terça-feira, 27 de novembro de 2012

Abandono

Como, estando morta a si, a vontade vive puramente 
na vontade de Deus
(São Francisco de Sales - Tratado do amor de Deus)


 Com propriedade toda particular falamos da morte dos homens na nossa linguagem francesa; pois chamamo-la trespasse, ou trânsito, e os mortos trespassados; significando que a morte entre os homens é uma mera passagem de uma vida à outra, e que morrer não é outra coisa senão ultrapassar os confins desta vida mortal para ir à imortal. Certamente a nossa vontade nunca pode morrer, como tão pouco o nosso espírito; porém às vezes ela ultrapassa os limites da sua vida ordinária, para viver toda na vontade divina: é quando já não sabe nem quer querer mais nada, porém se abandona totalmente e sem reserva ao beneplácito da divina Providência, misturando-se e embebendo-se de tal forma com esse beneplácito, que já não aparece mais, porém fica toda oculta com Jesus Cristo em Deus, onde vive, não mais ela mesma, porém a vontade de Deus vive nela.
Que é da claridade das estrelas, quando o sol aparece no nosso horizonte? De certo não perece; mas é arrebatada e tragada na soberana luz do sol, com a qual fica felizmente misturada e conjunta. E que é da vontade humana quando está inteiramente abandonada ao beneplácito divino? Não perece totalmente, mas fica tão abismada e misturada na vontade de Deus, que já não aparece, e já não tem nenhum querer separado do de Deus. Imaginai, Teótimo, o glorioso e nunca assaz louvado São Luís, que embarca e se faz de vela para ir além-mar, e vede que a rainha sua cara mulher embarca com sua majestade. Ora, a quem perguntasse a essa brava princesa: Aonde ides, senhora? sem dúvida ela responderia: Vou aonde o rei vai. E a quem de novo perguntasse: Mas sabeis bem, senhora, aonde vai o rei? ela responderia: Ele mo disse em geral, mas todavia eu não tenho nenhuma preocupação de saber aonde ele vai, mas apenas de ir com ele. E se lhe replicassem: Então, senhora, não tendes projeto nessa viagem? Não, diria ela, não tenho outro projeto senão estar com meu caro senhor e marido. Poder-se-lhe-ia então dizer: Mas no entanto ele vai ao Egito para passar à Palestina; pousará em Damieta em Acre e em vários outros lugares; e vós, senhora, não tendes intenção de ali ir também? A isso responderia: Não, deveras, não tenho intenção alguma senão estar junto de meu rei, e os lugares aonde ele vai são-me indiferentes e de nenhuma consideração, a não ser enquanto ele estiver neles; vou sem desejo de ir, pois não desejo nada a não ser a presença do rei. É, pois, o rei quem vai, e quem quer a viagem, e quanto a mim, não vou, sigo; não quero a viagem, mas só a presença do rei, sendo-me inteiramente indiferentes a permanência, a viagem e toda sorte de diversidades.
Certamente, se se pergunta aonde vai a algum servo que está acompanhado seu amo, ele não deve responder que vai a tal ou tal lugar, mas somente que segue seu amo; pois não vai a parte alguma por sua vontade, mas apenas pela vontade de seu amo. Assim, meu Teótimo, uma vontade resignada na de seu Deus não deve ter nenhum querer, mas seguir simplesmente o de Deus. E, assim como aquele que está num navio não se move por seu movimento próprio, mas apenas se deixa mover segundo o movimento do navio em que está, assim também o coração que está embarcado no beneplácito divino não deve ter nenhum outro querer senão o de se deixar levar ao querer de Deus. E então o coração já não diz: Seja feita a vossa vontade, e não a minha, pois não tem mais vontade nenhuma a que renunciar, porém diz estas palavras: Senhor, entrego minha vontade em vossas mãos; como se a sua vontade não estivesse mais à sua disposição, porém à disposição da divina Providência; de sorte que não é propriamente como os servos seguem seus amos: porque, ainda que a viagem se faça pela vontade de seu amo, o seu seguimento todavia se faz pela própria vontade particular deles, embora esta seja uma vontade seguinte e servente, submetida e sujeitada à de seu amo; de tal sorte que, assim como o amo e o servo são dois, assim também a vontade do amo e a do servo são duas. Mas a vontade que morreu a si mesma para viver na vontade de Deus, está sem nenhum querer particular, permanecendo não somente conforme e sujeita, mas totalmente aniquilada em si mesma e convertida na de Deus; como se diria de uma criancinha que ainda não tem uso da vontade para querer nem amar coisa alguma a não ser o seio e o rosto de sua cara mãe; pois essa criança absolutamente não pensa em querer nem amar coisa alguma senão estar nos braços da mãe, com a qual pensa ser uma mesma coisa, e absolutamente não se preocupa com acomodar a sua vontade à de sua mãe, pois não sente a sua, e não cuida tê-la, deixando a sua mãe o cuidado de ir, de fazer e de querer o que achar bom para ela.
De certo, é uma suma perfeição da nossa vontade o estar assim unida à do nosso sumo bem, como foi a do santo que dizia: Ó Senhor, conduzistes-me e levestes-me segundo a vossa vontade; pois, que queria ele dizer senão que absolutamente não empregara a sua vontade para se guiar, havendo-se simplesmente deixado guiar e conduzir pela vontade de seu Deus?

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 27

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 27
Quarto meio: — O ato heróico
Um derradeiro meio que encerra em si todos os outros é o ato heroico, que con­siste em aplicar às almas do Purgatório tudo de que podemos dispor em nossas orações e obras pessoais, e ainda em ceder-lhes a aplicação que nos tocar das orações e obras de outros.
O ato heroico é o mais próprio das al­mas que só se julgam felizes quando, de­pois de haverem dado tudo, dão-se a si mesmas; por isso a instituição desse ato foi bem aceita e ele é praticado com fervor.
Demais, esse ato não empobrece a nin­guém; antes, centuplica o mérito de todas as nossas boas obras. — O mérito de uma obra procede, com efeito, da caridade, e quanto maior caridade houver em uma ação, mais meritória será ela para quem a faz. Ora, haverá na vida cristã ato mais cheio de verdadeira caridade do que aquele, pelo qual, despojando-nos de todo o mé­rito satisfatório de nossas orações e boas obras, nós o oferecemos a Deus para que o aplique, ele mesmo, às almas do Purgatório?
Esse ato heroico centuplica o fruto impetratório de nossas boas obras. Quan­do pedimos a Deus uma graça, não somos sós a pedir; milhares de almas, as almas em beneficio das quais fizemos esse ato, pedem conosco: pedem do Céu, se já o gozam; pedem do Purgatório, se ainda nele estão!
O ato heroico pode ter a seguinte fór­mula:
«Para vossa gloria, ó meu Deus, e para imitar o mais possível o generoso Cora­ção de Jesus, meu Redentor, e também com o fim de mostrar minha dedicação à Santa Virgem, minha Mãe, que é também Mãe das almas do Purgatório, deponho em suas mãos todas as minhas obras sa­tisfatórias, assim como o valor de todas as que houverem de ser feitas em minha intenção depois de minha morte, para que Ela aplique tudo às almas do Purgatório, segundo sua sabedoria e à sua discreção.»
Esse ato dá aos sacerdotes altar privilegiado todos os dias do ano; aos fieis, uma indulgência plenária com que podem livrar uma alma do Purgatório todas as vezes que comungam e todas as segundas-feiras, ouvindo a santa Missa pelos de­funtos, contanto que visitem nesse dia uma igreja, e orem segundo as intenções do Sumo Pontífice; além disso, podem apli­car aos mortos todas as indulgências que, pela letra das concessões, não lhes fossem aplicáveis.
Quem recusará fazer esse ato, ato de ge­nerosidade, por certo, mas também ato que a Igreja remunera com tanta largueza e a que Deus será reconhecido no Céu?
Eu faço-o em toda a sua extensão: digo com alegria essa fórmula que me é indi­cada, e formo a intenção de renová-la, ao menos de coração, em todas as minhas comunhões.
Que não faria eu, meu Deus! que não daria eu com o fim de contribuir para vossa glória e poupar o sofrimento a meus defuntos tão pranteados!


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia.

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 26

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 26
Terceiro meio: — O jejum, as mortificações, a esmola
Os atos de mortificação, em geral, nos fazem mais comedidos, mais piedosos e, consequentemente, mais agradáveis a Deus; as orações que conjuntamente fazemos são acolhidas mais favoravelmente: Deus não repele o coração contrito e humilhado; mas, além do valor que esses atos dão a nossas orações, eles são por si mesmos uma reparação em favor das almas do Purgatório.
Estas almas sofrem porque foram ne­gligentes, sensuais, tíbias, pouco submis­sas… e nós, esforçando-nos por sermos mais ativos nos trabalhos, mais firmes na resistência às tentações, mais mortificados nos sentidos, mais generosos para dar, reparamos o que elas fizeram mal, — su­primos o que omitiram, — compensamos o que fizeram de modo imperfeito, e, assim, pagamos realmente a Deus as dívidas, que contraíram.

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 25

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 25

Segundo meio: — A Santa Missa
É o meio mais eficaz e mais pronto para, aliviar e libertar as almas de nossos mortos.
A cada Missa celebrada com devoção, diz S. Jerônimo, saem muitas almas do Purgatório. — E não sofrem tormento al­gum durante a Missa aplicada por elas, acrescenta o mesmo Doutor.
Na Missa, é o próprio Jesus que se oferece ao Eterno Padre em troca, por assim dizer, da alma de quem se lhe pede o livramento. — Um santo sacerdote, diz o Cura d’Ars, orava por certo amigo que ele sabia estar no Purgatório: veio-lhe a ideia de que não podia fazer nada de me­lhor do que oferecer por sua alma o santo sacrifício da Missa. Chegado o mo­mento da consagração, tomou a hóstia en­tre as mãos e disse: «Pai santo e eterno, façamos uma troca. Vós tendes a alma de meu amigo que está no Purgatório, e eu tenho em minhas mãos o corpo de vosso Filho: pois bem! livrai meu amigo e eu vos ofereço vosso Filho com todos os méritos de sua Paixão e Morte.» No mo­mento da elevação, viu ele a alma do amigo que, toda radiante de glória, subia ao Céu.

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 24

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 24
Primeiro meio: — A Oração
A oração, feita diretamente pelas almas do Purgatório, é a súplica de um filho a Deus para que se mostre bom e miseri­cordioso.
A uma oração feita assim, no fundo da alma, será Deus insensível?
De mais, a oração, quando parte de um coração puro e é feita com instância, tem por si só, diz S. Tiago, uma força imensa. Eleva-se até o coração de Deus, penetra nesse coração, comove-o, e lhe arranca, de alguma sorte, a despeito de sua justiça, o perdão e a misericórdia.
Portanto, eu rogarei muito a Deus por meus mortos, farei a Deus esta violência que lhe é tão grata.
Entre minhas orações, empregarei, de preferência, as que são indulgenciadas: o Terço, a Via Sacra, invocações espe­ciais… etc.
Uma indulgência é a remissão total ou parcial das penas temporais devidas aos pecados já perdoados quanto à ofensa e à pena eterna: essa remissão é outor­gada pela Igreja, que recebeu de seu di­vino Fundador o poder de fazê-lo pela aplicação dos méritos superabundantes do mesmo Jesus Cristo e dos Santos.

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 23

Fonte: Almas devotas
Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


Meios que nos fornece a Igreja para aliviar as almas do Purgatório
DIA 23
Meios Gerais
Graças, meu Deus, mil graças de terdes em vossa infinita misericórdia permitido a meu coração fazer bem a meus pobres finados e de haverdes multiplicado em redor de mim os meios de fazê-lo.
Esses meios, diz um piedoso autor, são tão numerosos como as pulsações de meu coração, como meus pensamentos, como minhas palavras, meus suspiros, minhas ações, porque não há uma só destas coi­sas que não lhes possa aproveitar.
Um movimento do coração em sua intenção, — um olhar para o Céu em sua lembrança, — um suspiro de piedade por eles, — um pensamento de compaixão so­bre os males que sofrem, — os nomes de Jesus e de Maria pronunciados com devo­ção em seu favor,—a menor obra boa em recordação deles, — diminuem certamente suas penas, contanto que a caridade tenha parte nisso e que esteja em estado de graça aquele que pensa neles e por eles trabalha.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pensamento da noite de 22/11/2012


"A fé, com efeito, quando se apodera de uma alma, só pode nela imprimir o selo da bondade. Os ensinamentos que oferece, as graças que comunica, os deveres que impõe, tudo converge para tornar a bondade soberana sobre a vida."
(Padre J.Guibert - A bondade, 1907)

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 22

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)



DIA 22
Quarto motivo: O julgamento que nos espera após a morte
Ouvi estas palavras do Evangelho:
O que fizerdes ao mínimo dos meus, é a mim que o fazeis. — Sereis medidos com a mesma medida de que houverdes usado com outros.
Virá um dia, e talvez esse dia não es­teja longe, em que estareis vós mesmos no lugar da terrível expiação. Conhecereis então, por uma experiência pessoal e dolo­rosa, o que é o Purgatório; e, como as pobres almas que lá sofrem a esta hora, clamareis com um acento aflitivo: — tende piedade de mim, tende piedade!
E, por uma justa permissão divina, estes gritos despedaçadores penetrarão na alma daqueles a quem vos dirigirdes na medi­da em que agora as súplicas das almas calam em vosso coração: esquecestes? Sereis esquecido! Repelistes como importunos seus pedidos de orações? vossas ins­tâncias também serão repelidas; — não quisestes sofrer uma privação para dar uma esmola em favor dos mortos? Não se fará esmola em vosso beneficio. E assim ficareis só, sem amigos, obrigado a per­manecer no fogo purificador até expiardes vós mesmo ainda a mais pequena mancha.
E, mesmo quando, mais caridosos que vós, vossos parentes intercedessem por vosso livramento, Deus, árbitro supremo da aplicação de seus sufrágios, quiçá não vos deixará sentir em toda sua medida os efeitos de uma caridade da qual vos tornastes tão pouco digno.
Oh! Não nos coloquemos em condições de ser assim abandonados!
Mas, se houverdes sido bom, dedicado, generoso com essas pobres almas, é Deus — Ele o disse — é Deus mesmo que vos retribuirá, e no cêntuplo, o que tiverdes feito em seu nome pelos seus, e, até dado que vossos parentes e amigos vos aban­donem, Deus suscitará boas almas que hão de orar e expiar por vós; ou, talvez, por uma abundância de graça toda especial, aumentando aqui mesmo na terra vosso amor por Ele, vos fará expiar em vida todos os vossos pecados.
Deus é muito justo para deixar uma só ação boa sem recompensa, e, recompen­sando como Deus, dá sempre mais do que se lhe deu.
Terminemos com estas palavras de San­to Ambrósio: «Tudo o que damos por ca­ridade às almas do Purgatório converte-se em graças para nós, e, após a morte, en­contramos o seu valor centuplicado.»
O Purgatório é como um banco espiri­tual em que podemos depositar cotidianamente nossas boas obras, por menores que sejam; e aí estão em seguro e se multiplicam; e, quando nos vemos aflitos e inquietos, daí vem, como viria o rendi­mento de um dinheiro depositado, a luz, a força e a prudência que nos são precio­sas em nossas dificuldades.
Sejamos, pois, generosos, muito gene­rosos.


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Trecho extraído do livro - Mês das Almas do Purgatório - Mons José Basílio Pereira - 10a. Edição - 1943 - Editora Mensageiro da Fé Ltda. - Salvador - Bahia.

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 21

Fonte: Almas devotas
Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 21
Terceiro motivo: — As principais virtudes que assim praticamos
— Socorrendo as almas do Purgatório, praticamos a caridade em toda a sua exten­são. «A devoção às almas do Purgatório, diz S. Francisco de Sales, encerra todas as obras de misericórdia, cuja prática, ele­vada ao sobrenatural pelo espírito de fé, nos há de merecer o Céu.»
Descer ao meio desses fogos devoradores, levar às almas prostradas em seu leito de chamas a esmola de nossas orações, não é, de algum modo, visitar os enfer­mos?
Não é dar de beber aos que têm sede, chover o doce orvalho de graça celeste so­bre as almas que ardem na sede de ver a Deus face a face?
Adiantar para elas o momento em que hão de entrar na posse da bem aventurança, do Céu, de Deus, do qual estão mais famintas do que o mendigo o está do pedaço de pão que lhe estendemos: é, em verdade, alimentar os que nos pedem de comer.
Nós remimos cativos, pagando o resgate das santas almas prisioneiras da justiça divina, despedaçando as cadeias que as retêm longe do Céu, e que cadeias!

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 20

Fonte: Almas devotas
Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 20
Segundo motivo: O serviço que prestamos a nós mesmos

1º. Adquirimos um protetor certo no Céu. A alma que nossas orações tiverem libertado, contraiu para conosco, só pelo fato de seu resgate, uma estrita obriga­ção de reconhecimento; primeiro, diz o padre Faber, pela glória da qual lhe ante­cipamos a hora; depois, em razão dos horríveis sofrimentos aos quais a arran­camos; assim, é para ela um dever obter-nos incessantes graças e bênçãos. No Céu também se ama e se é reconhecido!
E não é somente essa alma que fica re­conhecida, é seu anjo da guarda também, é a Santíssima Virgem a quem essa alma era consagrada, é o próprio Jesus que a nossas orações deve o glorificá-la mais cedo. — E o anjo da guarda, e Maria e Jesus, também eles nos testemunham sua alegria com benefícios novos.
2º. — Constituímos no Céu um repre­sentante nosso que, em nosso nome, adora, louva e glorifica o Senhor. — Aquele que serve a Deus na terra, nunca está satis­feito; não sabe, não pode amar como de­seja e sente a necessidade de fazê-lo; mas, se libertou uma alma do Purgatório, oh que alegria, que consolação a de poder dizer: Uma alma santa que ama perfeita­mente a Deus, foi amá-lo por mim; e, enquanto eu estou na terra ocupado, nas funções e trabalhos da vida, talvez até esquecendo-me de Deus, lá no Céu ela, talvez muitas, sem interromperem um só momento seu cântico de amor indizível, adoram, glorificam a majestade e a beleza do Altíssimo, e fazem-no em meu nome!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pensamento da noite de 21/11/2012



"Porque o homem moderno é tão vaidoso, tão cheio de ambições, tão sensual, tão rebelde? Porque não ama a Cruz de Jesus Cristo e zomba do cristão que procura reproduzi-la em si? Porque na política a impostura, a mentira, a perfídia? Na ciência - o orgulho, na literatura - a luxúria, nas artes - a prostituição do belo, o repúdio de todas as formas nobres da imaginação? Porque o estadista, o sábio, o filósofo, o poeta e o artista não conseguem fazer feliz a humanidade moderna? Percorrei o mundo inteiro, batei a todas as portas; perguntai aos homens, nos palácios ou nas choupanas, se eles são felizes; e um gemido doloroso saído de todos os corações vos responderá: não, não somos felizes. Mas porque o homem moderno, no meio de tantos esplendores da civilização material, é verdadeiramente desgraçado? Porque ele não ama a Cruz de Jesus Cristo." 
Pe. Júlio Maria C.Ss.R.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Pensamento da noite de 20/11/2012


"Ó Jesus! Falai a meu coração, daqui em diante só Vossa voz quero escutar,
no silêncio das criaturas; a Vós só ouvirei, meu divino Mestre; 
seja Vossa santa palavra meu encanto no mundo e minha esperança para a eternidade."
(Imitação de Cristo)

Humildad

Robert de Langeac
La vida oculta en Dios


No hallaréis la paz verdadera más que en la humildad. Despreciaos sinceramente delante de Dios y hacedlo cada vez más. Intentad al menos hacerlo; veréis los resultados. Si pudierais llegar a mar (voluntariamente) la humillación y la contradicción, habríais dado un gran paso hacia Dios. Aceptad francamente y sin discusión interior o exterior las pequeñas humillaciones cotidianas. Procuradlo; sólo cuesta el primer paso. Podría así arraigarse el hábito. Y entonces, ¡qué alegría y qué paz!

Amar que a uno le humillen y le tengan por nada es una gracia. Pedidla sin cesar, pero sosegadamente.

En la práctica, reconocer que no tiene uno razón, es perder poco y ganar mucho.

Aceptad humildemente no gustar a todo el mundo; querer lo contrario sería querer lo imposible.

Velad sobre vuestra necesidad de criticar y de contradecir a los demás como para mejor afirmaros ante vuestros propios ojos. Decid vuestro sentir con sencillez, exactitud, claridad y brevedad; tened calma luego y orad.

Continuad vuestros esfuerzos, aunque sean infructuosos. Dios os los pide para poder recompensaros. Permite su fracaso, aparente o real, para humillaros.

Necesitáis de la humillación como de un freno. Cuanto más doloroso sea, os es más necesario. Pues nada nos esconde como la humillación. Y nada nos humilla como nuestros defectos.

Amad vuestros defectos. Os humillan y os proporcionan la materia prima de vuestros esfuerzos. Pero corregidlos también. Acordaos del proverbio: «Quien bien ama, bien castiga». Y no traduzcáis «bien» por «mucho». Dejad a esa palabra todo su sentido de mesura, prudencia y firmeza, pero no de dureza. Consideradlos como una mina inagotable de méritos y de humillaciones. En este sentido lamentaría que no tuvierais defectos. Si alguien nos juzgara tal y como nos conocemos, nos haría sufrir mucho. Y todavía más si nos dijera su fallo. Pues nada nos duele tanto, aunque reconozcamos ser unos miserables, como una simple mirada del prójimo cuando éste nos juzga con nuestra propia medida y, por consiguiente, nos desprecia.

Nuestro fondo de orgullo nos hace sentirla como un hierro candente, como una quemadura que consume. Hay almas que no pueden sobrevivir al golpe de haber cometido una falta y al menosprecio que ésta trae consigo. ¡Qué hábiles somos para responder a los reproches y cuántas precauciones tomamos para evitar la más pequeña humillación! Pero nada es tan contrario a la paz como esto. ¿Se tiene paz cuando no se puede tolerar la menor falta de consideraciones? Jamás podrá Dios conceder sus gracias a un alma que siga preocupada con estas opiniones humanas que tan inexactas son a menudo; eso es buscar un bien que Dios se reservó. Y es a Dios a quien hemos de procurar agradar para que nos mire cada día más favorablemente en lugar de ingeniarnos para que los demás tengan siempre buena opinión de nosotros, haciendo valer para ello no sólo nuestros dones naturales, sino, incluso, las gracias sobrenaturales. Ahora bien, la vanidad espiritual es la peor de todas y prueba con un signo cierto que esas gracias no vienen de Dios o que Él ya no las concederá. Porque así es imposible entrar en su Reino.

Se trata, pues, de practicar la humildad en la medida en que exista realmente en el alma, a fin de practicarla, de desarrollarla, de arraigaría y de hacerla progresar.

Lo que hemos de encontrar es la fórmula sencilla que traduzca el hecho y de la cual salga a la vez la humillación. Si, por ejemplo, rompéis un vaso en la mesa, en vez de decir: «Qué torpe soy; siempre hago lo mismo», o «El vaso se me deslizó de entre las manos y se ha roto», etc., decid sencillamente: «He roto un vaso», en tono humilde, con el sincero deseo de no disminuir u ocultar vuestra torpeza. E incluso, en ciertos casos, no digáis nada, pero que vuestro silencio traduzca las verdaderas disposiciones de vuestra alma.

No os esforcéis demasiado por hacer que broten en vosotros sentimientos de humildad, pero «ejercitaos» tal como hemos dicho, a menos de que por «sentimientos» entendáis, no gustos sensibles, sino disposiciones del alma, actitudes espirituales.

¡Oh, qué dispuestos estaríamos a recibir las gracias de Dios si tuviéramos un juicio recto y exacto sobre nosotros mismos; sobre nuestras verdaderas cualidades, reconociéndolas sin exagerarlas y refiriéndolas a Dios; y sobre nuestros verdaderos defectos y nuestras miserias, sin exagerarlas tampoco, sino viéndolas a la luz de Dios! El orgullo sería entonces imposible. Los Santos vivían bajo esta luz. Pequeñas faltas que nosotros consideramos como naderías les parecían enormes a causa de su altísima idea de la santidad de Dios y de su horror profundo por la menor imperfección. Y como estaban iluminados de una manera extraordinaria, la humildad de abyección les confundía cuando contemplaban su miseria y les hacía pronunciar sobre sí mismos unos juicios que nos asombran.

Renunciamiento a la voluntad propia

Robert de Langeac
La vida oculta en Dios


Nosotros probamos a Dios que le amamos cuando cumplimos su voluntad desde la mañana a la noche, cuando la cumplimos bien, cuando la cumplimos con todo nuestro corazón, no sólo en sus líneas generales, sino en sus más pequeños detalles.

La amistad verdadera consiste en la unión de dos naturalezas y de dos personas en una sola voluntad.

Caminad con la mirada fija en lo alto. Obedeced sencillamente, inteligentemente.

Y, en lo demás, en cuanto no haya pecado, haced la voluntad ajena, mejor que la vuestra. Lo que cuesta más no es la mortificación, es la obediencia, esa cesión de nuestra voluntad a la voluntad de otro. ¡Bajo qué luz tan distinta veríamos la obediencia, si viéramos en la voluntad de ese otro la de Dios!

A veces, ante un pequeño sacrificio que hemos de hacer, no queremos ver la voluntad de Dios, porque si la viéramos, estaríamos obligados a seguirla.

Entonces desviamos nuestras miradas para no considerar el vínculo que une indisolublemente la perfección y ese pequeñísimo sacrificio.

Tenemos que reprocharnos todas las noches nuestras resistencias a la voluntad de Dios por falta de generosidad, por falta de amor y, sin embargo, un sacrificio frustrado queda frustrado eternamente… y quizá era el comienzo de una cadena de gracias que se rompió porque no supimos coger su primer anillo. La fidelidad en las pequeñeces para con un Dios tan grande seria para nosotros el comienzo de los máximos favores. Santa Teresa del Niño Jesús decía que no recordaba haber negado nada a Dios desde la edad de tres años.

Desconfiad mucho de los razonamientos a los que os sintáis apegados. No son fruto normal de vuestra inteligencia, sino más bien de vuestra voluntad. No siempre veis las cosas como en realidad son, pues hay imponderables atómicos que se os escapan. Y suplís esta deficiencia con un alarde de voluntad: "Lo quiero así, pues así lo mando, y si me preguntáis el motivo os diré que es mi voluntad" (Juvenal). Es algo que hay que corregir.

No dejéis hacer a Dios lo que podáis hacer vosotros mismos. Todavía le quedará mucho que hacer.

No puedo actuar fuera de las indicaciones de Dios. Cada vez que me he mantenido en los límites exactamente trazados por la Providencia se ha realizado un poco de bien. Cada vez que he querido traspasarlos, aunque no fuera más que en una tilde y bajo los mejores pretextos, lo he embrollado todo y el bien no se ha realizado.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Lindas imagens do Anjo da Guarda

Rezemos pelo nosso Anjo da guarda!





Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 19

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


ALÍVIO ÀS ALMAS DO PURGATÓRIO
Motivos que nos determinam a socorrer às almas do Purgatório

DIA 19
Primeiro motivo: — O serviço que prestamos a Deus e a gloria que lhe proporcionamos

É verdade que nós, frágeis e míseras criaturas, podemos prestar serviço a Deus, podemos realmente lhe ser úteis? Sim, diz Bourdaloue, cuja doutrina é sempre se­gura, sim, podemos. O Purgatório é um estado de violência para o próprio Deus. Ali, vê Deus almas a quem quer com um amor sincero, terno e paternal, almas que sofrem e às quais todavia não pode Ele acudir, — almas cheias de mérito, de san­tidade, de virtude, mas a quem não pode Ele ainda remunerar, — almas que são suas escolhidas, suas esposas, e que Ele é forçado a ferir e castigar… Pois bem! Nós podemos, nós, pobres criaturas, fazer cessar esse estado de violência, dando à justiça divina tudo o que ela pede…
Não me é dado compreender o que se passa no coração do Senhor, quando com as minhas orações e boas obras eu tiro uma alma do Purgatório, e essa alma, numa espécie de delírio de alegria, vai lançar-se no seio de Deus, dizendo-lhe: Meu pai! meu pai! — mas imagino o que ex­perimentaria o coração de uma mãe que, tendo conhecimento de que seu filho foi condenado à prisão por muitos anos, o visse, de repente, trazido por um amigo que o houvesse libertado. Oh que alegria! oh que amplexo! — e que reconhecimento pelo salvador desse filho.

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 18

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 18
6º sofrimento — Incerteza do tempo a sofrer no purgatório

«Um homem, diz o padre Felix, gemia, há tempos, numa prisão célebre. Certo dia, cansado de sofrer, concebeu a ideia de livrar-se. Nessa época existia uma senhora de alto valimento que podia bastante para quebrar as algemas do preso e pôr termo a seus sofrimentos.
Eis aqui, reza a história, em que termos eloquentes o mísero lhe dirigiu sua sú­plica; «Senhora, a 25 do corrente de 1760, faz cem mil horas que eu peno, e ainda me restam duzentas mil a sofrer.» Não sei que despacho teve esta petição. O coração desta mulher teve a dureza de resistir a esta eloquência? Não sei, mas parece-me impossível dizer mais em tão poucas palavras! Há cem mil horas que sofro, tenho ainda que sofrer duzentas mil!… Há cem mil horas… Portanto, ele as tinha contado?! Sim, como vós podeis contar, uma a uma, as pancadas de um relógio durante uma noite longa e triste em que o sofrimento vos faz perder o sono. Ora, se é assim com os presos da terra, que dizer desses encarcerados do mundo invisível (o Purgatório)? Quem nos dirá o que é para esses padecentes de além mundo a passagem de seu prazo de tormento? A duração para nós não é o tempo que passa, é o que sentimos passar; e a lentidão dessa passagem cresce para os que sofrem, na proporção de sua an­gústia. É isto o que, em relação às almas do Purgatório, dá a extensão de longos dias aos minutos, a de anos inteiros aos dias, e aos anos a de séculos que parece nunca se acabarem!

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 17

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 17
5º sofrimento — O olvido em que caem
Ver-se esquecido na terra, esquecido por aqueles a quem se amou e que nos amaram, é uma dor pungente para o coração — mas ver-se esquecido, quando, se está no Purgatório, quando o coração é mais sensível e nada de exterior o distrai dessa ideia, deve ser um golpe ainda mais cruel.
Oh! como são justas as queixas que um Religioso ouviu desses pobres corações abandonados!
«Ó irmãos! ó irmãos! ó amigos! Pois que há tanto tempo vos aguardamos, e vós não vindes; vos chamamos, e não respondeis; sofremos tormentos que não têm iguais, e não vos compadeceis; gememos, e não nos consolais!
Ai de nós! todos os que amamos na terra com toda nossa afeição, nos aban­donaram; choramos no meio desta noite escura, e não há quem nos console.
Ah! tudo se acabou, acabou-se para sempre! esqueceram-me e já nem mais uma lembrança me prende à terra!…

Novembro - Mês das Almas do Purgatório - 16

Fonte: Almas devotas

Retirado do livro
Mês das Almas do Purgatório
Mons. José Basílio Pereira
 livro de 1943 
(Transcrito por Carlos A. R. Júnior)


DIA 16
4º sofrimento — O Conhecimento dos seus pecados

As almas no Purgatório veem as coisas de Deus diversamente de nós. Esclarecidas pela divina luz, compreendem elas o respeito, o amor, a obediência que Deus lhes merecia, e toda a felicidade, ingratidão e covardia dos pecados que cometeram.
E essa fealdade e laxidão, sempre ante seus olhos, enchem-nas de tanta vergonha, que procuram, embora inutilmente, fugir das vistas de suas companheiras de tor­mento.
Essa ingratidão, sempre patente, opri­me-as de tantos remorsos, que seu coração se confrange a cada instante e sente a necessidade de sofrer para expiar tanta falta de amor.
Podem comparar-se, diz um piedoso bispo, com um homem que, no meio de um calor insuportável, é envolto, comprimido, esmagado por um manto, cujo peso o ani­quila e que está como soldado a todos os seus membros.

sábado, 17 de novembro de 2012

Humildade

O Embaixador de Cristo, 
por Cardeal Gibbons, 
edição de 1935, tradução do Cônego Tomás Fernandes Pinto



A verdadeira humildade não consiste em desconhecer ou negar o bem que há em nós, mas em referir ao Autor de todo o nosso ser os dons da natureza e da graça que se dignou conceder-nos. Esta idéia foi admiravelmente expendida pelo Apóstolo naquela passagem da epístola aos Coríntios: «Esta confiança temos, por meio de Cristo, em Deus. Não que por nós mesmos sejamos capazes de ter algum pensamento que seja de nós mesmos: toda a nossa capacidade vem de Deus»[1]. E noutra parte diz: «Se alguém supõe que é alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana»[2].
E ainda noutra passagem deixou dito: «Aquele, pois, que se gloria, em Deus se glorie. Porque não é recomendável o que a si mesmo se recomenda, mas só aquele a quem Deus recomenda»[3].
Jesus Cristo ensinou-nos esta grande virtude por Sua vida e exemplos, assim como por Seus preceitos. «Aprendei de mim, disse Ele, que sou manso e humilde de coração»[4], palavras que Santo Agostinho assim comenta: «Nosso Senhor não diz: - Aprendei de mim a construir o mundo, a criar as coisas visíveis e invisíveis, a operar milagres, a ressuscitar mortos. - Mas diz: - Aprendei de mim a doçura e a humildade de coração».
Jesus nasce num estábulo; deixa-Se circuncidar como um pecador. Quando o povo deseja exaltá-lO e proclamá-lO Rei, afasta-Se e esconde-Se; mas quando resolvem humilhá-lO e perdê-lO, apresenta-Se à Seus inimigos e submete-Se aos opróbrios. A Sua transfiguração gloriosa assistem somente três discípulos, aos quais todavia impõe segredo até à Sua ressurreição. Já não se dá o mesmo com a suprema afronta da cruz. A esta assiste a cidade inteira de Jerusalém, que para mais regurgitava então de estrangeiros.
Depois da última ceia, o Salvador não Se dedigna de cingir uma toalha e lavar os pés a Seus apóstolos a quem deixa estar recomendação: «Sabeis o que acabo de vos fazer? Vós me chamais Mestre e Senhor. Tendes razão; eu o sou. Portanto, se eu lavei os pés, sendo vosso Mestre e Senhor, o mesmo deveis fazer uns aos outros: Dei-vos o exemplo para que, assim como eu fiz, façais vos também»[5].
Mas que humilhação poderá comparar-se à Encarnação do Salvador e à Sua morte afrontosa na cruz? «Nada façais por ciúme ou por vã glória, diz S. Paulo; mas, com humildade tenha cada um para si os outros como superiores e atenda aos interesses deles, que não à sua própria conveniência. Haja entre vós o sentimento que houve em Jesus Cristo: o qual, sendo Deus por natureza e não praticando, portanto, usurpação em mostrar-Se igual a Deus, todavia Se aniquilou, assumindo a natureza de escravo, fazendo-Se semelhante aos homens, sem que externamente coisa alguma o distinguisse do mesmo homem. Humilhou-Se e mostrou-Se obediente até à morte e morte da cruz. Pelo que Deus também o exaltou e lhe deu um nome que é superior a todo o nome: pois que ao nome de Jesus todo o joelho se dobra, no céu, na terra, e nos infernos, e toda a língua confessa que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai»[6].
Precisamos de incentivo mais poderoso para nos abatermos a nós mesmos? Não nos basta saber que quanto mais nos humilharmos por amor e justiça, tanto mais semelhantes nos tomamos a Jesus Cristo, o tipo por excelência da natureza humana?
De si mesmo disse o Senhor: «Eu não busco a minha própria glória; outro a buscará e esse fará justiça... Se me glorifico a mim mesmo não é nada a minha glória. Meu Pai é quem glorifica»[7]
Assim como Nosso Senhor se mostrava contente por a Sua própria glória ser reivindicada pelo eterno Pai, assim nos podemos ter a certeza de que nossa honra e bom nome estão seguros nas mãos da Providência.
A cada passo lemos no Evangelho que Nosso Senhor anatematizava o orgulho dos fariseus, condenava a ambição de seus discípulos e aproveitava todas as ocasiões para os precaver contra a vanglória e dar-lhes preciosas lições de humildade. Aos Judeus disse que o maior obstáculo, por eles posto à aceitação do Evangelho, era a paixão ardente, dos aplausos humanos: «Como podeis crer, vos que procurais a glória que vem dos homens, e nenhum cuidado tendes pela que de Deus vem?»[8] Noutro passo afirma que a simplicidade do menino e a humildade de espírito são as melhores disposições para receber as luzes celestes e tornar nosso entendimento apto para a apreensão das verdades reveladas: «Graças vos dou, meu Deus, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai; porque assim vos aprouve»[9]. Os dois filhos de Zebedeu, por intermédio de sua mãe, pediram a Nosso Senhor lhes obtivesse os primeiros lugares no seu reino terrestre que eles imaginavam cheio de pompas e esplendores: «Ordenai, dizia aquela mulher que os meus dois filhos, aqui presentes; sejam colocados em vosso reino, um à vossa direita e o outro à vossa esquerda». Ao que Nosso Senhor retorquiu, voltando-se para os dois pretendentes; «Não sabeis o que pedis»[10]. «O meu reino não é deste mundo». «O reino dos céus sofre violência e só os animosos o conquistarão» A prova evidente de que a inveja se agarra ao homem ambicioso como a sombra ao corpo, é que «os dez apóstolos, depois de ouvirem aquelas palavras, se indignaram contra os dois irmãos».
Não é, ainda hoje, procurada a intervenção de amigos ou de parentes para obter certas promoções eclesiásticas? E não será mais culpável esta ambição que a dos Apóstolos? Certamente que sim, porque não descera ainda então sobre eles o fogo purificador do Pentecostes.
Quando os primeiros padres da Lei nova discutiam entre si para averiguar qual deles era o maior, Nosso Senhor deu-lhes esta bela lição de humildade, corroborada já pelos Seus exemplos: «Os reis dos gentios dominam sobre eles e os que têm autoridade sobre eles apelidam-se benfeitores. Não há de ser, porém, assim entre vós outros: o que entre vós é o maior, faça-se como o mais pequeno, e o que governa seja como o que serve.
Porque, qual é maior: o que está sentado à mesa ou o que serve? Não é maior o que está sentado à mesa? Pois eu estou no meio de vós outros, como o que serve»[11].
Este texto faz compreender a maravilha a vacuidade da vanglória. Os apóstolos não procuravam saber qual deles era o maior em zelo, em virtudes, em boas obras, mas questionavam a supremacia nas honras e no conceito público. Bem podemos avaliar quanto é egoísta e insaciável o espírito de ambição e quanto magoaria a natureza sensível de Cristo aquela discussão entre os Apóstolos precisamente quando o Salvador acabava de lhes lavar os pés, algumas horas antes de sofrer morte ignominiosa. Não acontecerá hoje o mesmo? Os padres do nosso tempo são todos isentos dessa funesta emulação em obter lugares proeminentes e honoríficos? Quantas vezes não volvem olhares de cobiça para algum que está prestes a vagar, ainda mesmo enquanto se conserva entre a vida e a morte aquele que o ocupa!
Noutra ocasião perguntaram bruscamente os Apóstolos a Nosso Senhor «quem era o maior no reino dos céus?» E Jesus chama um menino, apresenta-o como modelo de humildade, porque ainda o não queima a febre de ambição, vanglória ou inveja, que agita e consome os corações orgulhosos e arrogantes, e assim lhes fala: «Em verdade vos digo que, se vos não converterdes e não vos tornardes semelhantes às criancinhas, não entrareis no reino dos céus. O que se humilhar e se fizer como este menino, esse será o maior no reino celestial»[12].
E que razões poderemos aduzir para justificar a nossa vã complacência e egoísmo? Que tens tu, ó homem, diz o Apóstolo, que não recebesses. E se tudo recebestes, porque te glorias como se não houveras recebido?»[13] Com efeito, não podemos arrogar-nos a propriedade absoluta nem a glória dos dons, que a Providência nós dispensou; apenas nos pertence o seu usufruto, e esse, muito efêmero porque andamos arriscados a perdê-lo a cada instante.
O animal de carga que transporta mercadorias preciosas, não tem, por esse motivo, mais valor, nem se gaba dessa condição como duma nobreza que lhe seja própria. Se fomos escolhidos para vasos de honra, essa eleição não há de constituir para nós motivo de vanglória, antes deve sê-lo de humilde gratidão.
Basta, enumerar os principais dons naturais e sobrenaturais, que recebemos de Deus, para da incerteza dos mesmos concluirmos imediatamente que poucos são os que exultam e se orgulham na posse deles.
Poderemos jactar-nos da nossa saúde ou da beleza física que a doença mais ligeira muitas vezes arruína e até faz desaparecer? Não será insânia comprazermo-nos em nossos talentos e perfeições intelectuais? Pois não é verdade que o espírito mais brilhante se sente mergulhado em trevas espessas, quando tenta penetrar em campos do saber vastíssimos, mas ainda insondados? Não acontece que, às vezes, uma pequena enfermidade, o priva da sua auréola fulgente, enquanto não chega a velhice que lhe rouba a energia e o paralisa, ou a morte que o apaga?
Quem faz caso da estima pública ou aceita os incensos da adulação? Só quem não sabe pela história ou pela própria experiência quanto é inconstante a aura popular e quão efêmeros e caprichosos são os aplausos dos homens.
Um grande prelado que, nos belos dias de sua vida, tinha palmilhado o caminho da glória e vira os escolhos das honrarias, que se aquecera ao calor de régios sorrisos e recebera as homenagens aduladoras dos homens, exclamava, ao ver o sol dá prosperidade esconder-se na orla do horizonte:

«Cromwell, I charge thee, fling away ambition;
By that sin fell the angels, how can man then,
The image of his Maker, hope to win by't? »[14].

Daria provas de grande presunção aquele que se gloriasse dos dons espirituais, esquecendo o triste fim dum Salomão ou dum Judas. Não se glorie o sábio no seu saber, nem se glorie o forte na sua força nem se glorie o rico em suas riquezas. Mas aquele que se gloria; ponha sua glória em me conhecer, diz o Senhor[15].          
Assim como «o orgulho é detestável diante de Deus e dos homens»[16] assim a humildade é amada e querida do céu e da terra. Tão elevada é a estima desta virtude, tão grandes e poderosos são os seus atrativos aos olhos do próprio mundo, que todos desejamos passar por humildes, repelimos até a suspeita de altivez ou de soberba e, por maior que seja o orgulho em nós, procuramos dissimulá-lo com o véu da modéstia.
A humildade gera a alegria e a tranquilidade.
«Aprendei de mim, dizia Nosso Senhor, que sou manso e humilde de coração e em vossa alma reinará a paz»[17]. Wolsey só se voltou para Deus, no qual encontrou a paz e uma doce tranquilidade, depois que perdeu o favor do Rei e da Corte e se desvaneceram todas as suas esperanças de humana ambição:

«Cromwell. How does Your Grace?
Wolsey. Vhy, well;
Never so truly happy, my good Cromwell.
I know myself now; and I feel within me.
A peace above all earthly dignities.
A still and quiet conscience. The King has cured me;
I humbly thank his grace: and from these shoulders
These ruin'd pillars, out of pity taken
A load that would sink a navy, too much honor:
O’t is a burden, Cromwell, 't is a burden,
Too heavy for a man that hopes for heaven».[18]

Quando procuramos a causa de nossos desgostos e perturbações, quase sempre encontramos o desejo da estima ou o receio da humilhação. O que tem conhecimento profundo e claro de seu próprio coração e sabe defender-se contra uma ambição mórbida, não se perturba facilmente, ainda que lhe dirijam palavras injuriosas ou lhe retirem a estima: não o inquieta o pensamento de que outros o vêem um pouco como ele a si próprio se vê. A ausência de alguns sinais de respeito ou de algumas provas de deferência não o irrita, porque lhes não tinha amor desordenado.
A mansidão é irmã inseparável da humildade, e dos mansos disse Nosso Senhor: «Bem-aventurados, porque eles possuirão a terra»[19] de seu próprio coração.
Todos os homens têm uma sede insaciável de honra. Este desejo é universal; portanto não é ilegítimo, porque foi Deus quem no-lo infundiu no coração. O nosso erro, a nossa falta está em trabalharmos pela glória humana em vez de nos apaixonarmos pela glória divina. Ora só a humildade nos patenteia o caminho da verdadeira glória.
Na parábola do festim nupcial, Nosso Senhor deixa-nos entrever a proeminência gloriosa de que hão de gozar os humildes no banquete celeste do grande Rei: «Quando vos convidarem para um festim de núpcias, ide ocupar o último lugar, porque assim, quando chegar quem vos convidou, dir-vos-á: meu amigo, vinde mais para cima; e este convite será para vós motivo de glória perante os outros convidados. Todo o que se exalta será humilhado e todo o que se humilha será exaltado»[20]. Exemplo frisante é a Santíssima Virgem Maria: «Deus, disse Ela, olhou para a baixeza da sua serva e todas as gerações me chamarão bendita... Ele derrubou de seus tronos os grandes e exaltou os humildes»[21].
«Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, sob a mão onipotente de Deus, para que Ele vos exalte no dia de sua visita»[22].
S. Paulo declara expressamente que a sublime glorificação do Homem-Deus que reina no céu acima dos anjos, dos arcanjos, dos principados e das potestades, acima de tudo que não é Deus, constitui a recompensa das humilhações profundas que sofreu por motivo da Encarnação, durante a sua vida mortal. «Humilhou-se e humilhou-se até à morte e morte de cruz e por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão no céu na terra e nos infernos, e toda a língua confesse que o Senhor Jesus está na glória de Deus Padre»[23].
No sermão da montanha o nosso divino Redentor manda-nos evitar toda a ostentação nas obras de piedade e de caridade e solenemente afirma que não podem contar com uma recompensa eterna os que praticam boas obras para atrair as atenções do mundo. «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens para serdes vistos por eles; aliás não tereis recompensa junto de vosso Pai que está nos céus. Assim, pois, quando deres esmola, não toquem trombetas adiante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados dos homens; em verdade vos digo, já receberam a sua recompensa. Mas quando dás esmola, não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique secreta; e teu Pai, que vê o que fazes em segredo, te recompensará. E quando fazeis oração, não sejais como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos dos homens; em verdade vos digo, já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando quiseres orar, entra no teu aposento e, fechada a porta, invoca teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que fazes em segredo, te recompensará»[24].



[1] II Cor., III, 4 e 5.
[2] Gal., VI, 3.
[3] II Cor., X, 17,18.
[4] Mat., XI, 29.
[5] João, XIII, 12-15.
[6] Fil., II, 3-11.
[7] João, VIII, 50-54.
[8] João, V, 44.
[9] Luc., X, 21.
[10] Mat., XX, 21-22.
[11] Luc., XXII, 25-27.
[12] Mat., XVIII, 2-4.
[13] I Cor., IV, 7.
[14] Crowell, conjuro-te que afastes para longe de ti a ambição. Foi este pecado que fez cair os anjos. Como pode, pois, o homem, imagem do seu Criador, alimentar a esperança de encontrar nela um meio de sair-se bem?
[15] Jerem., IX, 23, 24.
[16] Ecl., X, 7.
[17] Math., XI, 29.
[18] Cromwell.- Como está, Vossa Eminência? – Wolsey.- Muito bem; e até nunca me senti tão feliz, meu caro Cromwell; dentro de mim há uma paz muito superior a todas as grandezas da terra, uma consciência calma e tranquila. O rei curou-me; por isso lhe rendo humildes ações de graças. Por piedade tirou-me de cima dos ombros, pobres colunas em ruínas, um fardo que faria afundar um navio. Oh! Sim! Um excesso de grandeza é bem um fardo, Cromwell, um incomportável fardo para quem aspira ao céu”. (Shakspeare, Henry VIII).
[19] Mat., V, 4.
[20] Luc., XIV, 10-11.
[21] Luc., I, 48, 52.
[22] I Ped., V, 5,6.
[23] Fil., II, 8-11.
[24] Mat., VI, 1-6.