segunda-feira, 29 de abril de 2013

UNIDADE DO MATRIMÔNIO

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
UNIDADE DO MATRIMÔNIO
16 de Agosto de 1940

            Entremos a estudar as propriedades do Matri­mônio. Em primeiro lugar a unidade.
            Esta unidade, dizia o Santo Padre Pio XI, é exigida pela fidelidade conjugal; e isto mesmo indicou o Criador no casamento dos nossos primei­ros Pais, querendo que este não se realizasse senão entre um só homem e uma só mulher. E embora o mesmo Legislador Eterno afrouxasse a primiti­va disciplina, admitindo a poligamia, — não há dúvida nenhuma que a lei evangélica restituiu ao Matrimônio a sua beleza primitiva na perfeita uni­dade. É o que se patenteia nas palavras de Jesus Cristo e na praxe constante e invariável da Igreja.

            Raramente aparece na história da humanidade a poliandria, ou união de uma só mulher com vários homens. Vemo-la em algumas tribos nôma­des, em determinadas circunstâncias. Mas é sem­pre repugnante e, embora não anule radicalmente o fim primordial do Matrimônio, contudo per­turba-o de modo notável.
            A poligamia foi sempre mais comum. Na Bíblia Sagrada há casos muito interessantes, tendo sido a poligamia, ao que parece, introduzida na família por um descendente de Caim, Lamech, que, contra a praxe seguida até então, casou-se com duas mu­lheres: Ada e Sella. Ora, Caim, como todos sabem, foi o primeiro homicida. Não era, pois, modelo de virtudes. Sua raça, com razão, aparece tocada de más tendências. — Daí em diante passou a unidade conjugal a ser considerada coisa secundária.
            É gracioso aquele episódio de Jacob, que ser­viu, durante sete anos, Labão, pai de Raquel, que ele pretendia por esposa. Mas, passado aquele lon­go período de servidão, o futuro sogro, em lugar de Raquel, deu Lia ao triste e infeliz Jacob, que, se quis desposar sua querida, serviu trabalhosa­mente outros sete anos... e levou as duas.
            Mas onde vemos bem claros os males da poli­gamia é na tenda de Abraão, casado com Sara e com Agar. Cada uma tinha o seu filhinho: Sara tinha o seu Isaac e Agar o seu Ismael. Mas era um brigar sem conta! Tudo era motivo de discórdia, principalmente as duas crianças. — E a desor­dem cresceu tanto que Abraão, aborrecido, ener­vado (naquele tempo não havia neurastenia...) desanimado de manter a ordem e a disciplina em sua tenda de Patriarca, despediu Agar com seu filhinho Ismael, embora muito constrangido e pe­saroso.
            No tempo dos Reis a lei primitiva foi inter­pretada com excessiva largueza. E se Saul teve só duas mulheres, David teve muitas e Salomão excedeu a todos os seus antepassados e no futuro, não consta que alguém o excedesse, nem mesmo o igualasse.
            Quanto aos particulares, diz Flávio José, po­diam ter até quatro.
            Não é necessário, porém, o emprego de lon­gos argumentos: se em um lar com uma só esposa e dois ou três filhinhos e, às vezes, sem nenhum, há tanta discórdia, a paz anda tão longe... que seria do lar com duas ou mais esposas? Nem é bom falar!
            Concluamos com Santo Tomás de Aquino: a pluralidade das esposas, embora não sacrifique o fim primordial do matrimônio — a prole, — perturba a sua educação e é tremendo obstáculo à paz doméstica.[1]

Notas
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[1] Suplemento. Q. 65.