sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A mesa da família: autoridade e amor

Nota: Havíamos transcrito apenas excertos deste texto, segue ele inteiro.

A mesa da família:
autoridade e amor
(por Monsenhor Tihamér Tóth)




Creio não ser necessário explicar de um modo especial que, mencionando a mesa da família como primeiro móvel indispensável, penso particularmente em todos os problemas da vida comum dos esposos.

A mesa de família não significa, pois, somente o móvel ao redor do qual se reúne com amor toda a família, e onde o pai assenta-se ao entrar, fatigado do seu trabalho. Significa ainda mais a comunhão das almas, a perfeita harmonia, a união de corações, base indispensável de um casamento feliz, e que repousam sobre suas colunas: autoridade e amor. Porque, realmente, a felicidade familiar exige a conveniente união da autoridade e do amor.

A família não é uma associação, nem uma sociedade por ações, nem um sindicato, mas um organismo vivo. Ora, a vida de um organismo tem leis que não se podem modificar. Pode-se fortificar o organismo, favorecer seu desenvolvimento, facilitar seu trabalho, mas tudo com uma única condição: não se tocar nas bases sobre as quais está construída toda a sua vida.

Uma destas leis fundamentais é, por exemplo, no casamento, a inseparabilidade dos esposos, a indissolubilidade do laço conjugal, como já dissemos anteriormente. O que pode ser anulado não é casamento.

Mas para que a vida conjugal corra sem empecilhos, para que floresçam nela a felicidade e todas as alegrias que o próprio ideal cristão do casamento as cerra em si, torna-se necessária a realização de uma outra lei fundamental. Ei-la: é a boa ordem e a distribuição do trabalho entre os membros da família, ou em outros termos, o conveniente emprego da autoridade e do amor.

"As mulheres sejam submissas aos seus maridos como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja" (Ef. 5,22-23)

Naturalmente ouvindo esta prescrição de São Paulo dirão, talvez, as mulheres:

"O Cristianismo não reconhece, pois, que a mulher é igual ao homem? Não é atraso exigir hoje que a mulher obedeça a seu marido? E o marido não abusa deste poder?"

De fato, é preciso reconhecer que realmente há homens que pela sua conduta e modo de pensar são indignos de chefiar uma família. Reconhecemos também que o marido pode abusar de sua autoridade. E contudo esta exigência do Cristianismo não é humilhante para a mulher. Pelo contrário, ela garante a felicidade familiar, e é o que veremos, se compreendermos bem o que não significa a obediência da mulher e o que ela significa na realidade.

Primeiramente ela não significa que a mulher tenha menos valor, menos dignidade que seu marido. Não se trata naturalmente disto. Não significa ainda mais que a mulher deva realizar todos os caprichos e todos os desejos de seu marido, mesmo aqueles que não podem ser satisfeitos sem humilhação para a mulher ou sem pecado. Enfim, não significa que o marido tenha o direito de tratar sua mulher como uma criança menor, privada do uso da razão, de tiranizá-la, brutalizá-la, e fazê-la sofrer.

Não se trata disto.

Mas então que significam estas palavras de São Paulo, exigindo da mulher a obediência ao seu marido?

Significam que a boa ordem e a felicidade familiar são incompatíveis com as máximas propagandas feitas pelas pessoas frívolas, incompatíveis com a "emancipação da mulher", e as suas manifestações, incompatíveis também com a emancipação fisiológica, econômica e social da mulher.

- A emancipação fisiológica significa que a mulher teria o direito de se furtar aos encargos, que acompanham a sua dignidade de esposa e mãe, o que o Cristianismo condena.

- A emancipação econômica significa que a mulher tem o direito de se entregar a operações econômicas independentes de seu esposo, sem sua participação, e mesmo contra a sua vontade, não cuidando de sua família. É isto que o Cristianismo condena.

- Quanto à emancipação social, ela consiste no direito, para a mulher, de destruir as muralhas do santuário familiar, de abandonar a sua missão no lar, de não cuidar de seu marido e de seus filhos e exercer um trabalho na vida pública. É isto que o Cristianismo condena.

Não o permite, porque se seu marido é a cabeça da família, a mulher é o seu coração, e não se pode, sem perigo mortal para ambos, tomar o coração independente da cabeça, emancipá-los um com relação ao outro e separá-los um do outro.

Onde dois vivem juntos, é absolutamente necessário que um deles, conduza e "mande". Se numa família não há "comando", nem "obediência" ela se desagregará cedo ou tarde. Obediência quer dizer inclinar a vontade, ceder. Quem cederá? O mais sábio. E é preciso que a mulher seja a mais sábia.

Infelizmente as moças imaginam muitas vezes o casamento como uma festa perpétua, um encanto continuo. Mas a vida não é isto. Não existe harmonia absoluta neste mundo, e cedo ou tarde, pequenas divergências surgirão entre os esposos, mesmo os mais cordatos, e então, é preciso que um dos dois ceda. Seja então a mulher. Porque se considerarmos realmente um casamento feliz, notamos e descobrimos que a mulher que sabe aplainar as dificuldades é a mais sábia. É pois, uma ilusão perigosa para as jovens pensar que poderão governar os esposos, e que isto será sempre assim, porque eles as amam.

Não interpreteis, contudo, como uma servidão indigna esta obediência em que pensa São Paulo, quando diz:

"O homem é a cabeça da mulher como Cristo é a cabeça da Igreja"

Esta frase de São Paulo indica diretamente que a obediência da mulher é, propriamente, não a seu marido mas a Cristo. A mulher obedece por causa de Cristo, e eis porque é muito natural que essa não possa obedecer-lhe senão nas coisas que Cristo também aprova e permite.

Esta consideração faz desaparecer definitivamente todo o receio de que esta obediência seja humilhante para a mulher. É humilhante para a Igreja obedecer a Cristo? Quanto ao mais São Paulo escreve literalmente:

"Mais, como a Igreja é sujeita a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos" (Ef. 5,24).

É somente nesta concepção elevada, que se podem realizar na vida conjugal a santidade e a pureza que São Paulo exige claramente quando escreve:

"Cada um de vós saiba guardar seu corpo na santidade e pureza sem se abandonar aos arrebatamentos da paixão como fazem os pagãos, que não conhecem Deus" (I Tes. 4,45)

Quantas famílias São Paulo não deveria chamar hoje, de pagãs! Ele exige de fato que o esposo cristão viva com sua esposa cristã de tal forma que em suas relações com a mulher se manifestem a santidade e a pureza, isto é, que um e outro se testemunhem reciprocamente o respeito, o amor, e a delicadeza, que fazem da família um verdadeiro santuário.

Tudo, porém, que dissemos até agora, não é senão uma das bases da "mesa familiar" necessária à felicidade da família: a autoridade. Mas para que esta mesa tenha uma base mais firme, é lhe necessária uma outra base, o amor.

E as esposas que talvez pensem sempre com angústia nas palavras de São Paulo exigindo a obediência, reconciliar-se-ão certamente com ele, lendo a frase seguinte. Porque, se é verdade que ele exige da mulher obediência e submissão, escreve igualmente aos maridos:

"Maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja, e Se entregou Ele mesmo por ela a fim de santificá-la, purificando-a" (Ef. 5, 25-26)

Ah! é outra coisa. Vejo aqui a idéia perfeitamente cristã. O Cristianismo, como guarda supremo da ordem social, condena a tirania como a insurreição; condena-as na vida pública, e também na família.

Assim como a obediência e autoridade constituem a base importante da vida familiar, também o amor exerce um papel importante. A obediência preserva da insurreição, mas o amor preserva da tirania.

Se São Paulo proclama que o marido é o chefe da família, não proclama que ele é o tirano doméstico. O esposo é o chefe da família unicamente como Cristo é o chefe da Igreja. O marido deve, pois manifestar à mulher o mesmo amor generoso, sem limites, pronto a todos os sacrifícios, que Cristo manifestou à Igreja, sacrificando sua vida. O homem deve estar pronto, se preciso for, a sacrificar sua vida pela sua esposa, como Cristo fez pela Sua Igreja.

Esta concepção elevada das relações mútuas dos esposos é bem diferente da que publicam os romancistas ou cantam os poetas. Como é diferente o amor do Evangelho! O amor dos sentidos que se traduz em palavras ternas, em declarações vazias, em grande eloquência inflamada, extingue-se como fogos que, assobiando, se elevam aos céus. O amor conforme o Evangelho, ao contrário, é profundo, puro, santo, generoso, durável, não se derrama em ondas de palavras, mas em atos.

Como haveriam bem mais famílias felizes sobre a terra se não se esquecessem que só o amor recíproco generoso e devotado assegura a felicidade no casamento.

Os homens, infelizmente, pensam muito pouco nisto. Interroguemos apenas um deles antes de seu casamento: "dizei-me, pois, porque quereis casar?"

"Por que? Para ser feliz!"

Não é assim que responderia a maior parte? Ora, precisamente esta idéia superficial do casamento é causa do maior número de dramas familiares. Só tem uma idéia justa do matrimônio aquele que aí introduz a idéia do sofrimento. O casamento feliz, qual aquele tapete persa, não é traçado só com fios de alegria e de prazer, mas também com os do sofrimento, da renúncia, da paciência e da indulgência.

Esquecestes que o casamento se celebrou ao pé do altar? Ora, o altar é o lugar do sacrifício, é um perpétuo aviso aos dois esposos: Sem sacrifício recíproco não há felicidade.

"Amai-vos uns aos outros com amor fraternal, porfiando em honrar uns aos outros", diz a Escritura Sagrada (Rom. 12,10). Os esposos manifestam esta amabilidade por um amor delicado e terno, por atenções cheias de tato, adivinhando desejos ocultos, até mesmo se compenetrarem destas idéias, então o primeiro móvel da família, a mesa comum, será sólida.

Eis, pois, o que significa este primeiro móvel indispensável em um lar: a mesa da família.

(Casamento e família, por Mons. Tihamér Tóth)

PS: Grifos meus.