terça-feira, 29 de junho de 2010

Mão firme

Mão firme



É necessário dizer aqui algumas palavras sobre a disciplina e a autoridade. O apóstolo Paulo escrevia:

"Educai os vossos filhos numa severa disciplina".

"Um filho que na juventude foi criado sem disciplina traz a desonra para a sua mãe".

"Se tiveres filhos, educa-os desde os primeiros anos. O coração da criança inclina-se para o mal, mas a disciplina rigorosa leva-os para o bem".

A Igreja reprovou sempre o pensamento naturalista que entrega a criança à sua própria iniciativa e que, em vez de levar à liberdade dos filhos de Deus, leva à escravidão das paixões. É um erro extraordinariamente perigoso pensar que a criança será boa se se lhe permitir crescer de uma maneira natural. Na realidade acaba por ser um autêntico selvagem...

Um bloco de mármore precisa de um duro cinzel para vir a ser uma obra de arte e as mãos da mãe têm de ser enérgicas para cinzelar o espírito do filho.

Christoph Schmid (1768-1854) conta que a mãe tinha habituado os cinco filhos a comer qualquer alimento. "Há pessoas adultas - dizia-lhes ela - que não podem comer desta carne ou daquela verdura apesar de terem boa saúde e é sintoma de que não receberam uma boa educação porque esses costumes devem ser arrancados desde o princípio. Fora das refeições, não nos permitia comer e não nos dava nada para mordiscar de vez em quando".

Depois do sol posto, os filhos nada têm que fazer na rua. A partir dessa hora, as ruas pertencem às forças do mal e nada de bom podem aprender se andarem a divagar por elas. Mesmo nos jogos, a mãe deve estabelecer uma certa ordem e um certo sentido de disciplina. Quando o filho, nas suas corridas pela casa, tropeça com as mesas ou com as cadeiras, a mãe não deve chamar "má" à mesa ou "estúpidas" às cadeiras. A criança deve aprender a saber sofrer um pouco e a ter mais cuidado no futuro. A demasiada compaixão é prejudicial.

(Excertos do livro: A mãe, pelo Cardeal Mindszenty)

PS: Grifos meus.

ORAÇÃO PELO PAPA

ORAÇÃO PELO PAPA



Ó Jesus, cabeça invisível da Santa Igreja, que a fundastes sobre uma firme pedra e prometestes que as portas do inferno não prevalecerão nunca contra Ela, conservai, fortificai e guiai aquele que lhe destes por cabeça visível.

Fazei que ele seja o modelo do Vosso rebanho, assim como é o seu pastor. Seja ele o primeiro por sua santidade, doutrina e paciência, assim como o é por sua alta dignidade. Seja ele o digno vigário de Vossa caridade, assim como o é da Vossa autoridade.

Inspirai-lhe um zelo ardente da Vossa glória, da salvação das almas e da santa Religião. Dai-lhe coragem invencível para opor-se aos estragos do erro e da impiedade. Dai-lhe a plenitude de Vosso espírito, para conduzir a barca agitada de Vossa Santa Igreja através dos escolhos que a cercam.

Consolai seu coração aflito, sustentai sua alma abatida, fazei voltarem suas ovelhas desgarradas.

Ajudai-lhe a levar o peso da sua alta dignidade e de todos os trabalhos que a acompanham.

Dignai-Vos, ó meu Deus, escutar benigno os votos que Vos dirigimos por ele, e concedei-lhe longos anos, para aumentar a Vossa glória e o triunfo da Vossa santa Religião. Amém.

V: Oremos pelo nosso Sumo Pontífice (Bento XVI)
R: O Senhor o conserve, vivifique e beatifique na terra, e não o entregue nas mãos de seus inimigos. Amém.

Pai nosso... Ave Maria... Glória ao Pai...

(Indulgência parcial)

Jesus, Nosso Senhor, cobri com a proteção do Vosso divino Coração o nosso santíssimo Padre (Bento XVI), e sede sua luz, sua força e seu consolo.
(Indulgência parcial)

(Fonte: ADOREMUS: MANUAL DE ORAÇÕES E EXERCÍCIOS PIEDOSOS, de Dom Frei Eduardo José Herberhold, OFM, bispo titular de Hermopolis Magna e prelado coadjutor de Santarém, 15ª edição, 1929, páginas 287-288)
 
PS: recebido por e-mail.

II. TERNURA DO CRISTO

II. TERNURA DO CRISTO



O segundo sentimento que ocupa o Coração do Cristo é o cuidado real de mostrar aos Seus a Sua viva e profunda ternura.

Importa ver, ouvir, gostar as Suas derradeiras e intimas conversações, naquela noite suprema do Cenáculo. Há muito escolheu Ele o lugar.

Ainda nesta escolha se afirma a Sua Divindade.

– Ide, diz a Pedro e a João, encontrareis à porta da cidade um homem que carrega um cântaro d’água (era presumivelmente a porta mais próxima do bairro de Sião e que levava à Fonte da Virgem onde manava a água mais pura de Jerusalém): seguireis esse homem, continua Jesus, ele entrará na casa de um pai de família que tem uma sala alta à minha disposição, está toda mobiliada. É aí...

Assim, Ele viu tudo, a porta, o homem, o cântaro e até a mesa posta e os leitos que a circundam.

Dessa forma, tinha Ele amigos secretos, em cuja casa podia entrar a qualquer hora.
Tem-nos ainda, contra os quais saca quando Lhe apraz. São os Seus bancos particulares onde se mantém em reserva a vida e a subsistência dos Seus pobres e dos eleitos sofredores.

***


Portanto, naquela sala estão todos reunidos, os Doze.

Faz-se primeiro o essencial, o repasto espiritual: estão todos de pé à volta da mesa, empunhando um bordão, com as vestes arregaçadas, os rins cingidos, as sandálias nos pés: o traje dos viajantes. O cordeiro está no prato, no meio. Faz-se pressa em cumprir a cerimônia. Come-se a carne com as alfaces amargas, e isto se faz em silêncio.

Após o que, podem os Apóstolos crer que está tudo acabado. Mais não se fizera nos outros anos. Poderão pois retirar-se depois de tomarem juntos a refeição de costume que seguia a ceia pascal.

Entretanto, Jesus parece preparar outra coisa mais...

Apenas começou Ele a refeição noturna, se levanta, deixa o manto e a veste branca, conservando só a túnica vermelha, toma a toalha, faz como um criado, cinge-a em torno aos rins, derrama água numa bacia e põe-se a querer lavar os pés a cada um dos Apóstolos.

Tudo é surpreendente nessa ação. Nunca o Mestre dera semelhante prova de deferência. Ele pôr-se de joelhos e lavar os pés dos discípulos!...

Compreende-se o movimento de Pedro. Aquilo era contra a dignidade do Mestre e do Deus.
Sim... mas agora é a hora da ternura.

Deixai, mais tarde compreendereis e então fareis como Eu estou fazendo!

Admirável dispensação da luz divina: repito, nós não podemos tudo compreender a um tempo... Se Deus não fizesse algo que nos transcenda e nos admire, agiria como homem e não como Deus. Lava Ele, pois, os pés, enxugando-os... em meio à comoção geral.

Eis porém que se põem novamente à mesa; há leitos para se estenderem. Jesus está no meio. João está no mesmo leito que Ele, de tal sorte que basta inclinar-se para trás para apoiar a cabeça no peito do Mestre. Pedro está no leito do lado. Judas não devia estar muito longe, pois daí a pouco Jesus lhe falará sem que os outros ouçam e poderá estender-lhe um pedaço de pão.

Entrementes, come-se, bebe-se... guarda-se silêncio; os corações estão cheios de aflição, os olhares fixam-se comovidos no semblante de Jesus... Ele baixa os olhos, parece mais triste que de costume; por fim diz com um suspiro:

– Como Eu desejava comer esta Páscoa convosco... antes de padecer!

E pouco depois:

– Em verdade é a última...

Já não comerei convosco, já não beberei até que venha o Reino de Deus... isto é, até que Eu haja chegado à glória eterna.

E isto dizendo, faz circular uma taça cheia de vinho, como era de uso fazer no começo das refeições: cada um molha nela os lábios.

Depois recomeça o silêncio.

Jesus tem um peso no Coração: sente-se, vê-se, Ele olha em torno de si, quer falar, cala-se... oprime-o o doloroso segredo. Afinal perturba-se visivelmente; altera-se-Lhe o semblante, o segredo estala: – Em verdade, diz como acabrunhado, há aqui um que me trairá!

Um! – Ele come comigo, prossegue o Salvador... põe comigo a mão no prato.

Persiste ainda o uso no Oriente de, nas refeições, tomar cada conviva no prato colocado no meio a porção que lhe convém; todos põem pois a mão no mesmo prato.
– Um dos Doze, repete Jesus...

Os Apóstolos ficam consternados... de todo lado vozes ansiosas se elevam:

– Senhor... sou eu?

No meio das interrogações confusas, Judas faz também a mesma pergunta:

– Mestre, serei eu?

– Tu o disseste, responde Jesus em voz baixa... és tu!

Ninguém ouviu esta palavra. Portanto o traidor é conhecido, mas por delicadeza não é revelado.
E é em presença dele que Jesus vai realizar o Seu prodígio de amor... o Seu excesso de ternura: Cum dilexisset suos, in finem dilexit eos – Tendo amado os Seus, amou-os até o fim (Jo 13, 1).

Judas jurou trai-lO... Os trinta dinheiros já lhe estão na bolsa. O ajuste está de pé.

Jesus sabe que dentro de algumas horas O vão entregar... haverá paus, armas, cordas, será de noite, ao clarão dos archotes... haverá sobretudo um traidor que O virá prender por um beijo.

Ora, antes de ser entregue, quer-se Ele próprio entregar... toma a dianteira.

E uma palavra Sua vai lançá-lO de algum modo, de pé e mãos atadas, à humanidade até à consumação dos tempos... e é assim que a Sua ternura triunfará da malícia humana.

A refeição tocava o seu termo. Havia diante de Jesus um pão ázimo intacto. Tomou-o como se o quisesse comer, partiu-o em vários pedaços, em doze provavelmente, e súbito diz:

– Tomai, comei.

Isto é o meu Corpo que vai ser dilacerado, partido, feito em pedaços como este pão, e entregue por Vós.

Tomai, ei-lo, Eu vo-lo dou, Eu vo-lo entrego.

E faz circular o prato onde havia deposto os doze fragmentos. Cada qual tomou um, Judas como os demais.

– Fareis isto em memória de Mim, acrescentou Jesus.

Foi assim que Ele se entregou antes do beijo do traidor.

Quando Jesus se entrega, o faz deveras. Nunca se tornou a tomar depois, e não se tornará a tomar nunca. Este caráter, esta fisionomia de entregue atravessaram os séculos, é ainda assim que Ele está no meio de nós e nós não pomos reparo... não acusemos a indiferença aparente dos discípulos durante aquela noite em que eles fugirão: a nossa é tão grande e menos desculpável.

Entretanto a ceia terminava. Findava na estupefação e no silêncio. Restava uma última cerimônia antes do hino final: passava-se de ordinário uma taça cheia de vinho, como se fizera no começo, e bebia-se dando graças.

Jesus encheu a taça, rendeu graças, mas acrescentou ao mesmo tempo: – Bebei todos, é meu Sangue... o Sangue da nova aliança que Eu contraio com a humanidade... o Sangue que vai ser derramado amanhã pela remissão dos pecados.

E a taça circulou por toda a mesa.

Jesus parece acompanhar o Seu Sangue que passa assim de lábios em lábios... Quando chega ao de Judas... Ele não se pode conter... a tortura íntima é por demais viva: – Eis, diz de repente, a mão do traidor está comigo à mesa. E ajuntou após um silêncio: – Ai daquele que me trai!...


De novo vozes confusas e interrogações misturaram-se na sala; foi nesse momento que João inclinou a cabeça para trás, como para consolar o Senhor, e perguntou-Lhe afetuosamente:
Este doloroso anátema sacudiu o espanto entorpecido dos Apóstolos.

– Mestre, quem é?...

Deus não recusa nada aos desejos da inocência.

– Aquele a quem Eu apresentar um pedaço de pão molhado nesse prato, diz Ele baixinho, ao ouvido do predileto.

E estendeu um bocado de pão umedecido, como sinal de amizade, a Judas.
Judas tomou-o, e o coração tornou-se-lhe definitivamente a presa do demônio.

Levantou-se de chofre da mesa; por uma última delicadeza, Jesus, que o vê sair, diz-lhe em voz mais alta:

– O que tens a fazer, faça-o logo.

Ele sai, era noite já profunda. Jesus seguiu-o com um derradeiro olhar. Que olhar!
E, quando a porta se fechou atrás do traidor, um suspiro se Lhe exalou do peito aliviado; iluminou-se-Lhe o rosto.

– Agora, diz, a glória de Deus vai refulgir sobre o Filho do Homem!

A contar de Judas... a traição pelo ente amado tem sido sempre a tortura mais temível ao coração que ama: não a poupa Deus aos que quer mais semelhantes a Seu Filho.

É esse ainda um dos caracteres reservados da Paixão: quem pode tê-lo está de posse de um penhor bem consolador de predestinação.

+ + +

(“A Subida do Calvário”, do padre Louis Perroy, SJ)

PS: Recebido por e-mail, mantenho os grifos.

AS TORTURAS DO CORAÇÃO

SEGUNDA PARTE


AS TORTURAS DO CORAÇÃO

I.  DOS SENTIMENTOS DO CRISTO
NO MOMENTO DE ENTRAR NA SUA PAIXÃO:
A SUA ALTIVEZ

Parece que Jesus tinha avivado em si dois sentimentos nos dias que precederam a Sua dolorosa Paixão.

Um grande sentimento da Sua dignidade pessoal em primeiro lugar, e a seguir uma profunda e vivíssima ternura com respeito àqueles que vai deixar.

E, na realidade, a primeira coisa com que se preocupa – e já de longa data – é com que os Seus padecimentos não sejam um objeto de escândalo.

Parecia tão estranho que aquele enviado de Deus, aquele Messias, fosse entregue aos gentios, cuspido, espezinhado, coberto de feridas, coroado de Sangue e, afinal, crucificado!

E então Jesus prepara os Seus discípulos para esse terrível destino, e prepara-os por Suas palavras, por Suas alusões, algumas vezes por Suas repreensões.

Absit, Domine, exclama Pedro; não, Senhor, não pode ser assim: Vós flagelado, Vós crucificado!
Em verdade, em verdade, durus est hic sermo, quis potest audire? Esta palavra excede os limites, não pode isto ouvir-se e suportar-se.

– Assim será porém, Pedro... e tu mesmo, mais tarde, quando tiveres envelhecido, quando tiveres compreendido, deixar-te-ás conduzir à mesma Cruz, às mesmas ignomínias.
E esta palavra era oculta para eles – para Pedro como para os outros –, eles não compreendiam.

Nós não podemos compreender por nós mesmos a terrível necessidade dos Calvários íntimos, públicos ou pessoais.

Oportuit Christum pati(: Convinha ao Cristo o padecer). Era preciso.

Deus emprega às vezes toda a nossa vida em nos fazer compreender este doloroso Oportet, mas a ele temos de chegar se quisermos ser salvos.

Até lá, Jesus quer poupar os Seus fiéis amigos. Previne-os então, desenrola previamente as páginas sangrentas do livro.

Sabe que se vai tornar o ente repugnante que fará desviar os olhos e provocar náuseas... o verme que se torce no Sangue e na lama... o homem das dores... mas por trás desse homem, desse verme, daquela Face que mete dó... há, no entanto... o Deus.

Não o esqueçais, meus caros filhinhos...

Por isto que Ele se vai fazer tão miserável, sair da Sua condição e da Sua situação, descer a fundo no opróbrio, não quisera fossem esquecer o que Ele é, de onde vem, com Quem sempre permanece.

– Um momento, e já não me vereis, diz melancolicamente. Mas, ficai sabendo:

De Deus venho, a Ele torno, estou com Ele; vedes que Eu vos falo claro para que compreendais.

– Pois sim, prosseguem os Apóstolos. Falais de fato claramente. Agora cremos que sois de Deus.
– Credes! Responde Jesus... e a hora vem, já veio, em que todos vós ides fugir e me deixareis só.

Dessa forma, é um misto de sentimentos diversos em que se afirma a Sua Divindade, no momento mesmo em que ela se vai eclipsar dolorosamente.

Esta afirmação daquilo que somos, assim pelo sangue como pela condição, em face daqueles que nos vão calcar aos pés, é natural a todo ente superior.

A abdicação da própria dignidade pessoal é a última que a gente se resolve a assinar.

Naquela lúgubre cena histórica que se desenrola em Varennes, no início da paixão da Realeza Francesa, quando a família real é brutalmente acuada pela turba chocarreira a um canto da tenda ordinária de um vendeiro, e quando Luiz XVI entra ridiculamente metido no seu disfarce de criado, Maria Antonieta, que tinha sangue, tem como que um sobressalto de indignação régia: o rubor assoma-lhe ao rosto em vendo o cenário que a rodeia, e aos que falam familiarmente demais ao príncipe, ela diz vivamente: “Mas afinal é o Rei!” Ai! Ela dirá também mais tarde: “Nós bem que queremos um Calvário, contanto que elevado!”

Às vezes não se tem sequer a irrisória consolação de subir no sofrimento. Há que descer aos próprios olhos e aos olhos de todos.

Jesus, que sabe que esta especial humilhação Lhe será reservada, mesmo aceitando-a de antemão, não quisera perder toda consideração aos olhos dos Seus, e nos Seus profundos abaixamentos deseja que a nossa piedade advertida a nós próprios nos repita amiúde: Ecce Rex vester! É sempre o vosso Rei!

Assim, não nos é proibido sofrer ao nos vermos diminuídos. Assim, há uma legítima reivindicação da própria dignidade.

Tudo isto me consola, ó meu Deus, mas como é assustador pensar que a gente poderá às vezes sofrer essa desconsideração e esse desprezo dos nossos, para calcar ainda mais nas Vossas a própria vida e morte: Fiat.

Cumpre, pois, entrar na Paixão baixando a cabeça, depois de a haver erguido um instante para mostrar que podia cingir uma coroa: Fiat.

Breve não terá Jesus outro rasgo senão este; outra palavra senão este termo tão breve e tão cheio.
Terá perdido a Sua altivez, e a Sua força estará por terra.

+ + +

(“A Subida do Calvário”, do padre Louis Perroy, SJ)

PS: Recebido por e-mail, mantenho os grifos.

domingo, 27 de junho de 2010

Princípios da vida de intimidade com Maria Santíssima - NOÇÕES FUNDAMENTAIS

Primeira parte


(Princípios da vida de intimidade com Maria Santíssima
segundo os Santos, os Doutores e os Teólogos
pelo Pe. Julio Maria,
missionário de Nª. Srª. do SS. Sacramento)

Sob este título trataremos, não somente do fim da devoção para com a divina Mãe de Jesus, mas do fim mesmo de toda a religião e de todas as criaturas.

No Apocalipse Deus chamou-se o principium et finis (Apoc. 1.8), o princípio e o fim de tudo: isto é, da devoção, assim como o é de todas as obras humanas.

Ele é então o fim de nosso amor para Maria, como também é o princípio.

O princípio de toda obra sobrenatural é, de fato, a graça. Ora, só Ele é o autor e a fonte da graça. Nele nós a devemos procurar e após tê-la obtido, pela via e pelos meios, que indicaremos mais adiante, é ainda a Ele que ela deve voltar, carregada de méritos.

É o que veremos, estudando sucessivamente Jesus Cristo em si mesmo, em nós e no próximo.

***

Capítulo I

NOÇÕES FUNDAMENTAIS

Antes de tratarmos as questões puramente doutrinais, nós exporemos aqui algumas noções gerais, de um importância capital, das quais nos devemos compenetrar, para melhor comprender a extensão e o fim dessas páginas, onde vão colocar-se sob nosso olhar as questões mais delicadas e mais elevadas sobre nossos mistérios e sobre nosso dogma.

Rogamos ao leitor não passar adiante, sem se compenetrar destas noções que resumiremos nos cinco princípios seguintes:

PRIMEIRO PRINCÍPIO:
Nossos dogmas são a fonte da piedade, pelo conhecimento que conferem de seu objeto e pelos sentimentos que inspiram.

SEGUNDO PRINCÍPIO:
Os mistérios, conquanto que incompreensíveis, nos põem em contato com o objeto que eles encerram, e que é uma iniciação à vida sobrenatural.

TERCEIRO PRINCÍPIO:
A primeira resolução de toda alma que quer honrar a Maria, deve ser, não somente amá-lA, mas antes de tudo estudá-lA.

QUARTO PRINCÍPIO:
A vida de intimidade não é um caminho particular pois ela foi indicada pelo Senhor para todos os homens, mas pode tornar-se uma devoção particular, concentrando ali suas forças e seus esforços.

QUINTO PRINCÍPIO:
A vida de intimidade com Maria abrange todo o dogma da economia da graça, reunindo admiravelmente o fim, o caminho e os meios da salvação, indicados por Nosso Senhor.

_________________________________

PRIMEIRO PRINCÍPIO

Nossos dogmas são a fonte da piedade,
pelo conhecimento que conferem de seu objeto
e pelos sentimentos que inspiram.

Pensa-se exageradamente que a parte dogmática da religião é fria, sem alma e puramente especulativa.

Há nisto um erro tão sem fundamento quão funesto para a piedade. Esta falsa idéia da "Dogmática" provém da distração, do espírito de dissipação com que se faz a leitura de livros deste gênero.

Nos dogmas há belezas, há sentimentos que se assemelham a estas cores delicadas que um dia nublado desfigura. Não se deve lê-los sem meditar e sem orar, porque, para penetrar as coisas divinas, é preciso ter um senso divino, e é o Espírito Santo quem no-lo dá.

Sem recolhimento e sem oração não se pode compreender as belezas, nem sentir o calor das verdades dogmáticas.

O dogma nos ensina a conhecer a Deus. Ora, que há que possa ser comparável a Deus?... Deus, perfeição infinita, beleza suprema, fonte e alimento de toda vida!

E conhecer a Deus é ver como este Ser de Majestade nos ama, a nós tão pequenos; é saber que Ele nos convida a gozar de Sua beatitude; e que de certo modo fazendo-nos participantes de Sua própria natureza, nos dá direito a que o chamemos: "Meu Pai!"

Bem compreendidas, estas grandes verdades trazem verdadeiros jatos de luz e de calor, nos quais a nossa alma vai haurir os sentimentos da mais terna e mais elevada piedade.

Aqui a imaginação encontra seus carinhos; a esperança, os seus anelos; a generosidade, os impulsos de grandes dedicações e o amor exulta invejando santamente crescer e embelezar-se, para se aproximar do objeto que ama e ao qual  quer agradar.

Como vedes, Deus não é somente a fonte da piedade, porque Ele no-la dá, mas é também porque as verdades dogmáticas, através das quais Ele se nos manifesta, são o verdadeiro alimento desta piedade. Meditar estas verdades é nutrir-se de Deus.

Quando o verão nos apresenta os campos repletos de trigo sazonado, nós dizemos: eis aí a vida do homem; de igual modo, contemplando as verdades da religião, pode dizer-se: eis aqui a vida da alma.

SEGUNDO PRINCÍPIO

Os mistérios, conquanto que incompreensíveis,
nos põem em contato com o objeto que eles encerram,
e que é uma iniciação à vida sobrenatural.

Em matéria de religião, as verdades mais abstratas, os mistérios mais profundos têm o seu lado prático. Alguns poderiam imaginar que ocupar-se de coisas incompreensíveis, como são os mistérios, é agitar-se no vácuo, sem nada apreender.

Esta, é uma objeção feita por certos sábios modernos, mas que está em plena contradição com os seus próprios atos. Se lhes acontece lançar um olhar distraído sobre os nossos dogmas, imediatamente gritam: isto é muito subtil, demais misterioso!

Mas, então, ó sábios inconsequentes, se a subtilidade e a profundeza são defeitos, porque então fazeis vós vossas investigações ao microscópio, para chegar até as mais secretas profundezas das coisas?...

Quantas investigações engenhosas, que de raciocínios subtis, para estabelecer vossas descobertas!...

E tendes razão.

Mas, como é que nós não temos razão, quando empregamos vossos métodos, para um objeto de uma importância muito maior?... Humildemente confessai que é somente a vossa ignorância a respeito dos nossos mistérios que vos faz desdenhá-los.

Quereríeis compreender no ser Infinito o que nem sequer sois capazes de compreender em um átomo.

Logo, distingui bem: os mistérios não são subtilezas: são simplesmente verdades, acima de nossa razão; mas verdades reais, vivas, incompreensíveis quanto ao fundo, mas não quanto às noções que delas Deus mesmo nos dá.

Os mistérios ocultam realidades e realidades compreensíveis. Deus nos revela o mistério, não para que nós o penetremos, o que nos é impossível, mas para nos pôr em contato com o objeto que ele encerra.

E qual é este objeto?
É a iniciação à vida sobrenatural.

Quantas luzes, por exemplo, não brotariam do mistério da Encarnação, da Redenção, da SS. Trindade, da graça,  etc... quantos jatos luminosos, que esclareceriam tudo, que iluminariam tudo, fazendo-nos entrever a divindade e as sublimes relações existentes entre ela e nós.

Estes mistérios esclarecem tudo; entretanto eles mesmos permanecem impenetráveis aos nossos olhos. É o que nos mostra a necessidade de estudar o dogma, de contemplar os mistérios, afim de que a luz e o calor que deles dimanam nos aclarem e aqueçam.

TERCEIRO PRINCÍPIO

A primeira resolução de toda alma que quer honrar a Maria,
deve ser, não somente amá-lA, mas antes de tudo estudá-lA.

Uma lacuna muito comum da piedade em geral, e em particular para com Maria Santíssima, diz muito bem um profundo teólogo e ilustre escritor (Pe. Sauvé. SS.Culto do Coração de Maria C.V) é não ser bastante esclarecida sobre o inefável objeto que ela venera, é contentar-se com afeições que com o tempo podem esgotar-se ou pelo menos enfraquecer-se.

Tendo no espírito uma débil força, apenas esfriadas as primeiras impressões do fervor, o coração e a vida começam a sentir esta pobreza doutrinal.

Eis porque a primeira resolução de toda alma que quer honrar a Maria, deve ser estudá-lA, e estudá-lA com toda a sua alma.

Se é necessário procurar a verdade por todos os meios, é também a verdade que diz ser à Maria que se devem aplicar estas palavras; como ocupar-se de Maria, de seu amor, sem fazê-lo de todo o coração?...

Deste modo nascerá necessariamente o pensamento vivo e habitual de nossa Mãe, e este pensamento que produzirá o amor.

Em Deus o Verbo respira o amor - Verbum spirans amorem.
Em nós o pensamento de Maria deve respirar o amor.

Sem este estudo a devoção para com a Santíssima Virgem é necessariamente incompleta e superficial.

"Nós, diz ainda o Pe. Sauvé - obra citada - fazemos de Maria uma idéia fraca, pálida, incompleta. Maria Santíssima está em um canto da vida, em um altar lateral da alma, quando deveria ocupar aí o altar principal, unida a Jesus como a Mãe é unida ao Filho, no mistério da Encarnação ou de Belém, como a nova Eva ao novo Adão, sobre o Calvário e reinando com Ele em toda a parte".

Tal deve ser pois a primeira prática do nosso culto para com Maria: estudá-lA, para que deixemos de vez esta concepção indigna de Suas grandezas e de Seu amor.

QUARTO PRINCÍPIO

A vida de intimidade não é um caminho particular pois ela foi indicada pelo Senhor para todos os homens, mas pode tornar-se uma devoção particular, concentrando ali suas forças e seus esforços.

Para provar esta asserção, basta compreender bem o ensino de Nosso Senhor, ao nos lembrar continuamente a necessidade de estarmos unidos a Ele, para vermos em seguida o que é uma devoção particular.

Estas duas questões receberão o seu plano de desenvolvimento nos domínios deste estudo. Resumamo-las aqui sucintamente, para que a sua idéia esteja continuamente presente desde esse instante e esclareça as páginas que seguem.

Para provar que a vida de intimidade foi ensinada por Jesus Cristo, basta provar que Ele é o tronco, e nós somos os ramos. (S.João XV. 5)

Do mesmo modo que os ramos não podem produzir frutos, se não estão unidos ao tronco, também nós nada podemos, se não estamos unidos a Ele. (S.João XV. 5)

E orando ao Seu Pai por nós, Ele assim diz: "Meu Pai... que o amor com que amaste esteja neles". (S. João XVII. 26) Já no Antigo Testamento Ele se dizia o esposo de nossas almas: "Eu te desposarei e nossas núpcias serão eternas". (R.P.Coulé S.J)

A vida de intimidade não é pois uma vocação especial, mas sim o próprio fundamento e o fim do cristianismo. (S.Mateus, XI. 18)

O convite de Nosso Senhor não admite exceções: "Vinde a mim todos... (S. Mateus. XI 18) e aqueles que se julgam opressos de trabalhos, afazeres, das penas da vida, ele acrescenta: Vinde a mim todos vós que estais atarefados e afadigados, e encontrareis repouso". (S.Mateus XI. 18)

Sem dúvida, Deus não nos pede um misticismo de eremita, mas sim uma união íntima e constante com Ele, como condição essencial à vida sobrenatural.

Referindo-se a vida de intimidade, isto é verdade, como o é também, referindo-se à união com a SS.Virgem. E a razão é simples: é que Deus tendo desejado que todas as graças passassem pelas mãos imaculadas de Sua Mãe, nós devemos necessariamente, para receber estas graças ser unidos Aquele que no-las comunica.

Entretanto, é por ela que nós devemos ser unidos ao próprio Jesus. Jesus Cristo teria podido traçar-nos outro caminho, mas não o fez. Logo, o caminho único para chegar até Ele é Maria. E tanto isto é verdade, que o Beato Montfort escreveu: "aquele que diz ter Deus por pai, não querendo ter Maria por mãe, é um mentiroso e um enganador". (Vraie Devotion envers la Très S. V)

Sendo Jesus nosso modelo, é necessário que se possa dizer de nós, como se pode dizer d'Ele: "Maria de qua natus est Jesus". É necessário que nasçamos da Virgem, que sejamos educados por Ela, e que por Ela enfim subamos ao céu, como por Ela o Filho de Deus baixou até nós.

Considerada sob outros ponto de vista, esta prática, embora destinada a todos, pode ser o objeto de uma devoção particular.

Chama-se devoção particular a concentração de nossos esforços, reflexões e práticas, sobre um ponto determinado da religião, afim de melhor penetrá-lo e, por meio deste conhecimento mais profundo, dar-lhe todo o nosso coração.

Aqui a alma enamorada de Maria, desejosa de amá-lA cada vez mais, e com todas as suas forças, faz suas investigações sobre o mistério da vida de união com esta terna Mãe, concentra-se esforçadamente sobre este ponto e chega por assim dizer a condensar todas as suas afeições sobre esta prática.

Sem esquecer os outros mistérios, sem rejeitar as outras devoções, ela procura aplicar a esta toda a sua força e todo o seu esplendor. E isto é para ela de uma imensa vantagem, pois especializa-se nesta devoção e superioriza-se nela, do mesmo modo que um sábio, que se dedica a um ramo da ciência, em breve se torna especialista neste mesmo ramo.

Neste sentido a vida de intimidade com a Mãe de Jesus é verdadeiramente uma devoção particular e talvez a que mais agrada ao maternal coração de Maria.

QUINTO PRINCÍPIO

A vida de intimidade com Maria abrange todo o dogma da economia da graça,
reunindo admiravelmente o fim, o caminho e os meios da salvação,
indicados por Nosso Senhor.


Geralmente o dogma da graça não é bastante conhecido pelos cristãos, somente os sacerdotes, em consequência de seus estudos teológicos, conhecem todas as belezas, todas as riquezas ocultas nesta parte do dogma.

Os simples cristãos julgam que estas questões são demasiadamente abstratas, puramente especulativas, fora de prática. É um erro. A graça é a parte viva do cristianismo, é de certo modo o próprio Jesus Cristo.

O dogma da graça, sendo de uma maneira toda especial o fundamento e o fim da vida de intimidade com a Santíssima Virgem, encontrará aqui um desenvolvimento suficiente - o que raramente se encontra em obras populares - para mostrar a todos as riquezas e belezas desta divina economia, fazendo-o em uma linguagem bastante simples, para que seja por todos compreendido.

O fim da vida de intimidade com Maria outro não é senão Jesus Cristo. Ele é a cabeça; a Virgem é o pescoço; nós somos os membros unidos o pescoço e por ele a cabeça.

Tirai a cabeça, e o pescoço não tem mais razão de existir. Do mesmo modo, a união à Santíssima Virgem de nada serviria, se Ela não nos unisse ao Redentor, nossa cabeça.

O caminho a seguir é aquele que Jesus Cristo nos mostrou. Pode dizer-se que é Ele mesmo, pois tudo quanto se encontra em Maria é d'Ele. Digamos mais: Não está Ele mesmo em Maria e não nasceu d'Ela?

Unir-nos à Maria é pois unir-nos a Ele. Passar pelo caminho de Maria é ir diretamente e sem desvios ao encontro de Jesus.

E qual é o meio desta prática?

Este meio é a Encarnação. É Maria, de quem nasceu Jesus, que está encarregada de o produzir espiritualmente em nossas almas.

***

Assim, desde o início aparece claramente o princípio, a divisão, o conjunto e a perfeita concordância das três partes em que se divide esta obra.

Está traçado o nosso plano. Não é uma série de teses que estabeleceremos acerca da devoção à Santíssima Virgem; muito menos ainda é um estudo de Seu poder ou de Suas grandezas, mas simplesmente uma indicação do fim, do caminho e do meio de nossa vida de intimidade com Ela.

Este assunto, embora bem fixo aqui, é extremamente vasto, e não menos profundo. Abrange de certo modo toda a economia da graça em Jesus Cristo, em Maria e em nós.

E com efeito a ordem que seguiremos é a seguinte:

Jesus Cristo: Fonte de graça.
A Virgem Maria: Distribuidora da graça.
Nós: Necessitados e sujeitos da graça.

Jesus Cristo: O fim e a vida.
Maria: o caminho e o modelo.
Nós: os receptores e os imitadores.

Na PRIMEIRA PARTE estudaremos pois Jesus Cristo, como autor da graça. Estudá-lO-emos em si mesmo e considerado nos efeitos de Sua graça.

Na SEGUNDA PARTE  consideraremos Maria no plano divino, Suas plenitudes de graça e as incomparáveis riquezas de dons celestiais com que foi embelezada.

Na TERCEIRA PARTE veremos o papel de Maria junto a Jesus, para nos comunicar a graça - para nos santificar - bem como o seu papel junto a nós, para nos elevar até Seu divino Filho e nos tornar participantes da natureza divina.

Em outros termos poderíamos resumir tudo dizendo que:

Na primeira parte tratar-se-á da graça em Jesus.
Na segunda, da graça em Maria.
Na terceira, da graça de Jesus em nós, por Maria.

A conclusão geral deve ser:

- Ter os olhos fixos continuadamente sobre o fim.
 - Seguir exatamente o caminho que conduz a este fim.
- Empregar os meios, que nos fazem progredir neste caminho até o fim.

(Princípios da vida de intimidade com Maria Santíssima segundo os Santos, os Doutores e os Teólogos pelo Pe. Julio Maria, missionário de Nª. Srª. do SS. Sacramento, continua com o post: Natureza da Vida de intimidade)

PS: Grifos meus.

sábado, 26 de junho de 2010

Jesus e o mundo

143ª Contemplação

Jesus e o mundo


(Contemplações evangélicas, doutrinais e morais sobre a Paixão
de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Pe. Júlio Maria)


Prelúdios

Vejamos o divino Mestre, o olhar flamejante, o braço estendido, lançar as Suas maldições sobre a perversidade do mundo.

Meu Jesus, elevai-me acima deste mundo, e dai-me a graça de odiá-lo, de fugir dele, conforme as Vossas recomendações.

***

Jesus continua (Jo 16,8-11):

8 - E quando vier o Espírito Santo convencerá o mundo quanto ao pecado, à justiça e ao juízo.
9 - Quanto ao pecado, porque não creram em mim;
10 - Quanto à justiça, porque eu vou para o Pai e já não me vereis.
11 - E quando ao juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.

Depois de todas as sublimes virtudes que descobristes a Vossos apóstolos, ó Salvador amado, Vós lançais um último anátema ao mundo e repetis-lhes ainda uma vez que o mundo é Vosso inimigo - Omnes declinaverunt, simul inutiles facti sunt (Sl 13,3), que é perverso - Mundus totus in maligno positus est (I Jo 5,19) e que não pode haver o menor pacto entre o mundo e as Vossas instruções divinas, - Quae autem conventio Christi ad Belial aut quae pars fideli cum infideli (II Cr 6,15), pois que tudo que é do mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e orgulho da vida... - Quoniam omne quod est in mundo concupiscentia carnis est, concupiscentia oculorum et superbia vitae. (Jo 2,15)

Vossa doutrina, ao contrário, é pureza, desapego, humildade e mortificação... Si quis vult post me venire, abneget semetipsum, et tollat crucem suam et sequatur me (Mt 16,24). É portanto impossível servir a dois senhores, é preciso necessariamente amar um e odiar outro.

Os apóstolos compreendiam, sem dúvida, estas sublimes lições, mas a prática deixava ainda o são, eles entrevêem a elevação destas instruções... aspiram a reduzi-las em prática, mas falta-lhes esta convicção profunda que é o motor e o móvel dos atos generosos.

E na Vossa bondade sempre paciente e misericordiosa, ó Jesus, não lhes imputais como crime esta fraqueza, mas encorajai-los, dizendo-lhes que o que agora não compreendem, nem sabem ainda fazer, o Espírito Santo lhes ensinará e dará a força de praticar.

Quanto ao mundo, continuais, não cessais de dizê-lo, é preciso fugir dele, pois quem ama o mundo, não possui a caridade de meu Pai - Si quis diligit mundum, non est charitas Patris in eo (I Jo 2,15) - que é o princípio de salvação. Quando vier o Espírito Santo, Ele vos convencerá que o mundo é pecado, injustiça e perdição. - Arguet mundum de peccato, de justitia et de judicio (Jo 16,8)

Pecado, pois que os mundanos não crêem em mim, apesar das maravilhas que operei... e o obstáculo à sua fé é viverem no pecado e são seus pecados que os afastam de mim. - Iniquitates vestrae diviserunt intra vos et Deum vestrum (Is 59,2).

Injustiça, pois que eu volto a meu Pai, após ter ensinado e praticado a virtude, e no entanto eles me condenam, perseguem-me e dentro em pouco me darão a morte, como a um malfeitor, sabendo muito bem que eu sou inocente, mas não escutando senão o seu orgulho e o seu ciúme.

Perdição, porque Satanás, o príncipe do mundo, já está julgado e condenado. E a sorte dos aderentes e imitadores deve ser igual à do chefe que seguem. Aqueles que me seguem terão a vida eterna... aqueles que seguem a Satanás terão a morte eterna.

Meu Reino não é deste mundo... o reino de Satanás é deste mundo. Cada um é livre de escolher o seu mestre, apegar-se a ele e de esperar dele a sua recompensa.

Se eu não tivesse vindo e não lhe tivesse falado claramente da minha divindade, eles não teriam pecado em não ter acreditado em mim, mas agora eles não têm escusa de seu pecado - Si nom venissem et locutus fuissem eis, peccatum non haberent; nunc autem excusationem non habent de peccato suo (Jo 15,22) - e a incredulidade deles não pode ser senão o efeito de sua aversão por mim e pela minha doutrina.

Ora, aquele que a mim odeia, odeia a meu Pai. - Qui me odit, et Patrem meum odit (Jo 12,23) - Se eu não tivesse feito no meio deles obras que nenhum outro fez, eles não teriam pecado por não me terem reconhecido pelo Filho de Deus; mas agora eles as viram e não me deixaram de odiar a mim e a meu Pai.  Eis por que a sua sentença está pronunciada... como o foi a de seu pai Satanás: Onde está o pai lá estarão os filhos!

***

Ó Salvador adorável, que magistral lição dais a Vossos apóstolos e a mim. Eram-me necessárias estas palavras, estas condenações ao mesmo tempo formidáveis e precisas, para convencer-me da maldade do mundo de suas idéias, de suas máximas e de suas práticas.

Muito facilmente, infelizmente, eu me deixo invadir por essas ilusões de que o mundo não é tão mau como se diz... quereria convencer-me que se poderia muito bem amar-Vos e servir-Vos, e ser ao mesmo tempo deste mundo, procurar sua estima, suas honras e suas amizades... E assim eu não sou nem vosso nem do mundo... quereria conservar-me entre os dois...

E aí está por que Vossa palavra divina corta esta indecisão: Ou sou do mundo e neste caso Vos odeio a Vós mesmo, pois que a aliança entre estes dois amores é impossível.

Ó bom Jesus, confuso e arrependido, eu me prostro a Vossos pés... Compreendi a Vossa lição... dai-me a força de -la em prática. Enviai-me também o Vosso Espírito Santo, para que Ele acabe a Vossa obra, dissipe minhas últimas ilusões e me arranque para sempre ao mundo, a seus prazeres e a suas amizades, afim de que eu possa exclamar com São Francisco de Assis: "Meu Deus e meu tudo! Deus meus et omnia!"

Minha boa Mãe, em que deposito minha inteira confiança, ajudai-me a descobrir o que Jesus deseja de mim, para satisfazer o Seu amor. Quero renunciar a tudo o que é deste mundo... Não haveria em mim qualquer amizade demasiadamente humana?... alguma afeição que perturbe?... alguma procura de minha comodidade?... qualquer desejo de ser estimado, preferido! de ser aplaudido? Meu corpo, meu coração, meus pensamentos e desejos são eles todos unicamente de Deus?...

Respondei, ó Mãe, eu estou disposto a cortar tudo, a queimar tudo o que não é digno de Deus.

(Contemplações evangélicas, doutrinais e morais sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo Pe. Júlio Maria)

PS: Mantenho os grifos do autor.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Servir a Deus e salvar assim a sua alma

Nota: Os grifos em azul são notas do tradutor.

Servir a Deus e salvar assim a sua alma

(Foto: Morte de Santa Rita de Cássia)

Servir a Deus

Ele quer que o nosso louvor e o nosso respeito tomem esta forma bem concreta: servi-lO. Este serviço é por sua vez, claramente precisado pelos mandamentos de Deus e da Igreja, pelos deveres do próprio Estado.

Servir, é nobre ideal quando nos despendemos por uma grande causa, por um chefe simpático. Ora, nenhuma causa é mais esplêndida que a de Deus. Nenhum chefe que nos deva inspirar mais entusiasmo que Nosso Senhor.

Salvar a sua alma

A nossa salvação é a grande realidade que permanece, a imortalidade da alegria. Tudo o mais passa.

A beleza passa. No fim da vida M.me Récamer (Nasceu em Lião. Mulher célebre pelo engenho, pela beleza e pela sala de Abbaye-au-Bois, onde, na Restauração, reunia a mais brilhante sociedade, 1777-1849) estava cega.

Os olhos "azuis ou negros, sumamente amados, sumamente belos" apagar-se-ão. Um dia sairão deles vermes.

O amor passa. Heloísa e Abelardo (Filósofo francês, célebre pela sua paixão por Heloísa e pelos seus infortúnios, 1079-1142) estão ainda perto um do outro. Mas sob a terra pesada do cemitério, no Père-Lachaise. Aproximação de cinzas. E ainda há dúvidas sobre a sua autenticidade.

A popularidade passa. Que diriam os políticos.

O êxito literário passa. A. Dumas pai escreveu duzentos e oitenta e dois livros! Quantos sobrenadam?

As frivolidades passam: as das mundanas de lábios quimicamente vermelhos, de cílios postiços, onde tremulam postiças lágrimas; as dos ambiciosos que multiplicam as intrigas por uma condecoração.

A eloqüência passa. Com muito mais razão a verborreia se esvanece. Segundo o cálculo de um cronista, uma língua feminina agita-se, de maneira a percorrer, em média, 950 quilômetros por ano. É difícil de verificar. Vários provérbios do mesmo gênero foram escritos por homens. Com isso se explicam muitas coisas.

A juventude passa. Apesar de tantos reclamos que prometem uma eterna primavera, vamos acumulando anos. Ou antes perdemo-los.

A vida passa. Temos médicos em quase todas as ruas. Todavia os homens ficam fiéis ao velho hábito de morrer. O professor Augusto Lumière diz que em França, noite e dia, um canceroso expira em cada dez minutos e um tuberculoso em cada cinco minutos. Além de que, nada importa o diagnóstico do médico quando a gente se vai...

A fortuna dos corações passa. A urna que contém o coração de Voltaire foi transferida de local em local. Tornava-se embaraçoso este lamentável coração. No cortejo fúnebre que transportou o coração de Luís XIV, via-se apenas uma dúzia de antigos cortesãos.

O cavaleiro que levava o coração de Vauban (Engenheiro militar e marechal de França. Nasceu pobre e privado de qualquer proteção, mas, pelo trabalho, habilidade e nobreza de porte, ascendeu aos mais altos postos. Dizia-se comumente: "Cidade cercada por Vauban, cidade tomada; cidade fortificada [ou defendida] por Vauban, cidade tomada; cidade fortificada [ou defendida] por Vauban, cidade inexpugnável"; 1633-1707) teve a funambulesca aventura de o esquecer numa estrebaria de posta.

A glória dos monarcas passa. A princesa Luísa da Bélgica escreveu um livro de título impressionante: "A volta dos tronos que vi cair".

Napoleão I, o prestigioso capitão de sessenta batalhas campais, esteve na ilha de Santa Helena cinco anos, seis meses e dezoito dias; mais da décima parte da sua existência, pois que não chegou aos cinquenta e dois anos.

Na sua ilha, vigiado por Hudson Lowe, teve tempo de meditar sobre as traições dos seus irmãos, dos marechais, de Nery (Marechal de França. Cobriu-se de glória em vários campos de batalha, especialmente na Rússia. Napoleão cognominou-o o Bravo dos bravos; 1769-1815) que jurava reconduzi-lo numa jaula de ferro!

Recentemente, nos Inválidos, depois de ter contemplado as duzentas bandeiras de glória, eu olhava para o famoso túmulo. Naquele dia, tinham-se esquecido de lhe tirar o pó. Ter sido Imperador, e nem sequer ser espanejado!...

Tudo passa! Exceto o rito de servir a Deus e de salvar a alma.
Salvar a alma é preferir a alma ao corpo.

***

1- Corpo

Não é em nós o elemento principal. Consultemos este balanço esboçado pelo doutor Ch. Mayne, de Rochester, e citado por outros médicos. Previno que é horrivelmente realista e de um cinismo mortificante para a vaidade humana. Agora, lealmente prevenidos, vejamos:

No corpo humano, encontram-se estes produtos principais:

Ferro: Equivalência => um prego médio.
Açúcar: Equivalência => dois torrões ordinários.
Gordura: Equivalência => sete pequenos bocados de sabão.
Fósforo: Equivalência  => duas mil e duzentas cabeças de fósforos.
Magnésio: Equivalência  => o necessário para uma foto.
Potassa e enxofre, em pequena quantidade.

Total: Estes elementos reunidos vender-se-iam pouco mais ou menos por 40 escudos. Eis o nosso valor mercantil, a nossa cotação comercial. (Consideramos o preço das matérias primas. Um ponto de vista absolutamente diferente é a organização e o funcionamento da máquina humana. É uma pura maravilha, descrita nos artigos Le corp humain, que Prêtre et Apôtre publicou desde novembro de 1936)

Pobre corpo! Não merece o primeiro lugar, pois que Deus, que nos ama tanto, permite para ele quatro grandes humilhações: as doenças, a deteriorização progressiva, a agonia, a decomposição.

Doenças.

a anarquia na célula". Fórmula original. Mas há uma coisa que preferíamos a esta definição imaginosa: a cura. Mas isso!...

O número dos sanatórios, das clínicas, vai crescendo. Objetar-se-á, talvez, que, se há doentes, há felizmente médicos. Mas os médicos conseguem sempre curar as enfermidades das esposas, dos filhos? Não têm eles mesmos os seus achaques? Vivem notavelmente mais tempo que o comum dos mortais? Estes senhores da vida podem prolongar muito a sua? ...

Deterioração

O corpo fatiga-se. Que motor, construído embora de modo impecável e de aço de primeira qualidade, poderia, sem um minuto de descanso, funcionar cinquenta anos?

O nosso corpo é um motor de uma complicação inaudita e trabalha anos e anos. Chega algumas vezes a centenário. Nem um instante de inacção, visto que, mesmo em plena noite, o funcionamento continua para vários órgãos, por exemplo, para o coração.

O coração, no homem, tem, em média, por minuto cerca de setenta pulsações (cada uma com sístole e diástole). Façamos, num dia de lazer, o cálculo das nossas sístoles e diástoles, desde o nascimento até à idade em que nos encontramos: é vertiginoso.

Mas é evidente que o coração não produz impunemente um trabalho tão prodigioso. Paga continuamente a sua contribuição. E tenhamos em conta choques emotivos, desgostos. A própria idade contribui, porque, a partir dos cinquenta anos, o homem já não caminha só com as pernas, mas também com o coração.

A máquina humana gasta-se pelo seu labor.

Fórmulas estranhas, mas exatas: vivemos com a condição de nos matarmos progressivamente; a vida esfacela-se perpetuamente pelo esforço que fazemos para a conservar.

Agonia

Os literários (por exemplo, Lamartine, que, na sua peça Le crucifix, conta o trespasse de sua mãe) tentam poetizar os últimos momentos. Falam-se de crisálida... Muito belo! Mas, vós que contemplais agonias, dizei-me: pensáveis em crisálidas? Pela minha parte, confesso não ter pensado nunca em borboletas de asas matizadas, quando estava perto do leito em desordem onde um homem agonizava.

A agonia, do ponto de vista que nos ocupa neste momento, isto é, considerada pelo lado puramente corporal, é bem uma humilhação total e um fenômeno extremamente prosaico.

Decomposição

Se alguns poetas se esforçaram por enfeitar a agonia, nenhum pensa em fazer uma discrição risonha do cadáver em plena deliquescência. Desta vez, já não há meio de suavizar a pintura.

Eis reduzido a um horror sem nome esse corpo ao qual instintivamente nos apegamos, esse corpo de que Chrysale dizia: "Farrapo sim, talvez; mas amo o meu farrapo" (Femmes savantes, Act. I, 26-7)

Eva Lavalliere fazia esta observação verdadeira, que muitas faltas ordinárias, são pecados do corpo: guloseima, preguiça, impureza...

É finalmente abandonado aos vermes este corpo pelo qual os mundanos passaram tantas horas nos salões de beleza, suportaram o capacete enorme e quente que seca as ondulações, se sujeitaram os banhos turcos que fazem emagrecer, dispenderam muito dinheiro com os melhores cosméticos.

Até para aqueles que não têm nenhuma preocupação de galanice, o corpo  é ainda um escravo exigente. Que tempo ele reclama! Que subtração o orçamento da nossa curta vida! Se se fizesse a adição de todos os quartos de hora passados a barbear-se! Contem-se as horas de sono, as que supõem o toucador, as refeições, os descansos. Ficaremos espantados por ver que um bom terço de vida se passa a sustentar ou a repousar o corpo.

E todavia, tem apenas uma importância de segunda ordem. Lamentamos de todo o coração os materialistas, os que escrevem como Aug. Lameere, antigo Reitor da Universidade livre de Bruxelas: "O homem é um animal como os outros: já não se pode pensar em atribuir-lhe uma alma imortal." (Carta de Lameere ao jornal Le Peuple, onde está citada em primeira página, 25 de novembro de 1934)

2- A alma

Qual é o seu valor?

Interroguemos sucessivamente as religiosas, os missionários, os Santos, Cristo...

Resposta das religiosas

O fim das religiosas contemplativas, docentes, hospitaleiras, etc., é antes de tudo dar glória a Deus: mas, além disso, salvar a sua alma e outras almas. Contemplemos essas santas mulheres que se ocupam de crianças anormais, as Irmãzinhas dos pobres, tão dedicadas por velhos desiludidos, algumas vezes estropiados. Os destroços humanos sobre que delicadamente se inclinam são interessantes? Não, mas conservam uma alma. Que ela esteja num corpo arruinado, que importa?

Quando nos oferecem um diamante com o estojo, que é nos preocupa? o preço do estojo, ou o do diamante? Ora bem; a alma do enfermo mais miserável é (se se pode empregar comparação manifestamente imperfeita) a pérola fina, de subido preço, num escrínio lamentável.

Resposta dos missionários

Aqui, no Gésus de Bruxelas, quantos deles vemos partir cheios de entusiasmo, quantos vemos voltar arruinados pelas fadigas! Façamos passar pelo espírito tudo o que a vida do missionário supõe: dilacerações do coração; afastamento da pátria; calores sufocantes; sacrifícios do conforto e destas mil facilidades ás quais, sem o pressentirmos, nos habitua pouco a pouco a civilização moderna; relações cotidianas com seres grosseiros cuja maneira de ver  difere totalmente da nossa.

Mas esses pobres gentios têm uma alma; eis o que explica todos os labores dos missionários.

Resposta dos mártires

Os das grandes perseguições antigas, os das grandes perseguições modernas, suportaram os tormentos, de preferência a perder a sua alma. (Leia-se, no II Livro dos Macabeus, o capítulo VI - suplício dos Judeus fiéis, de Eleázaro, dos sete irmãos)

Resposta dos Santos

Eles, que tinham as nossas tendências, praticaram magnificamente o "Vince teipsum". Simples homens, levaram uma vida que estava acima da natureza humana. Se tiveram este heroísmo cotidiano, era em vista de santificar a alma.

Pelo mesmo motivo, todos os cristãos devem algumas vezes contrarias os próprios gostos, impor-se penosos deveres. Paulo Bourget fez, em Némésis, esta observação justa: "O cristianismo repousa todo sobre o valor, sobre o preço das almas." (Plon, cap. I, pág. 109)

Resposta de Cristo

Ensina-nos, melhor que qualquer outro, quanto as nossas almas são preciosas. Por elas, deu um alto preço: "Fostes libertados, não por coisas perecíveis, prata ou ouro, mas por um sangue precioso, o do Cordeiro" (1ª Epistola de S.Pedro, I, 18 e 19). E Santo Agostinho: "O Redentor veio e deu o preço: derramou o sangue. Perguntais o que comprou? Vede o que deu e sabereis o que comprou. O sangue de Cristo é precioso." (Iº de Julho) que o Breviário nos recorda estas palavras do grande Doutor, tão enérgicas e preciosas, em latim:

"Venit Redemptor et dedit pretium: fudit sanguinem suum. Queritis quid emerit? Videte quid dederit et invenietis quid emerit. Sanguis Christi pretium est".

Dissemos que a grande sabedoria era salvar a nossa alma. Notemos bem que a salvação depende de nós. Somos livres. Evidentemente que, quando se trata do dever, da salvação, não temos uma liberdade moral (o direito de escolher o mal), mas uma liberdade física (a possibilidade de pôr um ato culpável).

Podemos nós cometer o pecado, perder-nos? Não, no sentido de que o mal não é permitido. Sim, no sentido de que a falta é uma ação realizável. O Senhor quis deixar ao homem uma liberdade que faz a legitima altivez do seu mérito, uma liberdade que é perfeitamente dirigida pelas leis divinas, encorajada pela promessa das recompensas, estimulada pela ameaça dos castigos.

"No princípio, Deus criou o homem, e deixou-o nas mãos do seu conselho. Deu-lhe também os Seus mandamentos e preceitos. Se guardando constantemente a fidelidade que Lhe agrada, quiseres cumprir os mandamentos, eles serão a tua salvação.

Pôs diante de ti a água e o fogo; estende a mão para o que mais te agradar. Diante do homem está a vida e a morte, o bem e o mal; o que escolher lhe será dado". (Ecli. XV, 14-18).

Praticar o bem, obedecer a Deus, é por excelência "o serviço pessoal". Nenhuma substituição possível.

A salvação da alma é questão que nós mesmos decidimos. Nós, com a graça de Deus. Colocados entre os dois caminhos, da direita e da esquerda, adotamos e seguimos livremente uma destas rotas... Isto é de tal modo verdadeiro que podemos formular estes dois princípios:

Se o homem está decidido a salvar a sua alma, nada pode impedi-lo;
Se o homem está decidido a perder a sua alma, nada é capaz de lhe violentar a resolução.

(Excertos do livro: Em face do dever - Volume I, pelo Pe. G.Hoornaet, S.J, traduzido por Pe. Elísio Vieira dos Santos, o original que serviu para esta tradução é o da 1ª Edição francesa que tem por título: "Face au Devoir")

PS: Grifos meus.