terça-feira, 14 de junho de 2016

12. TER MEDIDA E PONDERAÇÃO

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.


12. TER MEDIDA E PONDERAÇÃO

Evitai na criança a tensão nervosa, a estafa física e moral. Para assimilar tudo o que se lhe diz ou ensina, a criança tem necessidade de períodos de tranquilidade. É preciso que possa viver um pouco à vontade.
• Vigiai vossos filhos, mas não estejais sempre a espioná-los.
• Estar todo tempo “atrás” de uma criança só serve para fatigá-la sem resultado e impedi-la de ser ela própria.
• Seriai os esforços pedidos à criança. Seu ponto de saturação é depressa alcançado. Não o ultrapasseis. É preciso deixá-la respirar. Montaigne diz que a atenção da criança é de pequena capacidade: é preciso não enchê-la com muita coisa ao mesmo tempo.
• Cumpre evitar todo exagero com as crianças, porque elas tomam ao pé da letra o que lhes dizemos. Um excesso de elogios pode ser tão funesto quanto um excesso de censuras. 

• Não procureis amedrontar uma criança. Seu organismo ainda é frágil e não se sabe nunca que repercussão profunda pode produzir um temor irracional. Evitai as histórias de bandidos, fantasmas, “lobisomens”. Evitai as ameaças ridículas: “Se não ficares quietinho, o papão vem te comer!” Com maiores razões, não aceneis com o inferno ou com o demônio por um pecadilho. Sobretudo, nunca adoteis o lamentável meio que aquela pobre mulher usava, vendo passar um padre, a fim de fazer cessar (!) o choro do filho: “Se não parares de chorar, aquele homem de preto que ali vês, o senhor Padre, vai te levar...” Nada mais indicado para fazer com que uma criança crie, talvez para sempre, ojeriza ao padre e à religião.
• Grave erro psicológico é apresentar Deus como um Pai de palmatória: “Estás vendo? Foi bem feito! Desobedeceste e Papai do Céu te castigou...” A criança não tardará a perceber que Deus nem sempre sanciona, de imediato, nossas faltas, e por outro lado, haverá algo de mais falso e de mais perigoso para a sua fé do que apresentar o Deus de amor com um déspota sempre pronto a vingar-se?
• Condicionemos sempre o esforço ao efeito que desejamos obter. À força de encolerizar-se, de fazer “cenas” por coisas insignificantes, de cumular uma criança de gritos, censuras, lágrimas ou discursos, o educador perde a capacidade de influenciar. Fica “queimado”... e paz às suas cinzas! A criança disso logo se aproveita e acaba por opor a indiferença da força de inércia, quando não a do desprezo interior.
• “A gritaria temerária e ordinária se transforma em hábito e faz com que cada um a despreze” (Montaigne).
• É prejudicial submergir a atenção da criança com discursos intermináveis.
Como uma mamãe terminasse uma “filípica” veemente e longa contra o filho, Este lhe disse com impertinência, mas com uma simpatia quase assustada: “Coitada da mamãezinha, como deve ter Sede!”
• Exigi somente coisas razoáveis, ao alcance da criança; se pedirdes um esforço excepcional, deveis criar antes um clima favorável. Mostrai-vos animador e tende cuidado em não esticar demasiadamente a corda.
Por exemplo, não peçais habitualmente a uma criança para ficar silenciosa e imóvel. Mas, eis que papai volta do trabalho com uma forte enxaqueca. Mamãe afastará o filho e lhe dirá afetuosamente: “Papai está com dor de cabeça. Vou te pedir esta noite um esforço maior de que és capaz, porque já és um rapazinho: vais fazer o menor barulho possível; senta-te neste canto e pega o teu livro de gravuras. E que, de vez em quando, um beijo venha recompensar o rapazinho ajuizado.
• Não abuseis de certas palavras como, por exemplo, “mau”: “Oh Pedro, como és mau por estares sempre metendo o dedo no nariz! — Joaninha, como és má por estares sempre mexendo nas cortinas!” Em presença de Renatinho, diz mamãe a uma amiga: “Ah, se soubesse como ele é mau: rasgou novamente a calça...”
O qualificativo “mau” serve para as ocasiões mais fúteis e para as menores faltas. Como exigir que Pedro, Joana e Renato — agraciados com o nome de “maus”, durante o dia inteiro, por futilidades que não têm a menor relação com um desvio moral ou um vício de caráter — possam ter uma noção razoavelmente equilibrada da verdadeira maldade?
• A criança atribui às coisas o valor e a importância que lhes dão os pais. Assim, é necessário que os pais tenham o senso das proporções e não atribuam ao acessório a importância do principal.
• Certas aprovações demasiado vivas podem falsear interiormente a perspectiva moral de Seres demasiado jovens para que estabeleçam a própria escala de valores.
Por exemplo: não se deve dar importância maior a um prato quebrado, uma calça rasgada, uma porta mal fechada, do que uma desordem moral como a mentira, a teimosia, a crueldade.
Ainda muito jovens, as crianças têm o sentimento da própria dignidade. É preciso respeitá-la. Certas humilhações públicas podem dar origem a complexos de inibição ou de misantropia que perseguirão a criança a vida inteira. Há mães que têm o hábito de dizer aos filhos: “Todo o mundo está te olhando, deveis ter vergonha!” Disso pode resultar uma timidez exagerada, um temor de enrubescer, um receio da opinião pública, que não deixarão de repercutir funestamente mais tarde, quando a criança crescer.
• Dois complexos são igualmente perigosos: o sentimento de superioridade e o sentimento de inferioridade ou insuficiência. O grão gerado desses dois complexos, que desempenham papel importante na germinação de perturbações psíquicas, é semeado desde a primeira infância. Se a criança ouve sempre dizer que é superiormente inteligente e divinamente bela, que tem disposições excepcionais, um desenvolvimento superior ao de sua idade — tornar-se-á de uma suficiência insuportável, acreditar-se-á algo de extraordinário e ferir-se-á, dolorosamente, mais tarde, em face das duras realidades da vida.
Quando, pelo contrário, queixamo-nos continuamente de que uma criança é desajeitada e estúpida, desenvolve-se nela um sentimento de inferioridade que a torna, antecipadamente, vencida e desesperada.
• Evitai tudo quanto prejudique o “natural” da criança. A frescura, de sua alma é uma planta delicada demais para que não se preserve das admirações errôneas que ameaçam amolecê-la, senão falseá-la.
Que dizer de convites ao cabotinismo como este? “Mostra aqui a este senhor como sabes fazer caretas!” 
• Regra de ouro: não faleis nunca de vossos filhos na presença deles. Se falais bem, correis o risco de torná-los vaidosos; se falais mal, humilhá-los-eis perigosamente.