segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A EDUCAÇÃO SOBRENATURAL

Nota: Iniciaremos a transcrição do capítulo: A educação sobrenatural, retirado do livro "Catecismo da educação" do Abade René de Bethléem.

A EDUCAÇÃO SOBRENATURAL


"A educação das crianças consiste afinal, em encaminhá-las para Cristo".
(São Carlos Borromeu)

Que veremos neste livro da educação sobrenatural?
Depois de dar algumas noções preliminares (seção I), estudaremos as condições a satisfazer pelo educador para que ele possa levar a fim, com êxito, a sua difícil tarefa (seção II), e as diversas operações que regulam a vida sobrenatural (seção III).

Seção I - Algumas noções preliminares

"Já não sou eu que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim".
(São Paulo, Gal. II, 20).

Que se deve entender por educação sobrenatural?
Por educação sobrenatural deve-se entender: a criação, a iluminação da alma, o amparo, a ressurreição, a frutificação, a extensão e a transformação da vida sobrenatural da graça.

A educação sobrenatural é necessária?
Impõe-se a todos os cristãos como o complemento das outras partes da educação; como o único caminho que leva ao fim da formação, como o único meio de educar a criança, elevando-a até ao céu...

A educação sobrenatural é difícil?
Sim, se se pretender dar o que se não tem, falar sem convicção do que se não aprecia, fazer atingir um fim para o qual não se dirige o espírito, não se volvem os olhos, não se encaminham os passos.

Não, se o educador possuir as condições que indicaremos na seção II deste livro.

Seção II - Condições que o educador deve satisfazer

"Muitos pais perecerão, porque os filhos se terão perdido por culpa deles".
(Santo Isidoro)

São:

- O estado de graça;
- Um grande espírito de fé;
- Uma sólida instrução religiosa;
- Uma piedade profunda.

Por que é necessário o estado de graça?
- Por ser impossível que um educador em estado de pecado mortal faça com convicção do amor de Deus, do horror pelo pecado, da paixão de Jesus Cristo, e da hora final.

Todos os esforços que ele fizesse para dar às suas palavras uma unção penetrante, parecer-lhe-iam atos de hipocrisia, mentira e deslealdade.

- Porque um educador, tornado pelo pecado mortal um rebelde contra Deus, não merecerá atrair sobre aquilo com que está em contato a graça, sem, a qual nada se pode obter no domínio sobrenatural.

Que se deve entender por espírito de fé?
O espírito de fé consiste nessa disposição da alma, nesse estado do espírito que faz julgar todas as coisas à luz da eternidade; é o hábito de se guiar em tudo pelos preceitos da religião, e não pelas praxes do mundo, por princípio e não por capricho, por virtude, e não por atração natural.

Ter o espírito da fé é preferir a alma ao corpo, o céu à terra, a vontade de Deus à vontade própria, a vida eterna à do tempo, a morte ao pecado mortal.

Como se pode adquirir e desenvolver este espírito de fé?
- Pela oração.

A oração é uma prova de confiança, um ato de fé.

"Tem-se dito: o homem move-se, e é Deus que o guia. É verdade; mas eu não recearei dizer também que é a oração que guia o próprio Deus: ela é mais poderosa do que Ele, escrevia São João Crisóstomo".
(Mgr. Pichenot)

- Pela reflexão.
Os pais devem repetir a si próprios: Que os sofrimentos da vida duram pouco tempo; que o seu fardo é bem leve, comparado com o peso eterno de glória que será o prêmio das suas lutas; que a vida não lhes foi dada para gozar, mas para fazer o bem, o que não se consegue sem sofrimento; que eles não estão no mundo senão para cuidar da sua salvação e procurarem conseguir, tanto quanto lhes seja possível, a salvação dos seus filhos.

Por que é precisa uma sólida instrução religiosa?
- Porque, quando a criança é pequena, os pais devem ensinar-lhe os primeiros elementos da religião; responder às suas muitas e por vezes delicadas perguntas; formar a sua consciência; três funções igualmente importantes e difíceis que exigiram, para serem bem desempenhadas, uma ciência completa em teologia.

- "Porque quando a criança cresce, a descrença do mundo passa pela sua confiança como as rajadas de Abril pelos trigais, e fazem-na murchar... O seu espírito incrédulo de filósofo imberbe apaixonar-se por alguns fatos, algumas leis físicas, algumas fórmulas doutrinárias e, armada com estas provas, a criança faz altivamente ostentação das idéias que põem em dúvida princípios sãos.

Nesse momento, a mãe compreende bem o sofisma das razões que ele apresenta; mas, se não possuir uma sólida instrução religiosa, não saberá explicar no seu verdadeiro sentido os fatos que ele cita, refutar os fenômenos que ele invoca por uma ciência mais desenvolvida e mais precisa, nem mostrar-lhe o ponto fraco dos raciocínios que ele julga intangíveis.

Por falta de argumentos científicos que destruam razões apontadas também pela ciência, por falta duma palavra que teria sido decisiva, mas que a mãe não soube empregar, a alma da criança escapa à influência materna.

O filho mantém todo o seu respeito, a sua gratidão, mas retoma toda a sua confiança em si próprio... Arraiga-se nele um ceticismo que em breve as suas paixões  lhe tornarão cômodo e, por consequência, bem provado. E o filho chega assim a tomar uma atitude que julga a mais deferente para com a sua mãe, mas na qual, pelo contrário, se revela um desdém inconsciente e definitivo: ele evita as discussões religiosas ou morais, já não partilha as crenças da mãe, procurando apenas não as ofender".
(E. Lamy)

Porque é precisa uma piedade profunda?
1º- Porque a educação consiste em elevar os outros, e quem o deseje conseguir precisa de ter subido a uma certa altura: ora a piedade eleva.

- Porque a educação é uma longa paciência, como se tem dito muito bem. Ora a paciência é uma virtude que exige o domínio de si próprio, e que não pode ser praticada como convém sem a religião e sem a piedade.

- A educação exige o sacrifício quase contínuo do educador, em benefício da criança a educar. E, se o amor maternal pode facilitar a aceitação deste sacrifício, não poderia sempre torná-lo eficaz.

É preciso para isso o amor de Deus, a piedade. E aqueles que dizem que a educação, tal como os bons autores a preconizam, é demasiado árdua; que não passa de teoria; que crianças são crianças; que é preciso dar-lhes uma vida independente, etc.; aqueles que não se preocupam com a necessidade de se instruírem nos seus deveres de estado, quando têm ocasião de o fazer, reconheceriam talvez, se quisessem sondar a sua consciência, que todas as suas alegações têm uma única e verdadeira causa: o medo do sacrifício.

- Porque a educação necessita das graças de Deus, e a piedade é que as atrai.

"Ars artium, regimen animarum.
A arte das artes é a direção e a educação das almas".

Diz-se isto quando se fala do padre confessor.
Pode aplicar-se também aos pais educadores.

Ter o encargo e a responsabilidade duma alma! Quer dizer: do que há de mais precioso no mundo. Quer dizer: do que há de mais delicado, de mais impressionável.

E dizermos nós mesmos: "Esta alma serei eu quem a formará!"

Mas, para bem cumprir esta obrigação, seria preciso ser santo. Quintiliano desejava: Sanctitatem docentis: a santidade naquele que ensina. Seria preciso ser o próprio Deus! Eis a razão por que dizemos que a piedade é necessária ao educador, para que se torne santo, para que se aproxime de Deus, mereça as Suas graças e as Suas luzes, e aprenda na Sua escola a grande ciência da educação.

Qual é a forma principal e usual desta piedade?
É a oração, a oração que os pais educadores elevam a Deus por si mesmos e pelas crianças que têm de formar.

Os pais terão bastante confiança na oração para a obtenção das graças necessárias ao cumprimento dos seus deveres de educadores?
Pensamos que não.

A maior parte das famílias, mesmo as que têm pouca fé, rezam, mas quando rezam elas? Quando fazem peregrinações ou novenas? - Quando se reconhece a iminência dum perigo, quando a doença nos visita, quando os negócios não correm bem. Rezar-se-á, para obter a graça de dar às crianças uma educação verdadeiramente cristã? Que respondam as mães, mesmo as que forem cristãs.

Os pais devem rezar pelos filhos?
Sim.

- Antes de mais nada pela sua conservação.

"Deus tem nas Suas mãos as chaves da vida e da morte. é Ele que conduz às portas do túmulo e que desse túmulo liberta; o nascimento e a morte esperam as Suas ordens".
(Mgr. Pichenot, Tratado prático da educação, p.8, 9 e 10)

É a Deus, que lhes poupa as dores da separação ou que a estas dá lenitivo, que os pais devem rezar e rezar muito.

- Pela sua perseverança.

Santa Joana de Chantal, depois de ter deitado os seus filhos no berço, ficava muitas vezes horas inteiras a rezar de joelhos, ao lado deles.

"Se houvesse mais Brancas de Castela, haveria também mais São Luíses".
(Mgr. Pichenot, Tratado prático da educação, p.8, 9 e 10)


- Pela sua conversão.

Conhecemos uma mãe de família, que, um dia, mandou dizer uma missa pela conversão de seu filhinho de três anos. Nesta conjectura, este fato representa apenas a interpretação duma fórmula. Quantas mães não poderiam associar a súplica análoga todas as lágrimas do seus olhos e todo o sangue do seu coração!

"Se houvesse mais Mônicas aflitas, haveria também mais Agostinhos que regressariam à virtude e à felicidade".
(Mgr. Pichenot, Tratado prático da educação, p.8, 9 e 10)


"Job, que vivia segundo a lei de Deus, imolava, ao raiar da aurora, de sete em sete dias, vítimas por cada um dos seus filhos, porque, dizia, era possível que eles, nas suas reuniões alegres e nos seus banquetes fraternos, tivessem pecado e ofendido a Deus".
(Mgr. Pichenot, ibidem, p. 15)

A quem é que as mães podem dirigir mais em especial as suas orações?
- A Jesus que tanto ama as criancinhas. Por ocasião da comunhão, por exemplo, quando pensam nos seus filhos, e os recomendam com instância ao Deus da Eucaristia, afim de que lhes abra a inteligência e lhes forme o coração.

- À que foi a Mãe do Menino Deus.

- Ao anjo da guarda que está ao lado de cada um deles.

- Ao santo cujo nome receberam por ocasião do batismo.

(Catecismo da Educação, Abade René de Bethléem, segue com o post: Operações que regulam a vida sobrenatural).

PS: Grifos meus.