terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A MORAL CRISTÃ E A ESTABILIDADE DO LAR

Nota do blogue: Diante de uma sociedade ególatra e hedonista um texto como esse é um refrigério para a alma ao mesmo tempo que nos faz refletir a importância que o sacramento do Matrimônio (quando vivido, suportado e santificado como nos ordena a Igreja) tem diante desse caos. Famílias santificadas, por amor a Deus e dispostas a suportar suas cruzes, isso é o que precisamos, o resto é amor-próprio e egoísmo.

Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula


Porque é que sou católico 
por Jean Guiraud, redator Chefe de "La Croux" - 1930



            Não basta constituir uma família; é mister ainda educá-la, encarreirá-la na vida. Para semelhante empresa a um tempo longo e difícil, traz o catolicismo, com os seus ensinamentos, o seu concurso. Começa proclamando que para essa obra de largo fôlego, mister se faz, primeiro que tudo, a estabilidade do lar doméstico, e aí está, entre outras, uma das razões - não a única - pelas quais condena absolutamente o divórcio! Se as filosofias que mantêm certa reserva no descalabro das idéias e dos costumes, se as outras religiões, mesmo as que se dizem cristãs, se contentam com denunciar os abusos do divórcio, sua extensão indefinida, a substituir progressivamente o casamento pela união livre, o catolicismo, esse condena o próprio divórcio. Ponto é, sem dúvida, em que tem mantido sempre a maior intransigência. Est, est; non, non! É assim a única barragem sólida que se opõe ao transbordamento das paixões que, para se satisfazerem, forjaram, de toutes pièces, uma filosofia materialista que preconiza a união livre.
            Sendo o homem - diz ela - um ser mutável, no seu corpo, na sua inteligência e na sua vontade, como poderia prometer para a vida inteira fidelidade e amor a outro ser, promessa fementida porquanto os que a trocam não são capazes de cumpri-la! Denuncia então como um absurdo, uma tirania, uma hipocrisia, os compromissos do casamento bem como os votos religiosos. Reconheçamos, aliás, que quantos assim falam são lógicos com as suas idéias materialistas, pois, se é verdade que o homem não passa de um animal mais aperfeiçoado que os outros na evolução, só deve conhecer a união livre, a que estabelece entre casais de animais vínculos passageiros, ao sabor do instinto momentâneo.
            O catolicismo, ao contrário, em nome de uma moral que lhe vem do próprio Deus, estabelece uma regra indiscutível que, bem longe de se conformar com as paixões, quer ao contrário submetê-las a uma severa disciplina. A união do homem e da mulher não a apresenta ele qual um contrato humano, rescindível ao arbítrio das partes, mas como um dom recíproco, sem revogação, dos esposos, um ao outro, dom que tem por fiador, não o notário ou o oficial do registro, cujas funções puramente humanas não bastam para tal empresa, mas o próprio Deus. Todos os arrazoados humanos, todas as revoltas da carne seduzida por culposos amores vêm chocar-se de encontro a estas palavras divinas: os dois esposos serão dois em uma mesma carne. - "et erunt duo in carne una"; "não tem o homem o direito de separar o que Deus uniu": "quod Deus conjunxit homo non separet".
        Dura lei! - dizem aqueles que se acham dominados pela paixão, como aqueles que se acham dominados pelo egoísmo em face do problema da natalidade, e como diziam também os primeiros ouvintes da palavra de Jesus: "durus est hic sermo".
    
      Verdade fora, se o catolicismo se contentara com emitir um preceito, uma ordem. O certo é, porém, que muito mais faz ele, por seus ensinamentos, pela formação que dá a nossa alma, pela disciplina que nos impõe às paixões, pela vida espiritual que acaba por guardar e dominar a vida material, pelos socorros sobrenaturais, que nos vêm robustecer a natural fraqueza, dá-nos todos os meios de praticar a lei divina da indissolubilidade do matrimônio e da fidelidade conjugal. Sob a sua ação, a paixão violenta do amor chega a disciplinar-se e a moderar-se e o que perde em turbulência ganha por certo em profundeza. Desde que surge o amor maternal e o amor paternal, o que une os pais muda de caráter: amam-se eles pela inclinação que os atrai um para o outro, mas amam-se também nos próprios filhos. Na mulher a quem deu o seu coração, vê o pai a mãe de seus filhos e o sentimento que nutre por ela se matiza de deferência e gratidão. A mãe já não vê somente no marido aquele cuja mocidade, viveza de espírito e de coração a cativaram, mas o pai, o chefe, aquele sobre cujos ombros assenta a responsabilidade das graves decisões. Venham os anos, feneçam os atrativos corporais ou desapareçam mesmo por completo, uma vez transformado, por evolução insensível, o fogoso amor dos primeiros tempos, mais sólida será a união dos esposos, mais inabalável porque mais profunda e mais sobrenatural.
            Que de razões, aliás, para dividir o que Deus uniu: caracteres diferentes temperamentos opostos, interesses não raro contraditórios, dificuldades da vida, diversidade de opiniões. Onde não existe a fé, e a união só foi contraída com o intuito de dar largas à paixão e de levar vida de prazeres, como se exasperam todos esses contrastes, se azedam as relações e se transforma a vida comum num verdadeiro inferno! É então que desperta a tentação de acabar com isso por meio do divórcio. Uma vez que houve engano, e só refazer a vida, mediante novo casamento, nova experiência que corre o risco de ser pior do que a primeira: "novissimus error pejor priore." Pois não está aí a história de tantos casais, nossos conhecidos, que viveram o que vivem as rosas... , as rosas do lunch! Recordando a Igreja aos esposos que quando a gente casa é para sempre, ensina-lhes também a suportarem-se mutuamente, fazendo um ao outro mútuos sacrifícios e usando um para com o outro de atenções mútuas e de condescendência. Mostram-lhes os diretores de consciência como isso é necessário e como é que se adquire um tal costume. Se não raro parece difícil, não falta a graça de Deus nos sacramentos e na recepção d'Aquele que estabelece entre os que O recebem em espírito de fé a mais estreita união a que é selada no próprio Deus!
            Quando a miséria material, a doença ou a morte desabam sobre uma família, que derrocada para os que na união conjugal, buscaram apenas o prazer! De alguns sei eu que, não podendo aturar as provações que não haviam entrado em linha de conta no contrato, desertaram do lar abandonaram uma mulher, que bem longe de satisfazer os ardores da paixão, já não dava mais todos os dias senão o triste espetáculo de uma doença implacável, e abandonaram filhos que ao vez de serem as alegrias de seus pais, não lhes podiam acariciar o amor próprio, nem pelo aspecto físico, nem pela inteligência. Desertaram do lar, então, mas sempre sob o pretexto de fazerem vida nova sem cogitar se quer que deixavam após si pobres destroços aos quais entretanto tinham afeição, quando dava a afeição prazer e não impunha sacrifícios. Em nossa sociedade, levada pelo materialismo a um egoísmo feroz, o caso, de tão comum, provocou uma lei cominando pena de prisão contra pais que abandonam filhos.
            Contra semelhantes abominações que levam ao divórcio, destroem tantos lares e fazem das crianças assim arrancadas ao ninho da família outras tantas vítimas somente a fé reage, porque só ela dispõe dos remédios que podem evitar esses males. Aos esposos lhes ensina que se unem para sempre, a fim de partilharem as penas como as alegrias, e que as primeiras, das quais a gente se esquece no arroubo da mocidade não tardarão muito a aparecer, quinhão inevitável de toda vida humana. A fidelidade conjugal não consiste tão somente na partilha de um mesmo amor, mas na coparticipação de uma mesma vida na boa como na má sorte, no luto como nas alegrias e nas festas. É, pois, no espírito de sacrifício que assenta a Igreja solidamente as bases da família, e aí está por que razão lhe pede a cada um arvore, em lugar de honra, no recesso do lar o mesmo emblema do holocausto, o crucifixo que nos mostra esse Deus unindo sempre o preceito ao exemplo, até o ponto de sofrer Ele próprio todas as dores da humanidade para nos ensinar a nós a suportarmos também as que hão de cair um dia sobre as nossas cabeças.