sábado, 7 de agosto de 2010

CRUCIFIXÃO E MORTE DE JESUS

MEDITAÇÃO DO SÁBADO


CRUCIFIXÃO E MORTE DE JESUS

1 - Eis o Calvário convertido em teatro do amor divino; é um Deus que lá morre abismado num mar de dores. Chagado Jesus a explanada, os algozes arrancam-Lhe de novo, com violência, os vestidos, colados já a Suas dilaceradas carnes, e estendem-nO sobre a Cruz. Coloca-se o Cordeiro divino, naquele leito de morte; apresenta as mãos e os pés aos Seus inimigos, oferece ao Eterno Pai o sacrifício de Sua vida pela salvação dos homens. Pregam-nO, em seguida, desumanamente, e levantam a Cruz ao alto.

Olha agora, ó minha alma, para o Vosso Senhor, pendente naquele madeiro, sem alívio nem descanso.

Ah! Jesus de minha alma, que morte tão cheia de amargura, a Vossa! Tendes escrito no alto da Cruz, Jesus Nazareno Rei dos Judeus. E , na verdade, esse trono de penhascos, essas mãos cravadas, essa cabeça transpassada pelos espinhos, esse corpo despedaçado, proclamam bem alto que sois Rei, porém, Rei de Amor.

Eu me acerco de Vós, compadecido; eu me abraço a essa Cruz, onde, sacrificando-Vos por mim, quisestes morrer vítima de amor.

Desventurado seria eu, Senhor, se não houvéreis satisfeito, em meu nome, à Justiça divina. Dou-Vos por isso infinitas graças, e Vos amo, ó meu Jesus.

2 - Considera, como Jesus, estando cravado na Cruz, em ninguém achava conforto e consolação: pois que uns blasfemavam contra Ele, outros O insultavam com chufas e escárnios, estes Lhe diziam: "Se és o Filho de Deus desce da cruz." aqueles: "Pode salvar a muitos, mas a si mesmo não pode." Os próprios companheiros de suplício, os dois ladrões, em vez de manifestar-Lhe alguma compaixão e respeito, blasfemavam também, estava lá, é verdade, junto da Cruz Maria, assistindo com ternura e amor a Seu Filho moribundo; mas a vista de Sua Mãe aflita, em vez de consolar, mais atormentava o coração de Jesus: de maneira que, não achando consolação na terra, volveu o Salvador Seus olhos para o céu a pedi-la ao Eterno Pai; Deus, porém, ao vê-lO assim carregado com os pecados dos homens, por quem padecia, não quis atendê-lO, deixou-O sofrer e morrer sem alívio.

Foi então que Jesus exclamou: "Meu Deus, Meu Deus, por que me haveis abandonado?"

Ó Jesus meu! sobeja razão tendes de dizer que, havendo padecido tanto pelos homens, são mui poucos os que Vos amam! Ó preciosas chamas do amor! Se tivestes poder de consumir a vida dum Deus, tende-o também para consumir em mim todos os afetos terrenos; fazei que viva e se abrase o meu coração de amor somente por aquele Senhor que por mim morreu num patíbulo tão infamante.

E como pudeste Vós, ó meu Deus, sujeitar-Vos a morte por quem depois tanto Vos havia de ofender? Vingai-Vos agora de mim, Senhor, e sejam os Vossos castigos a minha salvação, dando-me uma dor profunda e intensa dos meus pecados, que sempre me traga mortificado, e arrependido de os haver cometido.

Vinde Vós, ó açoites, espinhos, cravos e Cruz do meu Senhor e Salvador, vinde ferir o meu coração; e a dor que eles me causarem, juntamente com o Vosso amor, sejam, ó meu Jesus, a minha salvação.

3 - Prestes já o divino Redentor a exalar o último suspiro, disse com voz amortecida: "Consummatum est," tudo está consumado: querendo dizer: - está cumprida, ó homens, a Minha missão: está terminada a obra do vosso resgate: eia pois, consagrai-Me o vosso amor, que nada Me resta já por fazer para o conquistar.

Alma minha, olha para o vosso Jesus, exalando o derradeiro alento; vê aqueles olhos amortecidos, aquele rosto pálido, aquele corpo inerte, aquele coração lânguido... O céu escurece, a terra treme, partem-se os rochedos, e os sepulcros abrem-se; tudo isto são sinais de que o Criador do Universo padece. Foi neste ponto que Jesus, tendo encomendado Sua alma a Deus, arrancou do Seu coração aflito um profundo suspiro, abaixou a cabeça, e, renovando o sacrifício de Sua vida pela nossa salvação, entregou, consumido pela violência das dores, o Seu espírito nas mãos do Eterno Pai.

Aproxima-te da Cruz, alma minha, beija com afeto os pés do vosso Salvador, e considera que Ele Se entregou a morte pelo incompreensível amor que tinha para contigo.

Ah! Jesus meu! até que extremos Vos levou a Vossa caridade! Fazei-me compreender bem, Senhor, quão digna é de admiração a morte de um Deus por meu amor, para que eu de hoje em diante não ame senão a Vós. Sim: eu Vos amo, ó Sumo Bem, verdadeiro amante da minha alma: nas Vossas mãos a entrego, e Vos peço pelos merecimentos de Vossa Paixão e morte, que, destruindo em mim todos os afetos terrenos, me façais viver unicamente para Vós, por que só Vós mereceis todo o meu amor. Ó Maria, minha esperança, rogai e intercedei por mim a Jesus.

(Sagrada Família por um padre redentorista, 1910)

PS: Grifos meus.