agora "homem".

O tempo passava, o Salvador era acusado de basfêmia e entregue à brutalidade dos beleguins; mas Pedro continuava cercado. Apesar de ser noite, ou quase, a multidão ia crescendo talvez por se ter espalhado a notícia do julgamento de Nosso Senhor. Entre os presentes encontrava-se um parente de Malco, que se lembrava perfeitamente de Pedro ter cortado a orelha do rapaz no Horto e de o Senhor o curar.

O Apóstolo, cada vez mais preocupado em disfarçar o seu nervosismo e em persuadi-los que não conhecia aquele homem, tornou-se, evidentemente, muito falador; e foi isso que o perdeu. Pela sua pronúncia provinciana mostrou que era galileu; era geralmente sabido que a maior parte dos adeptos de Cristo tinham vindo dessa região onde se usava um dialeto menos polido do que na Judeia e em Jerusalém. Os galileus não conseguiam pronunciar certas letras guturais. Imediatamente disse um dos circunstantes:

Tu és, com certeza, um dos tais,
pois até pela tua fala se conhece.
(Mateus 26,73)


Pedro tornou a negar e então:

Começou a fazer imprecações e a jurar
que não conhecia tal homem.
(Mateus 26,74)

Sentindo crescer a irritação, o Apóstolo invocou a Deus Onipotente como testemunha da sua reiterada falsidade. Somos levados a pensar se não haveria um retrocedimento aos seus tempos de pescador; talvez quando as redes se emaranhavam no Mar da Galiléia, se deixasse dominar pelo temperamento e lançasse mão a blasfêmia. Fosse como fosse, o certo é que agora jurou para obrigar os incrédulos a acreditar.

As lembranças do passado abriram caminho dentro dele. O Senhor tinha-o chamado "bem-aventurado" quando lhe entregou as chaves do Reino do Céu, e lhe concedeu contemplar a sua glória na Transfiguração. No dealbar daquela fria manhã, com a consciência da culpa a avolumar-se na alma, Pedro ouviu um som inesperado:

Cantou o galo.
(Mateus 26,74)

A própria natureza protestava contra a negação de Cristo. E de repente, atravessaram-lhe a mente as palavras que Jesus lhe dissera:

Antes de cantar o galo, três vezes
me negarás.
(Mateus 26,75)

Naquele momento passava o Senhor, depois numa noite de maus tratos, com o rosto coberto de escarros:

E o Senhor voltou-se e olhou para Pedro.
(Lucas 22,61)

Apesar de atado ignominiosamente, o olhar do Mestre procurou a Pedro com infinita compaixão. Não disse nada; fixou-o apenas. Aquele olhar refrescou-lhe provavelmente a memória e despertou-lhe o amor. Pedro podia negar o "homem", mas Deus continuaria a amar o homem que era Pedro. O fato de o Senhor ter de se voltar para o fitar, significava que Pedro estava voltado de costas para o Senhor. O veado ferido buscava a moita para morrer sozinho, mas o Senhor aproximou-se do coração ferido de Pedro para arrancar a seta.

E Pedro saiu e chorou amargamente.
(Lucas 22,62)

Pedro estava agora cheio de arrependimento, como Judas estaria, dentro de poucas horas, cheio de remorso. A dor de Pedro era motivada pela recordação do pecado ou da chaga causada na Pessoa de Deus. A penitência não se importa com as conseqüências; o remorso, porém é inspirado sobretudo pelo medo das conseqüências.

A mesma misericórdia concedida àquele que o negou, seria estendida àqueles que o haviam de pregar na Cruz e ao ladrão penitente que lhe pediria perdão. Pedro não negou realmente que Cristo fosse Filho de Deus. Negou que conhecesse o "homem", ou que fosse um de seus discípulos. Mas falhou ao Mestre. E apesar de saber de todas as coisas, o Filho de Deus não constituiu João, mas Pedro, que conheceu o pecado, a Pedra sobre a qual edificou a sua Igreja, para que os pecadores e os fracos nunca desesperassem.

(Vida de Cristo - Arcebispo Fulton J. Sheen)

Santidade dos filhos começa no ventre da mãe!


A educação do filho não começa quando a mãe vê, pela primeira vez, a sua face, mas no momento em que a mãe sente que ele foi concebido. O pressuposto fundamental da educação é o autodomínio e a santidade da mãe. A paz de consciência transmite-se ao novo ser e, por isso, a mãe evita o pecado, domina as suas paixões e procura viver os tesouros da fé cristã para encher assim a sua alma.

Este tempo de espera deve decorrer na maior pureza interior. Purificar a alma no sacramento da penitência e receber a Cristo, pão dos fortes, na Eucaristia. A mãe deve pôr o seu fruto nas mãos de Deus, que vela pelo bem da mãe e do filho. Santa Mônica concentrava-se interiormente e não abandonava os livros sagrados para santificar o fruto das suas entranhas. Com todas as suas forças procurava ter um coração puro para que o filho que se estava a formar recebesse somente influências salutares.

E assim o seu filho, Santo Agostinho, pode escrever que começou a apreciar a palavra de Deus no seio materno e que nele tinham tido a sua raiz todos os impulsos divinos que recebera. Neste tempo, a mãe deve pedir para o filho uma alma cheia de beleza que possa atrair outras almas pela plenitude de sua alegria e pelo espírito de paz.

A mãe merece, agora mais do que nunca, atenção e respeito. À sua volta, deve andar-se com passos leves, como sobre o musgo, porque “o amor de Deus anda pela floresta...” Esse respeito pela mãe é também respeito pelo filho. No entanto, são aos milhares as mães que se queixam da falta de consideração e o fato traduz-se dolorosamente no filho.

O marido que com seriedade ganha consciência dos seus deveres de pai; é uma grande ajuda para a mulher nesses dias difíceis e, ainda que seja a esta que corresponde a parte mais importante, o esposo sabe partilhar das suas preocupações. Se alguma vez alguém mereceu o maior respeito e a mais delicada consideração, foi a mãe que espera um filho!

As próprias feras se amansam perante a mãe que traz um filho no seio, e só um ser grosseiro ou estouvado pode fazer troça, numa atitude que só compraz o “inimigo da vida e homicida de sempre”.

Modelo desse auxílio é a Virgem Maria que, depois da saudação Angélica em Nazaré, na Galiléia, se apressou a ir até às montanhas da Judéia para visitar a sua prima Isabel e partilhar com ela das alegrias e penas da maternidade. “Aprendei de Maria, vós mulheres, como se deve prestar ajuda ás futuras mães: nem o retraimento próprio de uma virgem, nem as montanhas ásperas, nem a longa distância impediram Maria de acudir em auxílio da mãe que ia dar à luz”.(Santo Ambrósio)

O caminho da mãe começa agora. Durante toda a vida se alegrará com a felicidade do filho, mas o seu coração começará a sangrar ao ver que ele se afasta dela cada vez mais. O amor pode sem dúvida recompor essa brecha, mas o filho nunca mais voltará a estar tão intimamente unido com a mãe como nesses dias de esperança. Não nos esqueçamos nunca do seio materno em que o nosso corpo viveu durante nove meses, amparado pelo coração amoroso da nossa mãe.

(A Mãe – Cardeal Mindszenty)
PS: Grifos meus

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O amor da família




O que se deve amar na família?

Deve-se amar a honra do nome. Este nome, os antepassados levaram séculos a criá-lo; fizeram-no de probidade, de inteligência, de glória, talvez; transmitiram-no de geração em geração, engrandecendo-o, acreditando-o, fazendo-o subir cada vez mais na estima ... o primeiro dever daqueles que o usam é não o desonrar.

Não obstante, se é preciso conservar nobremente o bom nome dos antepassados porque é uma glória, torna-se necessário conservá-lo com modéstia...

- É preciso amar o espírito da família
Quero dizer, este conjunto tradicional de convicções, de virtudes e de princípios domésticos que constituem o patrimônio sagrado de toda a família cristã. "Estes são os nossos princípios!". Diz-se assim das verdades que se amam...

"Belas famílias aquelas em que se anda aos grupos e como que um coro pelo caminho do Céu, à maneira das estrelas que gravitam em constelações no firmamento" (Mgr. Bounard)

Temos o nosso lugar marcado diante do crucifixo para a oração comum, na igreja paroquial, nas obras de caridade, de piedade, de zelo, etc.

- É preciso amar a vida da família
Haverá, com efeito, dias comparáveis aos que se passam com o pai e a mãe, em companhia dos irmãos e das irmãs? E que inquietação me inspiram esses jovens e donzelas que acham longas as horas passadas no lar, e que voltam, com impaciência, os seus olhares para essas regiões longínquas donde lhes vêm certos bafejos de liberdade prejudiucial e nas quais aspiram secretamente a ir perder aquilo que o Evangelho chama a sua substância, quero dizer, a sua alma, e bem assim, ao mesmo tempo, a sua felicidade, vivendo luxuriosamente.

É preciso amar as reuniões de família
- Quer à mesa, quer em outra parte; quer sejam periódicas, quer habituais. É preciso que se transforme em lei a celebração das festas da família, das festas dos padroeiros, das festas de aniversários natalícios dos pais ou avós...

(Excertos do livro: Catecismo da Educação - Abade René Betheléem)
PS: Grifos meus

sábado, 26 de dezembro de 2009

Santa Teresa de Jesus - À Profissão de Isabel dos Anjos (Poesia)





Seja meu gozo no pranto;
Sobressalto, meu repouso;
Meu sossego, doloroso;
Minha ventura, quebranto.

Nas borrascas, meu amor;
Meu regalo, o ser ferida;
Na morte encontre eu a vida;
Nos desprezos, meu favor.

Meus tesouros, na pobreza;
Meu triunfo, em pelejar;
Meu descanso, em trabalhar;
Meu consolo, na tristeza.

Na escuridão, minha luz;
Meu trono, em posto mesquinho;
O atalho de meu caminho,
Minha glória seja a cruz.

Seja-me honra o abatimento;
Minha palma, o padecer;
Nas mínguas, o meu crescer;
Nas perdas, o meu aumento.

Na fome, a minha fartura;
A esperança, no temor;
Meus regalos, no pavor;
E meus gostos, na armargura;

No olvido, minha memória;
Meu trono na humilhação;
No opróbrio, minha opinião;
Na afronta, minha vitória;

Minha coroa, a humildade;
As penas, minha afeição;
Um cantinho, meu quinhão;
Meu apreço, a soledade;

Em Cristo, a minha confiança;
E d'Ele só meu sustento;
Seu langor seja-me alento;
Gozo, sua semelhança.

Nisto encontro fortaleza,
Encontro tranqüilidade;
Prova de minha verdade,
Penhor de minha firmeza.

(Santa Teresa de Jesus - À Profissão de Isabel dos Anjos)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

São José trabalhando na Gruta



São José trabalhando na Gruta

Foi no meio da noite que eles chegaram. Não havia lugar para eles nas cidades e só acharam aquela gruta escura. Mal viam onde pisavam e o que encontrariam ali... alguns animais se aqueciam do frio, um pouco de palha restava numa mangedoura rude e já mastigada pelos próprios animais que ali se alimentavam. A luz ainda não chegara. Aguardava paciente o despertar da eternidade, a aurora da vida.

Após instalar como pode à Virgem Maria, sua esposa, naquele lugar tão inóspito e impróprio para o nascimento do Salvador, S. José começou a arrumar um pouco o lugar. No escuro que cobria a pequena caverna, a Virgem e os anjos que a acompanhavam não percebiam ainda tudo o que fazia o zeloso marceneiro de Nazaré. Rapidamente ele foi modificando a paisagem, varrendo, trazendo umas palhas limpas, improvisando um berço para o Senhor.

Pois tudo ficou pronto na hora certa, justamente no momento em que Maria devia dar à luz... melhor dizendo, nos dar a Luz. Então o silêncio se fez no céu e os anjos pararam suas mensagens divinas e olharam. Quando o anjo olha, existe uma concentração do espírito que pode desnortear um homem.

Pois imaginem toda a corte celeste, que nesse momento só era composta de anjos, concentrando seu espírito naquele lugar, naquele momento em tudo se decidiu. Os anjos provocaram uma explosão de luz, mas não foi suficiente para iluminar a gruta. O trabalho de S. José continuava escondido na penunbra da noite.

E Deus disse: Faça-se a LUZ.

Imediatamente a Virgem Maria, num extase de amor, sem dor ou sofrimento, tomou seu Filho nos braços. Porque aquele Jesus que ali nascia, pequenino e frágil, tinha seu corpo glorioso como no dia da Ressurreição. Ele atravessou sem ferir em nada o corpo virginal de Maria. Jesus nasceu assim, nos braços de Maria. Sua Mãe o embalou, o enfaixou em panos, como costume da época, e pensando na gruta escura, lembrou-se do que dissera ao anjo Gabriel, nove meses antes:

"Justo é que imagine eu
e que estê muito turbada:
querer quem o mundo é seu
sem merecimento meu,
entrar em minha morada,
E uma suma perfeição
de resplendor guarnecido
tomar para seu vestido
sangue do meu coração
indigno de ter nascido!
E aquele que ocupa o mar
enche os céus e as profundezas,
os orbes e as redondezas,
em tão pequeno lugar
como poderá estar
a grandeza das grandezas!

Foi nessa hora que a Luz do Menino Deus cobriu todas as coisas. O silêncio era total. E eles então contemplaram a gruta de Belém, aquele lugar tão humilde, pequeno e sujo, transformado pelas mãos de José e pela Luz das luzes. Tudo brilhava, tudo era um imenso fogo de estrelas, de anjos que apareciam como diamantes reluzindo à luz do sol, tudo era lindo; tudo era divino, tudo era silêncio.

Foi esse espetáculo que os pastores assistiram quando lá chegaram. Aproximaram-se da entrada, meio desconfiados das palavras estranhas que os anjos lhes haviam dito, olharam lá para dentro e viram a mais bela cena que olhos humanos jamais contemplaram sobre a terra.

E esse espetáculo, é o que nós tentamos reproduzir todos os anos em nossos humildes presépios. Sejamos, pois, espirituais. Sejamos pastores, sejamos anjos. E procuremos neste dia contemplar, nós também, esse imenso mistério da nossa Redenção. Porque nasceu, hoje, para nós, um Filho, o Salvador.

A todos nossos leitores, amigos, fiéis das nossas capelas, um Santo Natal, na companhia adorável de Jesus, Maria e José.

Dom Lourenço Fleichman OSB
(Retirado do site: Permanência)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um Santo Natal!


A Grande Guerra deseja a todos os amigos leitores, um Santo Natal!
Alegremo-nos nesta noite...

Adoremos o Menino de Belém!
Adoremos o Menino de Belém!



Ao Nascimento do Menino Jesus

Galego, quem chama aí fora?
- São anjos, à luz da aurora.

- Grande rumor ouço ao longe
Que parece cantinela,
-Vamos ver, Brás, - que amanhece-
A Zagala tão serena.
- Galego, quem chama aí fora?
- São anjos, à luz da aurora.

Será do alcaide parente?
Ou quem é esta donzela?
- É filha do Eterno Padre
E reluz como uma estrela.
Galego, quem chama aí fora?
- São Anjos, à luz da aurora.

(Santa Teresa de Jesus)

Eis que lá das estrelas!





Eis que lá das estrelas,
Ó Rei celeste,
Tu vens nascer na gruta,
num frio agreste.

Ó Menino, meu divino,
eu Te vejo aqui tremer.

Ó Verbo Encarnado,
oh quanto Te custou ter-me amado,
Eis faltam ao Senhor Deus das Alturas
os panos e o calor das criaturas.

Meu divino Pequenino,
tal pobreza grande assim
mais me enternece
se penso que é o amor que Te empobrece!

Gozando lá no céu toda a ventura,
Tu sofres nessas palhas tantas agruras.
Doce eleito do meu peito,
aonde vais em Teu amor?

Jesus, eu penso:
por que sofrer assim? – Ó amor imenso!
Mas se é Tua vontade sofrer tanto,
por que chorar assim sentido pranto?

Terno Esposo, Deus ditoso,
meu Jesus, compreendo, sim,
Senhor querido:
Tu choras, não de dor... – de amor ferido!

Tu choras porque sabes o meu pecado:
depois de tanto amor não ser amado...

Ó eleito de meu peito,
se o passado foi assim,
eu só reclamo,
que Tu não chores mais, porque já te amo!

E quando estás assim adormecido,
teu coração não dorme, enternecido!
Deus amado, Imaculado!

Em que pensas Tu então?
Penso na morte,
que hei de sofrer por ti!"
 – Que amor tão forte!

Morrer por mim, meu Deus, é teu anseio!
E que outro amor hei de eu trazer no seio?


Ó Maria, minha guia:
se não sei amar Jesus,
a ti eu chamo.
Amá-Lo vem por mim, pouco o amo...

(Tu scendi dalle stelle - Santo Afonso de Maria Ligório)
Ver vídeo da canção aqui

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Donzela cristã e os exercícios de piedade!


A piedade é quase inata na mulher; é para ela como que uma segunda natureza. Uma mulher irreligiosa  é uma mostruosidade. Espanta, as pessoas desconfiam dela, não compreendem, perguntam até onde pode ela ir... A piedade! flor doce e perfumada, vós a tendes, ao menos nas suas habituais manifestações; mas não é o bastante, ela deve ser para vós como uma segunda seiva, como uma vida, deve exalar-se de vós como um perfume.

Vejamos, pois, primeiro o que ela é em si mesma; veremos depois, como deve exercer-se.

A Verdadeira Piedade

O que é piedade?

São Tomás define-a: "Uma generosa disposição da alma que nos leva a amar a Deus como a um pai, e a nos desobrigarmos de todos os nossos deveres para Lhe sermos agradável." É o amor de Deus que remonta à sua fonte; é a ternura filial da alma que pensa em seu Pai Celeste e lhe diz que o ama; é a prática das virtudes sólidas que tornam a vida melhor e útil aos outros; é o esquecimento de si e a procura de Deus em tudo.

A piedade não habita o mundo dos belos sonhos. Aplica-se a viver na terra para nela lutar; é laborosa, às vezes mesmo penosa, exercendo-se no meio das misérias e lutas da vida. Nosso Senhor dizia-o a Santa Teresa: "A felicidade neste mundo não consiste em gozar das minhas consolações, mas em trabalhar penosamente para a minha glória e em sofrem muito."

- A sua substância é o amor filial de Deus e o amor fraternal do próximo por amor de Deus.
- A sua forma é o conjunto dos exercício e práticas de devoção consoante o estado em que Deus nos colocou.
- A sua luz é a fé que faz ver a Deus em tudo.
- O seu escopo é a honra devida a Deus e a perfeição da nossa alma.
- A sua regra é o dever , todo o dever.
- A sua medida é a própria perfeição, isto é, a nossa semelhança, cada vez mais perfeita com o nosso Divino modelo, Jesus, que fazia sempre o que agradava a seu Pai.

Que distância vai desta piedade assim compreendida, desta piedade verdadeira, forte, substancial, para a piedade mundana, caprichosa, anêmica, de cristãos água de rosas!

Estes fazem da religião uma questão de imaginação ou de sentimentalismo, e, inflamados no dia das consolações sensíveis, põem-se a desconfiar, a tudo abandonar, no dia em que Deus lhes retira essas consolações. Era aludido a essas piedades da moda, sentimentais e vazias, que Bourdaloue dizia: "Mães, fazei de vossas filhas umas cristãs, antes de as fazerdes umas devotas."

Podem-se praticar exteriormente muitos exercícios de devoção sem ter a verdadeira piedade, do mesmo modo que se podem folhear grossos livros de ciência, decorar belas fórmulas, sem possuir a verdadeira ciência. Aqui ainda as idéias claras e precisas se impõem.

A Falsa piedade é:
a) Exterior, formalista, farisaica.
Corresponde ao estado de espírito daqueles de quem Nosso Senhor falava quando dizia: "Este povo me honra de boca, mas o seu coração está longe de mim." Os falsos piedosos fazem questão de medalhas, de escapulários, de imagens piedosas, entram em todas as obras e em todas as irmandades, sem procurarem reformar a sua conduta e cumprir estritamente o seu dever.

b) Pueril
Às vezes ridícula, fazendo da religião uma série de atos que podem prestar-se à malignidade das interpretãções molestas. Acredita ofender a Deus omitindo uma pequena prática particular de que fez para si uma lei, ou, antes, uma escravidão, e passará levianamente ao lado de obrigações reais de que não toma cuidado. Não compreenderá que às vezes é preciso "deixar a Deus por Deus", isto é, deixar uma oração, uma reunião, um exercício, para ir aonde o dever e a caridade chamam. Terá por certo santo ou certa santa uma devoção nal compreendida e exclusiva e relegará Deus a segundo plano.

c) Mundana
Há ainda algumas que querem servir ao mesmo tempo a Deus e ao mundo, que procurarão ávidamente os prazeres, os divertimentos e as festas, que lerão jornais e livros levianos, e que, apesar disso, quererão passar por boas cristãs, e acreditarão sê-lo... Ninguém pode servir a dois senhores, há que escolher! Não se pode alojar a um tempo no próprio coração o espírito cristão e o espirito do mundo. Ou um ou outro.

d) Sentimental
E aqui é preciso insistir muito, porque muitissimas almas femininas querem sentir o fervor, e estão íntimamente convencidas, diga-se-lhes o que se lhes disser, de que no dia em que não tiverem nenhuma doçura, nenhuma lágrima, nenhuma sensação de piedade, nenhuma efusão do coração, a sua oração é sem valor e sem merecimento perante Deus!

Eis aqui o que delas pensava São Francisco de Sales:

"A devoção não consiste na doçura, na suavidade, na consolação e na ternura sensível do coração, que nos provoca a lágrimas e a suspiros e nos dá uma certa satisfação agradável e saborosa nos nossos exercícios espirituais. Não, a devoção e isso não são a mesma coisa; porque há muitas almas que têm dessas ternuras e consolações e que, não obstante, não deixam de ser muito viciosas, e que, por conseguinte, não têm nenhuma devoção verdadeira."

Quanto mais forte é um amor, tanto menos necessita de provas sensíveis; parece mesmo que estas sejam uma fraqueza, pois entra nelas o apetite de gozo que é uma procura de si. O amor de sensibilidade é, por sua natureza, superficial e instável; está sujeito a todas as flutuações da emoção, que se esgota necessariamente pela sua própria violência.

Deus quer ser amado seriamente, com toda a nossa alma, com todas as nossas forças, com todo o nosso coração. A parte sensível do nosso ser pode ser às vezes admitida a tomar sua parte nesse amor, mas não é aí que ele reside; a sua sede está na vontade, donde, em certas horas, mas não constantemente, ele faz irradiar as suas alegrias até na sensibilidade. Amai, pois, a Deus por Ele e não por vós, não esperando as doçuras da piedade, a não ser que Ele mesmo julgue portuno vo-las conceder.



A verdadeira piedade é:

a) Sólida
Isto é, fundada numa fé viva e esclarecida. Nada pertuba, nem aborrecimentos, nem desgostos, nem securas, nem tentações, nem sofrimentos. Não é uma simples tradição de familia, um sonho piedoso, uma doçura poética e terna, mas um amor verdadeiro, forte, fundado em enérgicas e profundas convicções. Para ser sólida, deverá a vossa piedade proceder de um ardente amor de Deus.

Não se deve amar a Deus diversamente de como Ele quer ser amado. Ora, o que Ele quer antes de tudo é que tenhamos a devoção aos seus mandamentos e aos da Igreja. Todas as outras devoções devem passar para depois destas!

b) Humilde
Ela não faz dos seus merecimentos um pedestal, pelo contrário, oculta-os. Sabe que os dois polos da santidade são a humildade e o esquecimento de si, e que devemos sair de nós mesmos para irmos a Deus. A alma que se apresenta a Ele com uma piedade orgulhosa ou simplesmente egoísta e satisfeita, arrisca-se muito a desagradar grandemente Aquele que "exalta os humildes e humilha os soberbos."

c) Amável
No mundo há excessiva tendência para crer que o serviço de Deus torna a pessoa triste, mal-humorada,que a piedade exclui a alegria e a amabilidade. "Eis um perigo, diz o Padre Monsabré, esse de tornar a piedade selvagem..." A verdadeira piedade é alegre, e a alegria no serviço de Deus é um verdadeiro apostolado.  Gravai na mente esta palavra de uma grande alma: "Os cristãos esquecem demais que devem aos outros não somente o exemplo das suas virtudes, mas também o exemplo da sua felicidade."

d) Zelosa
Ela afasta o egoísmo, dá o sentido e o amor do apostolado e a necessidade de ser piedoso não somente para si, mas também para os outros. O arcanjo São Miguel, aparecendo a Santa Joana d'Arc, disse-lhe:

"Sê boa, simples e piedosa, ama a Deus, e Ele te empregará."

Que palavra" "Ama a Deus e Ele te empregará!" Ser empregada por Deus receber d'Ele esta prova de confiança! que alegria! Importa merecê-la.

e) Racional
"Deve-se trabalhar incessantemente por tornar a piedade racional e a razão piedosa", dizia Mme. Schwetchine; a verdadeira piedade segue nos deveres a ordem estabelecidade por Deus: os preceitos primeiro, os conselhos depois; faz passar os deveres de caridade, de polidez, de conveniência à frente de certas práticas que não são essenciais.

f) Moderada
Também não se sobrecarrega de práticas ou de orações, não se esquece de que Deus pede ser servido "em espírito e em verdade", na santa liberdade que convém a seus filhos. Todo sobrecarga de práticas e de orações é uma desordem e contraria o verdadeiro espírito do Evangelho.

"Quantas pessoas, dizia o Padre Faber, depois de tomarem um surto brilhante, não tardaram a sentir-se fatigadas e finalmente a tornar a cair na terra, embaraçadas com as suas ladaínhas, sucumbindo ao peso dos seus 'memorare', sobrecarregadas de terços! Arruinaram-se pelas devoções,  sem acharem a verdadeira devoção."

Compreendei, pois, bem os caracteres da verdadeira piedade. Ao invés de ser uma mó que comprime, ela é uma força, um sustentáculo, é uma vida. É preciso, pois, coração, mas sobretudo ação e vontade! Deus não pede que  O sirvamos ao quilo ou à libra, mas de toda a nossa alma, com todas as nossas forças, com todas as nossas energias, apesar dos aborrecimentos, das securas, dos tédios, apesar de tudo. E, se às vezes pensais estar "fria" para com Ele, ide para adiante com coragem e servi-O mesmo assim!

(Formação da donzela - Pe. Baeteman)
PS: Grifos meus

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Alguns prodígios de Santa Filomena



O Sangue da Santa

O sangue não está liquido, mas sim completamente seco, tendo a aparência de cinzas. Está encerrado num pequeno vaso de cristal, que permite ao visitante vê-lo com tanta nitidez como se o tivesse na palma da própria mão. Tive a felicidade imensa de examinar este inapreciável tesouro mais de trinta ou quarenta vezes.

De cada vez, sem exagero, eu via o sangue modificar-se de modo maravilhoso, e a transformação era tão evidente e distinta, que não podia admitir-se a mais pequena dúvida ou ilusão. Pedras preciosas, rubis e esmeraldas, pedaços de ouro e partículas de prata apareciam misturadas com o sangue.

Quando alguém mexe no relicário, de novo aparecem as pedras preciosas, nem sempre como das outras vezes, mas sempre com a maior evidência. Ás vezes, também aparecem pequenas partículas pretas que são consideradas como presságio de desgosto ou aflição, ou prognóstico de que se aproxima alguma fatalidade. Estas partículas negras, notavelmente visíveis quando o grande Pontífice Pio IX venerou o sangue da Santa, foram então tomadas como sinais proféticos das amarguras que estavam reservadas ao Santo Padre.

Ás vezes, o sangue assume o aspecto de terra preta e parece que isto denuncia a indignidade daquele que está venerando a relíquia. Deu-se um caso notabilíssimo com um padre que levava uma vida muito contrária à que devem ter os Ministros da Igreja. Quando ele ajoelhou para beijar o relicário, o sangue tornou-se todo negro; e, logo que ele saiu, retomou a sua aparência natural.

Alguns dias depois, o referido sacerdote caiu morto no meio de uma festa. Estas extraordinárias transformações são testemunhadas diariamente pela multidão de fiéis que afluem ao Santuário e têm sido verificadas e declaradas autênticas pelas mais altas autoridades eclesiásticas.

A Imagem Milagrosa

Ao lado esquerdo da Igreja e defronte da Capela onde o sangue da Mártir está depositado, vê-se a figura de cera, que contêm os restos de Santa Filomena. Esta encerrada numa urna magnífica, cuja frente formada por uma placa de cristal permite ao visitante ver a imagem distintamente.
Vestida com riquíssimas roupagens, tem um dos dedos da mão direita um anel de ouro mássico com um grande topázio, que foi um dos vários presentes enviados por Pio X à Santa.

A imagem, assim como o sangue, passa por extraordinárias transformações que têm sido presenciadas por grande número de peregrinos e de visitantes e também devidamente autenticadas. A estátua, em que os restos da jovem Mártir estão encerrados, quando saiu das mãos do artista estava longe de ser uma obra de arte.

O rosto era tosco, as faces de cor branca doentia, os lábios, grossos, e a boca parecia contrair-se num rictus. Por infelicidade, o esquife de ébano, feito para a conter, oferecido pelo Bispo de Potenza, era muito curto; e por conseqüência, a posição dada à imagem era desgraciosa. Não obstante, a urna foi fechada e selada e a chave guardou-se em Nápoles.

A primeira transformação que se notou na estátua deu-se quase imediatamente depois das relíquias da Santa chegarem a Mugnano. Destinara-se o dia 29 de Setembro para a colocação da urna no altar que lhe estava reservado. Com surpresa de todos os presentes, produziram-se com a maior evidência modificações na imagem, apesar de se reconhecer que os selos estavam intactos e a chave, como já dissemos, se ter conservado sempre em Nápoles.

A desastrada posição dada à estátua transformou-se noutra muito mais graciosa; a cor do rosto passou a ser de tom delicado e brilhante, e o feio esgar da boca deu lugar a um agradável sorriso. O feitio da figura tornou-se elegante. O cabelo, as mãos e a posição das setas também se modificaram.
A segunda grande transformação aconteceu vinte anos depois.

Em 1824 a primeira urna foi substituída por outra mais bonita. O cabelo, de novo se tinha modificado e era mais abundante. Os olhos abriam-se várias vezes durante as devoções públicas; e, quando a estátua foi colocada no seu novo esquife que tinha quase mais 30 centímetros de comprimento do que o anterior, os pés, que primeiro ficavam a alguma distância do fundo, pouco a pouco se foram estendendo por si próprios até tocarem na extremidade da urna.

Um novo prodígio, que causou verdadeira impressão, ocorreu em 1841. A imagem estava colocada de forma que só de perfil podia ser vista por quem estivesse defronte dela. Qual não foi o assombro da enorme concorrência do povo quando um dia o rosto da Santa, na presença de todos, se voltou de modo a ficar a três quartos, quase todo visível!

A 27 de Maio de 1892, a estátua novamente mudou de atitude na presença de toda uma peregrinação, e tal mudança foi devidamente autenticada pelas autoridades eclesiásticas. Durante a minha estada em Mugnano via a imagem mudar de cor muito freqüentemente, passando de pálida para um ligeiro rubor e de novo para uma vermelhidão mais carregada.

Os lábios estavam algumas vezes comprimidos e outras, abertos. Nenhuma intervenção exterior é possível pois que a estátua se conserva no seu cofre, resguardada por uma espessa chapa de cristal, fechada com três chaves, cada uma das quais em poder de três autoridades diferentes. Uma destas é o próprio Bispo de Nola.

A Grande Imagem da Santa

Um terceiro objeto de interesse que há no Santuário é uma esplêndida imagem de madeira, oferecida pelo Cardeal Buffo-Seilla em 1806, e que sai nas procissões públicas da Santa.

No ano de 1823, durante a procissão, os portadores dessa imagem reconheceram que ela ia excepcionalmente pesada, e os peregrinos notaram, ao mesmo tempo, que a cor do rosto se mostrava muito mais viva do que era costume, dando a estátua quase a impressão de pessoa com vida...


O Sinal Particular


Mas a maravilha que me fez maior impressão durante a minha visita foi ainda a seguinte. No nono dia estava eu na capela lateral. A Madre Superiora falava com um empreiteiro, ao fundo da Igreja, examinando algumas reparações que era preciso fazer. Uma das Irmãs do Santuário aproximou-se de mim e disse-me simplesmente:

- Padre, já ouviu o sinal?
- Que sinal? - perguntei.- Tenho visto tantas coisas prodigiosas durante a minha permanência aqui!
- Oh! - repetiu ela, - então ainda não recebeu o sinal?
- Se é alguma coisa ainda mais assombrosa do que tudo quanto já vi, - repliquei,- não devo atrever-me a pedi-la. Seria presunção da minha parte.
 - Não, não, - insistiu a Irmã, - V.Rev.ª veio de tão longe e demorou-se aqui tanto dias, que a Santa por certo há de querer dar-lhe o sinal.

Dizendo isto, encaminhou-se solicitamente para junto do altar onde está a urna que contém a imagem milagrosa. Não me tinha ela feito saber, nem vagamente, em que consistia esse estranho sinal. Ajoelhamos diante da urna e começamos uma pequena oração. De repente ouviu-se ressoar uma pancada seca, forte, como se na placa de cristal batesse um corpo duro; a Irmãzinha ergueu-se, com um sorriso radiante, e disse-me: - Agora já o recebeu.

O som foi tão distinto e tão forte, que a Madre Superiora, ainda ao fundo da Igreja, ignorando absolutamente o que estávamos fazendo, voltou-se com precipitação ansiosa e perguntou: - Para quem foi?
- Foi para o Padre, - respondeu a Irmã.

Esta pancada é um sinal muito conhecido, dado de tempos a tempos a devotos da Santa; e é, - feliz me sinto ao dizê-lo, - consideração como especial manifestação de seu agrado. Era, sem dúvida, um bom presságio para mim.

Ao chegar a Roma, logo em seguida, foi recebido em audiência privada pelo Sumo Pontífice Pio X, que manifestou o maior prazer em ouvir o relato da minha visita a Mugnano e me deu várias provas de benevolência, uma das quais foi a permissão de dizer semanalmente uma missa votiva em honra da Santa.

(Excertos do livro: Santa Filomena - A grande milagrosa ; por E.D.M ; com Imprimatur)

PS: Livro recomendado por:
- A. Card. Patriarca (ofereceu 100 dias de indulgência a todos os seus diocesanos que lerem pelo menos durante um quarto de hora este livro).
- Francisco, Cardeal Bourne.
- Theotonio, Arcebispo de Goa e Patriarca das Índias.
- João Pio, Arcebispo de Port of Spain.
- Roberto, Arcebispo de Adelaide.
- Ricardo, Bispo de Middlesborough.

Ver também:
- Santa Filomena a grande milagrosa - você conhece?
- Novena de Santa Filomena

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Retrato de uma mãe!



Quem encontrará uma mulher forte?
O seu valor excede o das perólas.
O coração de seu marido põe nela a sua confiança,
e não lhe faltarão lucros.

... buscou lá e o linho,
e, alegre, trabalhou neles com as suas mãos.
É como nau do negociante,
que traz de longe o seu pão.

Levanta-se quando ainda é noite,
e distribui o alimento pela sua família.

... Cingiu seus rins de fortaleza,
e fortaleceu o seu braço.
Experimentou, e viu que o seu trabalho frutifica;
A sua candeia não se apagará durante a noite.

Empregou as suas mãos em trabalhos rudes,
e os seus dedos manejaram o fuso.

... Muitas mulheres ajuntaram riquezas;
Tu excedeste-as a todas.
A graça é enganadora, e a formosura é vã;
A mulher que teme o Senhor, essa será louvada.

(Provérbios, XXXI, 10-31)
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Há queixas por toda parte, porque os salários são baixos. Todos querem aumento.
Só existe uma criatura que trabalha sempre e que não exige que seu trabalho seja pago, que não faz greves e que não diz nunca, nem mesmo só para si : "Malditos patrões".

Cozinha, lava, passa, encerra, varre, coze, remenda, e, às vezes, nem pode comer em paz. É a última que se senta, a primeira que se levanta pela manhã e, à noite, apaga as luzes e deposita um beijo na fronte de todos, quando a casa já está tranqüilamente sepultada no sono.

É mãe.

Também ela era uma jovem a quem agradava prolongar o calor dos cobertores nas frias manhãs de inverno. Mas desde que se tornou mãe, é capaz de descer à rua e despertar com seus passos o ladrar dos cães que aguardam a aurora. É para ir buscar o pão que a filha se esqueceu de comprar, na tarde anterior, para o irmão que tem de sair cedo para o trabalho.

Antes gostava de fazer gastos com vestidos novos: agora usa aqueles que já não agradam às filhas porque estão "fora de moda". Os cremes e o permanente não são julgados necessários como pão. O esmalte das unhas está, algumas vezes,  roído pela água dos pratos, pela agulha e pelos afazeres de casa.

... Parece um milagre. Mas é como o florescer de um jardim, do qual ninguém se admira, porque todos já se habituaram a este prodígio. Depois da confusão alegre dos primeiros dias do casamento, as mães começam a consumir-se como cera, para proporcionar luz, quando as alegrias diminuem e quando as sombras crescem, às primeiras lágrimas que borbulham.

... Há alguma alegria e são os bons filhos. É o amor de um esposo que seja cumpridor de seus deveres.

Por todos solicitada, para todos deve ter algo que dar. É destinada a chorar as suas lágrimas, a sorrir para não chorar, e a dizer sempre uma palavra boa. Damo-nos conta deste milagre de bondade e de sacrifício no dia em que ela fecha os olhos.

Parece então que escurece ao meio-dia.

A lâmpada que iluminava todos os caminhos da vida, se apagou à força de brilhar. E a mãe se vai , depois de ter dado tudo e nada ter recebido. Sem estipêndio.

(Excertos do livro: Mãe - Pe. E.Crippa)
PS: Grifos meus.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A inveja (um dos sete "gatos-pingados" do caráter)


A inveja é a tristeza que nos vem do fato de os outros possuírem bens. Esses bens é como se nos diminuíssem a nós próprios... O invejoso não pode tolerar a felicidade nos outros. Sente-se roubado em todas as comodidades, na educação, na graça, na tranqüilidade, na fortuna que descobre no seu semelhante. É a inveja que leva as mulheres feias a motejarem das bonitas, e que impele os tolos a denegrir aqueles que possuem merecimentos de espírito.

Incapaz de subir, o invejoso faz todas as diligências para que os outros se nivelem com ele. O seu vício caracteriza-se invariavelmente pela vulgaridade insidiosa e pretensiosa. Para ele, ser delicado é ser "efeminado". A seus olhos, as pessoas devotas são "hipócritas", as distintas são "complicadas", as cultas "pedantes".

O invejoso começa por perguntar a si mesmo: "Porque não tenho eu o que estes têm?" e conclui: "Se eles têm qualidades, é porque a mim me faltam!" A inveja é intratável. Vive de relações cortadas com o respeito e a honra. Não sabe dizer, em circunstância nenhuma, um "obrigado", a ninguém.

Aparentada ao orgulho, como este incapaz de tolerar rivais ou superiores, a inveja também tem parentesco com o ciúme. O ciúme consiste no amor desordenado de nós próprios, e nele vai de mistura o temor de sermos despojados por outrem do nosso sentimento de satisfação pessoal.

Invejamos os bens de outrem, mas dos nossos somos ciumentos. Torturados por esses dois vícios gêmeos, não faltam aí indivíduos que passam o seu tempo a denegrir as boas ações do seu semelhante. Forçados a reconhecer, no seu próximo, merecimentos que eles não possuem, procuram desacreditá-los, sistematicamente.

... A inveja esforça-se, de princípio, por achincalhar a reputação de outrem - e faz isso, quer por boatos e intrigas, quer por ataque direto a às claras. Conseguida a vitória de rebaixar o seu semelhante - goza com ela. Se o não consegue - sofre com o seu trabalho baldado... Mau é quando a inveja ataca o processo espiritual ou o apostolado doutrem... formentando conflitos, mantendo rivalidades, escarnecendo, denegrindo.

Explica-se essa atitude, em parte, pelo descontentamento e miséria moral de uma grande maioria dos espíritos. A miséria nunca gosta de se ver só. Os invejosos sentem como que um certo alívio interior, ao notarem os pequenos senãos dos grandes homens.

O mal repugna profundamente às pessoas de boa formação. E os santos, ao terem conhecimento dele, calam-no, e expiam-no pela penitência.

(Excertos do livro: Elevai os vossos corações - Arcebispo Fulton J.Sheen)
PS: Grifos meus

Ver também:
- Inveja:  "A sarna da alma"

Como se há de educar a futura mãe? (Sete virtudes)


Como se há de educar a futura mãe?

Que virtudes deve inculcar uma mãe a seus filhos para que eles possam no futuro ser também bons pais e mães de família? Sete virtudes principais são as que se recomendam para este fim: sobriedade, castidade, laboriosidade, temor de Deus, obediência, caridade e espírito de sacrifício.

1) A Sobriedade: - Com este nome entendemos a regra que se há de guardar na comida e na bebida, mas também no vestir-se, nos gastos de qualquer espécie, e em contentar-se com aposição de seu respectivo estado ou condição. Algumas mães são demasiado condescendentes neste particular, permitindo que seus filhos comam a toda hora, por isso à hora das refeições não têm eles apetite e assim estragam o estômago e perdem a saúde.

Quanto ao vestuário quem poderá calcular as pretensões de certas jovens levianas que querem apresentar-se trajando roupas caras e como elas dizem, da última moda? E o dinheiro, de onde se há de tirar? Muitas vezes é dinheiro roubado em casa ou é fruto de uma vida má. Uma jovem que não sabe vencer a gula ou a ambição nuca será uma boa mãe de família.

2) A Castidade: - Não entendemos por esta palavra a castidade propriamente dita que encontra sua defesa corajosa no pudor, mas também o amor à casa e aos pais. Uma boa mãe de família não somente deve ter um corpo sadio, mas também deverá possuir um coração puro, capas de afetos fortes e heróicos tanto para com seu esposo como para com seus filhos.

Pois bem, como poderá isso ser possível em uma mulher corrompida por leituras lascivas ou por amizades equívocas e levianas? Se uma filha não ama a vida retirada, não amará tão pouco a família, e irá procurar amizades fora do lar doméstico, as quais abrirão uma brecha grande, que será causa de muitas leviandades.

Causa espanto hoje em dia ver-se moças que andam de cá para lá a qualquer hora, passeado com qualquer pessoa que as convidem. Hoje querem gozar as moças de certa liberdade, desejam ser cortejadas e deste modo expõem-se a mil perigos e principalmente perdem aquele pudor que deveria ser a sua defesa.

3) A Laboriosidade: - A futura esposa deverá ser educada em uma vida de trabalho e de atividade. É bem, diz o Espírito Santo, para o adolescente ter trazido o jugo desde sua infância. Convém fazer compreender em tempo à filha que a vida não é um divertimento; mas um sacrifício contínuo.

Por isso a mãe deverá acostumar a filha a ocupar-se dos trabalhos caseiros e a fazê-los bem. Dizia uma moça que para ela a maior satisfação era a de estar em sua casa trabalhando e de ver seu pai e seus irmãos de nada precisarem. Tal moça será uma benção para a família que a possuir. A laboriosidade defende de muitos perigos, gera a modéstia, a seriedade, evita muitas despesas e afasta a miséria.

4) O Temor de Deus: - O princípio da sabedoria é o temor de Deus. O temor de Deus deve ser a base de toda a educação e, portanto também da educação futura mãe de família. Dizei-me: se tivesse havido um pouco de temor de Deus teríamos visto os horrores da guerra mundial? Ter-se-iam as Nações sobrecarregado com tão enormes dividas?

Padeceríamos esta crise tão grande que ameaça levar o mundo à ruína total? Pois bem, o que sucede em grande escala na sociedade, acontece em grau menor na família. Hoje julga-se que tudo é licito contanto que cada um possa fazer o que quiser. Temor de Deus, temor de sua justiça, já não se tem... Lembrai-vos sempre, mães de famílias: se não inculcardes a vossos filhos o temor de Deus sereis vós mesmas as primeiras a experimentar suas fatais conseqüências.

5) Obediência: - Não sei se me engano, mas parece-me que a virtude da obediência torna-se cada vez mais rara. Lamentam-se constantemente as mães, de que seus filhos não querem obedecer e quando obedecem e só depois de gritos e ameaças, ou depois de se ter recompensado a obediência com algum prêmio.

...A obediência é muitíssimo necessária, e sem ela não pode haver ordem... É necessário que a futura mãe de família se acostume a obedecer, mas obedecer sempre à sua mãe e as mães não hão de ceder jamais neste particular. Quando derem uma ordem – naturalmente devem ser razoáveis – sempre devem exigir-lhes obediência a todo custo. Ai delas, se cederem...

Pense a futura mãe que se não se acostumar a obeceder em sua casa encontrará maiores dificuldades em obedecer quando for viver com seu marido... A mulher deve estar sujeita a seu marido e deve segui-lo onde quer que ele estabeleça sua residência, e prestar-lhe obediência em tudo e por tudo, se quiser viver em harmonia... Ditosa a jovem que desde seus mais tenros anos acostumou-se a obedecer e a dobrar sua vontade ao jugo da obediência.

Mães! Se quereis com verdadeiro carinho a vossas filhas, sede fortes e inflexíveis para com elas e exige delas obediência absoluta às vossas ordens.

6) A Caridade: - Uma família onde reina a paz é um paraíso. Mas a paz não pode existir sem a caridade. Se se quiser saber qual a causa de tantas desavenças – que ordinariamente terminam em um dilúvio de impropérios e até de blasfêmias, e às vezes em cenas que transtornam a vida conjugal e familiar, e atraem a atenção dos vizinhos – é evidente que será sempre a falta de caridade.

Se aquela bendita mulher tivesse sabido refrear sua língua e dissimular, ou tivesse respondido com uma palavra menos áspera, o incêndio ter-se-ia apagado, e tudo teria terminado ali mesmo. Mas, ao contrário, se ela quiser também dizer a sua, e à primeira, seguem-se outras, chega-se ao extremo mencionado. A dureza do trato é geralmente a causa de certas antipatias que, arraigando-se no coração, convertem num verdadeiro inferno a vida conjugal.

Em certas casas não se ouve senão palavras iradas, explosões de raiva, blasfêmias e maldições. Jamais, um sorriso, jamais uma palavra doce, jamais um gesto amável, jamais um ato de benevolência. Vive-se em um ambiente de rancor com o qual a paz é incompatível e sem a paz falta a boa harmonia, o amor à família, aos interesses da casa. E deste modo tudo vai de mal a pior.

O falar caritativamente, o agir com benevolência, o trato educado e correto, não se aprende num momento, máxime, porque mais facilmente observamos as faltas alheias e sempre estamos dispostos a aumentá-las e ao contrário, as nossas, não as vemos, ou se as vemos as diminuímos e desculpamos.

Ah! Se as palavras que pronunciamos no decurso do dia se gravassem em um disco, e as repetíssemos à noite, quão envergonhados ficaríamos de nós mesmos. Ditosos os que recebem boa educação. Seria bom recordarmos estas palavras: Escuta, olha e cala! Fala pouco e pensa muito!

7) O Espírito de sacrifício: - Se a uma mãe falta o espírito de sacrifício falta-lhe a virtude fundamental no seu estado. Por que afinal de contas, nega uma mãe a vida a quem tem o direito de tê-la? Porque não tem espírito de sacrifício.

Por que, naquela casa nunca há ordem, a roupa está suja, os filhos mal cuidados, a casa enxovalhada? Porque falta a mãe o espírito de sacrifício.

Por quê os filhos não rezam as orações do bom cristão e aproveitam tão pouco da escola, e não vão ao catecismo? Porque a mãe não se quer incomodar.

Poderiam viver mais folgadamente, evitar gastos inúteis, se a mãe tivesse um pouco mais de espírito de abnegação. Não é assim? Ditosas as mães que inculcam às suas filhas este espírito com o exemplo e com as palavras. Este é o melhor dote que lhes possam legar.

(Maternidade cristã – Pe. Humberto Gaspardo)
PS: Grifos meus

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Jogos e brinquedos


Lembremos que a criança, desde o berço, precisa de movimento; as suas caminhadas, correrias, saltos, etc., cansam mais aos adultos do que a ela; as dificuldades lhe aprazem: esforços no transporte de objetos, em armar os brinquedos, em vencer os obstáculos; os exercícios são repetidos por prazer que corresponde a necessidades (subir e descer um degrau, bater bola, etc.); o jogo é uma atividade funcional da criança, e por isto é realizado por ela com uma seriedade vital (e os adultos não o devem interromper sem motivo sério, menos ainda ridicularizá-lo)...

Nossa intervenção demasiada nos jogos, ou nossa solicitude em desfazer dificuldades é prejudicial, porque ou cerceia a iniciativa, inibe, ou amolece corpo e espírito, com complexos de inferioridade e dependência; a criança para jogar bem precisa de:

1) Local: ar e sol, espaço suficiente e condições de segurança;
2) Brinquedos: poucos (muitos até enervam), simples (os complicados ou desgostam ou exigem total dependência do adulto ou logo quebram), construtivos (úteis a educação), sobretudo proporcionados à idade;
3) Companheiros: em geral da mesma idade, principalmente se pequeninos, inclusive para não se cansarem acompanhando os maiores;
4) Dirigentes: que cooperam e orientam.

O papel do educador

O grande papel do educador é observar as atitudes das crianças no jogo, pois aí as tendências e aptidões se revelam com a força da espontaneidade que não encontraremos em qualquer outra oportunidade, e que permitem orientações seguras a observador atento e atilado.

O jogo como corretivo de defeitos físicos requer cuidados especializados. Como corretivo moral bastam-lhe as atenções inteligentes do educador convencido de que não perde tempo quando brinca com as crianças ou lhes assiste aos folguedos.

... Os cinemas são muito pobres como recreio, sem contarmos aqui os freqüentes incovenientes morais.

Os passeios de automóvel podem divertir as crianças, mas são poupérrimos, por nada trazerem diretamente à robustez física e até prejudicarem à moral alimentando mentalidades burguesas, excessivamente comodistas e fracas, quando a verdadeira educação física visa a formar um corpo sadio e resistente para servir a um espírito ainda mais resistente e sadio.

(Excertos do livro: O que fazer do seu filho - Pe. Álvaro Negromonte)
PS: Grifos meus

Os contra-educadores


Os contra-educadores

A quem daremos o nome de contra-educadores?
A todos aqueles que, ocupando-se das crianças ou aproximando-se delas sob qualquer pretexto, destroem, paralisam, ou dificultam a ação dos obreiros naturais e responsáveis da educação.

Quais são, os contra-educadores?
Aqueles que nós classificamos sob este título deveriam ser os auxiliares do educador. São-no algumas vezes. Desejamos, pois, afirmar que reconhecemos essas honrosas exceções. Somos, porém, obrigados a dizer que muitas vezes:

Alguns avós;
Alguns tios e tias;
Alguns amigos da casa;
Alguns mestres e professores; são, em diversos graus, e em certas circunstâncias, os inimigos do educador.

1º-  Alguns avós

Como prejudicam os avós a educação dos netos?
Por um excesso de bondade. As crianças chamam-lhes "avôzinhos", "avózinhas". Não criticamos estas designações, aliás justas. São de tal maneira bons, o avôzinho e a avózinha, que acabam por ser demasiadamente bons e estragam as crianças.

Francisco, de cinco anos, para a cozinheira:
"Hoje vou-me zangar; o avôzinho já veio!" (autêntico)

Mas, enfim, não é muito natural que os avós sejam, no lar, os representantes da doçura, da indulgência e da bondade?
Muito natural, na verdade. Há uma aproximação instintiva entre os dois extremos da vida. E, quanto mais a idade avança, tanto mais a ternura aumenta. E, como não se é constrangido pelo sentimento direto de responsabilidade em matéria de educação, é fácil escorregar-se pelo declive agradável das carícias, dos afagos e dos mimos. O perigo está precisamente aí: na fraqueza que resulta da irresponsabilidade.

2º-  Alguns tios e tias

Por que merecem alguns tios e tias serem classificados entre os contra-educadores?
Porque os tios e tias solteiros, especialmente as tias nestas condições, têm afetos concentrados, que derivam naturalmente para os sobrinhos e sobrinhas, com a esperança e desejo de reciprocidade; e, para obter esta correspondência de afeto de que sentem necessidade, acariciam, lisonjeiam e estragam as crianças.

Uma cena em família:
Visita do avô, da avó, tios e tias.
Bebê (de três anos), não se tendo portado bem pela manhã, foi castigado: - privado da sobremesa, ao meio-dia. Chega o momento: desolação universal.
A mãe, enérgica, reage.
- Vá perdir perdão à mamãe.
- Diga: todo o pecado deve ser perdoado! (autêntico)

Onde estará o remédio?
Em que todos se compenetrem da importância da educação, e da necessidade de ajudar sempre, em tudo, os pais, verdadeiros responsáveis...

3º - Alguns amigos da casa

Que quer dizer: amigos da casa?
Não se trata aqui de certos amigos de ocasião, que se podem chamar estranhos. Se estes tomassem a liberdade de proferir alguma palavra desagradável ou dar algum mau conselho, o pai não hesitaria em os meter na ordem, mesmo com o risco de os desgostar a ponto de não voltarem.

Mas trata-se de velhos amigos da casa, íntimos da família, que entram e saem livremente, que falam à vontade, que brincam com as crianças, lhes oferecem presentes, e assim conquistam o seu coração e a sua confiança.

Como podem estes amigos tornar-se um obstáculo à educação?
De muitas maneiras, cada qual segundo o seu caráter e os seus métodos:

- O amigos frívolo, que censura os pais e os contradiz;
- O amigo lisonjeiro, que estraga as crianças, sem que o pai e a mãe o suspeitem;
- O amigo ocioso, que rouba o tempo;
- O amigo estrina e corrupto, que escandaliza;
- O amigo sem escrúpulos, que abusa da confiança.

Amigo frívolo - É certo que ama as crianças, mas ama-as a seu modo; procura a sua afeição e esforça-se por alcançá-la empregando todos os meios. Sem reflexão, toma sempre a defesa das crianças.

Amigo lisonjeiro - Dá, as ocultas dos pais, as gulodices proibidas; o brinquedo guardado: autoriza os jogos proíbidos; faz, secretamente, confidências inoportunas...e eis os pais desacreditados, vencidos no campo da autoridade e da afeição.

Amigo ocioso - Para se distrair e passar um bocado alegre, explora os defeitos das crianças... faz a criança dizer algumas parvoíces ou incoveniências. Obtido o resultado, finge repreendê-la, mas, no fundo, acha graça, e a criança sabe-o perfeitamente. Aplaude a criança, quando mostra algum jeito, e anima-a com reflexões de incitamento: "Meu Deus! que engraçado!"

Amigo estroina e corrupto - Tem conversas absolutamente detestáveis; as palavras de duplo sentido, a alusões maliciosas, os velhos contos imorais, os escândalos da sociedade, são o tema ordinário das suas conversações. O pai não diz nada, a mãe, para se dar ares de vigilância e de solicitude, lembra que há ali crianças. E o seu zelo intempestivo atrai a atenção daqueles que queria preservar, faz-lhes reter as expressões atrevidas, que buscam depois decifrar , com a certeza de que encerram segredos interessantes.

Amigos sem escrúpulos - São terríveis e muitas vezes irreparáveis! este amigo é um cliente, este outro é um íntimo do pai, mas eis que este cliente, este amigo do pai, se tornam de repente mais assíduos.Estas repetidas visitas nada têm com os negócios. A ausência do pai não diminue as confianças e amabilidades. Na casa há uma rapariga já crescida... é já um princípio de afastamento do caminho da prudência... os pais não compreendem nada; não desconfiam de ninguém; não vigiam os filhos nem os amigos da casa.

Que conclusão devemos tirar destas considerações relativas aos amigos?
- São prudentes os pais que, tendo filhos (posto que sejam crianças), saem raramente, recebem pouco (visitas), e vivem o mais possível em família, o recolhimento que produzem o sentimento da responsabilidade e o temor de Deus.

Durante a primeira educação dos seus filhinhos, os pelicanos, segundo se diz, não deixam aproximar nenhuma ave suspeita; atacam-na com desespero, para a impedirem de pertubar a sua obra. É uma lição que devemos seguir.

- Quão pouco há a esperar duma educação ministrada entre o tumulto, na dissipação e indiscrição duma casa aberta aos quatro ventos do céu, na qual circula uma multidão de amigos, mais ou menos íntimos, mais ou menos familiares com as crianças!

4º - Alguns mestres e professores

Quais são os professores e professoras que fazem a contra-educação?
São aqueles que se rebaixam a mendigar alunos. Para os ter e conservar, toleram os caprichos dos país e das crianças, fecham os olhos aos defeitos e injustiças de uns e doutros; não os contrariam em nada; abandonam os princípios; fazem uma educação às avessas.

Qual é a conclusão que se impõe, após este ligeiro estudo sobre os contra-educadores?
Uma só. Resume-se em três palavras. É toda para as mães. Deixai-vos estar em casa. Sim, mães, ficai em casa junto dos vossos filhos, e velai por eles, tanto quanto possível. Quando o dever vo-lo não pemitir, tendes o direito de esperar que os anjos da guarda de vossos filhos vos substituiam junto deles.

Mas não tereis esse direito, quando pretenderdes esquivar-vos ao cumprimento do vosso dever, quando abandonais o vosso lar unicamente por gozo...

(Excertos do livro: Catecismo da educação - Abade René Bethléem)
PS: Grifos meus