Sofrimento e a família!
Era simplesmente magistral aquela professora no seu papel de educadora. Amor e dedicação acendrados dedicavam-lhes os alunos. Muita alegria colheu no seu magistério. Um dia, porém, adoece, indo parar nunca cadeira de rodas, com dores contínuas. Ao lado dessas sentavam-se também muita paciência e muita alegria.
Anualmente era peregrina de Lourdes, tornando-se figura proverbial para os padroeiros da gruta. Admiravam-se da teimosia da professora, sempre fracassada nos seus pedidos. Nunca recebia a saúde. É que ignoravam um segredo. Aquela doente rezava diferente. Não pedia a saúde. Pedia à Mãe de Deus que a não curasse. Queria sofrer pelas intenções apostólicas de seu amor cristão.
Veja a prezada família até aonde chegam os clarões da fé! Nossa paciente enxergava horizontes ocultos a muitos outros cristãos. Via e apalpava o valor do sofrimento. Por isso pedia a continuação de sua doença.
Os lares que me (lêem) tirem daí umas conclusões. Não digo que devam imitar a oração dessa professora. Mas copiem-lhe a visão cristã, valorizada, do sofrimento. Há nele um fator de salvação e de pedagogia insubstituível. Pesa na balança muito mais do que capital e juros, do que imóveis e terras. É paganismo receber uma família os sofrimentos com pedras na mão. Digo com reclamações, com interpelações dirigidas a Deus. Pior ainda quando no caso abandona a religião.
É visível que sua religiosidade era interesseira, como a dos judeus no Velho Testamento. Por causa da saúde dos filhos, das farturas em colheitas do campo e do pomar, da paz em suas propriedades, adoravam a Deus. É praticada só para receber de Deus como prêmio neste mundo a saúde, a ausência de sofrimentos físicos e morais.
Para os filhos o modo de aceitar os sofrimentos na família é lição de primeira grandeza. Grava-se em suas almas. Amanhã a dor achará o endereço deles, morem onde morarem. Tiveram diante de si uma atitude cristã mostrada pelos pais? Ei-los imitando o que viram. Viram o contrário? Irão copiar as atitudes pagãs e demolidoras.
Um lar cristão tem de acertar essa atitude correta. Deus não criou seus filhos para o sofrimento. Permite-o para maiores méritos na eternidade. O pecado trouxe a dor, mas a graça valoriza-a, suaviza-a. Há valores expiatórios e redentores neles. Se fracassam os meios humanos e lícitos para mitigar a dor, resta aceitá-la cristãmente. Entre ela e a coroa do céu não há proporção.
(Mundos entre berços, do Pe. Geraldo Pires de Souza)
PS: Grifos meus.