domingo, 1 de agosto de 2010

Amor manifestado por Jesus padecendo por nós!

Nota: Transcreveremos no decorrer desta semana sete meditações sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, retiradas do livro: A Sagrada Família, por um padre redentorista, 1910.

PRIMEIRA MEDITAÇÃO
DOMINGO


AMOR MANIFESTADO POR JESUS PADECENDO POR NÓS

1- O tempo posterior à vinda de Jesus Cristo, já não é tempo de temor, senão de amor, como predisse o Profeta Ezequiel (cap. 16, v.8) "et ecce tempus tuum tempus amantium" o Seu tempo é tempo de quem ama, pois que foi visto um Deus morrer por nós. "Christus dilexil nos, et tradidit semetipsum pro nobis", Cristo amou-nos, e Se entregou a Si próprio à morte por amor de nós, disse também São Paulo.

...  Depois que o homem viu Cristo, por sua causa, morrer, coberto de opróbrios e exangue sobre um madeiro infamante, ninguém pode pôr em dúvida o Seu amor, verdadeiramente cheio de ternura para conosco.

E quem há aí que possa compreender os excessos do amor do Filho de Deus, que O levaram a querer satisfazer pessoalmente a pena devida pelos nossos pecados? E não obstante, é de fé! "Verdadeiramente, diz Isaías, Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores: foi esmagado sob o peso das nossas iniquidades". (Is. 53). E tudo isto foi obra do grande amor que nos tem, pois que, para lavar a imundice das nossas culpas, derramou até a última gota o Seu sangue, e nele nos preparou um banho salutar.

Oh! misericórdia infinita!
Oh! infinito amor de um Deus!

Demasiado haveis feito, ó Redentor meu para me obrigardes a amar-Vos, e eu seria demasiadamente ingrato se Vos não amasse de todo o meu coração. Tenho-Vos até agora desprezado, ó meu Jesus, vivendo esquecido do Vosso amor, e Vós nunca Vos esquecestes de mim! Afastei-me de Vós, e Vós me haveis seguido e buscado! Ofendi-Vos tantas vezes, e Vós outras tantas me haveis perdoado! repeti a ofensa, e Vós, Senhor, tornastes a perdoar-me!

Por aquele entranhado afeto, com que de Vós fui amado sobre a Cruz, prendei-me, Senhor, agora tão estreitamente com os doces laços da Vossa caridade, e uni-me tanto a Vós, que eu nunca mais possa tornar-me a separar. Eu Vos amo, ó Sumo Bem, e quero amar-Vos sempre.

2 - O que nos deve abrasar mais e mais no amor de Jesus não é tanto a morte, as dores, as ignominias, que por nós sofreu, como o fim, por Ele intentado, ao sujeitar-Se a tantas e tão graves penas, e este foi o manifestar-nos melhor o Seu amor, e cativar mais os nossos corações. Para nos salvar não tinha Jesus necessidade de padecer tanto, e de sacrificar a própria vida: bastava certissimamente derramar uma só gota de sangue, bastava uma só lágrima; porque, sendo de um Homem-Deus, essa gota de sangue, essa lágrima eram bastantes para salvar não um só mundo, mas mil mundos se os houvera.

Ele, porém, quis derramar todo o Seu sangue, e perder a vida num pélago imenso de dores e opróbrios, para nos manifestar melhor o grande amor, que nos tem, e assim nos obrigar a amá-lO.

"O amor de Jesus Cristo, diz São Paulo (note-se que não disse a Sua Paixão, nem a Sua morte, mas o Seu amor) obriga-nos a amá-lO".

Quem somos nós, Senhor, para quererdes comprar o nosso amor por tão excessivo preço?

Oh! meu Jesus; por nós morrestes para que nós todos só por Vós vivêssemos e por Vosso amor! Se Vós, porém, Senhor, sois tão amável, se tanto padecestes para que Vos amem os homens, como é que tão poucos Vos compreendem? Vemo-los quase todos entretidos, uns com o amor das riquezas, outros com o das honras, estes com os prazeres, aqueles com os parentes e amigos, estes outros com qualquer coisa terrena; e que Vos amem a Vós, único objeto digno de ser amado, quão poucos são, Deus meu, quão poucos?

Um desses poucos desejo ser eu, que até agora Vos hei ofendido, como os demais, amando esse lodo vil, que são as criaturas da terra. Sim, ó meu Jesus, eu Vos amo sobre todas as coisas; as penas que por mim haveis sofrido, me obrigam a amar-Vos, e ainda mais me obriga o amor, que me haveis manifestado em padecer tanto, para que eu Vos amasse.

Sim, amabilíssimo Jesus, se Vós por amor Vos tendes dado todo a mim, também eu por amor me quero dar todo a Vós; se Vós morrestes por meu amor, eu pelo Vosso aceito desde já a morte que me tendes destinada. Recebei-me no número de Vossos amantes e ajudai-me com a Vossa graça a Vos amar condignamente.

3- Não há nada mais próprio para atear em nossas almas o fogo do amor divino, do que o considerar na Paixão de Jesus Cristo. São Boaventura diz, que as Chagas de Jesus, por serem chagas de amor, são setas, que ferem os corações mais duros e insensíveis, e chamas que inflamam as almas mais regeladas.

Uma alma crente, que pensa na Paixão do Senhor, não pode tornar a ofendê-lO, nem deixar de O amar, ou ainda de enlouquecer de amor, ao ver um Deus, que é a própria Sabedoria como que "fora de Si" por amor de nós. Por isso é que os gentios, segundo refere o Apóstolo, ao ouvir pregar da Paixão de Jesus Crucificado, a tinham por loucura. Como pode ser, pois, diziam eles, que um Deus omnipotente e felicíssimo em Si mesmo, quisesse morrer pelas Suas criaturas?

Oh! Deus meu! Como pode ser tanto excesso de amor pelos homens? Como pode ser? perguntaremos também nós que acreditamos firmemente neste mistério, como pode ser que tão grande bondade e tão extremado amor sejam tão mal correspondidos?

Dizem comummente que o amor com amor se paga, amor amore compensatur; mas o Vosso, ó meu Deus, com que amor poderá pagar-se? Seria necessário que outro Deus morresse por Vós, para recompensar o amor que nos manifestastes em morrer por nós.

Oh! Cruz preciosa!
Oh!Chagas sacratíssimas!
Oh! morte afrontíssima do meu Jesus! quão poderosas sois para me obrigardes a amá-lO!

Oh! Deus eterno, Deus infinitamente amável! eu Vos amo, e quero viver somente para Vos amar: dizei-me o que quereis de mim, pois tudo desejo cumprir, ajudado com a Vossa graça.

Maria Santíssima, Esperança nossa, rogai a Jesus por mim.

PS: Grifos meus.